O Brasil possui uma tradição construtiva utilizando alvenaria de tijolos. Esta técnica foi trazida pelos portugueses na época da colonização, utilizando mão de obra escrava na produção do material e montagem das unidades habitacionais. O uso da madeira para a construção de casas se deu fundamentalmente no interior de São Paulo e na região Sul do país. A matéria prima utilizada para a construção destas unidades era geralmente a Araucária, ou Pinheiro do Paraná, uma árvore nativa encontrada no Sul do país.
O desconhecimento de alguns princípios construtivos como a proteção da casa em relação às águas da chuva, com o uso de condutores, de pingadeiras em fachadas e planos de telhados e alguns outros cuidados relativos ao conforto ambiental, principalmente térmico, fez crescer o preconceito com relação ao uso deste material. Associou-se à idéia de que casa de madeira é casa de pobres, de má qualidade e temporária. Havia muitas casas em madeira com fachadas em alvenaria, portanto subir na vida significava mudar-se para uma casa de “material”. Em 1903 a prefeitura de Curitiba proíbe a construção de casas de madeira no anel central, o argumento era a que a madeira possuía um maior risco de incêndios, porém pode-se notar um caráter eminentemente discriminatório.
Existem muitos sistemas construtivos sendo testados e utilizados na substituição da alvenaria de tijolos. Os mais comuns são casas de painéis de concreto, alvenaria estrutural de blocos de concreto, e outros sistemas pré-fabricados baseados em produtos utilizando em sua composição principalmente o cimento e o aço.
É possível afirmar que existem inúmeras vantagens com relação ao uso da madeira de pinus na construção de unidades habitacionais: em função do peso da edificação, as fundações ou alicerces são bem mais simples; o tempo de construção pode ser reduzido a 1/3 em relação à alvenaria; em função de um planejamento e projeto da obra todos os componentes podem chegar pré-fabricados, reduzindo os tradicionais desperdícios; as instalações elétricas e hidráulicas podem ser muito mais simples e de fácil acesso no caso de uma eventual manutenção; com relação ao conforto térmico, a madeira é um material isolante, por isso deve haver um cuidado no cálculo e orientação das aberturas bem como especificação do material da cobertura. O principio da estufa pode ser a associação da madeira como vedação com telhas de fibro-cimento, ou seja, o calor entra pela cobertura e permanece no interior da edificação ou o frio entra pela cobertura e pelas frestas das janelas e permanece no interior da edificação. Por este motivo é necessário compreender com se dá o ganho ou a perda térmica em construções em madeira.
Com relação à acústica pode-se afirmar que quanto mais “pesado o material” melhor é o isolamento acústico da edificação. Construções de tábuas de madeira tem um baixo isolamento, sendo possível solucionar este problema utilizando-se paredes duplas ou paredes duplas com conectores metálicos, sendo que esta última possui um melhor isolamento acústico do que paredes de tijolos e de concreto. Existem ainda dois argumentos que poderiam depor contra o uso do pinus: a durabilidade e a resistência ao fogo. A durabilidade é uma questão de projeto e de especificação do uso adequado da espécie, e execução da obra. Por este motivo é importante a contratação de profissionais especializados em projetos e construções em madeira. Quanto ao risco de incêndios, a evolução de um incêndio em edificações depende dos materiais envolvidos. O que “pega” fogo inicialmente é o carpet, as cortinas,os livros e papeis ou plásticos. A evolução do incêndio também depende da bitola das peças utilizadas na construção, bem como do revestimento da sua superfície. Porém uma estrutura de madeira carbonizada oferece muito mais estabilidade estrutural que o aço, por exemplo.
A principal vantagem do uso do pinus na construção civil é o baixo consumo energético na sua produção e utilização.Segundo o engenheiro Eduardo Krüger para uma construção ser considerada “ecologicamente correta”, sob o ponto de vista da conservação de energia e utilização correta dos recursos naturais, é necessário atender alguns requisitos: quais os insumos energéticos na constituição física da edificação, principalmente envolvidos na fabricação transporte e montagem; como se dá o uso da edificação com relação ao consumo de energia durante seu uso (climatização, iluminação e aquecimento de água); é necessária a análise do consumo energético na demolição ou a possibilidade de reutilização deste material. Neste sentido podemos considerar construções utilizando espécies de madeira provenientes de reflorestamentos “ecologicamente corretas“ O pinus possui um baixo consumo de energia, a energia solar responde pela sua formação, e o consumo energético em seu processamento é mínimo, se comparada a outros materiais , sendo reciclável e biodegradável, com a existência de áreas de reflorestamentos no sul do país e na região de São Paulo e Minas. A floresta ainda contribui no seqüestro de carbono e na melhoria das nossas condições atmosféricas. Considerando as 6,5 milhões de unidades necessárias para a solução de um grave problema social, estas questões relativas à conservação e utilização correta da energia são de fundamental importância.
Outro fator que devemos chamar a atenção é a questão do design como valorização do produto pinus. O que existe hoje no mercado em relação à construções em pinus é o sistema construtivo de tábuas com mata juntas, utilizando pinus de terceira, com altos teores de umidade e nenhuma preocupação em relação à sua preservação. Este tipo de produto associa à idéia de construções em pinus com moradia temporária, de má qualidade.
O design é uma atividade multidisciplinar, envolvendo conhecimentos desde a etapa de concepção de novos produtos e serviços, desenvolvimento de aspectos da produção e marketing. O design ainda assume o papel de descobrir novos atributos a serem explorados, simplificação e otimização do processo produtivo, e barateamento dos custos da construção, bem como a criação de espaços sinestésicos. Ou seja, agradáveis a todos os sentidos: visual, acústico, térmico e olfativo, e tem relação com a percepção do espaço. Uma casa de madeira pode ser bem mais agradável e aconchegante que uma construção em concreto.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), há muitos benefícios econômicos e estratégicos advindos da atividade de design. Considera-se que esta absorva em média apenas 15% dos custos, mas comprometa cerca de 85% dos investimentos no desenvolvimento de um novo produto. Podemos citar outros dados estatísticos de grande importância: cerca de 90% dos projetos implementados geraram lucros e o período médio de recuperação do investimento realizado foi de 15 meses, à partir do lançamento do produto; nos casos em que foi possível fazer comparação com produtos anteriores, as vendas cresceram em média 41%; 25% dos projetos abriram novos mercados domésticos. Outros benefícios identificados abrangeram desde a redução dos custos de fabricação até melhorias na imagem externa da empresa e economia de estoques; nos projetos implementados, os riscos financeiros foram baixos para todos os tipos de design.
Na indústria moveleira, onde já existem alguns programas de design como fator de valorização do produto florestal, as empresas já começam a ser competitivas inclusive a nível internacional, a pesquisa de mercado e o planejamento estratégico é parte integrante no processo produtivo, o diferencial do design, que neste caso pode valorizar o produto em até 7 vezes mais no mercado. Segundo relatos do “ Greenpeace” o mogno que sai ilegalmente do País , é vendido pelos índios da aldeia de Caiapós por US$ 30,00 o m3; e vendida como madeira serrada no mercado internacional por até US$3.300,00., madeira suficiente para confeccionar 12 conjuntos de mesa de até 12 lugares. Cada conjunto chega ao mercado atacadista a US$4.150,00x12= US$ 49.800,00. Na famosa loja Harrods de Londres , um conjunto em mogno com 12 assentos não sai por menos de US$8.500,00 x 12 = US$102.600,00 ( equivale a 4.275 arvores).Com relação à construção de casas de madeira as empresas ainda não investem em um “bom design” como fator valorização dos seus produtos, as plantas são muito semelhantes, não há um fator de valorização da edificação.
A globalização vem provocando a mudança de comportamento do mercado consumidor, exigindo das empresas um ajuste no sentido de tornarem-se mais competitivas. Qualidade apenas não é mais um diferencial competitivo, para conquistar novos mercados é imprescindível acrescentar elementos e características que identifiquem e diferenciem os produtos e serviços em relação à concorrência. As estratégias empresariais incluem também a inovação tecnológica, e principalmente o design como fator de valorização do produto.Sob este ponto de vista é necessário à criação da “cultura do uso da madeira”, como nos países desenvolvidos como EUA e Canadá, bem como a capacitação de formadores de opinião como arquitetos e engenheiros com relação às vantagens do uso do pinus na construção civil, e principalmente desvincular a idéia do material como produto de má qualidade e pouco durável.
Christine LaRocca – Arquiteta, Designer Industrial; Mestre em Ciências Florestais, Tecnologia e Utilização de Produtos de Madeira e Professora do Departamento Acadêmico de Construção Civil do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná.
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