A expansão das florestas plantadas, iniciada em 1967, favoreceu dois importantes segmentos do mercado de madeira: celulose e papel e madeira processada mecanicamente.
Entretanto, mudanças na estrutura dos mercados e no perfil de comercialização das madeiras de reflorestamento têm ocorrido ao longo dos anos. Tais mudanças são devidas às flutuações na oferta e demanda de matéria-prima e produto, e ocorrem tanto no mercado nacional quanto internacional, e têm feito com que os mercados se desdobrem em diferentes sub-setores e nichos mais especializados de usos para as madeiras de florestas plantadas, especialmente o Pinus.
Um bom exemplo é visto nas variações que ocorrem ciclicamente no setor de celulose e papel, resultando em aumento e redução dos volumes de polpa e papel produzidos, que resultam no aumento ou redução da área de florestas plantadas e às vezes, até mesmo na substituição das essências utilizadas.
O setor visualizou oportunidade de diversificação da produção e passou a conduzir parte de suas florestas com diferentes espécies ou variedades, sob distintos sistemas de manejo, visando produzir também madeira sólida. A produção pode destinar-se ao fornecimento de toras a terceiros ou avançando na cadeia produtiva, produzir madeira serrada e seca em estufa para comercialização, ou ainda, o produto final.
Mudanças mais evidentes existem quando há um redirecionamento radical no destino da floresta, como de carvão para madeira serrada. O resultado de tais mudanças é que tradicionais mercados se redimensionam, criando segmentos e nichos específicos de usos para as madeiras cultivadas em florestas plantadas.
Móveis
A indústria moveleira, especialmente a de móveis seriados, se caracteriza por alta velocidade e grandes volumes de produção. Para manter tais características, típicas do segmento, e que garantem a sua competitividade, as empresas moveleiras requerem matérias-primas que apresentam propriedades uniformes, especialmente no que se refere à densidade, cor e características tecnológicas.
Qualquer variação substancial de características e propriedades da matéria-prima usada afeta diretamente a produtividade dos processos industriais de produção e a qualidade do produto final.
Outras características requeridas pela indústria moveleira referem-se ao suprimento industrial de matérias-primas, que deve ser constante, a preços competitivos, atendendo aos requisitos de dimensão e volumes.
Neste segmento, as características das matérias-primas são encontradas na madeira sólida, proveniente de reflorestamento, principalmente pinus, mas também nos painéis à base de madeira: compensados, sarrafeados, aglomerados, chapas de fibras, MDF ou OSB.
Da produção brasileira de madeira serrada, estima-se que 15% sejam destinados à indústria de móveis, sendo deste total, cerca de um terço originário de florestas plantadas, especialmente pinus. Assim o setor moveleiro se utiliza de madeira sólida, especialmente para móveis destinados à exportação, de no mínimo, 1 milhão de m³ /ano de madeira de reflorestamento, principalmente pinus, com características uniformes e mínimos defeitos.
A madeira de pinus está presente no mercado de exportação, na forma de móveis de madeira, frequentemente certificada em cadeia de custódia. Exemplos marcantes podem ser vistos nos pólos moveleiros de São Bento do Sul (SC) e, embora ainda incipiente, em Bento Gonçalves (RS).
Construção civil
A escassez de madeiras nativas para a construção civil, seja em conseqüência do alto preço ou de pressões ambientais, faz com que o mercado busque substituir estas espécies por outras, mais abundantes, disponíveis a preços competitivos ou ambientalmente corretas. Tais características são encontradas nas madeiras de florestas plantadas, homogêneas e de rápido crescimento, em especial no pinus.
Respeitando-se as características da madeira, com relação às suas propriedades. Vantagens e limitações, a madeira de pinus tem se prestado admiravelmente bem ao uso como material de construção, especialmente na forma de tábuas, pontaletes e vigotas, caibros e ripas. Esta madeira, em vigas laminadas e coladas, tem sido empregada também na construção de edifícios multiuso, com estruturas do tipo pórtico leve, destinados a centros de reunião, escolas, escritórios, salas de aulas e outras finalidades. Estes edifícios contam com componentes de estruturas fabricados em madeira, com peças delgadas, formando estruturas leves, que transmitem os esforços e as cargas às fundações através de uma única base.
Nichos de mercado mais sofisticados e específicos podem ser encontrados também na área estrutural, que pode absorver madeiras de menor densidade e resistência mecânica, para estruturas de pórticos leves, treliças, vigas laminadas e coladas, compostas com painéis compensados, componentes estruturais e outros.
Valor agregado
De comercialização recente, a madeira sem defeitos e de pequenas dimensões ( clear blocks & blanks) surgiu no mercado no início das exportações de pinus serrado, por volta de 1994/95. Embora não definido em normas técnicas nacionais, mas conhecido no mercado como "clear blocks" ou "clears", o produto refere-se às peças de madeira serrada de pequenas dimensões, isentas de defeitos (nós e imperfeições visuais).
A comercialização dos clear blocks dá-se principalmente no mercado de exportação. Destinam-se à molduras, esquadrias, revestimentos, partes e peças aparentes de móveis, ou são vendidos diretamente aos consumidores para uso próprio (do-it-yourself) ou bricolagem. Os clears, quando emendados nos topos por finger joint, formam peças mais longas - blanks.
O mercado requer homogeneidade das peças e isenção de defeitos. Os clears são obtidos por re-beneficiamento da madeira serrada, com ajuste de dimensões e eliminação de defeitos, nós e outras imperfeições. Defeitos proibitivos são nós, medula, variação de cor, empenamentos e rachaduras de qualquer tipo. A secagem em estufa e a equalização da umidade à 12% (base seca) são condições impostas pelo mercado, além de sobre-medida para absorver o ajuste às dimensões finais.
As dimensões dos clears são bastante flexíveis: espessuras desde 33,3 mm (1.5/16") até 38,1 mm (1.1/2"); larguras desde 46,9 mm (1.7/8") até 142,9 mm (5.5/8"); e comprimentos acima de 150 mm (6"). O aproveitamento da madeira serrada na fabricação deste produto é alto. Experimento recente, desenvolvido para viabilizar a produção de clears para exportação, aproveitou 75% do volume total de madeira serrada seca em estufa obtido.
A produção brasileira de clears está em franca expansão, assim como sua exportação. Um exemplo pode ser visto nas importações de clear blocks & blanks de pinus (Pinus elliottii e P. taeda) pela Boise Cascade dos Estados Unidos, a partir dos portos de São Francisco do Sul e Itajaí (SC), no período entre abril de 1999 e março de 2000. As importações alcançaram aproximadamente 16.300 m³ ao valor de US$ 6,37 milhões, ou sejam, cerca de US$ 390/m³ (CIF).
Os clears são produzidos principalmente com pinus, favorecido pelo mercado por ser leve e de cor clara.
Com preços internacionais entre US$ 200 e US$ 300/m³ FOB verificados, a exportação de clears ainda apresenta variações, mas sua aceitação pelo mercado é encorajadora.
A produção de madeira serrada beneficiada apresenta grandes oportunidades para agregar valor aos seus produtos, especialmente aqueles destinados a exportação. Isto representa um conjunto novo de oportunidades e nichos de mercado, até agora apenas explorados de maneira incipiente, para as madeiras de reflorestamento.
Os mercados operam em crescimento para outros produtos de maior valor agregado, como os painéis colados lateralmente (edge glued panels - egp), exportados a US$ 510 a 570/m³ , molduras, com preços variáveis de US$ 150 a 296/m³, tábuas para cercas (fencing boards), em média a US$ 175/m³ (CIF), e janelas, portas e esquadrias, além de vigas laminadas e outros produtos.
Uma visão rápida dos mercados para produtos de maior valor agregado de madeiras de florestas plantadas, especialmente pinus, mostra sua diversidade, as possibilidades de expansão e desdobramento, e a capacidade de absorver quaisquer quantidades produzidas.
É evidente que o produto, nas suas mais variadas formas pode ser bem remunerado, desde que seja atendida a condição de que os mercados favorecem a agregação de valor e de qualidade.
Marcio Augusto R. Nahuz, PhD IPT São Paulo |