A colheita da madeira e o transporte florestal em florestas plantadas são consideradas como uma das principais atividades na definição de custo de matéria prima para as fábricas transformadoras de produtos, e representam em média 60% a 70% dos custos da madeira colocada no pátio das empresas.
Pode-se dizer que Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, possuem juntos aproximadamente 30% dos reflorestamentos no Brasil.
Na década de 60, começaram a surgir no Brasil as primeiras motosserras e iniciou-se também a utilização de pequenos tratores agrícolas para o arraste de toras, e rudimentares carregadores florestais. No período de 1970, já com várias fábricas de papel e celulose instaladas na região, houve um início no processo de melhorias dos equipamentos existentes, como o aumento de potência e a diminuição do peso das motosserras, tratores agrícolas equipados com guinchos e garras (“Miniskidders”), e equipamentos hidráulicos para o carregamento de toras e de toretes em caminhões.
A década de 80 ficou marcada com o início da utilização de tratores derrubadores (“Feller Bunchers”) de faca e sabre em Pinus, procurando-se diminuir o contato do homem com a árvore e desta forma reduzir o risco de acidentes, melhorar as condições ergonômicas de trabalho e maximizar a disponibilidade operacional dos equipamentos em relação às condições climáticas. Este período pode ser caracterizado como uma grande fase de racionalização da mão de obra florestal, devido a sua escassez causada pela migração de parte da mão de obra rural para as grandes cidades.
Os tratores de arraste tiveram também o seu grande impulso, pois a atividade com “Feller” proporcionava um pré-empilhamento das árvores, diminuindo assim o tempo gasto para o carregamento e aumentando sua produtividade. Surgiram também métodos de desgalhamento com a utilização de grades desgalhadoras. A qualidade das gruas utilizadas para o carregamento de caminhões aumentou, adquirindo cada vez mais capacidade de peso e agilidade. Esta década marcou um grande salto na história da extração de madeira no Brasil, a qual passou a ser chamada “Colheita de Madeira” quando referida a povoamentos de Pinus sp. e Eucaliptus sp. Porém, a década de 90 foi marcada pelos maiores avanços tecnológicos na área.
Em paralelo ao que ocorria no Brasil durante as épocas referidas, países desenvolvidos do hemisfério norte tomavam dianteira no desenvolvimento de equipamentos para colheita de madeira, surgindo assim basicamente dois grandes mercado produtores e consumidores de máquinas com filosofias de colheita de madeira bastante distintas. O primeiro corresponde aos países escandinavos, voltados para os sistemas de colheita de madeira curta (“Cut to Lenght”), ou seja, com máquinas que efetuam a corte, desgalhamento e traçamento no próprio local onde a árvore se encontra (cabeçote de “Harvesters” e “Harvesters”), com o posterior baldeio da madeira para as beiras de estradas com tratores auto-carregáveis (“Forwarders”) . O segundo corresponde aos países da América do Norte, com a filosofia de sistemas de colheita de madeira longa (“Tree lenght”), onde tratores derrubadores (“Feller Bunchers”) cortam as árvores e fazem feixes com as mesmas preparando-as para os tratores arrastadores (“Skidders”) que as levam para a beira das estradas onde as mesmas serão desgalhadas, traçadas e carregadas sobre o caminhão com a utilização de tratores carregadores acoplados com equipamentos desgalhadores e traçadores (Delimbers e Slashers).
A facilitação das importações em 1993, fez com que alguns fabricantes e revendedores de equipamentos para colheita de madeira se voltassem ao mercado brasileiro, pois o mesmo representava o 6 maior mercado produtor de madeira do mundo, entre coníferas e folhosas. A busca de equipamentos compatíveis com as necessidades das empresas brasileiras levou à abertura do mercado para os dois sistemas de colheita e, em apenas cinco anos, as maiores empresas do Paraná e Santa Catarina, já usufruem destas novas tecnologias ou estão em estudo para a sua implantação. Maiores rendimentos, custos mais baixos, segurança nas operações, menor dependência da mão de obra e das condições climáticas, refletindo em autonomia e independência para o abastecimento com matéria prima, são as grandes vantagens procuradas pelas empresas e oferecidas por estes sistemas com os novos equipamentos.
Sistemas de Colheita
De acordo com as condições locais, existe uma combinação de atividades manuais e mecânicas dentro de cada sistema de colheita de madeira. Estas condições baseiam-se essencialmente no comprimento das toras a serem retiradas da floresta. Desta forma no Brasil, possui-se basicamente 3 sistemas de colheita no que se refere à matéria prima:
1) Sistemas de toras curtas
Este sistema caracteriza-se pela realização de todos os trabalhos complementares ao corte (desgalhamento, destopo, toragem ou traçamento, e descascamento quando necessários) no próprio local onde a árvore foi derrubada. As toras produzidas apresentam variações de 1 a 6 metros, dependendo do índice de mecanização empregado. Para facilitar a mecanização do sistema é necessário que a topografia seja favorável. Este sistema tem grande utilização nos países europeus.
Entre as suas vantagens quando mecanizado, estão a facilidade de deslocamento a pequenas distâncias, a baixa agressão ao meio ambiente principalmente em relação aos solos, e a possibilidade de utilização em desbastes. Podemos citar como desvantagem o fato de tendências futuras de aproveitamento de galhos, folhas e tocos para energia, polpa e papel, que ao invés de ficarem concentrados para seu posterior carregamento, ficariam dispersos, espalhados pelo talhão.
2) Sistemas de toras longas ou fustes
Nesse caso, no local do corte da árvore faz-se o desgalhamento bem como o destopo da árvore. As operações complementares de toragem (traçamento) e o descascamento eventual são realizados a beira das estradas que circundam o talhão, ou em pátios intermediários de processamento. São sistemas desenvolvidos para terrenos mais acidentados, tanto que o transporte físico das toras exige equipamentos sofisticados em razão do peso e da dimensão da madeira.
Este pode ser considerado como o sistema mais barato quando mecanizado, e sua principal raiz encontra-se nos países norte americanos. As principais justificativas seriam a alta eficiência mecânica dos equipamentos quando comparados ao sistema anterior, o menor custo por tonelada de madeira posta no pátio das empresas e por permitirem uma maior maleabilidade na definição das atividades por máquinas em função das condições do sítio.
3) Sistemas de árvores inteiras
A utilização desta alternativa implica na remoção da árvore para fora do talhão, como operação subsequente ao corte. O processamento completo é feito em local previamente escolhido. Esse sistema implica em elevado índice de mecanização e pode ser utilizado tanto nos terrenos planos como nos acidentados.
No caso de uma futura utilização de biomassa para energia ou processo, o sistema poderá ser muito utilizado pois, devido à concentração dos restos das árvores em determinado local, elimina o retrabalho do amontoamento que seria necessário fazer em área no sistema de madeira curta e parcialmente no sistema de toras longas ou fustes.
A aquisição e introdução de qualquer equipamento deve ser precedida de detalhado estudo referente aos custos e rendimentos envolvidos, infra-estrutura de assistência técnica dos fornecedores, logística de planejamento e trabalho, e treinamentos dos operadores. Também deve ser acompanhada de serviço de manutenção, avaliações periódicas de resultados.
Na definição dos índices de mecanização nas diferentes atividades utilizadas em um sistema de colheita de madeira, geralmente se faz necessária a elaboração de relações benefício-custo (B/C) entre os diferentes equipamentos e até a nível de sistema como um todo.
Procurando sempre aumentar esta relação (B/C) é que os equipamentos de colheita de madeira evoluíram. As principais fontes de análise para elaboração destas relações, são: condições climáticas, produtividade, eficiência, disponibilidade mecânica, custo por unidade volumétrica de madeira em atividades equivalentes, assistência técnica, disponibilidade de peças e manutenção, impacto ambiental, danos à floresta remanescente, treinamento e segurança, etc.
Os diferentes pontos analisados não têm necessariamente um mesmo peso sobre o total, devendo cada um sempre ser ponderado de acordo com os objetivos e necessidades de cada empresa.
Atividades dos Sistemas de Colheita
Corte
Incluem-se aqui as operações de derrubada, desgalhamento, traçamento, preparo da madeira para o arraste na forma de amontoamento, potencial descascamento no sistema de madeira curta, já no sistema de fuste, somente corte e desgalhamento e no sistema de árvore inteira somente a derrubada.
Em sistemas mecanizados, o corte em pinus no sul do Brasil, hoje já pode ser feito com diversos equipamentos nacionais e importados que se encontram disponíveis no mercado. As principais linhas de equipamentos podem ser divididas em 2 grupos: tratores derrubadores empilhadores “feller bunchers” e tratores derrubadores com cabeçotes processadores “harvesters”.
Desgalhamento e Traçamento
A atividade de desgalhamento quase sempre vem acompanhada do traçamento. No sul do Brasil, as formas mais comuns de desgalhamento e traçamento são: manual com machado e motosserra, grade desgalhadora com motoserra, cabeçote de harvester, desgalhador e traçador mecânico. No sistema de fuste ou árvore inteira estas atividades ocorrem normalmente em pátios ou na beira da estrada.
A principal variável de influência no desgalhamento é a qualidade do fuste exigida pela indústria consumidora.
Extração
As operações de extração podem ser feitas por arraste, baldeação ou ser suspensa. A diferença está na forma como a carga é extraída. Se a carga está em contato total ou parcial com o terreno, denomina-se arraste, caso de arraste animal, guinchos ,trator com barra e corrente, Miniskiderse Skiders e Climbank.. No caso em que a carga é suspensa do solo, pode ser baldeio, havendo também as opções para madeira suspensa através de teleféricos, helicópteros e balões.
Em condições topográficas favoráveis, é vantajosa a utilização do chamado transporte direto, onde o caminhão do transporte principal entra diretamente na floresta, reduzindo o manuseio da madeira, pois as etapas de baldeio e transbordo são eliminadas. Porém , nem sempre a topografia favorece esse tipo de trabalho, pois esta atividade acarreta maiores danos à superfície do solo e são prejudiciais a sustentabilidade do ambiente e que hoje tem sérias restrições quando se procura a certificação de produtos.
No que se refere ao Brasil, o sistema de extração de pinus mais utilizado desde o início da década de 80 foi com o “miniskidder” (trator agrícola convencional modificado).
Carregamento
No sul do Brasil em escala de evolução, podemos citar os seguintes sistemas de carregamento:
-carregamento manual;
-gruas hidráulicas acopladas a tratores agrícolas;
-carregadores frontais com máquinas base de rodas;
-escavadeiras com garras.
O carregamento pode ser distinguido em três tipos, de acordo com o sistema de colheita de madeira empregado:
Carregamento do veículo na área de corte para baldeio
Carregamento do veículo na área pré-determinada ou em pátios, para transporte a longa distância
Carregamento direto na área de corte para o veículo que faz o transporte a longa distância.
Descascamento
O descascamento mecânico tem sido realizado na área de corte ou em pátios, ou beira de estradas estradas, sendo frequentemente efetuado por descascadores móveis do tipo anelar.
Atualmente, é grande a preocupação de qualquer empresa na diminuição de custos através da racionalização e otimização das operações existentes, a substituição de tecnologias se houver aumento significativo na relação custo-benefício.
Outro aspecto importante nesta discussão, é que nossas florestas (povoamentos de Pinus), possuem rotações curtas e baixa qualidade quando comparadas com as florestas da América do Norte, Finlândia, Suécia e outros (maiores centros mundiais produtores de madeiras de coníferas). Sendo assim, o valor da madeira produzida por eles é maior que a nossa, já que seus custos de colheita de madeira percentualmente são pequenos. Ou seja, para que as empresas nacionais possam trabalhar com maior folga, ou padrões de custos mais elevados para colheita de madeira, é necessário aumentar a qualidade da madeira por nós produzida, e também agregar maior valor a estas florestas através de técnicas de manejo mais adequadas.
Muito importante também é a sustentabilidade do meio ambiente, analisando-se a colheita de madeira como parte de um todo e não como uma atividade separada. Para isto deve-se planejar desde a implantação do povoamento, o regime de manejo e a colheita visando a reimplantação, com meta para a qualidade da madeira produzida e a garantia dos mesmos padrões de produtividade dos sítios nas próximas rotações.
Especificamente dentro do processo de mecanização florestal no Brasil, observa-se que o período de maior evolução ocorreu na década de 90, onde metade das empresas florestais do sul, que utilizam pinus, investiram em novos equipamentos.
Os principais fatores que estão acelerando este processo de mecanização são a busca da diminuição do número de pessoas na atividade de colheita, e consequentemente do risco de acidentes, a redução da dependência da operação às condições climáticas, aumento da produtividade /dia, diminuição dos custos além da grande vantagem da garantia de abastecimento e da facilidade de planejamento.
A curto e médio prazo, a colheita no Brasil ainda visará o baixo custo, porém, existe a tendência para mudanças que diminuam principalmente as atividades que deformam o solo e que concentram restos de árvores (galhos e acículas) em determinados locais para queimas, visando métodos que possibilitem o plantio direto. Os maquinários mais promissores para este tipo de atividade são harvesters, forwarders e máquinas de esteiras, com fortes pressões para o desaparecimento da grade desgalhadora que é grande causadora de compactação.
Perspectivas a longo prazo são muito vulneráveis, contudo os sistemas de colheita de madeira irão depender do nível de conscientização e planejamento das empresas, tomadas com a visualização da inserção de seus produtos nos futuros mercados. Não se pode deixar de citar que pressões econômicas para vender produtos ambientalmente sadios já são um dos principais pontos que devem ser levados em consideração.
Os maquinários futuros, provavelmente atentarão cada vez mais para a versatilidade, principalmente para a colheita de madeira em regiões com declividade acentuada e em regiões plantadas em curva de nível.
Rafael Alexandre Malinovski
Jorge Roberto Malinovski - UFPR MAIO/2003 |