As plantações florestais do gênero Pinus no Brasil começaram a ser implantadas na década de 60, por estímulo da lei de incentivos fiscais. O objetivo principal era oferecer alternativas de ofertas de madeira, tendo em vista as crescentes pressões ambientais à redução de reservas nativas de Araucária angustifolia – pinheiro do paraná. As espécies escolhidas foram o Pinus taeda e Pinus elliottii na região sul do país, visando principalmente em abastecer as indústrias de papel e celulose em franca expansão. Estava dada a largada à grande expansão em áreas plantadas de pinus, no entanto, sem as aplicações de técnicas adequadas de práticas silviculturais e de manejo florestal. As espécies sendo originárias dos EUA, cresciam em condições diferentes no seu novo habitat e a madeira produzida apresentava características bem diferenciadas.
A “nova madeira” necessitava de estudos tecnológicos para uso industrial nas mais variadas finalidades. Além do seu rápido crescimento, gerando madeiras com anéis de crescimento mais largos e lenho juvenil mais avantajado, a presença de nós era um fator prejudicial para produção de laminados e madeira serrada de qualidade. A partir da década de 80, começaram a ser intensificadas as práticas de poda, visando produzir madeiras mais “limpas”, livres ou com menor incidência de nós, possibilitando assim, a oferta de madeiras de melhor qualidade para produtos de maior valor agregado como madeira serrada e beneficiada, lâminas e compensados.
Atualmente, há uma dependência significativa das indústrias de base florestal pela madeira de pinus. O pinus passou a ser matéria-prima essencial nos setores de construção civil, indústria moveleira e de embalagens. A madeira de pinus sustenta, na Região Sul, as indústrias de madeiras serradas e beneficiadas, de laminados e compensados, de painéis reconstituídos de madeira (fibras e particulados), além do grande volume demandado pelas indústrias de polpa e papel.
A grande pressão ambiental sobre a utilização de madeiras tropicais provenientes da floresta amazônica, faz aumentar ainda mais a demanda pelas madeiras provenientes de florestas plantadas. Dentro deste contexto, a madeira de pinus passa a ser uma base importante de suprimento de matéria-prima para todos os segmentos das indústrias de base florestal, tendo em vista os conhecimentos já acumulados durante as últimas décadas, no que tange às técnicas silviculturais, manejo florestal e tecnologias de processamento industrial.
Os plantios florestais de pinus estão localizados principalmente nas regiões Sul e Sudeste do país, além do estado da Bahia que tem apresentado um crescimento significativo na área plantada de pinus. De acordo com a ABRACAVE, em 1999, o total de área plantada com espécies de pinus correspondia a 1.826.250 hectares. Deste total, o estado do Paraná contribui com uma área plantada de 605.130 ha, correspondendo a quase 1/3 da área total. A participação significativa do Paraná em áreas plantadas pode ser atribuída principalmente à concentração de grandes indústrias de papel e celulose, aglomerados, MDF e OSB. Os estados de Santa Catarina, Bahia e São Paulo, ocupam respectivamente as três posições seguintes. Pode-se verificar também que, a participação de outros Estados têm crescido significativamente nos últimos anos.
Indústrias de painéis
O compensado multilaminado foi o primeiro tipo de painéis de madeira que começou a ser produzido no Brasil no início da década de 40. A principal madeira utilizada era a Araucária angustifolia, uma espécie com excelentes características tecnológicas para produção de lâminas e abundante na época. Em 1955, foi instalada a primeira unidade industrial de chapas de fibras no estado de São Paulo, utilizando como matéria-prima a madeira de eucalipto. As chapas de aglomerado começaram a ser produzidas em 1966, com a entrada em operação da unidade industrial da Placas do Paraná em Curitiba. Já em 1998, a empresa Duratex iniciou a produção de chapas MDF no Brasil. Finalmente, em 2001, o grupo Masisa colocou em operação a planta para produção de OSB. Cabe ressaltar que as indústrias de aglomerados, MDF e OSB instaladas na região sul do país, utilizam quase que exclusivamente a madeira de pinus como matéria-prima.
Os principais tipos de painéis de madeira produzidos no Brasil são:
Compensado multilaminado;
Compensado sarrafeado;
Chapas de fibras – duras e isolantes;
Aglomerado;
Chapas “MDF”;
Chapas “OSB”.
O processo produtivo, as características tecnológicas e as finalidades de uso são diferenciados para cada um destes painéis. Os principais segmentos que utilizam os painéis de madeira são: (1) indústria moveleira; (2) construção civil; e (3) embalagens. As madeiras utilizadas no processo de produção podem ser divididas em três grupos: madeira tropical, pinus e eucalipto. A madeira de pinus, representa quase 40% do total consumido para produção de compensados e quase 100% para produção de aglomerados, incluindo-se o OSB. Quanto às chapas de fibras – duras e isolantes, o uso de eucalipto é predominante, no entanto, para chapas de fibras – MDF, o pinus é a madeira mais utilizada.
Cabe ressaltar que, a produção de chapas duras/isolantes é altamente representativa em relação à produção mundial (8,1%). No entanto, a matéria-prima utilizada é quase que totalmente de eucalipto. Pode-se observar também que, a produção brasileira de aglomerados é volumetricamente significativo, mas a sua participação no total mundial é ainda irrisória (1,9%). Quanto aos compensados, cabe relembrar que do total de produção, a participação da madeira de pinus atinge quase 40%, ou seja, em torno de 660.000 m³/ano.
Com relação ao MDF, o valor apresentado se refere ao início da produção da primeira unidade industrial brasileira no final de 1998. As projeções para 2001, indicavam aumento no volume de produção para 750.000 m³, de acordo com a capacidade instalada de três novas unidades industriais de MDF no Brasil. A primeira unidade industrial de OSB, instalada em Ponta Grossa/PR, iniciou as operações no início de 2002 e tem a capacidade nominal de produção de 350.000 m³/ano de painéis.
O compensado é o painel mais produzido no Brasil e apresenta ainda uma tendência crescente em volume de produção. Vem a seguir o aglomerado, também com uma tendência crescente e com participação significativa no mercado de painéis de madeira. Por outro lado, as chapas de fibras – duras e isolantes, têm apresentado níveis de produção mais ou menos constante nos últimos anos. A partir de 1998, com a entrada em operação da primeira unidade industrial, a participação do MDF na produção de painéis de madeira no Brasil vem crescendo significativamente fechando o ano de 2001 com volume de produção em torno de 750.000 m³.
Os painéis de madeira podem ser divididos conceitualmente em dois grupos básicos de acordo com a sua constituição estrutural: (a) compostos laminados e (b) compostos particulados.
os compostos laminados se caracterizam pela estrutura contínua entre os elementos de madeira e a linha de cola. Exemplos de compensados multilaminados, sarrafeados, laminboard e LVL (laminated veneer lumber), cuja linha de cola entre duas peças de madeira é orientada num plano;
os compostos particulados se caracterizam pela estrutura descontínua entre os elementos de madeira e a linha de cola. Exemplos de aglomerados e chapas de fibras, cujas partículas e fibras de madeira são sobrepostas de forma aleatória sem definição de um plano contínuo.
Cada um destes produtos possui características próprias e aplicações mais adequadas. As propriedades requeridas, o local e forma de utilização são a base para a escolha do produto mais adequado. Os fatores essenciais para que um produto reconstituído de madeira possa se enquadrar dentro dos requisitos básicos necessários para uma determinada aplicação são: a espécie de madeira, tipo de adesivo e a tecnologia de produção.
A seguir são apresentados os principais tipos e sub-tipos de painéis de madeira e aplicações mais indicadas:
Compensados:
Compensado de uso geral (GER) – uso interno; indústria moveleira.
Forma de concreto (FOR) – uso exterior / prova d’água; construção civil.
Decorativo (DEC) – uso intermediário; revestidos com lâminas decorativas naturais ou celulósicas; indústria moveleira.
Compensado industrial – uso exterior / prova d’água; embalagens.
Compensado naval (NAV) – uso exterior / prova d’água; construção naval.
Compensado sarrafeado (SAR) – uso interior; miolo formado por sarrafos; indústria moveleira.
Compensado resinado (R) – usos específicos; resistente à água na superfície.
Compensado plastificado (P) – usos específicos; revestidos com filme sintético na superfície.
(2) Aglomerados:
Aglomerado “cru” – chapas sem revestimentos; uso interno / intermediário; usos - indústria moveleira, construção civil (forros, paredes, divisórias, portas, pisos, etc.), embalagens.
Aglomerado revestido : chapas com revestimento superficial em lâminas naturais, finish-foil, papel melamínico; usos – indústria moveleira.
Chapas “OSB” – uso externo / estrutural; usos - construção civil (forros, pisos, paredes, formas de concreto, tapumes, ...), embalagens e indústria moveleira.
(3) Chapas de fibras – duras / isolantes:
Chapas duras – chapas de alta densidade; colagem fenólica (FF); usos – indústria moveleira (fundos de armários, gavetas, componentes eletrônicos), construção civil e embalagens.
Chapas isolantes – chapas de baixa densidade; usos – construção civil (isolamento térmico / acústico).
(4) Chapas MDF:
MDF “cru” – uso interior (UF) – indústria moveleira (armários, tampos de mesa, bases / estrutura de móveis, etc.); uso intermediário (UF/MF) – indústria moveleira, construção civil (pisos, portas, esquadrias, etc. ).
MDF “revestidos” – chapas com revestimento superficial em lâminas naturais, finish-foil, papel melamínico, revestimento plástico, etc.); usos – indústria moveleira.
O controle de qualidade dos painéis de madeira é realizado sobre as variáveis do processo de produção, avaliação qualitativa - visual das chapas e determinação das propriedades físico-mecânicas. As principais propriedades físico-mecânicas de painéis produzidos com a madeira de pinus se referem aos resultados de pesquisas realizadas a nível laboratorial e de chapas industriais e, portanto, são apenas indicativos como base de referência, tendo em vista que os parâmetros de produção são diferentes para cada situação.
O setor de indústrias de painéis de madeira contribui de forma significativa na economia do país, através da oferta de produtos para várias aplicações, geração de empregos e receitas. A sua importância se destaca também em termos de melhor aproveitamento de madeiras, uso de florestas plantadas e de resíduos de exploração florestal e de outras indústrias de processamento da madeira, contribuindo para reduzir a pressão ambiental sobre o uso de florestas nativas. Com exceção de chapas de fibras duras/isolantes, os painéis compensados, aglomerados, MDF e OSB, apresentam perspectivas de crescimento da produção e consumo para os próximos anos. É importante ressaltar que, a sua contribuição nas exportações brasileiras deve ser incentivada, tendo em vista que o panorama atual indica participação ainda inexpressiva em relação ao cenário mundial, mas com grande potencial de crescimento em função da disponibilidade de matéria-prima, mão de obra e recursos energéticos.
Setsuo Iwakiri, professor titular do Depto. de Eng. e Tecnologia Florestal –UFPR – e-mail: setsuo@floresta.ufpr.br
Leopoldo Karman Saldanha, engenheiro florestal, mestrado em Tecnologia de Produtos Florestais – UFPR |