MENU
Carbono
Classificação do Pinus
Colheita
Desdobro
Espécies
Geoprocessamento
Habitação
Manejo
Meio ambiente
Melhoramento
Mercado
Mercado-Europa
Mercado-Oferta
Nutrição
Painéis
Pinus Tropical
Plantio
PMVA
Pragas
Preservação
Preservação
Qualidade
Resíduos
Resinagem
Secagem
Silvicultura
Sispinus
Usinagem
Anunciantes
 
 
 

REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°68 - DEZEMBRO DE 2002

Nutrição

Nutrição

O sul do Brasil constitui a área florestal mais expressiva ocupada por espécies exóticas representadas pelo gênero Pinus. A implantação maciça deu-se a partir da década de 60 apoiada na política de incentivos fiscais. Possivelmente a preferência pelo gênero Pinus também se deva, em parte, a aspectos tradicionais herdados da exploração da araucária, a conífera nativa mais importante desta mesma região. De qualquer forma isto não se viabilizaria dissociado dos aspectos relativos à adaptação ecológica. Se esta adaptação é perfeita, mesmo que, apenas em favor do pinus, estes poucos anos de ocupação não permitem uma opinião conclusiva definitiva. É neste sentido que a abordagem do tema pinus será conduzido, e naturalmente mais voltado para aspectos nutricionais da região sul onde se verificou uma maior variabilidade de estudos. Isto está naturalmente vinculado a elevada concentração de área ocupada pelo gênero nos estados sulinos, aproximadamente 70%.

De acordo com estudos, 90% do abastecimento da madeira no estado do Paraná vem sendo garantido a partir destes plantios. No Rio Grande do Sul, foram reflorestados mais de 300 000 ha, havendo sido efetuados sem planejamento adequado para as diferentes formas de demanda da madeira. Com o fim da política de incentivos, já em fins da década de 80, fez-se necessária e urgente, uma visão estratégica no sentido de aumentar a produtividade e a qualidade dos povoamentos. Tendo como alvo a produção, qualquer que seja sua finalidade na indústria, há que se definir o regime de manejo passando pela eleição da densidade de plantio, bem como, pela adequação do sítio em termos de seu potencial em fornecer os nutrientes necessários ao desenvolvimento satisfatório. Atendendo a esta necessidade, foram realizados no último triênio vários simpósios congregando instituições de ensino e pesquisa, bem como empresas e indústrias da madeira somando-se a um número substancial de teses e dissertações sendo desenvolvidas desde a década de 80.

Um levantamento efetuado no ano de 2001 pelo grupo de pesquisa em solos e nutrição de pinus, GPSNP, que congrega pesquisadores da EMBRAPA, representantes das empresas florestais associadas à FUPEF, e professores da UFPR (Universidade Federal do Paraná), constatou que a maioria dos plantios congrega uma área muito mais representativa de Pinus taeda sobre o P. elliottii, sendo principalmente o caso nos estados do Paraná e Santa Catarina. O P. elliottii indicando ser mais rústico que o primeiro, inclusive no que concerne sua tolerância à altura do lençol freático .

A ocupação do solo pelas espécies vegetais ocorre naturalmente ou, pela imposição antrópica. Na escolha das terras há primazia para a geração de alimentos, reservando-se a maioria dos solos menos adequados à agricultura para a atividade florestal. Isto implica em solos com menor grau de fertilidade natural, relevos mais movimentados e atributos físicos menos favoráveis. A partir disto poder-se-ia dizer que quanto mais exigente for uma espécie maior deve ser a preocupação com o zoneamento edafoclimático, dispensando-se tal preocupação com as espécies menos exigentes, no caso, Pinus spp. Observa-se na prática que este pensamento norteou o manejo dos povoamentos de pinus nas últimas décadas abrangendo de forma simplista, em um único contexto, exigência nutricional e sustentabilidade.

Observa-se atualmente que este aspecto necessita ser revertido urgentemente. Os plantios de hoje, são como as culturas exigentes, detentoras de deficiências nutricionais e vítimas do ataque de pragas, merecendo portanto, cuidados adequados e proporcionais a sua importância econômica e ecológica. A adequação da densidade, não apenas para aproveitamento industrial, mas em função do potencial do solo, necessita ser ajustada. Faltam, além disso, elementos básicos para a recomendação de fertilizantes, que dependem da calibração de análises de solos, específicas para esta espécie. O manejo de áreas extensas, de cobertura supostamente homogênea, pelo menos em seu fenótipo, não implica na reação uniforme do substrato que as sustentam. Atenção especial deve ser dada a aplicação de resíduos, independente de sua natureza. Neste sentido, os limites da fragilidade e sustentabilidade dos ecossistemas precisam ser estudados e compreendidos em profundidade, porque em síntese, o verdadeiro capital do homem, é o solo, e principalmente os centímetros superficiais, mais sujeitos às intervenções antrópicas.

Normalmente produtividade tem sido entendida como crescimento. No entanto, trata-se de um termo com um significado bastante amplo, abrangendo desde produtos madeiráveis e não madeiráveis até qualidade ambiental. Analisando a produtividade em termos de metros cúbicos, por exemplo, a exigência nutricional poderá ser satisfeita atendendo-se a uma adequação do sítio para tal fim. Caso a fertilidade natural do solo não atenda com plenitude as necessidades em nutrientes de uma determinada espécie, é possível fornecê-los na forma de suprimento adicional como fertilizantes, corretivos, ou mesmo resíduos urbano-industriais, observando-se uma curva de resposta que atenda aspectos fisiológicos e econômicos, mantendo a produtividade em 90% do máximo esperado. Isto implica em focalizar questões inerentes à planta, como eficiência de absorção, translocação e conversão dos nutrientes em biomassa comercializável.

Manter os nutrientes no sistema, através do manejo, passa a ser a questão relativa à sustentabilidade e qualidade ambiental, como no caso da água. Assim, a exigência nutricional passa a ter uma conotação distinta dependendo se é um povoamento para produto, como madeira, lenha, celulose, ou se trata de um povoamento também ou apenas para conservação ambiental, objetivando manter o lençol freático adequado para abastecer de forma saudável, água para a população. Isto não significa que o primeiro caso seja passível de tolerância ou negligências, mas sim, que no segundo caso, a fragilidade ambiental deve ser levada em consideração na variada gama de interdependências do ecossistema florestal envolvendo um grande número de elementos da fauna e flora. Isto deve ser efetuado de maneira criteriosa através de monitoramentos mais freqüentes. A manutenção do funcionamento harmonioso é a garantia da sustentabilidade da qualidade produtiva do sítio.



Aspectos do Solo

De forma simples, o campo da nutrição e do manejo florestal alia processos ecológicos com decisões e operações de manejo. Isto requer o conhecimento do padrão de ciclagem de cada nutriente, sua função na fisiologia da árvore e a forma e teor disponível no solo. A disponibilidade não é função apenas do teor detectado na análise do solo em uma amostra supostamente representativa. Vários outros fatores como profundidade, textura, umidade, matéria orgânica e, posição na paisagem devem ser levados em consideração.Apesar do Pinus taeda e P. elliottii, serem considerados espécies de baixa exigência nutricional, é possível, numa mesma região, obter diferentes respostas do crescimento de acordo com a fertilidade do solo, no seu aspecto mais amplo.

Observa-se que Pinus taeda desenvolvendo-se sobre solos com B textural (PODZÓLICO VERMELHO AMARELO) e B latossólico (LATOSSOLO VERMELHO ESCURO), profundos, com textura média, média/argilosa e argilosa apresentam geralmente os melhores crescimentos. Em alguns casos apresentam maiores teores de K, em outros, além deste, observam-se melhores ofertas de Ca, Mg, Zn e/ou Cu, podendo estar relacionados com a maior saturação em bases (Sítio II, Tabela 2) sendo difícil obter uma correlação direta. Observam-se casos em que mesmo com baixa fertilidade natural em termos químico-quantitativos, a melhor profundidade efetiva e o fornecimento contínuo de água, permitem crescimento excelente como é o caso em solos derivados de sedimentos do Quaternário localizados em terraços cujo lençol freático está a 1,50 m da superfície (Sítio I, Tabela 2). Por outro lado, o pior desenvolvimento estava associado à posição na paisagem, como por exemplo, rampas com relevo ondulado e forte ondulado independentemente das propriedades químicas (Sítio V, Tabela 2).

Metodologias alternativas de análise do solo, utilizando ácido cítrico como extrator tem mostrado resultados promissores, além de ser um extrator quimicamente pouco agressivo ao ambiente. No entanto, há necessidade de aprofundar estas pesquisas no sentido de obter calibrações mais adequadas ao ecossistema florestal. Estes aspectos precisam ser revistos tendo em vista, que o solo florestal, ao contrário do solo agricultável é mais heterogêneo. Além disso, a partir do quinto ano, as raízes do pinus passam a invadir expressivamente os horizontes orgânicos desenvolvidos a partir da queda constante da serapilheira.

Ao analisar unicamente o solo mineral, permanece uma defasagem em relação aos elementos imobilizados nos horizontes orgânicos, que pode ser mais ou menos espesso, dependendo da qualidade do sítio. No caso de um sítio de boa qualidade, forma um perfil de incorporação. O material sofre fragmentação mecânica e decomposição biológica pela macro e microfauna, com posterior ação bioquímica. No caso de um sítio de baixa qualidade forma-se um perfil de acúmulo, em função da falta de processadores biológicos eficientes, podendo levar à deterioração da estabilidade do solo tendo em vista a formação de compostos húmicos capazes de promover o arraste de cátions. A situação se agrava quanto mais limitantes forem os fatores do solo, ou seja, apresentem naturalmente baixos níveis de fertilidade para sustentar uma comunidade florestal produtiva. É a situação observada em regiões de campos e cerrados com solos pobres.

A comunidade que foi substituída por uma floresta para produção não demandava elevadas quantidades de nutrientes e portanto, não se observava uma deterioração dos atributos do solo. Nestes casos, espécies pouco exigentes como os pinus podem crescer relativamente bem, pelo menos na primeira fase. A medida que os nutrientes forem sendo extraídos, incorporados na biomassa e exportados, tem-se um déficit no estoque o qual deve ser reposto através da fertilização sob pena do povoamento apresentar sintomas de deficiência nutricional como queda precoce das acículas, clorose e queda na produtividade. Dependendo do grau de pobreza do solo, a ciclagem é ineficiente para compensar as perdas.

Aspectos da Planta

Outro procedimento na análise nutricional é a análise química foliar. Nesta técnica, assume-se dentro de certos limites que o teor do elemento contido nas folhas ou acículas seja um reflexo de sua disponibilidade no solo. Problemas com os efeitos de diluição ou concentração que possam interferir no diagnóstico podem ser contornados pela análise do conteúdo. Além disso, a época mais adequada de coleta, e rigor quanto à posição de amostragem devem ser seguidos fielmente. Questão de fácil solução em pesquisas, mas pouco viável nas análises de rotina. No entanto, é uma questão à qual o técnico deve estar atento uma vez que pode interpretar um valor nutricional baixo, de um nutriente qualquer, como deficiente, quando na verdade, trata-se apenas de um efeito de diluição. Na maioria dos casos é o resultado de um desbalanço ,não raro, estacional, da massa seca em relação ao montante de nutrientes expressos em concentração. Neste sentido, o contrário também se verifica, podendo afetar um ou mais nutrientes. Daí a razão para o rigor com a época de coleta.

Como a coleta para a análise foliar só pode ser feita em épocas definidas, isto poderá ser visto como uma limitação, já que o ideal seria sempre coletar amostras de acículas e solo ao mesmo tempo. Isto representaria um aspecto vantajoso em relação à análise do solo. No entanto, transformar dados relativos da análise em solo em valores absolutos é pouco viável uma vez que a amostragem não contempla a rizosfera, ambiente diretamente influenciado pela raiz, e onde acontecem os fenômenos de solubilização e absorção.

Não há, no laboratório, meios de simular a ação mecanoquímica das raízes. Neste sentido, a análise foliar permitiria aproximar-se de maneira mais eficaz do conjunto fertilidade do solo-estado nutricional da árvore, uma vez que as raízes atuam extraindo os nutrientes e os transferem para as folhas/acículas. Embora possa ser contra argumentado que nem toda a quantidade de nutrientes presentes nas acículas esteja fisiologicamente ativa. No entanto, a grande maioria das tabelas de referência, apresentam-se em termos relativos, e com estes, tem-se buscado correlacionar a produtividade. Apesar desta limitação, vários levantamentos têm demonstrado que o K entre os macronutrientes, e o Zn entre os micronutrientes, parecem ser os mais limitantes, especialmente nas áreas do segundo planalto paranaense, e seu prolongamento nos estados vizinhos.

Considerando que nem a análise foliar, nem a análise do solo, isolados, ou em conjunto, possam satisfazer com plenitude a pergunta quanto às limitações da nutrição mineral do pinus, convém lembrar a necessidade de incluir no processo de diagnóstico, o bioensaio com níveis crescentes de fertilizantes ou, com omissão de fornecimento de nutrientes dos quais suspeita-se estar seu suprimento limitado. Naturalmente todos estes processos de diagnóstico levam tempo. Porém, esta é a forma como a dinâmica do ecossistema se apresenta e requer ações compatíveis com a sua complexidade. Na tentativa de solucionar esta problemática, métodos de avaliação como o DRIS, surgiram em complementação às interpretações baseadas no nível crítico, no entanto, há necessidade de desenvolver padrões de comparação, o que também demanda tempo de estudos e ajustes.

Na tabela anexa, são apresentados alguns dados que permitem a visualização do estado nutricional de diferentes classes de sítio. É bastante provável que nos sítios III e IV, fertilizações com P, K, Mg e Zn apresentem respostas positivas, desde que o solo tenha potencial de aceitação em termos de profundidade efetiva para as raízes. Além disso, fertilizações de compensação no sentido de restaurar os nutrientes exportados pela prática dos desbastes, representam atividades necessárias no manejo dos povoamentos de pinus.

Segundo estes estudos, com três desbastes, seriam exportados 60 kg de K, que num solo derivado de arenitos somente serão repostos via fertilização, uma vez que o material de origem não encerra suficiente K para disponibilizá-lo ao sistema. Além disso, é um elemento cuja ciclagem devolve pouco K com a serapilheira, uma vez que em função de sua alta mobilidade o material cai bastante empobrecido em K, acontecendo o contrário com o Ca. E como se sabe, as exigências em Ca são relativamente baixas por parte do P. taeda , uma característica ecológica de espécies adaptadas a solos ácidos, não apresentando problemas com elevados teores de Al

Convém lembrar que no âmbito das várias interrelações dos fatores ambientais, a proporção e a relação entre altura e teor médio de nutrientes em povoamentos de Pinus taeda com 15 anos de idade, considerando-se as acículas maduras do segundo verticilo superior.

Relação dos nutrientes é fundamental para o equilíbrio nutricional. Comparando dois sítios extremos em sua qualidade observa-se que, as relações dos nutrientes, mantém proporções bastante definidas entre si. Estudos destas relações já foram desenvolvidos, para Pinus sylvestris, na Alemanha, permitindo decisões mais precisas no manejo. No entanto, há necessidade de monitoramento continuado no sentido de estabelecer limites ótimos. O estabelecimento de parcelas permanentes, distribuídas nas diferentes áreas produtivas e representativas, representam uma solução segura para o futuro do setor madeireiro baseado na madeira de pinus.

Considerando o acima exposto, fica evidente que as necessidades de pesquisa são várias, passando por otimizações de caráter básico, visando atender os empreendimentos e expectativas dos povoamentos florestais bem como as florestas nativas frente à qualidade ambiental envolvendo desde a produção fundamental de madeira à fixação do carbono. Resumidamente, estas necessidades seriam especificamente metodologias analíticas do solo e da planta compatíveis com a natureza florestal, estudos da ciclagem de nutrientes relacionados com a produtividade e, pesquisas de otimização da aplicação de fertilizantes, corretivos e resíduos orgânicos.

Carlos Bruno Reissmann

Departamento de Solos e Engª Agrícola - UFPR

Maio/2003