Estima-se que, no cenário macroeconômico nacional, os setores de madeira, papel e celulose tenham representado em 2000, 2% do PIB. Isto caracteriza um montante de aproximadamente US$12 bilhões. Deste montante, o setor madeireiro responde por aproximadamente US$ 5,5 bilhões, enquanto que US$ 6,5 bilhões correspondem ao setor de celulose, papel e papelão.
A indústria de móveis experimentou mudanças significativas em sua base produtiva. O salto tecnológico possibilitou o crescimento expressivo das exportações que atingiram um patamar superior a US$300 milhões a partir de 1995, alcançando US$ 508 milhões em 2001. Sete pólos moveleiros regionais esperam alcançar a marca de US$ 2,5 bilhões em exportações nos próximos 3 anos. A indústria de madeira compensada, por sua vez, atingiu US$ 360 milhões em exportações no ano de 2001 e a industria de madeira processada mecanicamente atingiu a marca de US$1,49 bilhão
Neste contexto os produtos oriundos da atividade florestal, pela exploração de madeira como matéria-prima, tornam a atividade auto-sustentável, tendo em vista que o recurso madeireiro é renovável, o consumo de energia para elaboração de produtos é menor, quando comparada com outros produtos como ferro, aço tijolos e ainda, ambientalmente corretos, já que são recicláveis e biodegradáveis.
Com as tendências mundiais de valorização ambiental e cobranças da sociedade por alternativas menos danosas ao ambiente a atividade industrial madeireira tenderá a consolidar-se e a fortalecer-se. Ainda neste contexto, a exploração adequada dos recursos florestais torna-se obrigatório por dois motivos óbvios: o primeiro relativo a valorização ambiental dos recursos florestais, e o segundo estritamente econômico uma vez que, a viabilização de produção só ocorre com a racionalização no uso integral de matéria-prima e meios de produção.
Historicamente, a expansão das fronteiras agrícolas gerou o processo de destruição da cobertura florestal nativa dos Estados da região Sul do Brasil. O processo de ocupação de terras vinculado ao incentivo a entrada de imigrantes europeus nesta região tornou a cobertura florestal um entrave ao avanço da agricultura nestas áreas, num processo semelhante ao que ocorre hoje nas regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil, onde a atividade madeireira não constitui-se numa atividade econômica produtiva e sustentável, mas simplesmente numa atividade extrativista.
A exploração madeireira no Sul do Brasil inicialmente esteve mais voltada a utilização da madeira de pinho (Araucária angustifolia), em virtude da existência de extensas florestas desta espécie e de sua qualidade e preferência no mercado externo. Além disto as madeiras de lei podiam ser encontradas em outras regiões.
A exploração e exaustão das reservas nativas provocaram a desmobilização ou inviabilização de alguns segmentos da indústria madeireira. Alguns destes segmentos, comprometidos com o suprimento de matéria-prima, passaram a recorrer a outros estados, buscando madeiras já inexistentes no Sul do país, marcadamente no Paraguai, Centro-Oeste e Norte do Brasil.
A lei de incentivos fiscais, criada em 1966, permitiu que as empresas aplicassem parte de seu imposto devido em reflorestamentos. O resultado desta iniciativa foi a imediata ampliação da área de florestas plantadas no país, especialmente com espécies exóticas como eucaliptos e pinus. Os primeiros reflorestamentos incentivados foram feitos com o objetivo de produzir matéria-prima para a indústria de papel e celulose e a produção de energia, sob a forma de carvão vegetal para a metalurgia. A política de incentivos fiscais voltou-se especialmente para as espécies exóticas, com destaque para o pinus. Antes dos anos 60 o setor madeireiro se desenvolvia a partir da disponibilidade natural de matéria-prima. Posteriormente ocorreu uma reversão de tendências. A indústria procurou a reconstituição de reservas florestais, recompondo sua matéria-prima.
Atualmente a disponibilidade de matéria-prima para as indústrias reside basicamente nos plantios oriundos da política de reflorestamento ou em plantios próprios. Devido as condições favoráveis de desenvolvimento encontradas no pais, as árvores de florestas plantadas com exóticas atingem dimensões comercializáveis em menor idade que em condições naturais de desenvolvimento. As propriedades da madeira cultivada são diferentes daquelas de florestas naturais. Os principais problemas relacionados com o processamento e a utilização de florestas manejadas no Brasil estão relacionadas principalmente com as diferentes propriedades devido ao crescimento acelerado.
Para se alcançar êxito no uso dos recursos florestais, provenientes de reflorestamentos, os conceitos tradicionais devem ser modificados e adaptados às características da matéria-prima disponível. Estas adaptações devem ser feitas especialmente no que concerne aos crescentes índices percentuais de lenho juvenil existente no lenho das árvores de rápido crescimento, que foram absorvidos pela indústria de papel e celulose, mas que precisa ser analisada com cautela quando da produção de madeira serrada para móveis, laminados, faqueados e produtos com finalidade estrutural, para construção civil.
O conceito genérico atual é de que a madeira de pinus, oriunda de reflorestamentos, do sul do Brasil é de qualidade muito pobre, em termos de resistência. Os fatores que afetam as propriedades mecânicas da madeira, ainda não estão suficientemente estudados para espécies oriundas de reflorestamentos. Estas características dependem das praticas silviculturais e de manejo adotadas, voltadas para os aumentos de rendimento e redução de custos em detrimento das propriedades de resistência. Neste sentido, torna-se necessário o estudo destes fatores e de sua influência sobre madeiras de plantios artificiais, visando sua utilização estrutural.
Valores Médios de Propriedades de Resistência à Flexão Estática de Pinus taeda e Pinus elliottii., Lenhos Juvenil e Adulto, em árvores com 18 e 30 anos de idade crescidos no Brasil e nativo dos EUA.
Principais Problemas Tecnológicos
O uso efetivo da madeira de pinus ocorre na forma de madeira serrada, na forma de laminados e faqueados compondo chapas compensadas, na forma de fibras para produção de polpa e papel e constituindo os painéis MDF (medium density fiberboard), na forma de madeira particulada na composição de chapas aglomeradas e mais recentemente como partículas orientadas na composição de chapas OSB (oriented strand board).
O uso da madeira na forma maciça tem como principal problema herdar os defeitos inerentes da madeira que foi obtida em programas de manejo voltados eminentemente para produção de celulose. Programas de podas e desbastes visando a produção de "madeira limpa" foram desconsiderados nestes projetos, com raras exceções. Com o aumento da demanda por matéria-prima em substituição às madeiras nativas, a indústria de laminação tendo como requisitos básicos toras de grande diâmetro e isentas de nós, foi a primeira a enfrentar problemas de obtenção de toras de qualidade. A indústria moveleira tendo nos pólos de Bento Gonçalves e São Bento do Sul os maiores produtores e exportadores de móveis de madeira maciça, também sente os reflexos da compra de madeiras de plantios de pinus manejados nas mais diversas formas.O uso da madeira na forma de partículas ou fibras não requer qualidade dos plantios, nos moldes exigidos pelos demais segmentos do setor moveleiro.
Dois aspectos devem ser considerados no uso da madeira de pinus; o primeiro relativo a matéria-prima, especialmente a presença de nós, a susceptibilidade ao ataque de insetos e fungos, e a baixa resistência devido ao rápido crescimento das árvores, e o segundo relativo aos problemas de processamento, especialmente a secagem, colabilidade e usinabilidade. Estes problemas tecnológicos podem ser controlados diretamente na floresta, através de planos de manejo florestal voltado para produção de madeira maciça ou laminada, no melhoramento genético e em práticas silviculturais como a desrama. Industrialmente, o uso adequado de programas de secagem e técnicas e equipamentos adequados para processamento da madeira podem resultar em maior rendimento e qualidade. O aspecto relacionado com a alta capacidade produtiva da espécie também deve ser explorado como uma vantagem pelos diversos segmentos do setor industrial madeireiro na busca de aumento de exportações de produtos com qualidade.
Qualificação da Madeira de Pinus
Os principais aspectos a serem considerados na seleção de madeiras de pinus para móveis são o custo, a disponibilidade, a aparência, as propriedades e a durabilidade.
Atualmente o custo da madeira mostra-se compatível, mas este item está diretamente relacionado com a disponibilidade. As projeções de falta de matéria-prima nos próximos anos preocupam os empresários do setor. Como parte desta realidade, no polo moveleiro de São Bento do Sul já se adquire matéria-prima oriunda da Argentina.
No aspecto aparência, sendo madeira clara pode ser tratada com produtos químicos que lhe conferem aspectos os mais diversificados. Inclusive com excelente aceitação no mercado americano e europeu.
Na seleção de madeira de pinus para uso na construção civil, existem dois caminhos; a seleção criteriosa de peças através de aspectos visuais ou métodos não destrutivos, ou a reconstituição em produtos estruturais como vigas laminadas coladas, painéis compensados estruturais, painéis de lâminas paralelas ou LVL (laminated veneer lumber) e ainda os painéis OSB e as vigas em I. A geração de produtos "engenheirados" permite um maior controle de qualidade dos elementos estruturais a serem usados em situações críticas. Tratamentos preservantes em autoclave conferem durabilidade e resistência a agentes patogênicos.
Com seu rápido crescimento favorecido pelas condições encontradas no Brasil, a madeira de pinus apresenta uma alta capacidade produtiva. Esta capacidade confere uma vantagem competitiva ao setor que procura expandir-se com qualidade. Com as exigências mundiais de certificação de procedência de plantios manejados, a tendência é de expansão das áreas reflorestadas e uma maior aceitação no mercado mundial de produtos oriundos desta espécie. Localmente tem-se uma redução da pressão sobre as florestas nativas, o que repercute nos mercados externos, até mesmo pela atribuição de um "selo ecológico".
Jorge Luis Monteiro de Matos
Universidade Federal do Paraná
Departamento de Eng. e Tecnologia Florestal
jmatos@floresta.ufpr.br |