O Brasil possui uma ampla área reflorestada com espécies do gênero Pinus, a qual está localizada principalmente nos Estados do Paraná (cerca de 36% da área), Santa Catarina (20%), São Paulo (11%) e Rio Grande do Sul (7%). Outros Estados da Federação também detêm plantações de Pinus, mas em menor escala. Estima-se que essa área reflorestada totalize cerca de 1,8 milhão de hectares.
A grande maioria dessas plantações de Pinus existentes no País utiliza espécies subtropicais e temperadas advindas do hemisfério norte, notadamente do sul dos Estados Unidos, as quais se adaptaram muito bem às condições climáticas e dos solos do Brasil. Uma parte menos expressiva é composta de plantios com espécies tropicais originárias principalmente da América Central, as quais também crescem muito satisfatoriamente em grande parte do território brasileiro. Entre as espécies mais tradicionalmente plantadas destacam-se Pinus taeda, P. elliotttii, P. caribaea, P. oocarpa, P. patula, entre outras. Novas espécies de Pinus tropicais também vêm sendo experimentadas por diversas empresas.
O modelo de manejo florestal adotado para essas plantações foi concebido à luz da necessidade de suprir a indústria de papel e celulose que se estabeleceu no Brasil a partir de meados do século passado. Os primeiros plantios foram iniciados ainda na década de 50, mas foi com o advento da Política de Incentivos Fiscais ao Reflorestamento, deslanchada a partir da década de 60, é que houve uma grande expansão dos maciços de Pinus no País.
Como o objetivo original dos reflorestamentos era suprir a indústria de papel e celulose, os povoamentos foram estabelecidos com uma densidade inicial de 2.000 a 2.500 árvores por hectare (espaçamentos de 2,5 x 2,0 m e 2,0 m x 2,0 m, respectivamente), que resultam em elevada produção de biomassa por unidade de área. Para atingir o objetivo precípuo de fornecer matéria-prima para processo, esse modelo de manejo não previa originalmente a adoção de podas e desbastes, dado que o interesse residia em produzir grande quantidade de biomassa, sem preocupação com a qualidade da mesma.
A idade de rotação de 20 anos foi adotada como referência. Todavia, mais tarde tenha havido uma tendência em utilizar a idade de 25 anos, haja vista a possibilidade de se obter toras de maior dimensão úteis ao processamento mecânico em serrarias e laminadoras, agregando valor e aproveitando uma fase de bom crescimento nessa fase etária. Embora o regime de manejo sem desbaste, com corte raso apenas, tenha sido concebido originalmente para atender à finalidade industrial proposta, percebeu-se que no caso do Brasil o crescimento rápido impunha a necessidade de cortes intermediários, pois a perda de incremento seria grande. Assim, o regime de desbaste, com um, dois, três ou até mais cortes intermediários passou a ser adotado quase que universalmente.
Aproveitando a oportunidade gerada através da Política de Incentivos Fiscais, muitas empresas do setor madeireiro também se empenharam em iniciar seus plantios de Pinus, embora de maneira bem mais acanhada em comparação com o setor de papel e celulose e o de chapas reconstituídas de madeira. À época, muitas empresas especializadas em executar os plantios surgiram, as chamadas reflorestadoras. Em ambos casos, o modelo de manejo florestal estabelecido pelo setor de papel e celulose foi seguido irrestritamente.
Os anos 70 foram marcados pelo declínio da disponibilidade de madeira nativa no centro-sul do Brasil, pela exaustão das reservas de araucária ou pinheiro brasileiro (Araucaria angustifolia). Na mesma época, os plantios estabelecidos começaram a ser desbastados. As empresas mais estruturadas e de melhor performance econômica, especialmente aquelas do setor de papel e celulose, puderam executar os desbastes dentro de uma cronologia compatível com o ritmo de crescimento e com as limitações de espaço vital nos povoamentos ditados pela concorrência. O mesmo não aconteceu com as empresas não verticalizadas e com os reflorestamentos das indústrias de processamento mecânico que estavam bastante descapitalizadas pelas seguidas crises que o setor enfrentava.
O modelo de manejo previa a adoção de desbastes para não prejudicar o crescimento e manter uma boa taxa de produção de biomassa por unidade de área; essa era a finalidade maior dos cortes intermediários. Não havia uma definição padronizada de como realizar os desbastes, mas em geral optou-se por combinar cortes seletivos por baixo, eliminando-se as plantas de menor qualidade, com retirada integral de algumas linhas de plantio, isto é, corte parcial sistemático. Esse modelo contrastante com a necessidade de produzir madeira para processamento mecânico o mais rápido possível onerava o empreendedor na ocasião do primeiro desbaste. Ainda hoje o primeiro desbaste, salvo exceções, oferece baixa rentabilidade econômica fora dos eixos de alto consumo de madeira fina.
A definição de regimes de manejo para plantações de Pinus depende de uma série de fatores e principalmente do objetivo que se pretende atingir. Basicamente dois tipos de regimes de manejo podem ser distinguidos:
Regime sem desbaste
Esse regime visa principalmente à produção de uma grande quantidade de madeira por unidade de área, para fins de abastecimento de unidades fabris de papel, celulose e chapas de madeira reconstituída (fibras e partículas). Nesse regime, geralmente emprega-se uma alta lotação de árvores por hectare, ou seja, pelo 2.000 indivíduos em espaçamentos quadrados ou retangulares. A idade da rotação é antecipada para antes de 20 anos, aproximadamente 15 anos, maximizando a produção de biomassa, sem haver preocupação com a qualidade (dimensões das toras e presença de nós). Por isso, práticas silviculturais como poda não são compatíveis como esse regime. É um regime que deve ser empregado preferencialmente em reflorestamentos de empresas que fabricam celulose, papel e chapas de madeira reconstituída e de produtores que fornecem matéria-prima para tais indústrias.
A economicidade desse regime depende muito da distância de transporte, das condicionantes de mercado e de preços. Os custos com colheita por metro cúbico produzido são mais baixos que no regime de manejo para produção de múltiplos produtos, pois não ocorrem cortes intermediários, sendo mais fácil e barata a retirada de madeira dos povoamentos florestais. Atualmente esse regime é usado por um número reduzido de empresas, porque o mercado de toras de grandes dimensões está aquecido pela escassez de madeira. Contudo, este pode se constituir em uma opção interessante para sítios pobres e áreas próximas a fábricas que utilizam madeira fina em grande quantidade.
Regime com desbaste
Esse regime visa à produção de madeira para múltiplos usos, geralmente priorizando a produção de toras de grandes dimensões para emprego em processamento mecânico (serraria e laminação). Em regiões em que há mercado para madeira fina, geralmente o material excedente (ponteiras e árvores finas ou de baixa qualidade, produzidas principalmente no primeiro desbaste) é fornecido às unidades fabris ou trocado por madeira grossa. Espaçamentos mais amplos geralmente são adotados, como 2,5 m x 2,5 m, 2,7 m x 2,7 m, 2,8 m x 2,8 m, até 3,0 m x 3,0 m. Espaçamentos quadrados têm sido preferidos para evitar a excentricidade no crescimento na maior dimensão (linha).
Dada a necessidade de madeira de qualidade, podas são requeridas. Uma, duas ou três podas são usuais, uma nas idades de 3 a 4 anos em todas as árvores, outra aos 7 ou 8 anos simultaneamente com o primeiro desbaste (somente nas árvores remanescentes) e outra posteriormente, variando de caso a caso. As podas são geralmente realizadas retirando-se os galhos até a 50% da altura da copa verde. Via de regra a primeira poda atinge altura máxima de 2 m, sendo facilmente executada, enquanto nas demais as dificuldades crescem e os custos também. Nas podas deve-se utilizar serrote ao invés de facão ou foice, pois a qualidade da poda é muito superior nesse caso (Figura 1).
A produtividade e a qualidade da madeira de Pinus produzida depende muito da densidade inicial de plantio, do regime de manejo e das práticas silviculturais realizadas. Um dos aspectos que influenciam sobremaneira o desenvolvimento satisfatório desta essência é a regularidade das roçadas, controle da competição pela vegetação e de pragas, especialmente formigas cortadeiras. Vários estudos demonstram que o grande insucesso de muitos silvicultores no passado ocorreu devido a não realização do controle da vegetação competidora, levando a altas taxas de mortalidade e irregularidade no padrão de crescimento. Deve-se manter os povoamentos livres de competição por pelo menos três anos, quando as árvores começam a emergir e não sofrem mais influência da competição com a vegetação concorrente (Figura 2).
Outro fator decisivo para alcançar uma maior produtividade em reflorestamentos de Pinus é a escolha de um sítio de qualidade. Diz-se, e em parte é verdade, que o Pinus cresce em qualquer lugar. Trata-se realmente de uma essência de alta plasticidade ecológica, ou seja, que se adapta a uma ampla gama de ambientes. Todavia, isso não necessariamente significa que a produtividade será satisfatória em qualquer local. Estudos realizados na UFPR demonstram que povoamentos de Pinus podem oferecer rentabilidade negativa em sítios pobres. Por isso, é importante fazer uma boa escolha do local a implantar um reflorestamento dessa essência.
A Figura 4 mostra dois discos de madeira de mesma dimensão retirados de povoamentos crescendo em sítios extremos. O disco da esquerda mostra um crescimento muito bom, com anéis largos e regulares. Já o disco da direita mostra anéis estreitos e irregulares, típicos de árvores crescendo em condições desfavoráveis de sítio. Estudos realizados na UFPR mostram claramente que não existem grandes limitações edáficas para o Pinus no tocante à questão químico dos solos. Em geral, o problema maior para o Pinus é a variável física do solo, isto é, a ocorrência de afloramentos rochosos, presença de alta umidade e outros aspectos relacionados. A questão declividade geralmente não é problemática, podendo-se plantar mesmo em condições topográficas menos favoráveis, desde que a legislação permita.
Em síntese, para alcançar sucesso no manejo de Pinus deve-se decidir o objetivo a ser alcançado, fundamentado principalmente na questão econômica e de mercado. Deve-se então eleger um sítio adequado ao plantio e um regime de manejo compatível com o objetivo a alcançar. O silvicultor deve então decidir a densidade inicial de plantio, as práticas culturais e silviculturais a serem implementadas, a freqüência e o modo de execução das podas e desbastes, a idade de rotação e o destino final da madeira. Para acompanhar o bom andamento do seu plantio o produtor florestal deve monitorar o seu investimento permanentemente através de inventários florestais a serem realizados pelo menos bi-anualmente em seus povoamentos.
O mercado de madeira de Pinus no Brasil se consolidou. Hoje, o reflorestamento com esta essência é uma realidade bem sucedida. As perspectivas são muito alvissareiras. Por isso, se antes bastava plantar, isso não é mais a realidade nos dias de hoje. É preciso encontrar buscar a otimização do empreendimento. O manejo florestal de Pinus evolui sobremaneira no Brasil e atualmente já existem conhecimento e tecnologia para buscar esse ponto ótimo. Cabe ao produtor florestal buscar informações para plantar e manejar seus reflorestamentos de Pinus com eficiência, sem desperdícios e com melhor rentabilidade.
Carlos R. Sanquetta
Departamento de Ciências Florestais, UFPR
Maio/2003 |