Quando se fala em florestas de pinus no Brasil, pensa-se logo em Paraná, Santa Catarina,Rio Grande do Sul e sul de São Paulo. Ali se implantaram com os incentivos fiscais, a partir da década de 70, diversos maciços de pinus sub-tropicais, das espécies elliottii e taeda. Os plantios em grande escala se interromperam em meados da década de 1980, devido ao término dos incentivos fiscais.
Segundo depoimento de. José Antonio Olimpio, responsável pela área de madeira e móveis do INDI - Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais, naquele estado grandes áreas foram plantadas na mesma época, mas devido à vocação para siderurgia, consumidora de carvão vegetal, e celulose de fibra curta, houve uma predominância de eucaliptus. Assim, esse Estado, ao lado de ter a maior floresta de eucaliptus do Brasil, com 1,6 milhões de hectares, possui ainda 143 mil hectares de pinus, hoje com idades que variam de 18 a 28 anos.
Em Minas Gerais as espécies que melhor se aclimataram foram os pinus tropicais, provenientes do Caribe e da América Central, principalmente o oocarpa, o caribaea hondurensis e o caribaea caribaea.
Essa primeira geração está mostrando que os pinus tropicais tem qualidades superiores ao taeda e o elliottii: maior densidade, boa formação, distância entre nós, etc., e por esses motivos têm tido procura crescente por serrarias e laminadoras do sul do país, também devido a crescente escassez de florestas em sua região.
O mercado aceitou bem os clears e blocos dos pinus tropicais, e algumas fábricas de compensados vêm dando preferência a essas espécies na produção de laminados, tanto para capas como para miolo. As fábricas de fósforos só utilizam essas espécies tropicais, o mesmo ocorrendo com lápis e palitos.
As florestas de pinus em Minas Gerais estão concentradas em três polos: um no Triângulo Mineiro, a 400 km a oeste da capital., outro no centro do estado, a 300 km ao norte de Belo Horizonte, e outro no vale do Jequitinhonha.
Como projetos de maior valor agregado que usam o pinus existente em Minas estão a Faber Castell (lápis), Satipel (aglomerados), A. Rella (Palitos Gina e produtos usados nos sorvetes Kibon), Caxuana (painéis, blanks e molduras) e Florevale, em implantação no Jequitinhonha, com serraria, fábrica de painéis e termelétrica a partir dos resíduos de madeira.
Além destes, no pólo do centro do estado, com base nos municípios de Várzea da Palma e Pirapora, existem várias serrarias e laminadoras explorando maciços florestais de expressão que não estão ainda vinculados a indústrias consumidoras, como o da Serra do Cabral, e comercializando serrados e laminados para móveis, construção civil, embalagens, etc.
Esse maciço da Serra do Cabral Agro Indústria (SCAI), baseado em Várzea da Palma, hoje com 18 mil hectares plantados, foi objeto de um extenso programa de desbaste. O resultado é que a floresta, hoje com 25 anos de idade, está toda desbastada, com a maioria das árvores acima de 20 cm de diâmetro, e um estoque de toras superior a 3 milhões de estéreos, disponíveis para venda a produtores de laminados e serrarias.
Incentivos Locais
As florestas da região central de Minas Gerais estão desenvolvendo um programa de estímulo a instalação de unidades de laminação e serrarias, com o apoio das prefeituras locais, que oferecem terrenos gratuitos nos seus distritos industriais. Recentemente mais de uma dezena de fábricas se instalou na região, atraídas pela disponibilidade de toras de boa qualidade a longo prazo.
A região está se tornando um pólo fornecedor de toras, a exemplo do que ocorre com a Klabin, em Telêmaco Borba, e a Pisa em Jaguariaiva. E a localização no centro de Minas tem várias vantagens: fica perto do mercado regional do sudeste, centro e nordeste do país, e dos portos de exportação do Rio de Janeiro e Vitória, ambos com estrutura para containeres. Além disso o clima seco permite a secagem ao ar com baixo grau de umidade. A tendência é de que a curto prazo a região se transforme num pólo de compensados, móveis e produtos sólidos como molduras e blanks para exportação.
As indústrias de transformação que estão se instalando na região de Pirapora e Várzea da Palma gozam ainda das vantagens da SUDENE, que garante a isenção de 75% do imposto de renda durante 10 anos após a instalação, além de taxas subsidiadas de juros de financiamentos pelo Banco do Nordeste.
A fim de analisar as vantagens locacionais de uma indústria madeireira localizada no centro de Minas Gerais comparativamente com outras regiões do País, foi desenvolvido um estudo baseado em dados da COPPEAD, da UFRJ.
Considerando uma indústria ou conjunto de indústrias produzindo 300.000 toneladas de produto acabado (MDF, OSB, compensados ou serrados de alto valor agregado) por ano, admitiu-se que essas indústrias gerariam um lucro líquido de US$ 50,00 por tonelada de produto acabado, e um imposto de Renda de US$ 15,00/ton. Como a isenção é de 75% do imposto a pagar, a economia gerada numa localização dentro da área da SUDENE é de US$ 11,25/ton, durante 10 anos.
Para comparar essa localização, simbolizada como sendo em Várzea da Palma, com uma indústria equivalente instalada no centro do Paraná (com Guarapuava como pólo), foi considerado que os outros fatores seriam equivalentes, tais como:
custo de transporte por rodovia de US$ 0,021 por t/km;
vendas, no caso de mercado nacional, para todos os Estados, proporcionalmente à população e à renda per capita de cada Estado (ou seja, proporcionalmente ao PIB); no caso de exportação, considerou-se que a indústria localizada em Várzea da Palma exportaria pelo porto do Rio de Janeiro e a de Guarapuava através de Paranaguá;
Foram admitidas duas hipóteses: uma de venda 100% para o mercado nacional, e outra de 100% para exportação;
As demais variáveis, tais como investimentos fixos, custo da madeira, custos operacionais e não operacionais, seriam os mesmos, independente da localização da indústria. Na realidade isto não ocorre, mas certamente há uma compensação entre as desvantagens da localização em Minas Gerais (menor eficiência da mão de obra especializada, menor tradição industrial, etc) com vantagens como menor custo de madeira, da terra e da mão de obra, e os incentivos fiscais.
Consideradas essas premissas, chegou-se à conclusão de que na hipótese de vendas para o mercado nacional, a localização em Várzea da Palma propiciaria uma economia diferencial, devido ao frete e à isenção do imposto de renda, de US$ 2.472.604 por ano em relação à mesma indústria localizada em Guarapuava. Na hipótese de vendas para exportação, a vantagem diferencial de Várzea da Palma seria de US$ 2.266.200 por ano em relação a Guarapuava , por exemplo.
As maiores florestas da região já iniciaram seus programas de replantio, preparando-se para a segunda geração de pinus tropicais. Com o aperfeiçoamento do desenvolvimento genético e técnicas modernas de plantio, espera-se que os rendimentos dessa segunda geração de pinus tropicais se aproximem dos conseguidos no sul do país.
O parque industrial moveleiro de Minas, explica José Antonio do INDI, destaca-se como o quarto do país, em importância. O setor é responsável por cerca de 30.000 empregos diretos, produzindo 6% do total nacional. Este volume não é suficiente para o consumo local levando o Estado a importar 60% de suas necessidades, absorvendo 10% da produção brasileira. Entre os principais pólos destacam-se a Zona da Mata (Ubá e municípios vizinhos), Carmo do Cajurú, a Região Metropolitana de Belo Horizonte e o Triângulo Mineiro.
Maio/2003 |