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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°117 - NOVEMBRO DE 2008

Reflorestamento

Reflorestamento de acácia: nova fonte de renda para o produtor florestal

A Acacia mangium Willd é uma árvore de rápido crescimento (6,2 m/ano) que produz madeira de grande valor no comércio nacional e internacional. No sudoeste asiático, ela vem sendo empregada em substituição à teca (Tectona grandis), com grande vantagem e maior lucratividade.

As leis ambientais brasileiras proíbem a extração de madeiras de florestas naturais, fato que valorizaram muito as madeiras oriundas de reflorestamento nos mercados nacional e internacional, assegurando excelentes rendimentos financeiros aos reflorestadores. Além do retorno econômico garantido, o reflorestamento com esta espécie permite o aproveitamento de solos pobres e degradados e daqueles impróprios para a agricultura, valorizando a propriedade rural economicamente e ambientalmente. Com o estabelecimento das políticas internacionais de despoluição da atmosfera (seqüestro de carbono atmosférico), empresas poluidoras de todos os países desenvolvidos pagarão aos reflorestadores pela remoção do CO2 lançado na atmosfera; valores estes que atualmente tem oscilado entre US$15 e US$40 por tonelada de carbono retirado da atmosfera.

A fixação de CO2 pela Acacia mangium atinge 26,3 toneladas por hectare ano, proporcionando ao reflorestado um ganho adicional de até US$558.00/ha.ano pela venda de bônus de carbono.

A demanda por parte da sociedade brasileira, por uma espécie florestal de rápido crescimento, fácil cultivo e que não acidifica o solo, levou o pesquisador científico Flávio Pereira Silva, a pesquisar e melhorar geneticamente a espécie, durante 23 anos, criando novos materiais genéticos adaptados aos mais variados climas brasileiros.

Na região Norte do Brasil, a partir de 1999, foi estabelecido plantios contínuos desta espécie, superior a 34.000 hectares, aonde vêm apresentando bom crescimento e desempenho silvicultural.

Além da celulose e papel, sua madeira presta-se aos mais variados usos nas indústrias de base florestal, tais como fabricação de móveis de excelente qualidade, tábuas, moirões, portas, caixotarias, carvão, MDF, madeira-cimento, aglomerados, laminados, adornos, lenha, tábua de fibra de madeira e cimento, OSB, construção de moradias e confecção de substrato para cultivo de cogumelos Shiitake.

Plantios desta espécie realizados, em solos erodidos de topo de morro, em Minas Gerais, resultaram na produção de 321,93m3 de madeira/ha, solo recuperado, fértil e apto para o plantio de culturas agrícolas, 5 anos após a implantação da floresta.

Com o plantio da acácia o empresário florestal poderá formar um grande patrimônio, mesmo em poucos hectares de terra. Como investimento de médio prazo o retorno é extraordinário, pela venda líquida e certa da madeira e outros produtos e benefícios. De fácil cultivo e manutenção, a espécie dispensa maiores tratos culturais e práticas de manejo sofisticadas.

Nada além das práticas rotineiras e equipamentos comuns usados na silvicultura.

A floresta assim formada será manejada facilmente para produção de madeiras para os mais variados fins, sendo que aquelas de menores diâmetros oriundos dos desbastes periódicos e galhos terão ampla aplicação na propriedade e fácil colocação no mercado, antecipando receitas financeiras.

As árvores adultas podem atingir ate 45 m e 1,10 m de diâmetro, possui elevada capacidade de fertilização e estabilização de solos, razão porque vem sendo intensamente utilizada no consórcio de café, no sombreamento de cacaueiros, na recuperação de solos bem como na contensão de encostas e rodovias.

Boa qualidade da madeira

Sua madeira pode ser facilmente serrada, planada, polida, colada, pregada e receber tratamento preservativo como o CCA para aumentar sua durabilidade em contato com o solo. A densidade básica de sua madeira é considerada elevada, permitindo o seu perfeito uso na fabricação de móveis, bem como suas fibras são curtas, o que a qualifica como ótima para produção de celulose e papel.

O plantio de Acacia mangium trará grandes benefícios aos empresários florestais, por atender à reposição florestal exigida por lei, por proteger suas terras da erosão, por garantir a manutenção das nascentes e fontes de água, por constituir um patrimônio de fácil e rápida liquidez e ao mesmo tempo assegurar a continuidade dos seus negócios.

O pioneirismo, a rusticidade e o rápido crescimento da espécie possibilitam o aproveitamento e a recuperação das terras impróprias para a agricultura; enquanto a sua boa madeira e a sua elevada produtividade (46 m3 /há) oferecem o suprimento de madeira nas indústrias florestais, rendendo divisas e protegendo as florestas naturais.

O risco de insucesso no investimento feito no plantio de acácia pode ser considerado muito baixo visto que das quase 100.000 hectares desta espécie plantadas e manejadas adequadamente, no Brasil, não se registrou nenhum ataque de pragas ou doenças.

Sistemas agroflorestais e silvipastoris

O plantio desta espécie, devidamente planejado permite a perfeita intercalação de culturas agrícolas anuais como o feijão, milho, arroz, soja, amendoim, etc, nos dois primeiros anos após o plantio, representando redução significativa nos custos de implantação da floresta e antecipação de receitas. A partir do terceiro ano de plantio, a exploração da pecuária dentro da floresta é perfeitamente exeqüível (sistema silvipastoril), produzindo carne e leite, e reduzindo os riscos de incêndio, podendo criar até 1,5 cabeças por hectare. O seu consórcio com o cafeeiro e cacaueiro, além do benefício do sombreamento, representa uma fonte de adubação natural para o solo, beneficiando as culturas agrícolas intercaladas. Sua copa ampla e densa oferece excelente abrigo aos animais na pastagem; funciona como quebra-ventos para o cafeeiro protegendo-o dos ventos gelados do inverno.

É de conhecimento popular que o clima da terra alterou-se nos últimos anos, onde sua temperatura média aumentou em cerca de 4 C°, tendo como causas principais, os constantes lançamentos de CO2 na atmosfera. Este CO2 constitui a matéria prima para a fotossíntese das árvores que resulta na produção de madeira, de cujos processos empresários florestais brasileiros está beneficiando-se através do reflorestamento de extensas áreas e da venda de créditos de carbono para ONGs e industrias poluidoras. Com estes objetivos, vários reflorestamentos contemplando a Acacia mangium foram estabelecidos em diferentes países do mundo para seqüestro de carbono e venda de bônus, na bolsa Climática de Chicago (EEUU). No Brasil, a comercialização de bônus de carbono nas bolsas de valores de São Paulo e Rio de Janeiro estão parcialmente regulamentados e encontra-se em operação, parcialmente.

Estudos realizados no Vietnam mostraram que a espécie foi capaz de fixar 26,3 toneladas de CO2, por hectare, por ano, representando um ganho adicional médio de US$3348.00 por hectare reflorestado, seis anos após o plantio.

De posse do extraordinário potencial financeiro desta espécie, vale lembrar que o Brasil é um país tropical com alto foto período anual; possui clima favorável a fixação de CO2 por espécies florestais, portanto com elevado potencial para a exploração e comércio do seqüestro de carbono atmosférico.

As estimativas para o mercado de carbono atmosférico são otimistas em todo o mundo e estima-se uma movimentação de cerca de 55 bilhões de dólares anuais, sendo que o Brasil tem excelente potencial para responder por parte significativa desse mercado.

Fonte inesgotável de produtos apícolas

A exploração da apicultura em áreas de reflorestamento, em todo mundo, tem mostrando ser uma atividade empresarial lucrativa e atraente, onde os principais importadores são o Japão, a Alemanha, a Jordânia e outros do Oriente Médio.

A criação de abelhas melíferas em povoamentos de acácia é uma atividade muito lucrativa por ser uma espécie florestal de rápido crescimento e constituir uma excelente fonte de alimento (pasto) para as abelhas.

A produção de néctar dá-se nas folhas e iniciam-se quando as mudas plantadas no campo atingem cinco meses, oportunidade em que iniciará a exploração apícola. A espécie possui macro nectários extrafloral em todas as folhas que exalam néctar durante todo ano, e também nas flores, durante a floração.

Suas flores produzem pólen contendo teores de proteína superior a maiorias das espécies cultivadas para este fim. Colméias criadas em reflorestamento de acácia tem produzido até 240 kg de mel, por colméia, por ano, na região Norte do Brasil. Segundo informações de apicultores experientes daquela região, colméias bem alimentadas poderão ter colheitas de mel a cada 15 dias. Com a criação de abelhas em reflorestamentos de Acacia mangium os apicultores reduzirão significativamente os custos de produção, por evitar a apicultura itinerante e por não haver necessidade de alimentar as abelhas na época seca do ano.

Do plantio de Acacia mangium pode-se explorar, ao mesmo tempo, a madeira, a apicultura, o tanino para indústrias de couro e de colas, a recuperação de solos degradados, o consorcio com culturas agrícolas e pecuárias, a produção de cogumelos comestíveis, a forragem animal, sem prejuízos para nenhuma das atividades.

Suas folhas são muito palatáveis por bovinos, ovinos e caprinos, constituindo excelente fonte forrageira, por possuírem 41% de proteína. Neste caso ao ministrar as folhas trituradas para animais de diferentes idades, recomenda-se procurar a orientação prévia de um profissional experiente de forma a evitar ministrar doses excessivas para animais com baixa capacidade digestiva.

Fonte renovável de energia

A demanda por energia elétrica no Brasil tem crescido expressivamente contra uma redução na oferta, em detrimento da diminuição da precipitação em determinadas bacias hidrográficas. A construção de novas usinas não tem acompanhado a crescente demanda por energia, levando a aumentos exorbitantes de tarifas; dependência de importações de gases da Bolívia e implantação de programas de racionamento. Na região Norte do Brasil, muitas cidades de porte médio não possuem energia elétrica; outras possuem sistemas precários de geração, pela queima de óleo diesel, o que poderia ser substituído por termoelétricas movidas a madeira de reflorestamento de Acacia mangium, gerando emprego e divisas para o pais.

Esta energia poderá ser produzida de forma mais barata através da conversão da energia da madeira desta espécie, requerendo, área de plantio 30% inferior aquelas plantadas com eucalipto, devido a sua elevada produtividade (46 m3 por hectare. ano) e poder calorífico de 5.000kcal/kg de madeira.

Os plantios de Acácia existente no Norte do Brasil comprovam sua boa adaptação e pronunciada capacidade de crescimento (5m/ano), enquanto a tecnologia de construção de termoelétricas abastecidas por madeira constitui tecnologia já dominada e comprovada por uma usina existente naquela região, em funcionamento desde os anos 70, com capacidade de 55 MWh e abastecendo uma cidade com 150 mil habitantes. Neste caso, seu pleno funcionamento anual poderá ser perfeitamente suprido com o plantio de 1.500 ha de Acacia mangium.

Construção de moradias

Nas metrópoles brasileiras existe um acentuado déficit habitacional, sendo a demanda crescente e agravada pelo crescimento da população e pela elevação dos preços dos materiais de construções de alvenaria.

A utilização de casas de madeira pelos brasileiros é muito comum, principalmente por serem resistentes, duráveis, confortáveis e por serem de baixo custo.

Um programa governamental de construção de moradias populares desenvolvido nas Filipinas mostrou a viabilidade técnica e econômica de se produzir casa de excelente qualidade a partir da madeira de Acacia mangium, mediante a sua transformação em tábuas de fibra de madeira e cimento, as quais não aquecem, dissipa ruídos, usa pouco cimento, é resistente a fungos, cupins e água.

Os painéis assim construídos podem ser usados para interiores e exteriores, podendo ser construídos a partir de madeiras de pequenos diâmetros, oriundos de desbastes e podas da floresta, ficando os troncos principais destinados à fabricação de móveis. Esta nova tecnologia permite a produção manual de painéis de madeira, possibilitando a montagem de uma casa padrão, em pouco mais de 72 horas, facilitando a aquisição da casa própria pela população de baixa renda.

Além deste tipo de painel, a madeira de acácia de pequenos diâmetros produz excelente madeira-cimento, OSB, finger-joint de alta resistência e MDF.

Trata-se de uma espécie de elevada rentabilidade financeira, razão da existência de extensos reflorestamentos na Indonésia, Tailândia, Malásia, Filipinas, Índia e Vietnam, onde existem mais de 3,5 milhões de hectares plantadas, graças a sua rusticidade, elevada taxa de crescimento, boa adaptabilidade e qualidade de madeira, facilidade em desenvolver-se em solos pobres e degradados.

Análise de laboratório revelou que a qualidade de sua madeira para construção de móveis foi superior a da nogueira preta (principal madeira usada para móveis nos EUA) e igual à madeira da Teca, apresentando excelente aceitação no mercado internacional.

Vale lembrar que os valores pagos pela madeira serrada de eucalipto na região Sudeste do Brasil é de aproximadamente R$1.600,00/m3.

Fonte: Flávio Pereira Silva: Engenheiro Florestal- D.Sc. em Silvicultura Clonal - Pesquisador Científico/CTZM/Viçosa - acaciaflavio@ufv.br