O transporte florestal consiste na movimentação de madeira dos pátios ou das margens das estradas nos talhões até o local de consumo ou pátio das empresas. No Brasil, pode ser realizado por diversos meios (ferroviário, dutoviário, rodoviário), em que este último representa 85% de toda a madeira que é transportada e, ainda, 62% de todos os produtos transportados no país. Mesmo com as condições precárias de trafegabilidade em que se encontram muitas estradas, além de serem essas o único meio capaz de interligar as indústrias às suas fontes de abastecimento de madeira, localizadas em origens distintas, ou seja, abrangendo áreas descontinuas dentro do Brasil. Por isso, estudos buscando maior eficiência no transporte rodoviário florestal são muito importantes.
A madeira é um insumo de baixo valor específico, ou seja, o seu valor em relação ao seu peso e, ou, volume é baixo. Por isso, o custo de transporte dessa mercadoria é relativamente alto. O custo de transporte varia diretamente com a distância percorrida. Por isso, a localização da fábrica e dos reflorestamentos são decisões estratégicas e requerem planejamento detalhado.
Quanto mais longo o trajeto percorrido, maior será o custo unitário por volume de madeira transportada. Uma das maneiras de diminuir o custo em percursos longos tem sido a utilização de veículos com maior capacidade de carga.
Atualmente, o número de eixos na composição e o peso em cada eixo são fatores de preocupação para o transportador que busca a otimização da quantidade de madeira transportada por veículo sem, contudo, ultrapassar os limites estabelecidos pela legislação.
Vários fatores influenciam o transporte de cargas pelo modal rodoviário, e, no caso florestal, isso não poderia ser diferente. Ganham destaque os tipos de veículo, a distância de transporte, o valor unitário do frete, as condições em que se encontram a malha rodoviária, o tempo de espera no carregamento e descarregamento, a capacidade de carga em volume que o veículo transporta, as condições locais e regionais e os tipos de equipamentos de carregamento e descarregamento.
Os veículos utilizados no transporte florestal rodoviário podem ser classificados de acordo com a capacidade de carga. Assim, têm-se os veículos leves (que têm capacidade de carga que não ultrapassa 10 toneladas); veículos pesados (que suportam de 30 a 40 toneladas de carga); e veículos extrapesados (com capacidade de carga acima das 40 toneladas). Como exemplo de veículos extrapesados, tem-se o bitrem (um cavalo mecânico e dois semi-reboques), tritrem (um cavalo mecânico e três semi-reboques), treminhão (um caminhão e dois reboques) e o rodotrem (um veículo articulado e um reboque). Porém, estudos devem ser conduzidos para identificar qual o tipo de veículo mais indicado para se transportar madeira de determinada região ou empresa.
Outra grande dúvida das empresas é com relação à distância máxima viável de transporte de madeira. Pois o custo de transporte elevado pode inviabilizar reflorestamentos localizados mais distantes dos centros de consumo.
E, por último, as variáveis econômicas como preço da madeira, produção florestal, custos relacionados ao projeto florestal e taxa de desconto, dentre outras, afetam a lucratividade do reflorestamento e, conseqüentemente, a distância máxima viável de transporte.
Com base nessas questões, este trabalho objetivou estabelecer a distância máxima de transporte de madeira e de um reflorestamento até um centro de consumo, para cada tipo de veículo, bem como identificar quais variáveis econômicas mais afetam essa distância.
Reflorestamento
Para se saber qual a distância máxima de transporte ou o raio econômico de transporte podem-se utilizar dados reais de um projeto de reflorestamento.
Esta fórmula é uma alternativa a ser utilizada quando não se tem o custo hora do veículo. Optou-se pelo seu uso, pois foi considerado que o produtor terceiriza o transporte e paga pelo frete, cujo valor médio do frete no mercado é de US$1,5/km.
Para verificar o efeito de algumas variáveis econômicas sobre a distância máxima de transporte foi feita uma simulação. Assim consideraram as principais variáveis: custo de implantação, taxa de juros, preço da terra, produção florestal e preço da madeira, pois estas têm sido as variáveis que mais afetam a rentabilidade dos projetos florestais. Considerando variações entre -20% á +20% nessas variáveis foi possível identificar quais teriam maior influencia na distância de transporte de madeira.
Análise econômica
Em todos os tipos de veículos, os indicadores econômicos evidenciam viabilidade do projeto, pois os VPLs apresentaram-se positivos, as TIRs estão acima da taxa de juros e os CMPs estão abaixo do preço da madeira, o que garante a lucratividade do projeto.
Caso não houvesse custo de transporte, e a madeira fosse comercializada ao mesmo preço de US$24,00/m3, a lucratividade seria bem mais elevada (VPL de US$1762.10/ha; TIR de 19,02% ao ano e CMP de US$13.21/m3). Considerando os diferentes tipos de veículos, os indicadores econômicos são melhores quando o transporte é realizado pelo rodotrem (VPL de US$984.11/ha; TIR de 14,88% ao ano e CMP de US$17.98/m3) e piores quando realizados pelo caminhão truck (VPL de US$622.26/ha; TIR de 12,66% ao ano e CMP de US$20.19/m3).
A análise de sensibilidade foi feita com relação ao veículo rodotrem e ao caminhão truck, ou seja, o melhor e o pior dentre os diferentes veículos considerados neste estudo.
A análise apontou o efeito do custo de implantação do projeto florestal, da taxa de juros, do preço da terra, da produção florestal e do preço da madeira, na distância de transporte, quando alterados do seu valor-base para valores 20% menores e 20% maiores.
Tanto pelo rodotrem quanto pelo caminhão truck, o preço da madeira foi o fator que mais influenciou a distância máxima de transporte. No caso do rodotrem, aumentando-se o preço da madeira em 20%, a distância máxima de transporte teve incremento de 44%, aumentando, assim, a sua logística de transporte em relação à situação original. No entanto, se o preço da madeira cair em 20 %, a empresa terá que buscar madeira em áreas mais próximas à fábrica para não ter prejuízo.
Também com relação ao caminhão truck, que tem a variável preço da madeira como a mais influente aumenta de 20% no valor da madeira possibilita à empresa buscar madeira em torno de 44% mais distante.
A produção de madeira por hectare é a segunda variável que mais afeta a distância máxima de transporte. Se aumentar em 20% a produção, a empresa pode buscar madeira a uma distância 16% maior, aproximadamente.
As variáveis preço da terra, taxa de juros e custo de implantação, quando alteradas, afetam a rentabilidade dos reflorestamentos e, portanto, a distância de transporte. Porém, tiveram menor influência que o preço da madeira e a produção.
Se o custo de implantação da floresta aumentar em 20%, a distância de transporte deve ser reduzida em 9%.
Se a taxa de juros aumentarem 20%, a distância de transporte deve ser reduzida em aproximadamente 12%.
Se o preço da madeira aumentar em 20%, a distância de transporte deve ser reduzida em aproximadamente 3%, sendo a variável menos influente nessa analise.
Como conclusão se observa que em um raio de transporte de 100 km, é perfeitamente viável implantar reflorestamentos para quaisquer que sejam os veículos de transporte de madeira analisados.
Dentre os vários tipos de veículos analisados, o rodotrem foi o que apresentou melhor desempenho, pois, dada a sua maior capacidade de carga, seu custo de transporte fica relativamente menor, sendo possível alcançar maior distância de transporte.
O caminhão truck apresentou o pior desempenho, pois, em uma distância de transporte de 100 km, seu custo ficou 46% maior que o do rodotrem. E a sua distância viável de transporte é 45,6% menor que a do rodotrem.
As variáveis preço da madeira e produção apresentou maior influência na distância máxima de transporte de madeira.
As variáveis custo de implantação, taxa de juros e preço da terra, apesar de afetarem a rentabilidade dos projetos florestais, tiveram menor influência na distância máxima de transporte.
Estudos mais detalhados devem ser conduzidos para identificar quais faixas de distâncias são mais adequadas para cada tipo de veículo, incluindo-se também diferentes categorias de estradas.
Autores: Márcio Lopes da Silva - Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV) - marlosil@ufv.br; Robson José de Oliveira - Programa de Pós-Graduação em Ciência Florestal da UFV - robinhojo@yahoo.com.br; Sebastião Renato Valverde; Carlos Cardoso Machado; Vanessa Aparecida Vieira Pires.