Em uma floresta manejada a forma de exploração permite manter os fluxos de produtos e serviços oferecidos. Cada vez mais se toma consciência dos serviços ambientais oferecidos pelas florestas nativas: a manutenção da biodiversidade animal e vegetal, a contribuição na estabilização do clima, o sustento das comunidades ribeirinhas e indígenas, o sustento do desenvolvimento econômico e social do Amazonas.
Numa floresta manejada, a madeira é extraída através de um planejamento cuidadoso e com uso de técnicas de exploração de baixo impacto. Esse planejamento da extração da madeira se concretiza num plano de manejo florestal sustentável.
No momento do planejamento são decididas, por exemplo, quais espécies serão extraídas, quais árvores serão cortadas e quais ficarão para garantir a regeneração da floresta. Além disso, deve ser previsto como as árvores vão ser derrubadas e as toras arrastadas. Tudo isso na intenção de ocasionar um menor impacto ao meio ambiente.
As técnicas de extração da madeira contemplam, por exemplo, o corte prévio dos cipós e a queda orientada da árvore para reduzir os danos sobre as árvores remanescentes, bem como o aproveitamento máximo da madeira.
Paradoxalmente, usar madeira de floresta manejada contribui na manutenção da floresta. Considerando à responsabilidade social de controlar o desmatamento e a impossibilidade logística de "proteger integralmente" os 153 milhões de hectares de florestas nativas do estado do Amazonas, o governo idealizou o Programa Zona Franca Verde. O projeto se baseia na promoção e uso sustentável da floresta por parte e em benefício de seus moradores.
É nessa perspectiva que o Programa Zona Franca Verde incentiva os extratores e madeireiros do Estado do Amazonas a elaborar Planos de Manejo Florestal Sustentável em Pequena Escala (PMFSPE). Possivelmente também, numa tentativa de influenciar outros Estados da região a estabelecer um programa similar para integrar um bloco de produção sustentável na região Amazônica.
Essa decisão do poder público sustenta-se nos seguintes argumentos:
• As experiências em curso demonstram que é técnica e economicamente possível "usar" a floresta de forma sustentável, mantendo os fluxos de produtos e serviços oferecidos por ela;
• Os moradores da floresta, tendo um interesse econômico na extração contínua de riquezas da floresta, são diretamente incentivados para que cuidem de tais riquezas;
• As mudanças climáticas, os consumidores de madeira estão cada vez mais dispostos em "pagar" os esforços realizados para cuidar da floresta.
Com tais pressupostos, a difusão do manejo florestal sustentável em pequena escala se torna uma ferramenta poderosa em prol da defesa da floresta. A valorização no mercado da madeira de floresta manejada se torna uma condição e um vetor de proteção dessa imensidão verde.
Compra responsável
Quando comprar um artefato de madeira maciça, o consumidor mal ou pouco informado vai procurar o artefato de custo mais baixo, ou seja, geralmente o de madeira de desmatamento (legal ou ilegal). Isso pode até parecer lógico e legítimo por parte do consumidor quando considerar somente o seu interesse individual de curto prazo. Porém, atuando assim, o consumidor contribui ao desmatamento da floresta, com as conseqüências citadas acima para ele e os seus filhos: aceleração das mudanças climáticas, redução da biodiversidade, destruição de fontes de renda e emprego.
O consumidor informado das conseqüências socioeconômicas e ambientais do desmatamento se mostrará preocupado em comprar uma madeira que estimula a redução das taxas de desmatamento, ou seja, o consumidor informado comprará somente madeira oriunda de floresta manejada:
• Ao comprar madeira de floresta manejada, ele aceita pagar um pouco mais para reconhecer os custos adicionais relacionados ao manejo florestal (planejamento e técnicas de extração);
• Ele compra madeira e compra também a segurança de que está contribuindo na redução dos impactos negativos gerados pelo desmatamento.
Quando chega na mão do consumidor final, a madeira de floresta manejada é o resultado de um processo produtivo complexo que envolve vários atores, os atores da cadeia produtiva da madeira manejada: o extrator, o moveleiro, a serraria, o transportador e o consumidor propriamente dito.
O extrator da madeira tem que planejar realizar e custear atividades adicionais tais como: o inventário florestal, a elaboração do plano de manejo e a sua protocolização para a solicitação da licença de operação (licença ambiental) e das autorizações de transporte da madeira;
O moveleiro ou a serraria devem estar convencidos de que o custo adicional da madeira manejada possa ser agregado ao preço de venda dos produtos beneficiados;
O consumidor deve ser informado sobre o conceito e a disponibilidade de madeira de floresta manejada e assim, poder aceitar o novo valor assumido pela mesma.
É da responsabilidade do poder público criar as condições para a viabilização da cadeia produtiva da madeira de floresta manejada em beneficio dos moradores do interior do Amazonas. Sendo vários os desafios a serem enfrentados para que isso ocorra efetivamente:
• Adaptar as normas (forma de elaboração do plano de manejo), os procedimentos (acessibilidade e desburocratização), os serviços de fomento (assistência técnica, crédito) e de controle (vistorias, licenças de operação, autorizações de transporte) às realidades locais dos atores da cadeia de produção madeireira;
• Reduzir a concorrência da madeira clandestina, que evidentemente é uma madeira mais barata do que a madeira manejada. Isso pressupõe um esforço maior sobre a fiscalização;
Cadeia produtiva
Na maioria dos 62 municípios do Amazonas, a extração da madeira representa uma fonte de renda principal ou complementar para um número significativo de famílias, mantidas por profissionais (não regulamentados) chamados motosserristas e serradores.
Eles abastecem em prioridade o mercado da construção civil e os marceneiros, moveleiros e comerciantes das sedes municipais, muitas vezes ainda de forma "clandestina". Cada motosserrista cria de 3 a 5 empregos; cada movelaria ocupa de 4 a 8 funcionários. A isso se devem agregar os artesãos, entalhadores, transportadores.
No total, estima-se que são mais de 10.000 ocupações diretas geradas, e quase a mesma relação no número de famílias envolvidas na cadeia produtiva de madeira/móvel no Amazonas, produzindo e beneficiando mais de 100 000 m³ de madeira (equivalente tora) por ano.
A relação entre as associações de moveleiros e o Projeto Floresta Viva são claras e formalizadas. O Projeto Floresta Viva esclareceu o escopo do apoio que pode e pretende fornecer às associações de moveleiros, por meio de um termo de adesão assinado por ambas as partes. Os moveleiros se comprometem em respeitar os requisitos legais, usar exclusivamente madeira de floresta manejada, e pagar um preço "justo" para os detentores de planos de manejo. Os moveleiros contribuem com contrapartidas na organização dos treinamentos e outras atividades implementadas junto com o projeto. O Projeto não intervém nos contratos comerciais estabelecidos pelas associações de moveleiros.
Os desenhos de camas são registrados no Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI) em nome da FUCAPI, a qual cede sem custo os direitos de reprodução às associações de moveleiros por meio de um contrato de cessão de direito de reprodução. Os moveleiros tem a exclusividade dos modelos cedidos, em troca do compromisso de respeitar os requisitos legais, usar exclusivamente madeira de floresta manejada, e respeitar os padrões de qualidade. Somente os moveleiros com certificado de treinamento (da FUCAPI) têm o direito de reproduzir as camas. No total são 60 moveleiros do interior e 20 empresas de Manaus, envolvidos nesse processo.
Fonte: Elaborada pela Equipe Jornalística da Revista da Madeira