A exemplo do ano passado, o bom desempenho do setor está atrelado ao aumento da renda da população, maiores prazos de financiamento e redução da taxa de juros. Esta informação é do presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Construção (Abramat), Melvyn Fox. Ele cita, ainda, a desburocratização do setor com a desoneração do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) de 44 materiais de construção civil como um fator de alavancagem desta indústria. "O nosso setor deve apresentar um crescimento parecido ao do no ano passado, de 15,5% em vendas", afirmou Fox. Segundo dados da Abramat, as vendas internas do setor no primeiro semestre cresceram 18%.
O aquecimento do mercado visto nos últimos dois anos tem forçado empresas a correr atrás de seus fornecedores para garantir os materiais necessários no início das obras. A média de antecedência até o ano passado era de nove meses e já chega, atualmente, a um ano. Ou seja, as construtoras estão contratando, hoje, fornecimento e frete para obras que só começarão em abril de 2009.
Para driblar as constantes altas no preço, algumas empresas já estão antecipando as compras em seu cronograma, prática que virou rotina no planejamento de obras. Neste caso, a compra imediata foi motivada por uma elevação pontual, porque, em geral, a empresa está ampliando de nove para doze meses o período de reserva de insumos.
A alta demanda do setor também tem gerado reflexos na disponibilidade e, em decorrência desta, nos custos da mão-de-obra qualificada. Para solucionar o problema, algumas construtoras estão mudando seu perfil e deixaram de terceirizar para contratar os funcionários diretamente.
Investidores estrangeiros
O bilionário investidor do setor imobiliário Sam Zell disse, em entrevista recente, que o Brasil seria sua escolha, caso tivesse de fazer uma única aposta nos próximos anos. “Eu compraria Brasil”, respondeu de forma categórica, ao ser questionado sobre onde os investidores deveriam mirar em caso de terem uma única chance no mercado de imóveis. O americano comprou 14% das ações da construtora Gafisa, uma das maiores do Brasil - e deve continuar investindo alto por aqui.
Seguindo os passos de Zell, investidores estrangeiros têm dirigido um novo olhar para a construção civil brasileira. Americanos, europeus e árabes começam a ver prédios comerciais e residenciais, habitações populares e shopping centers nos grandes centros do País como um bom destino para seu dinheiro. Antes, apenas os empreendimentos turísticos no Nordeste - voltados principalmente para segunda moradia de europeus - mantinham tal status.
Dados da consultoria Cushman & Wakefield mostram que, em 2007, o Brasil foi o 11º país que mais recebeu investimentos estrangeiros no setor imobiliário, com cerca de US$ 14 bilhões. O volume é 143% maior que o recebido no ano anterior. Entre os emergentes, apenas a China teve desempenho melhor: recebeu US$ 15 bilhões.
Os europeus, que mais investiram em resorts e imóveis para segunda moradia na região, lideram novamente o movimento. Empresas da Espanha, Portugal, Alemanha, Reino Unido e dos países nórdicos estão estudando ou já investem em novas modalidades imobiliárias no Brasil.
No último Salão Imobiliário de Madri, em abril, foram anunciados investimentos de cerca de 30 milhões em empreendimentos fora do Nordeste nos próximos seis meses. De 15 a 20 novos "players" europeus devem ingressar no País dentro de 12 meses. Até então, a entrada desses grupos vinha ocorrendo por meio de associações com empresas locais, compra de ações ou participação em fundos de investimento.
O espanhol Grupo Balboa é um dos poucos que já se instalou por aqui. Há três anos, chegou ao Brasil apostando nos empreendimentos para primeira moradia. No ano passado, a incorporadora espanhola fez seu primeiro lançamento. Em parceria com as nacionais Company e Helbor, está construindo um condomínio com 714 apartamentos em Guarulhos (SP), voltado à classe média alta. Este ano, vai lançar outros 1,5 mil apartamentos em três novos projetos no Estado, com Valor Geral de Vendas (VGV) estimado em R$ 550 milhões. Com os investimentos, o País já representa 17% do volume de negócios do grupo no mundo. Em três anos, a expectativa é que essa participação represente um terço do total.
Segundo o diretor da Câmara Espanhola de Comércio, Fábio Mortari, um dos motivos para o despertar dos espanhóis para novos segmentos foi a crise imobiliária naquele país. "Os preços lá ficaram insuportáveis", diz. Para ele, a oferta em excesso de empreendimentos no Nordeste também colaborou.
Além disso, Mortari acredita que os investidores buscam alternativas de investimento imobiliário mais seguro. Muitos querem fugir dos riscos dos empreendimentos turísticos, atrelados à sazonalidade.
Números
• US$ 14 bilhões foi o total de investimentos estrangeiros no setor imobiliário no Brasil no ano passado;
• 143% foi o aumento dos investimentos no ano passado, na comparação com o ano anterior;
• US$ 15 bilhões foi o total dos investimentos estrangeiros em imóveis na China, o único emergente que ficou à frente do Brasil nesse ranking.
Fonte: Elaborada pela Equipe Jornalística da Revista da Madeira