Embora a preservação de madeiras possa ser definida, de forma abrangente, como o conjunto de produtos, métodos, técnicas e pesquisas destinadas a alterar, medir ou estudar a durabilidade da madeira; usualmente é entendida como a aplicação de produtos químicos visando impedir a degradação física, química ou, principalmente, a deterioração biológica do material madeira.
Apesar dos possíveis riscos no manuseio e uso de biocidas, a preservação química ainda é a forma mais usual e eficiente na prevenção do ataque biológico.
O início das atividades industriais de preservação de madeiras no Brasil teve como base o tratamento de dormentes pela indústria ferroviária e o uso de postes para redes de distribuição de energia elétrica, de forma similar ao verificado em países como a Inglaterra, a Austrália, e os Estados Unidos, dentre outros.
No Brasil, a madeira tratada é tradicionalmente utilizada na forma de dormentes, postes de eletrificação, moirões e cruzetas. No entanto o seu potencial de utilização é muito maior, por exemplo, na construção de casas pré-fabricadas, indústria moveleira, construções rurais e, no setor de construção civil.
O uso concentrado basicamente em três produtos (postes, moirões e dormentes) é decorrente tanto da falta de conhecimento e tradição no uso de madeira preservada como na falta de especificações técnicas. As poucas normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para produtos de madeira preservada referem-se exatamente a postes, moirões, dormentes e bobinas para cabos elétricos.
O primeiro documento sobre preservação de madeira no Brasil, data de 1587 e foi escrito por um fazendeiro português que descreveu detalhadamente o ataque de térmitas subterrâneos e brocas, ocorridos em construções. Citou ainda, o ataque de perfuradores marinhos e a durabilidade natural de algumas espécies de madeira em diferentes ambientes.
No Brasil, o suprimento de madeira para a primeira ferrovia, inaugurada no Rio de Janeiro em 1854, era proveniente das grandes quantidades de madeira duráveis. Porém, com a intensificação do crescimento das estradas de ferro, dos telégrafos, e da iluminação elétrica, surgiu a necessidade de se preservar madeiras.
Estima-se que entre 1880 e 1884 cerca de 50.000 dormentes creosotados foram importados da Inglaterra, pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro. A antiga Estrada de Ferro Central do Brasil importou da Inglaterra, em 1900, a primeira usina de preservação de madeira no Brasil. Esta foi instalada em Juiz de Fora, Minas Gerais, começando a operar em 1902 para tratar dormentes de eucalipto com creosoto.
O primeiro tratamento de postes de eucalipto foi efetuado em 1935, em Rio Claro, São Paulo, utilizando o processo banho quente-frio com creosoto. A segunda usina, de cunho privado, foi inaugurada em 1945 e visava o tratamento de postes de eucalipto. De 1960 em diante, houve um crescimento constante no número de usinas em operação, concentradas principalmente nas regiões sul e sudeste. Nessa década, a Rede Ferroviária Federal S.A (RFFSA) instalou 10 usinas de preservação de madeira sob pressão, em diversos estados brasileiros.
Alguns fatos estimularam o desenvolvimento do setor de preservação de madeiras neste período, como as promulgações da Lei Federal n0 4797, de 20/10/1965, dos Decretos Lei no 58.016, de 18/03/1966, e de no 61.248, de 30/09/1967, estabelecendo que toda a madeira utilizada em serviços públicos - área de transporte e energia – deveria passar por tratamento, e regulamentado o seu uso.
Entre 1940 e 1970, houve uma grande expansão da demanda de postes de madeira tratada, mas sem acompanhamento de um respaldo técnico que garantisse a qualidade do produto final, o que aliado à ausência de técnicas adequadas e um controle de qualidade efetivo fez com que a vida útil dos postes não fosse a esperada. Isto fez com que o produto caísse em descrédito e expandisse o mercado de postes de concreto em detrimento do mercado dos postes de madeira.
Em 1969, foi fundada a ABPM (Associação Brasileira dos Preservadores de Madeira) e com isso aumentou o interesse na preservação de madeiras. Em 1972; foram publicadas as portarias que regulamentaram a produção de madeira tratada e dos preservantes de madeira.
Entre 1970 e 1980, o número de estabelecimentos da indústria de preservação da madeira aumentou em 318,75%, crescimento explicado pelo grande desenvolvimento brasileiro nos setores de transportes e energia. Em 1995/1996, existiam 68 usinas de preservação de madeira sob pressão, com capacidade de produção anual estimada em 865.000 m3. Destas, 14 estavam inativas e 14 pertenciam a empresas estatais dos setores ferroviário e elétrico (que tratam madeira somente para o consumo próprio). Das 40 usinas restantes, tinha-se a capacidade anual de produção estimada em 680.000 m3.
Ao contrário de outros países, a indústria brasileira de preservação de madeiras praticamente não diversificou sua produção. Desde sua origem em 1904 com o tratamento de dormentes, a indústria passou em 1935 a tratar postes e até hoje estes são os principais produtos ofertados ao mercado. Dados estatísticos divulgados em 1994 mostraram que o volume de madeira submetida a tratamento químico não foi superior a 1 % de toda a madeira produzida no período.
Segundo estimativas da ABPM, no ano de 2000 existiam em operação 80 usinas, com uma produção estimada em 560.000 m3 de madeira preservada. A maior parte dessa produção é destinada ao segmento rural, seguido pelo elétrico, ferroviário e de madeira serrada. Considerando-se apenas os tratamentos de impregnação, o volume de madeira serrada e preservada ainda é inexpressivo (de 3 a 5% do volume total produzido).
Apesar da pequena dimensão das indústrias de preservação de madeira, em comparação a outros segmentos industriais de base florestal como o setor de celulose e papel ou o setor de móveis, existe um grande potencial de crescimento para esta indústria desde que se altere o perfil de produção e se crie mecanismos de aumento da demanda interna e externa por produtos de madeira preservada.
Sabendo-se que o desenvolvimento de novos produtos deva ser embasado em especificações técnicas, assegurando assim qualidade e satisfação do consumidor; a proposição de mais normas e especificações para outros produtos de madeira tratada, assim como a criação de uma marca de conformidade para os produtos de madeira tratada, estariam diretamente ligado ao potencial de crescimento desta indústria noBrasil.
Professor Ivaldo P. Jankowsky ( ipjankow@esalq.usp.br ); Cristiane T. Barillari (ctbarill@esalq.usp.br ); Viviane P.Freitas ( vpfreita@esalq.usp.br ) |