Uma técnica de medição de cores, há muito tempo utilizada por outros segmentos industriais, vem despertando interesse na industria moveleira, que ainda não tem padrões explícitos nem determinações quantitativas para as cores. Trata-se da colorimetria quantitativa, uma medida científica, objetiva e quantitativa da cor de um objeto.
A colorimetria quantitativa é uma técnica recente a ser aplicada à madeira e derivados. Utilizando-se o sistema CIELAB 1976, através das coordenadas cromáticas, a metodologia pode ser utilizada para as madeiras. Isto eleva a qualidade do material pelo aspecto particular cor, além de permitir separar as madeiras em grupos de tonalidade, facilitando a aquisição e uso específico.
A tecnologia para determinar a cor da madeira vem evoluindo ano a ano, fazendo da propriedade cor, um fator chave de qualidade da madeira. Esta propriedade é um dos componentes do aspecto estético, que associa além da cor, aparência superficial e desenho.
A cor dos objetos é uma psico-sensação qualitativa e subjetiva legada a cada pessoa que dependente de sua experiência no domínio industrial, especialmente neste caso a cadeia industrial madeireira. Essa experiência prática pode ser aumentada e fortalecida através de um conhecimento teórico, muito acessível, e quantitativo numérico facilitado através dos aparelhos colorimétricos portáteis e aplicado ao mesmo domínio de trabalho para diferenciar as cores das madeiras sobre uma base numérica pela claridade e as coordenadas cromáticas características de cada cor.
Assim a confrontação entre o conhecimento obtido no dia-a-dia e as medições quantitativas das cores podem levar a uma experiência mais controlada de cada etapa das transformações industriais do aspecto estético das madeiras ou painéis.
As medidas das cores podem ser utilizadas no setor nas seguintes operações:
No momento de compra da madeira verificando suas qualidades;
Para conhecer o estoque da madeira em serraria referente aos tipos de cores (código de barra já utilizado na Indústria Francesa para gestão do estoque);
Classificação informatizada do estoque;
- Descrever com precisão a cor de uma madeira conforme os dois planos de desdobro (longitudinal radial e longitudinal tangencial) em números (coordenadas L*, a*, b*), em vez de "falar" em termos gerais da cor com ajuda de adjetivos ;
- Definir a mudança de 'cor’ causada pelo acabamento na indústria, planejando fases como lixar ou não, aplicação verniz fosco ou brilhante, claro ou mais escuro;
- Medir as variações de cores sob a ação da luz ultravioleta (sob o efeito do sol, da chuva, ou ao longo do tempo) conhecida como ação de fotodescoloração;
- Na indústria de pisos para unir as lâminas dos pisos mediante a definição de diferenças de cores, considerando a percepção das suas variações, em diferentes classes de qualidade e utilizada para classificação automatizada;
- Definir agrupamento de espécies pertencentes a cores semelhantes (ou bem próximo), evitando a exaustão de uma única espécie que pode ser substituída por outras do mesmo agrupamento (exemplo: o mogno, a canela vermelha, o cedro, enfim espécies “rosa avermelhada”);
Através dos parâmetros colorimétricos, definir a seqüência das
cores em cada etapa da cadeia madeireira, levando em consideração o gosto do cliente, caso uma determinada etapa venha a ser interrompida ou retomada em produções futuras;
No futuro dar referências de cores em um contrato de venda entre fornecedores e compradores como os limites de valores das variações de 'cores' admissíveis, baseando-se nos parâmetros cromáticos.
Qualidade
A utilização da colorimetria, na avaliação da cor da madeira e de seus produtos, deve ser uma ferramenta de controle de qualidade na indústria madeireira. Fazer a interpretação das coordenadas cromáticas de maior influência colocando a disposição dos utilizadores de madeira, mais uma metodologia de estudo visando quantificar sua qualidade.
Na cadeia madeireira o aspecto dos produtos finais depende da estrutura da madeira de cada espécie, do sentido do corte e dos tratamentos aplicados. As modificações das madeiras podem ser muito importantes numa determinada etapa da cadeia, por exemplo, durante a fase de seleção das peças de madeira para compor o móvel ou durante o acabamento do produto. Assim, cada componente do processo produtivo influenciará de forma mais ou menos acentuada na qualidade do produto final.
Certamente, o componente “cor” é um fator preponderante no caso dos produtos madeireiros. A utilização deste parâmetro ainda não se popularizou na cadeia madeireira do Brasil. Na Europa, sobretudo na França e Itália a colorimetria é uma ferramenta fundamental no controle de qualidade das indústrias madeireiras, particularmente nos segmentos móveis e pisos.
Valores dos parâmetros colorimétricos de cinco espécies estudadas
O conjunto dos parâmetros cromáticos (L*, a* e b*), assim como os parâmetros complementares C e h* permitem diferenciar as cores de forma precisa (quantitativamente e qualitativamente), entre espécies.
O pau marfim é a madeira mais clara como pode ser verificado observando-se o valor do parâmetro L* (84,1). A dominância da coordenada b* sobre a coordenada a* e o ângulo de tinta (h* = 81,4) mostra, respectivamente, a presença predominante da cor amarela em relação à cor vermelha e o posicionamento da espécie próximo ao eixo amarelo. Por outro lado, a madeira de Ipê apresenta a coloração mais escura (L* = 39,0), mostrando também a presença das cores vermelha (coordenadas a*) e amarela (b*) em maior intensidade
o que caracteriza a cor da madeira de ipê (castanho amarronzado). Assim como h* indica que esta madeira está na direção do eixo vermelho (coloração mais escura). A cor da madeira de Mogno é caracterizada pelas coordenadas a* (14,6) e b* (28,7) e L* (52,1) dando uma saturação elevada (C = 18,9) e h* (58,0) intermediário, entre o vermelho e o amarelo, o que resulta numa cor vermelho amarelado.
A base de cálculos dos parâmetros colorimétricos foram às curvas de reflectâncias de luzes das amostras ao longo dos comprimentos de ondas no domínio visível de 400 a 700 Nm, (exemplos para as madeiras de Mogno e Pau Marfim).
Estes valores podem ser classificados de forma ordenada (tanto em função de L* como de h*) podendo criar-se um catálogo na informatização do estoque de uma empresa considerando a cor das madeiras. Este catálogo também ajudaria as pessoas a escolher uma determinada madeira em função de sua cor. Também seria uma ferramenta muito útil para os decoradores de ambientes. Na indústria este catálogo poderia ser utilizado na composição dos elementos a base de madeira compondo um produto mais homogêneo.
A indústria de piso a base de madeira também poderia beneficiar-se desta tecnologia, principalmente durante a fase de seleção das lâminas, o que facilitaria a produção de lotes de cores uniformes como já é realizado em outros países. Muitos outros segmentos da cadeia industrial madeireira podem tirar proveito desta tecnologia ganhando em qualidade e competitividade.
GONÇALEZ, J. C.; Universidade de Brasília; goncalez@unb.br JANIN, G.; Universidade de Brasília; gjanin@unb.br CAMARGOS, J. A. A.; IBAMA;lpf@lpf.ibama.gov.br |