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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°100 - NOVEMBRO DE 2006

Colheita

Manejo florestal: condição básica para a sustentabilidade

Originário do antigo continente europeu, no século XIX, o ordenamento florestal estava ligado às práticas silviculturais aplicadas nos povoamentos florestais, incluindo os seus aspectos financeiros e organizacionais, visando a produção de madeiras. Na segunda metade do século XIX, o ordenamento foi levado pelos europeus para a Ásia numa tentativa de adaptá-lo às florestas tropicais. No início do século passado, o ordenamento foi introduzido na África, somente chegando na América na década de 40.

O desenvolvimento das técnicas de exploração e condução da floresta, sensoriamento remoto, tecnologia de produtos florestais e capacidade de armazenamento e processamento de informações possibilitaram a consolidação do Manejo Florestal em florestas tropicais. O manejo de bacias hidrográficas, o lazer, a educação ambiental e a conservação da fauna (silvestre) e da flora (madeireiro e não madeireiro) passaram a ser parte do Manejo Florestal, ampliando o conceito de uso múltiplo.

Assim, Manejo Florestal é um conjunto de técnicas empregadas para colher cuidadosamente parte das árvores grandes de tal maneira que as menores, a serem colhidas futuramente, sejam protegidas. Com a adoção do manejo, a produção de madeira pode ser contínua ao longo dos anos.

O manejo das florestas envolve produção, rentabilidade, segurança no trabalho, respeito à legislação, logística de mercado, conservação florestal e serviços ambientais (equilíbrio do clima regional e global, especialmente pela manutenção do ciclo hidrológico e retenção de carbono).

Os benefícios econômicos do manejo superam os custos. Tais benefícios decorrem do aumento da produtividade do trabalho e da redução dos desperdícios de madeira.

Apesar de ainda ser praticada em pequena escala, o Manejo Florestal é obrigatório por lei. As empresas que não fazem manejo estão sujeitas a diversas penas. Embora, a ação fiscalizatória tenha sido pouca efetiva até o momento, o processo de monitoramento está aumentando e a pretensão do Estado é intensificar a fiscalização das áreas verdes da região. Com a adoção dos planos de manejo, as empresas e produtores podem obter um certificado com "selo verde" cada vez mais exigido pelos grandes compradores de madeira, especialmente na Europa e nos Estados Unidos.

Além dos benefícios comerciais, a prática do manejo sustentável garante a conservação de espécies animais e vegetais prolongando a vida útil das áreas exploradas, contribuindo assim para o equilíbrio do clima regional e global, especialmente pela manutenção do ciclo hidrológico e retenção de carbono.

Para debater sobre Manejo Florestal a Revista da Madeira entrevistou o Prof. Dr. Jorge Roberto Malinovski, coordenador do XIV Seminário de Atualização Sobre Sistemas de Colheita de Madeira, promovido pela FUPEF/UFPR. O Seminário aconteceu em Curitiba/PR, no mês de agosto de 2006. Nesta edição, o Seminário abordou o temário: Terceirização, Novas Tecnologias, Logística e Cadeia Produtiva da Madeira, com diversas palestras técnicas proferidas por renomados palestrantes do Brasil e exterior.

Atualmente, a colheita faz parte da cadeia produtiva da madeira a qual é definida como “negócio” e não como atividade parcial isolada..

Jorge Roberto Malinovski é Engenheiro Florestal pela Universidade Federal do Paraná, doutorado em Engenharia Florestal pela Albert-Ludwigs-Universitãt Freiburg, Alemanha. Pós-doutorado pelo United States Forest Services – USFS, Estados Unidos, Professor titular do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Paraná.

Revista da Madeira - Qual a importância do manejo florestal para a produção de madeira no Brasil?

Malinovski - No manejo florestal existe uma grande diferença entre manejo em floresta nativa e em floresta plantada, entre exploração e colheita. A exploração acontece na floresta nativa, com a retirada racional da madeira. A colheita acontece nos plantios, onde o produtor planta, conduz o crescimento e colhe; é mais utilizado nos reflorestamentos.

O manejo florestal é extremamente importante e, dependendo do manejo, vai haver sustentabilidade ou não. Ele é mais apropriado em florestas nativas e em reflorestamento com produção de uma mesma espécie.

Revista da Madeira - Podemos afirmar que o manejo dos recursos florestais é a atividade mais vantajosa que se pode desenvolver no Brasil?

Malinovski – Isso depende do manejo utilizado, é através desta escolha que a produção será sustentável ou não. O manejo está diretamente relacionado ao mercado, os produtores que atuam com reflorestamento, produzem madeira conforme a sua demanda. Na floresta nativa, ele vai retirar apenas o que for possível mas, dependendo do estilo do manejo, a floresta pode sofrer um empobrecimento do remanescente florestal.

Em manejo sustentável deve-se manter a particularidade de cada espécie, devolver a natureza uma espécie idêntica àquela retirada. Cada árvore tem a sua história, nenhuma outra irá substituí-la integralmente, com os mesmos galhos, os mesmos ninhos, a mesma bagagem de informações. Manter o equilíbrio é essencial para a potencial regeneração da floresta.

Revista da Madeira - É possível compatibilizar a atividade florestal com o manejo sustentável?

Malinovski - É possível, desde que bem implementado. Em floresta nativa, uma árvore é igual a um ser humano, que nasce, cresce, se desenvolve, reproduz, envelhece e morre. Se for retirada a árvore no final de sua vida, não há problema. É preciso retirar apenas aquela, sendo posteriormente reposta para manter o equilíbrio com a rentabilidade.

A produção de madeira só é viável quando se tem um plano de silvicultura e de manejo em equilíbrio com a sustentabilidade ambiental e com a satisfação social, porém ela precisa ser economicamente viável. A melhor forma de preservar é saber usar.

Revista da Madeira – Quando e onde surgiu a atividade de manejo florestal como alternativa econômica?

Malinovski - Na Europa, ela já existia há vários séculos. No Brasil, o manejo foi introduzido com o início das atividades das escolas de florestas, em 1960. Com a entrada dos cursos florestais os conceitos mudaram e o Brasil desenvolveu um conceito nacional, adaptado a nossa realidade.

Na Europa a linha de pensamento era mais conservacionista que economista. Na Escandinávia, a linha era voltada ao uso racional da floresta. 60% do PIB da Finlândia vinha do setor madeireiro. O Brasil procurou adaptar um estilo próprio, mas o mais difícil foi a mudança de conceito.

Neste sentido, a grande vantagem e o papel das ONGs é a pressão que fazem no lado econômico. Eu vejo o manejo e a atividade florestal como um pêndulo: de um lado está a questão econômica com a exploração, de outro as ONGs com a questão da conservação. Com a entrada das ONGs o peso sobre o pêndulo caiu para o seu lado. Hoje, já atingimos o ponto máximo da conservação. O ideal é manter o equilíbrio do pêndulo, entre economia e conservação, e não estamos muito longe disso.

Revista da Madeira - Quais são as novas tecnologias destinadas ao manejo florestal?

Malinovski - A tecnologia está diretamente relacionada com os sortimentos de potenciais de consumo no mercado. Caso típico é o aproveitamento florestal com utilização de biomassa residual da colheita.

O mercado, carente por qualquer tipo de produto que tenha rentabilidade econômica, esquece de ter sustentabilidade florestal. Retira produtos de baixo valor agregado das florestas (como os resíduos), que podem causar redução da fertilidade do solo. Neste caso, também é preciso haver equilíbrio entre produção e sustentabilidade, entre crescimento e qualidade das florestas.

Revista da Madeira - Existe ainda uma resistência ao manejo florestal por parte de alguns produtores. Porque isso ainda acontece?

Malinovski – Isto só ocorre para aquele madeireiro tradicional, que não está preocupado com o futuro, que só faz exploração e não visa a sustentabilidade a médio e longo prazos.

Hoje, existem empresas e/ou pessoas que visam transformar a floresta nativa em outros meios de produção como a agricultura e a pecuária, por exemplo. Estes são os que mais destroem a floresta.

Revista da Madeira - Quais os principais obstáculos que a implantação de planos de manejo florestal encontra no Brasil?

Malinovski - Primeira coisa: educação e maturidade. Outro ponto que é muito pouco trabalhado: organização e conscientização de pequenas propriedades. Há, ainda, as grandes propriedades com interesse em transformação de florestas para uso agropecuário - não existem planos adequados de utilização da terra.

As madeireiras e empresas do setor sabem que não podem explorar a reserva legal. Na agropecuária, a Lei é pouco difundida. Muitas vezes, vemos um vasto cenário com terras sem valor; com erosão e problemas de compactação. É preciso trabalhar pelo desenvolvimento de práticas conscientes do uso do solo. O Brasil pode superar estes obstáculos através da conscientização, de planos adequados, fiscalização e controle de atividades.

Revista da Madeira - Como é feita a orientação e a capacitação dos produtores envolvidos com o manejo florestal?

Malinovski - Normalmente, deve ser feita pelos órgãos do governo, como IBAMA, Secretarias de Agricultura, Institutos Florestais, por exemplo, através de programas de conscientização - apresentando projetos e técnicas economicamente viáveis, para atrair os produtores ao desenvolvimento do manejo florestal de forma sustentável.

Revista da Madeira - O tamanho das áreas de exploração sustentável em florestas tropicais está sendo superestimado por governos e proprietários de terra, Três quartos dos planos de manejo sustentável não conseguem sair do papel. Esta análise confere com a realidade?

Malinovski - Sim. A questão não é tamanho, mas a forma como é feito. Muitas vezes, as florestas tropicais estão longe dos centros transformadores e consumidores da madeira. Isto faz com que se desperdice algumas partes das árvores, cortando apenas a parte mais nobre. O transporte é viável em poucos estados e estas regiões, longe dos centros, não conseguem seguir a risca os planos que se tornam deficitários.

Revista da Madeira - Nem todos os números são pessimistas. A área de mata explorada de maneira não-predatória cresceu de 1 milhão para 36 milhões de hectares desde 1988. A que se deve este crescimento?

Malinovski – Em grande parte a ações do certificado FSC - Forest Stewadship Council. O FSC é um certificado de manejo florestal que comprova que a origem da madeira utilizada para produção provém de uma floresta manejada de forma ecologicamente correta, socialmente justa e economicamente viável, garantindo um produto dentro de um padrão sustentável de produção, que não destrói o meio ambiente e contribui para o desenvolvimento econômico e social.

Normalmente, as empresas procuram realizar atividades em consonância com o manejo sustentável por causa do FSC. Mas isto é validado quando são empresas que exportam seus produtos. Esse selo de qualidade é exigido no mercado externo; para o mercado interno não existem fortes restrições, assim, os planos de manejo não são seguidos à risca.

Revista da Madeira - No Paraná, o governo pretende formar um Mosaico Florestal com a participação de pequenos e médios produtores, descentralizando a produção dos grandes produtores. No seu ponto de vista quais os benefícios e as desvantagens do Mosaico?

Malinovski – Este é um plano que pretende inserir as pequenas e médias propriedades no processo de produção da madeira. É o crescimento baseado na substituição do modelo de grandes maciços florestais por “mosaicos florestais”, onde os principais benefícios são: Definição de portes industriais; Programa de fomento das grandes empresas; Conscientização do planejamento de uso da propriedade.

A atividade florestal não requer do produtor que ele a alimente todo o dia. Ela não morre por falta de chuva ou por causa da geada, não é sazonal. É uma “Poupança em Pé”, onde o produtor pode utilizar no momento em que estiver pronta para colheita ou, simplesmente, aguardar um melhor momento no futuro.