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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°100 - NOVEMBRO DE 2006

Móveis e Tecnologia

Madeiras alternativas são opções para mobiliário

A madeira ainda não é conhecida com profundidade por muitos profissionais que a utilizam em seu dia a dia. Somente com pesquisa é possível evidenciar os caminhos para a correta preservação dos elementos naturais, como o plantio programado das espécies adequadas, o uso e a valorização de muitas outras espécies ainda não conhecidas, nem divulgadas comercialmente. Com a correta especificação dos materiais derivados da madeira, é possível propor o uso adequado das madeiras alternativas para o mobiliário.

A madeira mantém viva as referências, padrões simbólicos e expectativas definidas pelo meio social, que pede um processo de recriação de nossa própria identidade individual. As novas tendências nos levam a novas condições de consumo, onde os produtos devem ser duráveis, personalizados, simplificados, de uso compartilhado e, principalmente, despertar o compromisso das pessoas com a consciência ecológica e valorização das culturas. Isto irá se refletir nas escolhas dos produtos a serem consumidos, onde seja mais valorizada a produção criativa, original e com qualidade.

O uso de madeiras mais adequadas, é uma exigência dos consumidores conscientes da nova realidade e da preservação de um conjunto de valores singulares de cada cultura e da maior responsabilidade de cada um, para com o todo. A diversificação do uso das madeiras em questão, torna necessárias estratégias de agregar valor aos produtos, centradas na necessidade dos consumidores.

A aceitação das madeiras nativas alternativas e reflorestadas, que estão sendo introduzidas no mercado, passa por uma análise dos produtos, que leva em conta certas características que representam o diferencial no mercado.

São elas:

- Culturais: tendências e estética

- Técnicas: materiais e mecanismos

- Funções: de segurança, ergonômicas

- Econômicas: marketing, processos.

Estes fatores serão decisivos para a penetração e o sucesso dos produtos num mercado competitivo.

O móvel, por extensão a indústria do mobiliário, consiste em uma das áreas para o desenvolvimento do design. A necessidade de criar um mobiliário sintonizado com com a arquitetura moderna, impulsionou os arquitetos a uma empreitada autônoma.

Posteriormente, a indústria e os designers industriais, absorveram o produto, sobretudo na área do móvel de escritório, não tão sujeito a modismos. Problemas sociais e econômicos no país, no entanto, impediram o encaminhamento de projetos de qualidade e bom preço.

Colocava-se a questão, peças únicas ou produção em série. A solução acabou sendo dada sempre pelo meio termo: o objeto e a matéria abordados do ponto de vista técnico, mas com acabamento rigorosamente artesanal.

Embora devesse se ajustar às normas da produção em série, o desenho de móveis no Brasil, acabou se tornando uma produção restrita e quase artesanal, especialmente no caso do móvel residencial.

Modernização do móvel

O patrimônio artesanal dos trabalhos portugueses em madeira marcou a evolução da mobília e dos interiores na residência brasileira, ao mesmo tempo a produção brasileira ia se intensificando, através da habilidade de artesãos brasileiros e europeus aqui radicados.

Na segunda metade do séc. XIX já existia um número expressivo de marcenarias e fábricas, que produziam móveis em todos os estilos. A semana de arte moderna em 1922 acelerou a entrada definitiva no país do século XX.

Fez parte do espírito modernista a experimentação. Os artistas se manifestaram através de diversos meios de expressão, em vários setores da produção: literatura, dança, pintura arquitetura, música e design etc.

A evolução do design de mobiliário sofreu as mesmas alterações que atingiram as artes em geral. Na arquitetura, lançaram as bases para reformulação dos espaços e até do próprio móvel. Os arquitetos enfrentaram desafios para a implantação de uma concepção estética arquitetônica, que incluía também o móvel.

Cama patente

Custo acessível foi fator decisivo para o sucesso da cama patente

A grande virada se fez sentir em 1930, quando a arquitetura moderna resgatou o móvel, como elemento essencial no projeto arquitetônico. Uma das experiências pioneiras da modernização do móvel no Brasil, foi a cama patente, ela é um marco na evolução do design, em 1915. Foi a racionalização do desenho e da produção. Seu criador foi Celso Martinez Carrera (1884-1955). A versão em madeira da cama de ferro, trouxe novas potencialidades da madeira curvada, consagrada internacionalmente pela produção de Michel Thonet que foi o precursor no uso da madeira vergada em 1836 em Viena, na Áustria

A cama patente, com as suas linhas e formas puras, traduziam à leveza e simplicidade A limpeza do desenho, se deve prioritariamente, à questões econômicas. Princípios funcionais foram colocados em prática, para tornarem possível a industrialização da cama, a um custo acessível ao consumo popular, fator decisivo para seu êxito comercial.

O componente moderno da cama era o uso da madeira curvada, consagrada com os desenhos de Michel Thonet, com cadeiras de compensado curvado, moldado termicamente, fazendo uma única peça do encosto e pés da cadeira, evitando assim as emendas. A utilização da madeira curvada é expressiva no processo de modernização do móvel. Esta madeira foi a referência básica para o móvel do século XX.

O design desta cama pode ser considerada como um manifesto à favor da modernidade e da funcionalidade do móvel, pois trouxe alterações profundas em termos de projeto, execução, processos construtivos, comercialização, consumo e padrões de gosto no setor.

Até então, as camas populares eram de ferro, material importado, o que encarecia o produto. A combinação do ferro com a madeira, permitiu a criação de uma cama mais acessível, com estrado ligado à cabeceira, através de barras finas de ferro. Mas as camas populares tinham problemas de produção : eram caras, incômodas e de com pouca durabilidade, não podiam ser objeto de uma indústria, então eram fabricadas esporadicamente.

Era necessário um tipo de cama simples e elegante, sólida e leve, resistente e portátil, que estivesse ao alcance de todos, capaz de ser fabricada industrialmente, em larga escala, atendendo a todas essas necessidades e aproveitando a madeira, uma das riquezas naturais do país. Com estas motivações, nasceu o mais brasileiro dos móveis, uma das forma mais representativas dos móveis brasileiros, neste século. A cama patente marcou o início da produção do design com madeira no Brasil. Ela era composta, de três elementos básicos: cabeceira, pezeira e estrado, todos em madeira torneada.

Inicialmente foram usados o pinho de riga e a imbuía, com diversificação dos modelos, foram usadas também as madeiras folheadas como: sucupira, imbuía amendoim, pau-marfim e até jacarandá, sob encomenda prévia.

Foram produzidos seis modelos de cama patente, os populares mais conhecidos, eram de madeira roliça, curvada ou torneada. Em 1928, tinham conquistado o mercado brasileiro, seus usuários eram a classe operária e classe média a comercialização era feita por lojas de departamentos, até feiras e armazéns.

A cama não representou apenas uma inovação dos hábitos do dormitório, foi um dos episódios mais significativos na indústria brasileira, em termos de criação e novas tecnologias. Foram desenvolvidos métodos próprios de fabricação e sucessivamente, construídas máquinas para fabricação das camas.

Utilização da madeira

Até o inicio do século XX, as madeiras in natura predominavam na fabricação de portas, janelas, pisos, forração de tetos, escadas, rodapés, painéis e principalmente mobiliário. A evolução industrial e a necessidade da produção mem maior escala, com custos mais competitivos, determinaram a busca por alternativas que permitissem a obtenção de painéis, de dimensões adequadas ao uso, na construção civil e mobiliário.

Minimizando os inconvenientes apresentados pela madeira maciça, tais como nós, fibras torcidas, empenamentos, limitações de dimensões, largura de tora e a própria escassez ou a distância das florestas do centro consumidor. A isso, some-se a pressão crescente, exercida pelos movimentos preservacionistas.

O início da utilização de painéis de madeira reconstituída deu-se no início de século XX, primeiramente no compensado. Lâminas de madeiras, obtidas a partir da laminação de toras de grande diâmetro, são sobrepostas, sempre em número ímpar, alternando os sentidos dos veios, afim de reduzir as tensões naturais, responsáveis pelo empenamento, e por defeitos de forma. A possibilidade de chapas, em dimensões e espessuras variadas, entre seus pontos fracos, apresentam superfícies e bordas grosseiras, além de facilidade no lascamento. Nos anos vinte, surgiu a chapa dura de fibra. Lascas de madeira(ou sobras de serrarias), são desfibrados e diluídos em meio aquoso e quando submetidas à prensagem à quente, essa polpa acaba perdendo toda sua água e o calor ativa a lignina, cola natural da madeira, ligando novamente as fibras.

A superfície lisa, que permite excelente acabamento, boa usinabilidade, dimensões das chapa favorável aos mais variados tipos de cortes, alinham-se entre as vantagem desse tipo de chapa. Na década de quarenta surge o aglomerado, um painel resultante da aglutinação de madeira em partículas, com cola especial. A seu favor, possui a múltipla possibilidade, de espessuras e a estabilidade dimensional, bem como o fato de ser fabricado exclusivamente de madeiras de reflorestamento, como o pinnus e o eucalipto. Superfícies e bordas grosseiras, que inviabilizam determinados tipos de acabamento e difícil usinabilidade, são as suas principais restrições.

Reunindo apenas as principais qualidades dos painéis anteriores, foi desenvolvido, durante os anos sessenta, o MDF - Medium Density Fiberboard, ou chapa de média densidade. Enumeram-se entre as suas vantagens, a possibilidade de 2 mm a 60 mm de espessura, a estabilidade dimensional, o peso próprio da madeira in natura, a facilidade de corte e usinagem, e um acabamento superficial de alta qualidade, que permite os mais diversos revestimentos com tintas, finish foil, filme de PVC, além da realização de almofadas, rebaixos e detalhes elaborados.

Sua utilização abrange portas, que exijam acabamento refinado, ou entalhes elaborados, batentes tetos e arremates, forração, lambris, escadas, rodapés e pisos. Graças ao MDF, os pisos ganharam uma nova geração, o flooring, um piso flutuante de alta resistência, que pode ser aplicado em todos os cômodos residenciais e comerciais, exceto em áreas úmidas, sem que seja necessário, uma maior preparação da superfície. Basta aplicar uma manta isolante sobre o contra-piso e a seguir, distribuir as placas de madeira, que serão coladas lateralmente, umas às outras.

Placas de MDF

Madeiras alternativas

Influenciado pelas pressões internacionais que aumentam no mundo todo sobre e exigência de produtos ecologicamente corretos, o designer André Marx opta por madeiras provenientes de reflorestamento. O designer só trabalha com espécies que não corram o risco de extinção. Empenhado em encontrar madeiras pouco exploradas comercialmente, na busca de uma relação mais ecológica, combina cores e texturas de diferentes essências em uma só peça, transmitindo à madeira maciça mais leveza.

Sua preferência recai sobre uma madeira ainda pouco conhecida aqui, mas muito valorizada na Europa, a teca ou Tectona Grandis, originária da Birmânia e cultivada há mais de 25 anos no Brasil, onde é plantada em extensas áreas do Mato Grosso do Sul. A produção destina-se quase que exclusivamente à exportação, devido ao seu elevado preço.

A teca tem a cor marrom claro com tendência para o mel; veios suaves não agressivos, e alta resistência. Além disso proporciona encaixes perfeitos, que não abrem nem trincam, com baixo coeficiente de dilatação.

Marx também usa outras madeiras de reflorestamento, a maioria importada como o carvalho, abdul, cherry, ou fresno, todas estas madeiras permitem que ele busque a sutileza das curvas, tão tradicional em seu desenho.

O designer Maurício Azeredo foi o pioneiro no uso da biodiversidade ao associar diversas madeiras num mesmo móvel, o que constitui a principal característica do seu trabalho. Esta postura reflete seu pensamento sobre ecologia, um trabalho consciente e não apenas uma expressão.

Desde que se começou a falar da questão ambiental, nos países desenvolvidos, há mais de 30 anos, o tema vem se tornando menos distante e invadindo nosso cotidiano. Como o critério ecológico veio para ficar e engloba o emprego de materiais recicláveis, a maior extensão possível do ciclo de vida dos objetos, economia de energia, e de recursos naturais, na produção ou utilização futura, é necessário que os designers estejam atentos à necessidade de projetar de forma que, a obra tenha harmonia com o ambiente natural.

O designer diz que até hoje não encontrou nenhuma referência de tanta diversidade de cores de madeira como é encontrado no Brasil. “Durante um período vivemos a ditadura da madeira única, mas podemos usar a madeira como forma de expressão cultural, não só pela forma do objeto mas pela cor que este têm”, afirma.

Ao contrário de designers que têm defendido o uso de materiais sintéticos, por substituição dos naturais como postura ecológica, Azeredo defende a mata que é perfeitamente possível de renovação, se administrado corretamente esse recurso.

Quanto ao uso da madeira reflorestada como única solução da indústria moveleira, para resolver o problema da extinção das madeiras mais nobres, também é condenada por ele, pois entende que os reflorestamentos servem para situações particulares de indústrias, que usam a madeira como matéria-prima, para produção em larga escala. O reflorestamento é apenas uma maquiagem, recompõe-se apenas o visual, mas não recria o ambiente ecológico.

Reconhece que, para a indústria moveleira trabalhar com várias espécies de madeiras simultaneamente é muito difícil e inviável, pois cada madeira tem uma abordagem diferente da outra, mas tem a possibilidade de usar em ciclos.

“O Brasil tem uma característica predatória no uso das madeiras, usa-se até acabar, até a extinção e depois escolhe-se um novo alvo, que é explorado ,até o último veio. No momento em que se usa apenas uma madeira e ela desaparece, desaparecem junto muitas outras espécies de flora e fauna, que dependiam apenas dela”, explica

Para Azeredo toda e qualquer madeira é passível de uso. “Ao usar várias espécies há uma valorização do conjunto, reduz-se a velocidade de devastação, elimina o desperdício e ao mesmo tempo, é possível um manejo mais correto depois no replantio”.

No livro “A construção da identidade Brasileira no Mobiliário”, o designer Maurício Azeredo mostra que é possível recompor os ecossistemas adotando um sistema de rodízio que não ameace a globalidade das espécies, ou qualquer uma em particular. Para ele, a supervalorização da madeira de reflorestamento como o Pinus e o Eucalipto pode reduzir o enorme valor econômico das madeiras de nossas matas e justificar a devastação definitiva da mata amazônica.

O problema que Maurício encontra para o uso de diversas madeiras em um mesmo móvel, é a junção das peças que compõem o móvel, devido às características diferenciadas das madeiras. Isto também é um problema para o uso das madeiras reflorestadas. O pinus por ser uma madeira extremamente mole e o eucalipto por ser muito dura, dificultam o uso de pregos e parafusos nos encaixes.

A solução encontrada pelo designer é o encaixe aparente, realçado nos móveis. Isto também pode ser a solução mais interessante que o design dos móveis de pinus e de eucalipto deve se apropriar. Ao se pensar na solução para a preservação das madeiras nobres, e se o reflorestamento seria a saída para esta questão, deparamos com algumas polêmicas, como o porquê da pouca valorização das madeiras reflorestadas no uso dos móveis, se esta seria a grande solução ao alcance de nossas mãos e porquê acontece a pouca divulgação destas madeiras. A resposta está no fato de que, se apenas usarmos madeiras reflorestadas e as madeiras nativas não tiverem valor algum, então não seria necessário preservar, o que contribuirá para que continue a devastação indiscriminada das florestas de madeiras nativas.

O caminho seria valorizar as madeiras nativas, incentivando seu uso. Nisto o design tem seu papel fundamental, porque através dele vamos inserir em nosso cotidiano estas madeiras nativas, pouco conhecidas e até desprezadas Na questão referente às madeiras reflorestadas, só haverá o reconhecimento e aceitação delas, se o design tiver seu papel definitivo neste contexto.

Fonte: Universidade Federal de Santa Catarina e o livro “A construção da identidade Brasileira no Mobiliário”, do designer Maurício Azeredo.