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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°99 - SETEMBRO DE 2006

Mercado - Painéis

Crescimento das exportações de compensado de pinus e perspectivas

A evolução da indústria brasileira de compensado de pinus é recente. A maturação das plantações florestais de pinus estabelecidas no Brasil durante a década de 70 e 80, como resultado do programa de incentivo fiscal, proporcionou um aumento substancial na oferta de madeira de pinus, caracterizando-se como um fator indutor ao desenvolvimento da indústria de compensado.

Atualmente, existem pouco mais de 100 fábricas de compensado de pinus em operação no Brasil, as quais, em conjunto, respondem por uma capacidade de produção instalada da ordem de 3 milhões de m3 anuais. A maioria das plantas de compensado de pinus está instalada na região sul do país, notadamente nos Estados do Paraná e Santa Catarina.

No início dos anos 90, a indústria brasileira de compensado estava baseada em linhas de produção bastante defasadas tecnologicamente, as quais, via-de-regra, apresentavam baixo grau de mecanização e automação. Somente a partir de meados da década de 90 que a indústria brasileira de compensado de pinus experimentou expressivos investimentos na modernização de suas linhas de produção para melhoria dos níveis de produtividade e qualidade, vislumbrando uma maior competitividade do produto no mercado internacional. Isso repercutiu positivamente na produção.

A produção brasileira de compensado de pinus mais que triplicou nos últimos 10 anos (vide figura abaixo). Em 1995, a produção de compensado de pinus no Brasil era 670 mil m3, passando para quase 2,5 milhões de m3 em 2005, o que representa uma taxa média de crescimento anual da ordem de 14%. Trata-se de uma taxa de crescimento nunca antes experimentada por nenhum outro segmento da indústria florestal no país.

A evolução da produção brasileira de compensado de pinus guarda estreita relação com as exportações, tendo em vista a competitividade do produto brasileiro no mercado internacional. Os volumes destinados ao mercado doméstico são pouco expressivos frente à produção nacional. Na realidade, o compensado tem enfrentado uma forte competição dos painéis reconstituídos, particularmente o aglomerado, o MDF e, mais recentemente, o OSB, no mercado doméstico.

As exportações brasileiras de compensado de pinus têm apresentado um crescimento bastante expressivo desde final da década de 90. Em 1998, as exportações brasileiras de compensado de pinus alcançaram 279 mil m3, comportando-se de forma crescente até 2005, quando atingiram o volume recorde de quase 2 milhões de m3 (vide figura ). Tal desempenho consolidou o Brasil como o maior exportador mundial de compensado de conífera (pinus).

As exportações brasileiras de compensado de pinus estão concentradas em poucos países (vide figura abaixo). Isoladamente, os EUA responderam por mais da metade das exportações brasileiras de compensado de pinus verificadas em 2005, seguido pelo Reino Unido, Bélgica e Alemanha.

A participação do Brasil no mercado internacional de compensado de coníferas é bastante significativa. Estima-se que o Brasil participe com a metade das importações européias de compensado de coníferas. No mercado americano, a participação brasileira é ainda maior. De acordo com a IWPA, o Brasil é responsável por 2/3 das importações americanas de compensado de coníferas.

Em que pese o excelente desempenho verificado até então, a sustentabilidade do crescimento das exportações brasileiras de compensado de pinus pode estar comprometida.

As perspectivas para 2006 não são nada alentadoras. No primeiro semestre de 2006, as exportações brasileiras de compensado de pinus sofreram uma queda de quase 15% em relação ao mesmo período de 2005. Projeções indicam que o volume das exportações brasileiras de compensado de pinus devem cair para 1,7 milhões de m3 em 2006.

Em parte, a desaceleração do ritmo das exportações brasileiras de compensado de pinus verificada desde 2004 pode ser atribuída à desvalorização da moeda americana frente ao Real, o que afetou o preço do compensado de pinus em Real, diminuindo, conseqüentemente, a receita dos exportadores brasileiros. Isso demonstra que as empresas brasileiras estavam ampliando sua participação no mercado internacional através de uma falsa vantagem competitiva: o câmbio. No entanto, a maioria dos exportadores perceberam que, na realidade, o câmbio é apenas uma vantagem comparativa. Tal situação tem sido mitigada pela busca de melhores níveis de produtividade e pela identificação de nichos de mercado que permitam melhor remunerar o produto.

Entretanto, não somente o câmbio tem afetado a competitividade do compensado de pinus brasileiro no mercado internacional e comprometido a sustentabilidade do crescimento das exportações brasileiras. Existem outros fatores que tem limitado o crescimento das exportações brasileiras de compensado de pinus, entre os quais evidenciam-se:

- Limitações no suprimento de matéria-prima (“apagão florestal”)

Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado uma redução da oferta de madeira de pinus, o que tem contribuído para um aumento no preço da tora de pinus no mercado doméstico acima da inflação (vide figura abaixo). Se por um lado tal situação traz uma melhoria da eficiência da indústria nacional, por outro, afeta o custo de produção e compromete a ampliação e, até mesmo, a ampliação dos volumes atuais de produção devido à falta de matéria-prima. Trata-se de um problema que tem afetado toda a indústria florestal brasileira, mas principalmente a indústria de compensado de pinus.

- Entrada de novos competidores

Nos últimos anos, o compensado de pinus brasileiro tem enfrentado forte competição de países emergentes no mercado internacional. Países como a China têm penetrado fortemente no mercado internacional de compensado, particularmente quando se trata de produtos low grade, onde o Brasil tem uma maior participação. Mais recentemente, o produto brasileiro tem competido com o compensado exportado pelos países do leste europeu.

- Barreiras tarifárias e não-tarifárias

A expressiva participação do Brasil no mercado internacional de compensado tem gerado reações adversas por parte de países competidores. Barreiras tarifárias e não-tarifárias têm sido impostas ao produto brasileiro com o intuito de restringir a sua entrada em determinados mercados. Tanto na Europa como nos EUA, o compensado de pinus é sobretaxado quando se atinge uma cota de importação estabelecida pelo GSP. No entanto, a maioria das restrições são barreiras técnicas ao comércio, como, por exemplo, o CE Marking, medidas fitosanitárias para embalagens de madeira (ISPM 15) e requisitos de segurança nacional (C-TPAT – Customs Trade Partnership Against Terrorism). Isso tem limitado o Brasil a ampliar sua participação no mercado internacional.

- Custo Brasil

O “custo Brasil" é uma expressão genérica dada para um conjunto de fatores desfavoráveis que afetam a competitividade do produto brasileiro, tanto no mercado doméstico como no mercado internacional. Tais fatores se resumem a distorções na estrutura tributária, limitações em termos de infra-estrutura (energia, comunicação, transporte, etc), custos de transação, burocracia, entre outros. Na realidade, o “custo Brasil” afeta não somente a indústria de compensado, mas sim toda a economia nacional. A eliminação do “custo Brasil” depende essencialmente de ações de governo.

Em se considerando os obstáculos que têm sido enfrentados pela indústria brasileira de compensado de pinus, a pergunta que fica é a seguinte: O crescimento das exportações brasileiras de compensado de pinus é sustentável? Na realidade, a situação é ainda mais crítica. O país corre sério risco de perder uma importante parcela do mercado internacional de compensado de pinus. Hoje, o compensado de pinus contribui com USD 500 milhões para balança comercial brasileira, além do seu efeito multiplicador na sócioeconomia nacional. Estima-se que a indústria brasileira de compensado de pinus gere 40 mil empregos diretos e 120 mil empregos indiretos.

Na realidade, os esforços da indústria brasileira de compensado de pinus para assegurar e ampliar sua participação no mercado internacional devem ser complementados por ações de governo na defesa dos interesses nacionais que permita convergir para uma estratégia setorial. Nesse sentido, as ações de governo passam necessariamente pela:

- Definição de um modelo institucional orientado a produção;

- Mecanismos para expansão da base florestal;

- Promoção do “produto Brasil”;

- Estabelecimento de um sistema de inteligência de informações de mercado;

- Apoio a pequena e média indústria;

- Redução do “custo Brasil”.

A indústria brasileira de compensado de pinus tem mostrado uma competência única para consolidar sua posição no mercado internacional. A sustentabilidade do crescimento das exportações de compensado de pinus será, em parte, estabelecida pelas políticas de governo, as quais, até o momento, tem somente contribuído para restringir a ampliação da participação do Brasil no mercado internacional.

Marco Tuoto

Sidon Keinert Junior

Vitor Afonso Hoeflich.