As diversas espécies de Pinus atualmente plantadas nas regiões sul e sudeste do Brasil são de introdução relativamente recente, por volta da década de 60, as quais visam principalmente substituir a madeira de Araucaria angustifolia, cujos povoamentos naturais achavam-se em rápido processo de exaustão.
O Pinus taeda L. foi introduzido no país principalmente em função dos incentivos fiscais. Assim formaram-se diversos núcleos de povoamentos florestais, dentre estes, o da região dos Campos de Cima da Serra, no estado do Rio Grande do Sul. Onde essa cultura tornou-se uma das principais atividades econômicas da região, sendo responsável pela maioria dos empregos gerados.
A madeira produzida por estas florestas, constitui hoje bases de importantes atividades industriais como produção de celulose e papel, embalagens, aglomerados, mobiliário, compensados, chapas dentre outras. Estima-se que a área ocupada com o gênero Pinus é de aproximadamente 1,8 milhões de hectares no Brasil. Na região sul estima-se em 1 milhão de hectares plantados, sendo 57% encontrado no estado do Paraná, 30% em Santa Catarina e os demais 13% no Rio Grande do Sul.
Com o surgimento de novas técnicas de produção em plantio de pinus, que visam o aumento da produtividade de biomassa em período reduzido, está ocorrendo aumento na demanda de nutrientes pelas plantas, a qual poderá não ser satisfeita pelo solo, requerendo uma suplementação de nutrientes por meio de fertilizantes.
A exportação de nutrientes pela colheita florestal é um dos fatores preocupantes a ser considerado na manutenção da produtividade dos sítios. Principalmente em condições em que o solo possui baixo suprimento de elementos essenciais às árvores, sendo que explorações intensivas em rotações curtas, onde não há uma previsão para reposição de nutrientes, têm sido apontadas como as maiores responsáveis pelo esgotamento do solo.
Devido a isto, a quantificação da biomassa e da exportação de nutrientes em qualquer forma de ecossistema florestal é de fundamental importância para que se conheça a dinâmica dos nutrientes nos diversos compartimentos do ecossistema, podendo-se assim, inferir indicadores de possíveis impactos que algumas técnicas silviculturais podem causar. Como por exemplo, os desbastes que muitas vezes são realizados retirando toda a biomassa do povoamento, seja a madeira como matéria prima nas indústrias, bem como os resíduos como fonte alternativa de energia, principalmente para substituir o óleo combustível das caldeiras nas indústrias, tendo assim, uma elevada exportação de nutrientes, prejudicando desta maneira, a sustentabilidade do sítio florestal.
Com isso, o manejo eficiente de uma plantação florestal está ligado à ciclagem de nutrientes, para que possa ocorrer um fluxo contínuo entre o que é depositado no solo com a permanência dos resíduos da colheita e sua posterior decomposição e liberação de nutrientes, estes podendo assim ser assimilados novamente pelas raízes das plantas.
Esse estudo do ciclo de nutrientes em uma floresta é de importância fundamental, possibilitando a previsão de situações que poderiam ser críticas a médio e longo prazo, tanto em relação à produtividade, como em relação às características do solo.
Portanto, o presente estudo teve por objetivo quantificar a biomassa e os nutrientes (N-P-K) contidos nas árvores desbastadas no primeiro desbaste de um povoamento de Pinus taeda L., com 9 anos de idade, no município de Cambará do Sul (RS). O clima predominante é temperado úmido, e o solo da região é Cambissolo Húmico alumínico típico.
Para determinar a biomassa oriunda do desbaste fracionaram-se as árvores nos seguintes componentes: acículas (folhas); galhos vivos (verdes); galhos mortos (secos); casca comercial; madeira comercial; casca do ponteiro e madeira do ponteiro. Considerou-se ponteiro toda à parte do fuste onde o diâmetro era inferior a oito centímetros .
A quantificação da biomassa foi realizada com base na biomassa seca média de cada componente por classe de diâmetro e número de árvores por hectare na respectiva classe. E a estimativa do estoque de nutrientes em cada componente das árvores foi possível mediante o produto do teor médio de nutrientes pela biomassa seca.
No quadro 1, estão apresentados os valores de biomassa dos diferentes componentes. A biomassa no primeiro desbaste (com densidade média de desbaste de 35,6%), foi de 35.706 kg ha-1. Sendo que, o componente madeira comercial corresponde mais de 60% da biomassa desbastada.
A distribuição dos componentes em ordem decrescente foi a seguinte: madeira comercial > galhos vivos > casca comercial > acículas > madeira do ponteiro > galhos mortos > casca do ponteiro.
Durante o primeiro desbaste, considerando que seja exportada do povoamento a madeira e a casca comercial, isso corresponderá à cerca de 30 Mg ha-1 da biomassa acima do solo. Sendo assim, 10 Mg ha-1 do total da biomassa do primeiro desbaste será resíduo que poderá permanecer no interior do povoamento.
Os nutrientes encontram-se em maior concentração no componente acículas, seguida pela casca do ponteiro, isso se deve a tendência que a maioria dos nutrientes têm de concentrar-se nas estruturas mais novas da planta, onde há uma maior atividade metabólica.
Teores de N-P-K, em g kg-1, nos diferentes componentes da biomassa do primeiro desbaste.
Os diferentes componentes da biomassa apresentaram composições químicas estatisticamente distintas. Em relação ao teor de N, ocorre um domínio no componente acículas, tendo um teor estatisticamente superior que nos demais componentes. O menor teor de nitrogênio foi encontrado na madeira comercial, que não diferiu da madeira do ponteiro.
Esse teor de N, bem superior nas acículas que nos demais componentes, é devido a este elemento participar da maioria das reações de metabolismo de compostos (aminoácidos, proteínas, aminas, amidas, vitaminas, etc), as quais têm seu sítio de ocorrência principal nas folhas, em virtude da ocorrência da fotossíntese.
Os teores de P apresentaram comportamento semelhante ao do N, possuindo estatisticamente o maior teor nas acículas e os menores teores na madeira (comercial e ponteiro) e galho morto, que não diferiram estatisticamente. A exemplo do nitrogênio, o fósforo tem ampla mobilidade dentro da planta, e com isso ele tende a se concentrar nos órgãos mais novos, no caso deste estudo no componente acículas. O K esteve mais concentrado nas acículas e casca do ponteiro, sem diferir estatisticamente e apresentou menores teores nos galhos mortos.
Estoque de N-P-K (kg ha-1), nos diferentes componentes da biomassa do primeiro desbaste.
O nitrogênio, dentre os demais nutrientes, foi o que apresentou o maior acúmulo na biomassa resultante do primeiro desbaste. A maior quantidade de N foi encontrado nos componentes acículas o qual, apesar de ter menos biomassa que a madeira comercial, galhos vivos e casca comercial, apresenta teores bem mais elevados.
As acículas, em virtude dos teores elevados de nutrientes e a madeira comercial e galhos vivos em virtude da maior biomassa, constitui-se nos principais componentes em armazenamento de nutrientes na biomassa, provenientes do primeiro desbaste.
A importância em armazenamento para os nutrientes nos componentes da biomassa segue a seguinte ordem: acículas > madeira comercial > galhos vivos > casca comercial > madeira do ponteiro > casca do ponteiro > galhos mortos. Quanto à magnitude de armazenamento dos elementos, a ordem foi a seguinte: N > K > P.
Aplicando-se um manejo silvicultural, que se opta pela permanência dos resíduos (madeira e casca do ponteiro, galhos vivos e mortos e acículas) no interior do povoamento, cerca de 60% do N, 55% do P, 54% do K, do total presentes nas árvores desbastadas permanecerão no sítio florestal, promovendo, assim, a ciclagem de nutrientes.
O sistema de exploração mais utilizado pelas empresas é a retirada da madeira comercial juntamente com a sua casca, sendo esta, na industria, utilizada como material energético nas caldeiras. Considerando que houve como efetuar outros tipos de sistemas de exploração em árvores oriundas do desbaste como, por exemplo, a retirada somente da madeira comercial e a permanência de sua casca, junto com os demais resíduos, isto acarretaria uma permanência de: 72% do N, 66% do P, 67% do K.
Recomenda-se, a partir dos resultados encontrados neste estudo, que a remoção da biomassa de pinus, através da colheita florestal, envolva somente o componente madeira comercial, já que incluindo os demais componentes ocasionará, no primeiro desbaste, uma demasiada exportação de nutrientes. Podendo então levar à exaustão do solo e impossibilitando futuras rotações florestais nestes locais.
Schumacher, Mauro Valdir (schumacher@pesquisador.cnpq.br), 1Eng. Ftal Dr. nat. tech, Prof. do Departamento de Ciências Florestais – CCR – UFSM;
Bonacina, Darlan Michel (darlanbonacina@yahoo.com.br), Viera, Márcio2 (vieraflorestal@yahoo.com.br) Acadêmicos do curso de Engenharia Florestal– UFSM |