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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°99 - SETEMBRO DE 2006

Desbaste

Desbastes e desrama para obter madeira de pinus livre de nós

A perspectiva de estabilização e globalização da economia, aliada às previsões de falta de madeira de qualidade e com grandes dimensões no mercado internacional, têm levado os empresários do setor florestal a reverem seus conceitos estratégicos, buscando reduzir custos e, principalmente, agregar valor ao produto final, tornando suas empresas cada vez mais competitivas para, assim, poderem aproveitar as oportunidades presentes e futuras no mercado de produtos florestais.

Um exemplo dessa estratégia é observado em países como o Japão, EUA, Canadá e Suécia onde ocorrem os mais altos índices de transformação de madeira bruta em produtos mais valorizados. Seguindo a tendência mundial, instalaram-se nos últimos anos, no sul do Brasil, algumas indústrias, objetivando a produção de madeira serrada de Pinus livre de nós. Essas indústrias, no entanto, aproveitam o mesmo tipo de toras que as demais, por escassez de madeira desramada no mercado, e no seu processo industrial produzem painéis colados, “clear blocks”, “finger joint” e outros, retirando os nós na sua manufatura e conseguindo, com isso, alto valor para tais produtos.

Um dos maiores problemas, encontrados na produção, simulação e avaliação econômica de regimes de desbastes e desrama de madeira para serraria nos EUA, é a ocorrência de defeitos internos no fuste, não sendo possível detectá-los na árvore em pé. Como conseqüência, grande soma de recursos é aplicada na exploração, transporte, secagem e desdobro da madeira de baixa qualidade. Torna-se imprescindível, portanto, a aplicação correta de diferentes técnicas de desbaste e desrama, visando à obtenção de madeira com boa qualidade para serraria, laminação ou faqueado.

Existem diferentes alternativas para viabilizar estudos sobre a melhor estratégia de desbaste. Uma delas e definir o tipo e a intensidade dos desbastes a serem realizados no povoamento. Outra alternativa é modelar a estrutura da floresta por meio de uma função de distribuição com um algoritmo de desbaste a ela associado, o que possibilita testar um amplo espectro de alternativas de intensidade, época e número de desbastes, de maneira quantitativa.

A viabilidade de usar qualquer uma das alternativas é que a modelagem do fenômeno seja eficaz e produza prognoses confiáveis dos volumes dos sortimentos desejados.

Assim, este artigo visa definir qual o melhor regime de manejo para Pinus taeda, por sítio, para diferentes sortimentos, inclusive aqueles com madeira livre de nós (clearwood). Para isso, inúmeras alternativas de regimes de manejo (cenários) serão simuladas e, posteriormente, analisadas mediante o uso de critérios econômico-financeiros.

Dois componentes são fundamentais para que esse objetivo seja alcançado. O primeiro é um sistema de prognose do crescimento e da produção, com simulador de desbastes que seja eficiente e flexível. O segundo é uma estrutura de custos e preços reais que retrate com eficiência os cenários que serão obtidos com base no simulador de produção.

Para obtenção da prognose do crescimento e da produção do volume por classe diamétrica, foi utilizado o software PISAPRO, desenvolvido valendo-se de 432 parcelas permanentes, utilizando-se, para tal, a distribuição Weibull com ajuste pelo método dos momentos.

O método de ajuste selecionado foi o dos momentos que propiciam obter estimativas compatíveis entre o modelo do povoamento e o modelo por classe diamétrica por meio da função geral de produção por classe de diâmetro.

Alternativas de Manejo

Foram simuladas diferentes alternativas de regimes de manejo, enquadradas em dois cenários com diferentes números, épocas e intensidade de desbaste, com base em diferentes densidades iniciais de plantio, em diferentes níveis de produtividade. Para a obtenção de madeira livre de nós, o primeiro desbaste foi um pré-comercial, realizado em idades jovens seguido de desrama.

A primeira desrama ocorreu simultaneamente ao desbaste pré-comercial, e as árvores selecionadas foram desramadas até uma altura mínima de 2,4 m desde que não ultrapasse 50% da altura da árvore ou 1/3 de sua copa viva. A segunda desrama ocorreu, normalmente, em torno dos 7e 8 anos, atingindo uma altura de 6,7 a 7,0 m nas árvores selecionadas.

Foram então testadas opções de regimes de manejo com base em três diferentes densidades iniciais de plantio em diferentes sítios

Há 288 alternativas de regime de manejo para cada densidade inicial avaliada, ou seja, na idade de 4 anos em que é realizado o desbaste pré-comercial é possível deixar 500 ou 600 árvores e realizar o 1º desbaste comercial aos 10 ou 12 anos, deixando 300 ou 400 árvores, podendo-se realizar o 2º desbaste comercial aos 14, 15 ou 16 anos, deixando 100 ou 200 árvores e executando o corte final aos 20 ou 21 anos.

Fixando-se a idade do desbaste pré-comercial aos 4 anos, é possível realizar 96 diferentes alternativas de regimes de manejo. Multiplicando-se esse valor por 3, já que o desbaste pré-comercial pode ocorrer aos 4, 5 ou 6 anos, chega-se ao número de 288 possíveis combinações.

Analisando as mudanças ocorridas nos VPGs dos regimes de manejo em conseqüência dos acréscimos percentuais no preço de venda da madeira desramada, pode-se inferir que para os casos de baixa ou lucratividade negativa é a viabilização de novos produtos, aliada a minimização de custos e ao uso cada vez maior de plantas com constituição genética superiores, o que poderá reverter a situação para lucro.

A densidade inicial de plantio influencia a produtividade e, conseqüentemente, a rentabilidade dos regimes simulados de manejo. Em sítios mais produtivos, existe uma tendência de que a melhor estratégia seja o plantio em espaçamentos mais amplos, permitindo a essas árvores o máximo aproveitamento dos nutrientes, água e luz que o sítio pode oferecer. Essas árvores apresentarão um ritmo de crescimento acelerado gerando, como produto final, peças de maiores dimensões e de melhor qualidade. À medida que decresce a produtividade dos sítios, a tendência é de plantios em espaçamentos mais reduzidos, para que haja uma melhor ocupação destes.

Preferencialmente, o manejo conjugado desbaste/desrama deve ser implementado em sítios mais produtivos. No caso, esse estudo indica os índices de sítio 28,5 e 25,5 m na idade de referência de 20 anos, para Pinus taeda.

A condução de regimes de manejo com a realização de um desbaste pré-comercial, seguido de dois desbastes comerciais e desrama, deve ser adotada, por ser essa a opção que gera maiores receitas líquidas.

A densidade inicial de plantio ideal, quando um desbaste pré-comercial seguido de desrama e de um desbaste comercial são adotados para os sítios I e II é de 833 árvores/ha, enquanto que para o sítio III, é de 1.111 árvores/ha.

A densidade inicial de plantio ideal quando 1 desbaste pré-comercial seguido de desrama e de 2 desbastes comerciais são adotados para os sítios I, II e III, é de 833 árvores/ha.

Para taxas de desconto de 10% a.a., no sítio I, há realização de lucro, considerando qualquer situação de preço de venda da madeira desramada. No sítio II, somente quando o preço de venda da madeira podada for 20% superior é que haverá lucro. Para o sítio III, somente quando o preço de venda da madeira desramada for 60% superior ao preço da madeira não-desramada é que haverá lucro.

Para taxas de desconto de 8% a.a., nos sítios I e II, há realização de lucro, considerando qualquer situação de preço de venda da madeira desramada. Para o sítio III, somente quando o preço de venda da madeira desramada for 20% superior ao preço da madeira não-desramada é que haverá lucro.

Para taxas de desconto de 6% a.a., considerando qualquer situação de preço de venda da madeira desramada, os plantios nos sítios I, II e III dão lucro quando sujeitos ao manejo conjugado desbaste/desrama.

Fonte:

José Roberto S. Scolforo1 Fausto Weimar Acerbi Júnior2

Antônio Donizette de Oliveira3 Romualdo Maestri4

1. Engenheiro Florestal, Dr., Professor Titular do Departamento de Ciências Florestais, UFLA

2. Engenheiro Florestal, MSc., Professor Assistente do Departamento de Ciências Florestais, UFLA

3. Engenheiro Florestal, Dr., Professor Adjunto do Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Lavras

4. Engenheiro Florestal, Gerente Técnico da Empresa Pisa Florestal S.A