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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°98 - AGOSTO DE 2006

Móveis & Tecnologia

Crescimento pede foco no produto

Todo produto cuja matéria-prima constitui-se de madeira necessita de um bom tratamento, a fim de proteger o mesmo contra as diversas condições ambientais e de uso. Com um acabamento satisfatório, têm-se como garantia a durabilidade e a estética do produto ao longo do tempo.

Normalmente, pensa-se que a aplicação dos produtos de acabamento para madeira inicia-se na sua deposição sobre a peça, mas são necessárias atividades anteriores que devem ser cuidadosamente controladas para que os resultados obtidos sejam satisfatórios.

Dentre todas as atividades necessárias ao acabamento, pode-se destacar a vistoria das condições da superfície de ancoragem (determinado pela preparação), o preparo do produto, a regulagem dos equipamentos e a aplicação propriamente dita. Após a execução de todas essas atividades, é possível obter uma boa qualidade do produto final.

Este artigo tem o objetivo de mostrar e ensinar o correto uso das substâncias que podem ser usadas no acabamento de madeira, descrevendo os principais produtos, quais são os cuidados necessários, suas características, alguns fundamentos e técnicas de sua aplicação, bem como o controle de qualidade e segurança do trabalho das indústrias madeireiras..

Os produtos naturais ou reversíveis são aqueles extraídos de animais ou vegetais. A cura ocorre pela evaporação do solvente. o processo ocorre, geralmente, de maneira rápida, pois é dependente das condições internas do ambiente de secagem (temperatura e circulação de ar). Por causa dessa forma de cura, esses produtos são considerados reversíveis na presença de álcoois, éteres, cetonas e outros solventes. No mercado, esses produtos são representados pelo grupo dos nitrocelulósicos, obtidos por nitração, com uma mistura de ácido nítrico e ácido sulfúrico, de algodão ou polpa de madeira, possuindo facilidade de aplicação e bom nivelamento da superfície, mas baixa resistência mecânica e química (reversíveis).

As baixas resistências têm causado a redução de sua utilização, principalmente para o mercado externo, que até o início dessa década correspondia com mais de 70% dos acabamentos efetuados dentro do setor do mobiliário. Seu aspecto final é altamente afetado pela umidade relativa do ambiente de aplicação. Sob alta umidade relativa, ocorre evaporação do solvente em maior velocidade que a evaporação da água, que forma gotículas de água na superfície do acabamento. Para reduzir ou eliminar esse inconveniente, é necessário o uso de retardante de cura, que é um aditivo à base de butil, que promove uma secagem mais lenta, permitindo, primeiramente, a saída (evaporação) da água.

Produtos sintéticos

São os produtos encontrados na forma de bicomponentes. A primeira parte é a resina propriamente dita e a segunda, o catalisador químico. Às vezes, é necessário a introdução de diluentes e aditivos para conferir características adequadas de aplicação ou propriedades específicas. Esses componentes não participam da reação de cura, sendo volatilizados após a aplicação. Os produtos sintéticos são representados, em sua grande maioria, pelos produtos poliuretânicos, possuindo alta resistência física, mecânica e química, sendo considerados irreversíveis.

A cura desses produtos ocorre por meio de reações químicas entre a resina e catalisador. Em virtude dessas características positivas, sua utilização tem aumentado cada vez mais no setor do mobiliário. Contudo, possuem as desvantagens de serem mais caro e de não permitirem retoques de aplicação, exigindo maior treinamento do operador.

Um outro grupo de produtos sintéticos são os “poliéster”, que secam numa superfície fosca e que geralmente serão lixadas e polidas posterior-mente. São utilizados quando se deseja película de alta espessura e alto brilho, sendo considerado um acabamento vítreo. Existe uma forte reação de inibição da secagem do produto pelo contato com os componentes químicos da madeira, sendo necessária a aplicação de um produto isolante, geralmente de natureza poliuretânica.

Existem outros produtos, que por serem pouco utilizados, não merecem discussões aprofundadas. Como exemplo, temos os SH (catalisados por ácido), os acrílicos e os vinílicos. De maneira geral, os produtos de revestimento são compostos de dois ou mais componentes, que necessitam ser misturados e catalisados para que ocorra sua cura.

A catálise pode ser via agente físico (temperatura) ou químico. Geralmente, o produto aplicado sobre uma superfície de madeira é denominado resina, cuja classificação é baseada nos seus próprios componentes.

Massas são produtos pigmentados de alto teor de sólidos e consistência grossa. Utilizado para corrigir pequenas imperfeições na madeira, como enchimento de nós e rachaduras.

Óleos e ceras são produtos aplicados às superfícies após as mesmas terem sofrido o processo de usinagem e acabamento, que protege, limpa, lustra e conserva todos os tipos de madeiras (portas, janelas, móveis, adornos, rodapés, laminados, assoalhos, e outros) e pisos cerâmicos, hidratando-os e renovando-os.

Seladoras

São produtos químicos encontrados geralmente na forma líquida, cuja função é cobrir e fechar os poros e espaços intercelulares da madeira, preparando-a para receber tingimentos e acabamento final não se esquecendo de que também existem seladoras que servem como acabamento final. O aspecto da superfície após o selamento é uma película uniforme, nivelada e transparente, realçando a grã da madeira.

Existem tipos especiais de seladoras que são chamados de “primers”, os quais possuem pigmentos com a finalidade de cobrir madeiras que não possuem beleza agradável ou madeiras que, durante o preparo da superfície, tenham sofrido o processo de emasseamento para retirada de depressões ou cobrimento de furos de insetos e nós.

Verniz

É uma solução de goma, essência ou óleo secativo empregado para recobrir madeiras, que seca parcialmente pela oxidação dos componentes oleosos ou resinosos, sendo um dos mais famosos tipos de acabamento que embelezam e protegem a madeira. São produtos presente em duas formas: líquida ou sólida.

Na forma sólida, ele será dissolvido para sua utilização, principalmente pela adição de álcoois. Os vernizes podem ser aplicados sobre os seladores ou tingidores. Existe uma grande variedade de tipos de vernizes e a sua escolha deverá ser feita observando-se as características desejadas, tais como o nível de brilho e o tempo de secagem.

As tintas quando estendidas em película fina, seca e forma um filme aderente ao substrato. São também conhecidos vulgarmente como os vernizes que contêm pigmentos. São, normalmente, utilizados sobre os “primers”, alterando totalmente a aparência da madeira.

Conforme pode ser observado, os produtos de acabamento possuem duas fases. A forma líquida, antes e durante a aplicação, e a forma sólida sobre a peça de madeira, após a cura. O teor de sólido representa a quantidade de produto que permanecerá na peça sob a fase sólida, isto é, o percentual do total de produto líquido aplicado que se transformará na película sólida de revestimento.

A escolha entre dois produtos por causa do preço é muito freqüente no setor de acabamento. Na maioria das vezes, essa opção não é a correta, pois pode-se ter produtos mais baratos com baixos teores de sólidos, e que exigirão um maior volume aplicado para se obter resultado semelhante ao obtido com a aplicação de pequenas quantidades do produto de alto teor de sólido.

Há um fato corriqueiro que os operadores (aplicadores) do produtos fazem e que é muito interessante. Quando o produto preparado está acabando e falta uma pequena peça ou uma parte dessa, costuma-se “ralear” a solução adicionando diluentes; com isso espera-se aumentar o volume para que se possa terminar a aplicação em toda a peça.

Mas, o que se pode concluir é que a colocação de diluentes não aumenta o teor de sólido do produto preparado; então, não se proporciona aumento do produto, que permanecerá na peça, e simplesmente ocorrerá aumento do desperdiço, pois será colocado mais diluente, que será eliminado após a evaporação.

Viscosidade

É a medida do volume hidrodinâmico de uma molécula. Esse valor diz respeito à facilidade ou dificuldade de escoamento de um certo fluido que, no caso em questão, trata-se do produto preparado. Para sua determinação, são utilizados os aparelhos chamados de viscosímetros. Trata-se de um vasilhame no formato de um copo, com forma, dimensões e diâmetro do furo de escoamento estabelecido. Seu volume de líquido é de 100 ml, completamente cheio. A viscosidade é determinada pela medição do tempo gasto para escoamento do produto pelo orifício e é expressa em segundos.

Quando se prepara um produto com a mistura dos seus componentes, é garantido que a reação de cura irá se desenvolver de maneira adequada, mas, às vezes, essa mistura não possui a viscosidade exigida pelo método de aplicação a ser utilizado. Nesse caso, executa-se a diluição, que é a colocação de diluentes em quantidades precisas até obter a viscosidade pretendida.

A correção do seu valor deve ser efetuada em função dos equipamentos de aplicação, que exigem valores preestabelecidos.

Pode haver casos de aumento da viscosidade durante o processo de aplicação do produto, graças às condições atmosféricas favoráveis à evaporação do diluente;, neste caso, é aconselhável a determinação do valor atual e a sua correção com recolocação de diluentes. O processo de preparo em si deve ser bem controlado para evitar tais evaporações, isto é, deve-se preparar somente as quantidades adequadas para o consumo do turno de trabalho do operador.

O poder de cura está muito relacionada ao teor de sólido, pois produtos de alto poder de cobertura são aqueles que possuem alto teor de sólido. É relacionado com a capacidade de cobrimento da peça de madeira após a aplicação, interferindo na qualidade da película de acabamento.

A escolha de um ou outro produto dependerá da qualidade desejada. O aparelho utilizado para sua medição é o criptometer, que é confeccionado tomando-se por base duas placas planas, sendo uma de cor branca e outra preta.

Aplica-se o produto em uma fina camada, por meio de aplicadores próprios, que determinam exatamente a espessura em micra, e, em seguida observa-se o percentual da cor branca e preta que ainda é perceptível.

Alguns produtos necessitam de mais de uma aplicação (demão) para se obter resultado satisfatório. Nesse caso, é importante observar os intervalos máximos e mínimos entre essas demãos para que possa haver ancoramento perfeito entre cada camada aplicada.

Quanto aos intervalos máximos, pode-se afirmar que, se ultrapassados, exigirão um lixamento sobre a camada aplicada para que ocorra a aderência da próxima camada. Já os intervalos mínimos são responsáveis pelo desenvolvimento da secagem em camadas, evitando aplicações de camadas espessas, cuja secagem seria desuniforme.

Todo produto químico, inclusive os de acabamento, possui uma vida útil, pelo fato de o tempo de armazenamento afetar o poder de reação dos componentes, principalmente na cura e secagem, ou na formação de pequenos precipitados que afetam negativamente a qualidade da superfície, tornando-a com aspecto áspero.

O “pot life”é o valor da vida útil do produto após seu preparo, isto é, refere-se ao período em que o produto preparado pode ser armazenado sem perder suas propriedades. Seu conhecimento é de fundamental importância para definir o volume a ser preparado por unidade de tempo de trabalho, geralmente tratado de turno. Quando se aproxima do valor limite, inicia-se a formação de pequenos precipitados que afetam a qualidade da película.

BRILHO

É medido por um aparelho denominado glossmeter, que se baseia na projeção da luz sobre a película, em um ângulo determinado, e a sua posterior captura. Por diferença entre a incidência e absorção, é definido o poder de brilho. Sua medição se faz necessária, por causa das exigências do mercado consumidor. Os acabamentos são classificados em: fosco; semi-brilhante, brilhante e de alto brilho.

A abrasividade é uma medida indireta da resistência da película de acabamento, por meio de um aparelho denominado abrasímetro. É baseado no princípio de giro de um abrasivo de grãos padronizados sobre a peça acabada. A resistência é medida em função da perda de peso da peça ou pela diferença de espessura inicial e final.

Mede-se a resistência da película acabada contra o ataque de grafites de durezas diferenciadas (variação de 1H a 10H). Essa propriedade permite avaliar os efeitos de ataques mecânicos causados por objetos no dia-a-dia da peça. O aparelho utilizado para essa medição é o esclerômetro, que possui ângulo de ataque e pressão definidos. O grafite é preso ao corpo desse aparelho, que é movimentado sobre a peça, e sua dureza é determinada pelo número do grafite inferior àquele que provocou uma depressão na peça.

A aderência é medida pela adesão por atrito entre duas forças em contato. Esse teste mede a capacidade do produto em manter-se aderido no substrato (peça de madeira). Executam-se vários cortes na peça, através de riscos cruzados, em 90º, com um estilete próprio. Posteriormente, pressiona-se uma fita adesiva sobre a região cortada, com o uso de um pequeno rolo compressor e, em seguida, arranca-se fortemente a fita, com um ângulo de 45º. O valor é expresso em percentual de quadradinhos que ficaram aderidos na fita em relação ao total existente.

Com relação a espessura da camada, normalmente pensa-se que a aplicação dos produtos de acabamento para madeira inicia-se na sua deposição sobre a peça, mas nota-se que atividades anteriores devem ser cuidadosamente controladas para que os resulta

O aparelho que executa a medição da espessura da camada úmida é vulgarmente chamado de pente. Ele possui uma base nivelada e vários dentes em alturas diferentes. Logo após a aplicação, esse aparelho é introduzido na película. O valor correspondente à espessura será aquele determinado pelo último dente que não entrou em contato com a película (não se sujou).

O aparelho que executa a medição da espessura da camada seca é vulgarmente chamado papagaio. Consiste em um imã que é atraído pela superfície ancoradora, sendo maior a força de atração quanto menor a espessura da película. A determinação numérica é feita por meio de uma mola que está ligada a um ponteiro, fornecendo o valor em µm.

O “salt spray “ é um teste para se determinar a resistência à corrosão do acabamento em ambientes salinos. É conhecido como teste da “névoa salina”. Consiste em uma máquina capaz de produzir uma névoa com altos teores de umidade e percentuais de sal. A resistência é medida pela perda de peso da peça ou pela análise visual (subjetiva).

Controle de qualidade

Sempre que se pensar em qualidade do produto final, deve-se pensar na qualidade do serviço da matéria-prima utilizada nesse material.

Com relação à matéria-prima, deve-se ficar atento ao preparo da superfície da madeira para receber o acabamento e também à umidade da peça de madeira em questão, pois, como já mencionado, a madeira úmida poderá acarretar sérios danos ao produto final.

Os produtos utilizados, tais como seladoras, vernizes e tintas, devem seguir corretamente as indicações que vêm na bula ou na própria embalagem, e que aqui também foram mencionadas, principalmente com relação ao preparo e aplicação das substâncias, adição de diluentes, armazenagem, data de validade dos produtos, entre outros.

As instalações devem ser devidamente preparadas para a realização de tais funções. Como já descrito, deve-se oferecer condições ideais de segurança e saúde no trabalho e também de temperatura, umidade do ar, ventilação, pressurização do ambiente, exaustão de partículas indesejáveis do ar e luminosidade. Os equipamentos utilizados devem estar em perfeito estado para desempenhar a sua função e para oferecer segurança ao trabalhador.

O primeiro passo quando se pensa em segurança é a elaboração de planos, e treinamento e orientação de seus funcionários quanto aos seus atos e suas posturas. A empresa sempre deve oferecer cursos de reciclagem. Assim, o empregador conseguirá manter o seu empregado sempre mais estimulado, com atos e posturas mais seguras e corretas ao desempenhar suas atividades.

O controle e planejamento do ritmo de trabalho também se fazem importantes como medida para alcançar a qualidade de produtos, serviços e para a segurança no trabalho, evitando-se assim, atos despreparados ou mesmo impensada do funcionário que poderão causar algum tipo de acidente.

O uso de equipamentos de proteção individual (EPI) é um recurso usualmente empregado para a segurança do trabalhador no exercício de suas atividades de trabalho. Os EPI’s são empregados quando os recursos de ordem geral não são aplicáveis ou não se encontram disponíveis para a neutralização de riscos que comprometem a segurança e saúde do trabalhador.

Em qualquer circunstância, o “uso do EPI será tanto mais útil e trará tantos resultados quanto mais correta for a sua indicação”. Essa indicação não é difícil, mas requer certo critério nos aspectos de identificação e avaliação do risco contatado e na indicação do EPI apropriado. Existem normas técnicas internacionais que contêm as recomendações relativas ao uso de EPI’s, suas definições, tipos e classes, materiais, requisitos gerais, físicos e detalhados. A melhor recomendação do conjunto de EPI’s necessários a uma determinada empresa depende de uma avaliação detalhada das condições do local de trabalho, do tipo de produto aplicado, do tamanho e da quantidade do produto final requerido.

De modo geral, os EPI’s básicos para esse setor são:

• conjuntos de jaqueta e calça ou macacões confeccionados em lona.

• capacete de segurança.

• óculos de segurança, modelo ampla visão, com furos laterais para venti-

lação.

• protetores auriculares de inserção ou abafadores de ruídos.

• respiradores com filtro para produtos químicos.

• luvas de borracha.

• botas de couro com biqueira.

Autores: José Reinaldo Moreira da Silva; Paulo Fernando Trugilho; Lourival Marin Mendes: Professores do Departamento de Ciências Florestais. Universidade Federal de Lavras; José Caixeta:Engenheiro Florestal, DCF/UFLA (in memorian). Ricardo Marius Della Lucia: Professor do Departamento de Engenharia Florestal. Universidade Federal de Viçosa - Viçosa/MG