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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°97 - JUNHO DE 2006

Construção

Estudo analisa uso racional da madeira em habitações

O interesse pelas construções em madeira é crescente, porém há um desconhecimento quanto à utilização racional da madeira como material construtivo. Neste sentido, uma equipe do Departamento de Ciências Florestais da UFLA – Universidade Federal de Lavras – MG desenvolveu um estudo a fim de mostrar algumas informações para que por meio da abordagem de sistemas possam ser tomadas decisões para dirimir e reduzir problemas e dúvidas relacionadas a esse assunto.

De maneira geral, as construções feitas em madeira são observadas, no Brasil, devido as questões ambientais. Entre as observações importantes estão: matéria-prima extraída de florestas, associado ao desmatamento, incêndios e transformação de áreas em desertos e ainda com relação às características de durabilidade.

Quando a madeira é utilizada de forma inadequada, devido à falta de conhecimento técnico acaba gerando construções que não atingem a vida útil esperada.

Há, ainda, questionamento a respeito do preço, qualidade e outras características peculiares do material, tais como resistência, facilidade de trabalho e manuseio, disponibilidade de mão-de-obra de projeto, execução e de serviços e manutenção, aparentemente deficientes.

Hoje é essencial saber por meio de pesquisas, o que as pessoas pensam sobre a madeira, sua utilização e desempenho.

O desempenho da madeira pode ser observado sob vários pontos de vista, levando-se em consideração a performance simbólica, a performance técnica e a performance econômica do material.

A performance simbólica caracteriza-se pela maneira como a madeira é encarada na construção civil como um material construtivo, relacionando aspectos estéticos e decorativos, bem como características de conforto térmico e acústico.

A performance técnica está relacionada ao comportamento do material na construção de estruturas, vedações, pisos e esquadrias, avaliando resistência, durabilidade e comportamento quanto à características mecânicas e químicas do material.

A performance econômica estabelece a relação entre custo da madeira em relação aos benefícios e também com relação a outros materiais, e as vantagens de sua utilização. Certamente como qualquer material, a madeira apresenta desvantagens e limitações quanto à utilização, que serão também observadas.

Sistemas

Para a análise de sistemas em arquitetura existem quatro subsistemas implícitos, o projeto, a construção, um edifício construído, e o sistema bionômico humano, ou seja, o sistema de relacionamento com o ambiente experimentado pelo ser humano. Embora a preocupação do arquiteto seja com o primeiro subsistema, ele não pode se separar dos problemas do construtor, dos operadores do edifício e dos usuários principalmente.

O avanço da utilização da madeira em geral faz-se necessário o estudo e avaliação de técnicas de aproveitamento da madeira ressaltando suas características mecânicas, de durabilidade, resistência, plasticidade e aparência.

Cabe ao profissional da área de projeto o delineamento do uso da madeira com relação aos limites peculiares desse material, bem como juntamente com a definição de novos parâmetros de uso, a elaboração de uma nova cultura diretamente ligada aos novos usos e tecnologias, principalmente caracterizada pela desmistificação e rompimento com dogmas que permanecem já há muito tempo.

Para dar início a uma discussão sobre o desempenho da madeira na construção, a equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Lavras realizou uma pesquisa de opinião, tanto com a população geral, como com profissionais ligados a construção.

A pesquisa foi realizada nas cidades do sul do Estado de Minas Gerais para o público em geral e profissionais de projeto e execução ligados a madeira. Para uma segunda amostra, foram aplicados questionários a profissionais de diversos estados do Brasil. A amostragem totalizou 197 indivíduos.

O estudo constatou que, em termos de segurança, a madeira foi escolhida para cercas e pisos externos, revestimentos e principalmente para estrutura de telhados.

O custo da madeira teve 53% de indicação como sendo mais caro que outros materiais. É importante ressaltar que a madeira teve 27% de indicação contra 19% da pedra, 11% do metal e 16% da alvenaria com relação à durabilidade. A aparência pode ser o item mais importante no momento da escolha de materiais.

Tem-se uma indicação de 66% para a madeira como material de melhor aparência, ou seja, mais bonito. Para reformas considerando consertos, trocas e reformulação de espaços a madeira teve indicação de 48% contra 30% da alvenaria.

Itens, tais como facilidade de revestimento sobre a superfície; facilidade de pintura; conservação do material; troca e reposição de partes; capacidade de trabalho do material (corte e maleabilidade); resistência a intempéries; resistência a fungos e insetos; resistência química (corrosão e oxidação); resistência ao fogo; disponibilidade de mão-de- obra especializada e de empresas de fornecimento e por último; durabilidade do material, tiveram indicação praticamente equilibrada, com pouca variação de porcentagem.

Do total dos entrevistados, 51% afirmaram saber a diferença entre madeira nativa e madeira de reflorestamento, contra 44% que afirmaram não saber a diferença. Não se interessam sobre informações quanto à utilização da madeira de reflorestamento 72% dos entrevistados, enquanto que 23% destes afirmam ter interesse.

Comparando qualidade e preço que pode permitir uma avaliação do custo e benefício, a madeira de reflorestamento é cotada como mais barata, porém, tem-se a idéia de que ela é de qualidade inferior ou igual à madeira nativa. Uma amostra disso são os índices de 41% para qualidade pior e 60% para preço inferior para a madeira de reflorestamento. Deve-se levar em consideração que 44% das pessoas não sabem a diferença entre os dois tipos de madeira e 72% não se preocupam em se informar sobre o assunto.

Características

Embora os materiais considerados na avaliação sejam: madeira, concreto e alvenaria, metal, vidro e pedra, enfatizou-se os dados relativos principalmente à madeira e ao concreto e alvenaria, que foram os mais indicados.

Sobre preferência de utilização dos materiais nas diversas fases da construção, a pesquisa apontou que os itens mais indicados para utilização da madeira são no acabamento (37%) e em acessórios com (28%). O item estrutura, com 21% , mostra que os profissionais têm conhecimento sobre esta possibilidade do material, mas utilizam pouco.

Considerando vedação como forma de construir paredes, forros, divisórias, elementos espaciais, e tendo esse item apenas 13% de indicação, mostrando que ainda é deficiente o uso da madeira nessa fase da construção.

Pode-se constatar que a formação dos profissionais, suas preferências e conceitos interferem no momento de projeto. Um número extremamente reduzido de profissionais teve discrepância entre os dois assuntos questionados.

Quando perguntados sobre a predominância de utilização dos materiais em suas próprias residências os profissionais indicaram concreto e alvenaria perfazendo um total de 86% contra 8% de indicação de madeira.

Para justificar os usos dos materiais, os profissionais foram questionados sobre: segurança, conforto térmico, conforto acústico, durabilidade e resistência, conforto visual e respeito ao ambiente.O ponto mais fraco considerado pelos profissionais é a segurança com apenas 3% de indicação para uso da madeira. Conforto térmico, conforto acústico e conforto visual totalizam 76% das indicações, demonstrando que as características peculiares da madeira são o maior motivo para sua utilização.

Durabilidade e resistência indicadas com apenas 9% demonstram que itens como preservação, utilização de madeira com características adequadas ao uso, tratamento e utilização de madeira reflorestamento com propriedades melhoradas não fazem parte do repertório dos profissionais.

O item respeito ao ambiente com apenas 12% de indicação, denota a pouca familiarização que os profissionais têm com o assunto. A madeira de florestamento e reflorestamento pode ser considerada como o material que mais promove o respeito ao ambiente.

Em contraposição, o concreto e a alvenaria suprem as supostas deficiências da madeira e outros materiais quanto à segurança, com indicação de 33%, juntamente com o item durabilidade e resistência, com 32% de indicação.

A durabilidade dos materiais, demonstra como os precedentes culturais influenciam na definição da performance desses materiais. A madeira teve uma média de 37 anos como tempo de duração. O concreto e alvenaria seguidos do metal tiveram 75 anos e 72 anos de duração, respectivamente. Tem-se novamente transparecendo a cultura já estabelecida sobre a durabilidade dos materiais.

O ambiente mais adequado para construção em madeira foi campo e montanha, com 73%, seguido de praia com 22% e apenas 5% para área urbana. Para o tipo de área da cidade, 80% afirmaram poder se construir em qualquer área, 13% em área nobre e 7% em áreas da periferia. A performance simbólica está invariavelmente constatada neste item. Idéias como casa de campo e casa de praia de madeira já fazem parte do imaginário geral e coletivo da cultura brasileira. Para o item construção ecologicamente correta teve-se 41% de indicação para a madeira. O concreto e a alvenaria somaram, 12% e 30%respectivamente, um total de 42%.

Comparando qualidade e preço que pode permitir uma avaliação do custo e benefício. Observa-se que 54% dos profissionais consideram a madeira de reflorestamento mais barata e 13% consideram que tem preço igual. Porém, é significativo que 30% tenham a madeira de reflorestamento como uma alternativa mais cara.

Em termos de qualidade, a madeira de reflorestamento está com uma boa representação. Somando 91% tem-se qualidade igual e melhor com índices de 68% e 23%, respectivamente. Apenas 9% dos entrevistados indicaram a madeira de reflorestamento como pior que a nativa.

Em questões que envolvem o conhecimento a respeito da madeira de reflorestamento, 83% dos profissionais afirmaram não saber ou não ter conhecimento sobre o processo de utilização da madeira, contra apenas 15% que afirmam conhecer esse processo.

Apesar de 95% dos entrevistados saberem a diferença entre madeira de reflorestamento e madeira nativa, apenas 48% se preocupam em se informar mais sobre o assunto, contra 38% que se interessam. Surpreende constatar que 14% das pessoas não apresentaram interesse pelo assunto.

Espécie de madeira utilizada

16% pinus

26% eucalipto

31% peroba

5% araucária

6% mogno

15% outros

Por um lado 76% das pessoas apontam a madeira de reflorestamento como tendo qualidade pior que a madeira nativa, contra apenas 5% indicando a madeira de reflorestamento como tendo melhor qualidade, motivo para investigação, tem-se por outro lado 85% dos mesmos profissionais indicando a madeira de reflorestamento como sendo mais barata que a nativa.

Talvez a explicação do fato seja conseqüência do item questionado sobre funcionamento do processo de utilização de madeira de reflorestamento, em que 29% das pessoas têm conhecimento, e 71% dos profissionais atestam não ter conhecimento sobre o assunto.

São instigantes alguns índices apontados na pesquisa, principalmente os relacionados ao aproveitamento da madeira de florestamento e reflorestamento. A falta de informação por parte dos profissionais de projeto e serviços refletem diretamente na escolha quanto ao uso dos materiais, e em particular com relação à madeira que possui características muito peculiares.

Essas mesmas características se bem observadas, tais como conforto térmico, acústico e visual, têm papel importantíssimo na elaboração do projeto e suas definições, característica básica da tomada de decisão orientada pela abordagem e análise de sistemas.

Os processos de produção e utilização da madeira de reflorestamento tanto para profissionais de projeto, prestadores de serviço, quanto para o público em geral, têm indicativos de falta de informação, desconhecimento e falta de interesse sobre o assunto. Diretamente proporcional a essa desinformação está a falta do apropriado aproveitamento desse recurso renovável, que pode ser considerado fator de desenvolvimento e sustentabilidade para várias regiões do País.

Autores: Ricardo Pedreschi; Francisco Carlos Gomes; Lourival Marin Mendes: UFLA.