A produção mundial de móveis está estimada em US$200 bilhões, e o comércio mundial em US$53 bilhões. Os principais produtores de móveis são países desenvolvidos, e respondem por 76% da produção mundial, sendo Estados Unidos, Itália, Alemanha, Canadá, França e Reino Unido responsáveis por 64% desta parcela. Além de grande produção Estados Unidos e Alemanha juntamente com Japão e França são os maiores importadores mundiais (US$30,6 bilhões), o que representa 57% do total, portanto a elevada produção e importação, revelam o elevado consumo interno.
Os principais exportadores são Itália, Alemanha, Canadá, Estados Unidos, e juntos respondem por 40% do total mundial. Os mercados consumidores mais importantes e respondem por 80% do consumo mundial são Estados Unidos, Alemanha, França, Itália, Inglaterra, Japão e Espanha. E a demanda vem crescendo, o que está viabilizando o crescimento da indústria e o aumento da participação de países em desenvolvimento no comércio mundial.
Os países que apresentam consumo aparente maior que sua capacidade produtiva e que, portanto, demonstram grande necessidade de importação são Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha, Japão (que não tem parque industrial moveleiro). A evolução das importações demonstra um crescimento de 38% na demanda, e o principal mercado em expansão é Estados Unidos, seguido de Reino Unido e Canadá. Os 10 maiores importadores absorvem 78% das importações mundiais.
No Brasil o setor moveleiro caracteriza-se, pela junção de diversos tipos de matérias-primas, produzidos por distintas cadeias produtivas. Além disso, as empresas se especializam em alguns tipos de móveis: cozinha, banheiro, sala, quarto e complementos. Os móveis de madeira, que são a maioria da produção do setor, são segmentados em dois tipos: retilíneos e os torneados.
Os retilíneos são lisos, com desenhos simples de linhas retas e a matéria-prima principal são painéis de madeira em geral. Os torneados reúnem detalhes mais sofisticados de acabamento, misturando formas retas e curvilíneas, cuja principal matéria-prima é a madeira maciça. Podem também ser utilizados painéis de MDF, passíveis de serem usinados.
No segmento de móveis artesanais há grande presença de micro e pequenas empresas que utilizam alguns equipamentos de tecnologia madura, e bastante trabalho artesanal, e focam os produtos para o mercado regional. No nicho de móveis seriados, as empresas de maior porte atuam ou produzindo móveis padronizados em massa. Elas visam um mercado de menor poder aquisitivo, ou produzem móveis customizados voltados para mercado intermediário de preços. Mas, independente do nicho de atuação estas empresas maiores produzem em escala e aplicam tecnologia mais avançada.
A indústria moveleira faz parte do chamado “setor tradicional da economia”, cujo padrão tecnológico é determinado pelos fornecedores de máquinas e equipamentos. Os principais países fornecedores destes equipamentos são Itália e Alemanha, que além de produtores de bens de capital são grandes produtores e consumidores mundiais de móveis e a estreita cooperação entre ambas indústrias permite constante incremento tecnológico.
Processo produtivo
O processo produtivo não é contínuo, e a modernização/automatização é possível em algumas etapas da produção e, dependendo do tipo de move, a possibilidade de automatização é maior – móveis de painéis de madeira retilíneos. É comum encontrar nas empresas máquinas modernas coexistindo com máquinas mais obsoletas. Outra fonte de inovação para o setor são os fornecedores de insumos, ou seja, indústria química, petroquímicas (plásticos, tintas, materiais para acabamentos – BP, FF e outros) e fornecedores de chapas de madeira.
Além da inovação tecnológica e insumos, as inovações realizadas internamente pelo setor baseia-se principalmente no produto, através do aprimoramento do design; nos processos organizacionais, através de novas formas de gestão e de processos; e em modificações das estratégias comerciais, distribuição e de marketing. Porém quando se modifica um destes fatores, os outros também são afetados e rearranjos, acomodando todos os fatores em um novo patamar competitivo. Um exemplo é a introdução do MDF, este novo material mudou bastante a forma de atuação das empresas e possibilitou o acesso de algumas empresas a um nicho de maior valor agregado.
As empresas que trabalham com móveis seriados, através da adoção deste novo material, passam a produzir móveis mais elaborados, uma vez que o MDF permite usinagem, e linhas de produção bastante automatizadas. Antes estas empresas empregavam apenas chapas de aglomerado, que não permitem tais trabalhos.
Com um produto mais elaborado, algumas empresas buscaram uma nova forma de comercialização, implementando assim sistemas de franquias ou fazendo integração a jusante, aumentando sua apropriabilidade do valor gerado pela cadeia moveleira, passando a não depender do varejo convencional, o que além dos ganhos econômicos, permite maior proximidade aumentando assim o entendimento das necessidades dos consumidores, facilitando, portanto, o acesso as informações que são essenciais para um desenvolvimento de produtos adequado.
Na cadeia global, o Brasil se insere como produtor e a eficiência produtiva e preço baixo do produto é o principal fator competitivo. Esta é a forma de inserção para a maioria dos países. Já a Itália agrega grande valor em seus produtos por meio do design e alcança renda maior pelo móvel diferenciado. Taiwan, por exemplo, desenvolve linha de produtos de maior valor agregado em mercados poucos explorados e o foco é em móveis de metal composto com outros materiais com grande diversidade de estilos.
Estratégias internacionais
Basicamente são três as estratégias genéricas de atuação para as empresas de sucesso internacional: diferenciação do produto; baixo custo, estratégias intermediárias.
Devido à elevada capacidade de desenvolvimento de produto e design, a indústria italiana é o principal centro de referência de lançamento de produtos e tendências e os produtores de todo o mundo seguem estas tendências. A principal feira de móveis é a de Milão onde encontram-se todos os estilos, desde o design mais clássico até as chamadas “experimentações”.
A indústria italiana que trabalha neste segmento de alto valor agregado, onde o design do móvel se aproxima da arte, utilizam mistura de materiais com a madeira, conseguem praticar preços mais elevados sendo assim premiadas pelo esforço inovador.
Estas empresas são bastante focadas e se concentram no desenvolvimento dos produtos e do design, internalizando apenas a parte final do processo produtivo, acabamento e montagem. O restante é obtido de fornecedores de componentes e partes. Portanto, é um modelo de produção horizontal que privilegia a flexibilidade tão necessária para que as empresas possam atender às variações de demanda e as mudanças dos estilos dos móveis.
As empresas italianas são pequenas, 30.000 empresas têm menos de 10 funcionários, apenas 35 mais de 200, e aproximadamente 9.000 entre 10 e 200 funcionários. As empresas menores produzem as partes e componentes que são fornecidos para as maiores. A principal matéria-prima utilizada são os painéis de madeira reconstituída, madeira sólida apenas para mesas, cadeiras e componentes. Os principais produtos são móveis de madeira e estofados, em que é líder de mercado e móveis de metal.
As empresas se concentram em determinadas regiões, onde se formam sistemas locais de produção. Nos últimos anos as empresas estão em um movimento para diminuição de custos de produção. Por isso, elas têm subcontratado a produção das partes e componentes de países da Europa Oriental. Lá, o custo da mão-de-obra é menor, e as restrições ambientais também. Porém, as empresas menores estão perdendo mercado para os mercados de baixo custo produtivo.
Indústria alemã
As empresas alemãs seguem outro modelo produtivo, porém, seguem a mesma tendência de subcontratação de parte e componentes para regiões de baixo custo. O principal mercado é o de móveis para cozinha e o principal nicho atendido é o de valor intermediário.
As empresas são substancialmente maiores do que as italianas, num total de 1200, e trabalham com tecnologia de ponta e alto volume de produção, qualidade elevada, mas design menos desenvolvido, em comparação à Itália.
O setor conta com a proximidade de empresas de base tecnológica que são as responsáveis pelo desenvolvimento da tecnologia utilizada nas indústrias moveleiras, o que representa um facilitador para a atualização tecnológica. A principal matéria-prima utilizada é madeira sólida com certificação de manejo e procedência.
Móveis franceses
A indústria francesa é a terceira maior produtora de móveis da Europa e sexta maior exportadora, e o modelo produtivo é parecido com o alemão, em que predominam empresas maiores e verticalizadas. Apresentam diferencial competitivo em móveis de cozinha e estofados, porém é um mercado que importa bastante, 1/3 do consumo provém de importação.
Indústria americana
O modelo seguido pelas empresas dos Estados Unidos é próximo do modelo alemão de produção, empresas maiores que realizam subcontratação de partes para diminuição dos custos produtivos, porém muitas empresas têm instalado suas fábricas em países onde há menor custo produtivo, um exemplo é a Ashley Co., terceira maior produtora do mercado americano que tem planta produtiva no Brasil. As vendas externas dos Estados Unidos se concentram em móveis de metal, segmento em que é maior exportador.
No modelo mexicano têm-se as “maquilladoras”, que são empresas dos Estados Unidos que montam unidades produtivas no México para se apropriarem da vantagem em custo da mão-de-obra mexicana, estas empresas importam temporariamente produtos para serem processados e reexportados ao mercado de origem. Estas empresas têm a produção concentrada em dormitórios, salas de jantar e de estar (estofamentos em geral e estrados são exemplos de partes de produtos que demandam trabalho manual intensivo).
China
A inserção da China também ocorre por preços, e configura-se como o grande expoente de crescimento no comércio internacional, dobrou sua participação de 95 a 99, e se concentra na produção de móveis de madeira e assentos. Possui plantas produtivas que fabricam elevados volumes, e em comparação com o Brasil possui vantagem de ter acabamento superior, no segmento de móveis de painéis reconstituídos. A China concentra suas exportações para os Estados Unidos, sendo seu segundo maior mercado o Japão. Há um grande movimento de empresas estadounidenses abrindo unidades produtivas na China para aproveitamento das vantagens em custos.
Brasil
O Brasil utiliza madeira sólida para o mercado externo (pinus principalmente) e atua em mercados de valores intermediários e de baixo custo, mas em ambos segmentos o preço é o fator determinante, e um dos problemas em aumentar o volume exportado está na deficiência das empresas na qualidade do acabamento.
Apesar de não ter design próprio que identifique o móvel procedente do Brasil, os produtores têm capacidade de produção com custos baixos e uma certa flexibilidade que permite respostas rápidas às encomendadas realizadas pelos compradores globais.
As empresas apresentam capacidade produtiva, mas não dominam capacidades tecnológicas, e não acessam o mercado internacional diretamente, ou seja, dependem da indústria de base de outros países para absorver tecnologia de processos e dos agentes de exportação para colocação do produto no mercado global.
As principais empresas exportadoras estão localizadas em São Bento do Sul, e as maiores empresas que atuam no mercado interno localizam-se principalmente em Bento Gonçalves, RS. Elas trabalham com mercado de valor intermediário através dos móveis modulares, e canais próprios de comercialização. Em Arapongas (PR) e Mirassol (SP) concentram-se empresas que trabalham com móveis padrão comercializados no varejo convencional, assim como aquelas localizadas em Ubá – MG.
Internacionalização
A Dinamarca, na década de 50, foi o primeiro país a se voltar ao mercado externo, e manteve-se como líder até a década de 70 quando o comércio internacional se ampliou de forma significativa e a Itália passou a ser o principal exportador. A comercialização internacional sempre esteve marcada pela forte presença dos países desenvolvidos. Mas, nos últimos anos com o crescimento do comércio internacional e a elevada demanda de países como EUA, Reino Unido e Canadá favoreceu a entrada dos países em desenvolvimento.
Porém, o preço médio de mercado do móvel tem diminuído, segundo principalmente devido a este movimento de novos entrantes no mercado. Isso proporcionou um aumento da competição internacional, e também maiores possibilidades de descentralização, dos produtores do primeiro mundo, pela subcontratação internacional, o que gera diminuição dos custos. Além disso, tem-se um aumento da eficiência produtiva, através de novas formas de gestão da cadeia de fornecimento, desenvolvimento tecnológico e utilização de novos materiais. Por outro lado, a pressão devido ao movimento de concentração do varejo.
Nos Estados Unidos este processo de concentração é mais intenso que na Europa, e a maioria dos fabricantes estão interligados a grandes empresas varejistas nacionais e internacionais. Outro movimento do varejo é o aumento em todo o mundo, principalmente na Europa, das lojas de desconto e lojas especializadas que vendem móveis funcionais RTA (ready to assemble)/DIY (do it yourself) de uma mesma marca e estilo.
A demanda por móveis tem elevada elasticidade-renda, e devido a isto é um setor sensível às variações conjunturais da economia, portanto é bastante afetada com recessões, mas também responde rápido quando há aumento pequeno na renda. Isto sinaliza um grande potencial de crescimento em países em desenvolvimento que estejam com a economia aquecida. Devido a isto alguns mercados têm se mostrado interessante para os produtores brasileiros como Rússia e Emirados Árabes.
Os atuais destaques em termos de crescimento de participação no comércio internacional são China e México que aumentaram em 162% e 100% respectivamente, e com um menor crescimento Polônia, República Tcheca e Brasil (com 21%, 30% e 5%). Estes são os países em desenvolvimento que figuram entre os 20 maiores exportadores mundiais. Outros países da Ásia como Indonésia e Malásia também são exportadores.
A competitividade dos produtores dos países em desenvolvimento é decorrente em grande parte pelo baixo custo da mão-de-obra. Porém apenas isto não os leva a participar da cadeia produtiva global. Outros fatores importantes como processos produtivos eficientes com adoção de tecnologia avançada, atendimento aos padrões exigidos, atendimento e entrega rápida, são importantes pois, qualificam os produtores. Porém, neste setor “o fator ganhador de pedido” ainda é o preço.
Estes produtores dependem dos compradores que detém os canais de comercialização, marca e design. Portanto, normalmente a relação dos produtores é de subordinação aos compradores que detêm os ativos estratégicos desta cadeia produtiva. Este é o modelo típico de produção destes países; e nesta relação se destaca a figura do agente de exportação.
Existem duas formas principais de participação na cadeia produtiva global. A primeira é quando a empresa diretamente prospecta mercados e desenvolve clientes, e a segunda através dos contatos das companhias de comércio (tradings companies). Esta segunda forma é a mais comum devido aos menores riscos, custos e dificuldades.
Fica claro que as atividades dos produtores ficam restritas às áreas tecno-produtivas, enquanto que os traders e os compradores se responsabilizam pela área comercial. Então o controle da cadeia produtiva fica nas mãos dos compradores que possuem os canais de comercialização e distribuição dos produtos nos grandes mercados. Portanto há uma forte assimetria de poder entre as partes, devido a importância dos ativos possuídos e pela diferente concentração entre os elos.
A outra forma de acessar o mercado, diretamente, é mais arriscada e demanda maiores investimentos de tempo e dinheiro, mas algumas empresas com apoio APEX/SEBRAE vêm prospectando mercados e buscando diretamente com compradores e distribuidores menores colocar seus produtos. Neste tipo de relação normalmente a empresa produtora coloca sua marca no produto, portanto o produtor deve investir também no marketing de sua marca no exterior. Este tipo de experiência tem apresentado resultados positivos principalmente para o mercado da América Latina, onde o perfil do consumidor é mais parecido com o consumidor do mercado brasileiro.
Competitividade
A grande mudança na indústria de móveis global é a massificação do consumo. O setor, ao longo de sua história, vem perdendo o caráter artesanal. Esta modificação é resultado dos ganhos de produtividade devido ao desenvolvimento tecnológico, as novas matérias-primas. Há também o mercado de alto valor agregado que é dominado por empresas que tem elevada competência em design, principalmente italianas.
O desenvolvimento tecnológico advém das indústrias de bens de capital que através de interação com a indústria de móveis desenvolve equipamentos atendendo as necessidades do setor. A grande inovação em relação ao maquinário foi a substituição dos equipamentos eletromecânicos por máquinas e equipamentos com dispositivos microeletrônicos.
O maquinário com CNC são os grandes expoentes de modernização nas plantas fabris, juntamente com a utilização de sistemas CAD. Na Itália e na Alemanha onde a indústria de bens de base é bastante desenvolvida tem-se a produção dos melhores e mais desenvolvidos maquinários para o setor.
Porém apesar de existir estes equipamentos de ponta, que no Brasil são utilizados pelas empresas maiores, em se tratando da produção de móveis torneados, ainda existe elevada aplicação de trabalho manual no início e nas etapas finais do processo produtivo, principalmente montagem e acabamento. Portanto o peso da mão-de-obra no custo final do produto é relevante.
Outra mudança importante na demanda dos consumidores, principalmente nos países desenvolvidos, onde a mão-de-obra é cara, são os móveis funcionais que dispensam a figura do montador. Com isto o design deve ser pensado e concebido dentro dos padrões do it yourself (DIY) e ready to assemble RTA. Além disso, há aumento da demanda por móveis para espaços pequenos que tenha várias funções.
Portanto a vantagem competitiva através do design não visa só a estética, mas engloba praticidade, diminuição do consumo de matéria-prima, garantia de manufaturabilidade com redução de tempo de fabricação e aumento da eficiência na fabricação, que seja ecologicamente correto em termos de descarte produtivo e do próprio material empregado, e ainda traga soluções para a vida dos consumidores.
Outros aspectos ligados a produto e produção que merecem destaque são: acabamento, prazo de entrega e assistência pós-venda. De forma geral os fatores relevantes de competitividade para as empresas que comandam a cadeia produtiva global de móveis residenciais de madeira não estão diretamente ligados ao setor produtivo, mas sim com a posse dos canais de distribuição, o que pode ser verificado pela atuação dos grandes compradores globais.
Fonte: FINEP/Financiadora de Estudos e Projetos (RJ)/ Ministério da Ciência e Tecnologia: Renato Garcia e Flávia Gutierrez Motta. |