O bom desempenho do comércio exterior brasileiro nos últimos anos vem sendo marcado, entre outras coisas, por uma crescente importância dos chamados “novos mercados”, entendidos como os países que estão fora do tradicional eixo União Européia-Nafta-América Latina-Japão. Entre estes novos mercados, o mais importante é a China. Em 2004, a corrente de comércio fechou em US$ 9,1 bilhões. O saldo de 2005 foi positivo em US$ 1,4 bilhão, , chegando a US$ 12 bilhões, e a China segue como terceiro maior comprador dos produtos brasileiros, segundo a Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico (CBCDE).
A participação chinesa nos fluxos de comércio nacionais vem crescendo rapidamente, não só como destino das exportações, mas, também como origem das importações. De fato, entre os anos de 1999 e 2005 as exportações brasileiras para a China cresceram 11 vezes mais rápido do que o total, fazendo a participação chinesa na pauta subir de 1,4% para 6,2%, tornando-se nosso terceiro maior parceiro comercial. Do lado das importações, a trajetória também tem sido impressionante, com as compras originárias da China crescendo cerca de 150% no mesmo período, enquanto as importações totais do Brasil acumularam queda de 1,9%.
O crescimento das importações da China parece inserir-se em um contexto mais amplo de diversificação de origens das compras brasileiras: as importações provenientes de outros mercados não-tradicionais também registraram aumentos na pauta. Parece que a globalização vem se consagrando.
As exportações brasileiras para a China somaram US$ 4,5 bilhões em 2003, um valor 6,7 vezes maior do que o registrado apenas quatro anos antes. No mesmo período, as importações brasileiras provenientes da China cresceram 2,5 vezes, alcançando US$ 2,15 bilhões. O resultado foi que o país saiu de um déficit de US$ 189 milhões, em 1999, para um superávit de quase US$ 2,4 bilhões em 2003 – o que representou cerca de 10% do saldo total obtido pelo Brasil. O histórico do comércio Brasil-China tem sido quase sempre favorável ao Brasil, que registrou superávits na maior parte dos anos entre 1985 e 2003 – com exceção dos anos entre 1996 e 2000. Mesmo neste período, contudo, o déficit não chegou a alcançar US$ 200 milhões no pior ano.
Mudança estrutural
Houve uma mudança estrutural nas trajetórias das exportações e importações brasileiras referentes à China a partir do ano 2000, de tal forma que as vendas para este país cresceram 11 vezes mais rápido que as exportações totais brasileiras e as importações cresceram 150% em um período em que as importações totais do Brasil acumularam queda de 1,9%. A China foi responsável por 15,4% de todo o crescimento das exportações brasileiras entre 1999 e 2003.
Como resultado, o Brasil vem acumulando expressivos superávits comerciais com aquele país e market-share (participação no mercado) com a China triplicou, passando de 0,43% em 1999 para 1,27% em 2003. Sendo assim, não é possível atribuir o bom desempenho das vendas brasileiras para aquele país apenas ao fato de suas importações estarem crescendo bem mais rápido do que o comércio mundial.
As exportações brasileiras para a China são bastante concentradas em produtos básicos, que responderam por 55,5% da pauta no período 2001-2003, apresentando um padrão bem diferente do total das exportações brasileiras (apenas 27,9% referem-se a básicos).
Além da elevada concentração, observa-se que a composição da pauta exportadora brasileira para a China não se alterou muito nas últimas duas décadas, de tal forma que um conjunto de apenas cinco setores – Extrativa Mineral, Siderurgia, Agropecuária, Celulose, papel e gráfica e Óleos vegetais – estiveram sempre entre os mais importantes e responderam sistematicamente por uma parcela não inferior a 70% da pauta.
Além disso, em cada um deles as vendas têm sido sempre concentradas em apenas um ou dois produtos – como minério de ferro, laminados planos e semimanufaturados de ferro e aço, soja, celulose e óleo de soja. Isto implica que não houve qualquer up-grade significativo da pauta de exportações para a China em todo este período, seja em termos da diversificação de produtos, seja na incorporação de bens de maior grau de elaboração.
Parceria em expansão
A participação da China como destino das exportações brasileiras vem aumentando nos últimos anos em quase todos os setores exportadores, mesmo naqueles nos quais sua participação ainda é reduzida. As importações brasileiras provenientes da China mantiveram-se em um patamar bastante reduzido até os primeiros anos da década de 90, quando a liberalização comercial e a valorização real do câmbio propiciaram um salto entre os anos de 1993 e 1997. Após um período de estagnação elas voltaram a crescer rapidamente nos anos recentes, acumulando um crescimento, em termos de quantum, de nada menos que 230% entre 1999 e 2003, em um momento em que o quantum total registrou queda de 1,6%.
Entretanto, o aumento da participação da China em na pauta de importações, de 2,7 pontos percentuais entre 1999 e 2003, parece inserir-se em um contexto mais amplo de diversificação das origens das compras brasileiras, uma vez que também ganharam participação as vendas provenientes dos Demais Países Asiáticos, África, Oriente Médio e Europa Oriental.
Os fluxos de comércio entre Brasil e China são predominantemente baseados em vantagens comparativas, e não no chamado comércio intra-indústria. Isto significa que os ganhos que Brasil e China podem auferir na expansão do fluxo de comércio bilateral são potencialmente muito grandes, com grande implicação sobre o nível de bem-estar de ambos.
Contudo, não se pode descartar a hipótese de que o país venha a ser afetado por eventuais barreiras comerciais impostas pela China, o que reforça a importância de uma maior aproximação comercial e diplomática entre os países e da eventual negociação de acordos comerciais que possam prevenir a adoção de medidas protecionistas.
As vendas para a China são amplamente concentradas em empresas de grande porte, que foram responsáveis por 76,2% das exportações do país na média do período 2000-2002 – contra um percentual de 66,2% referente às exportações totais do país. O número de empresas envolvidas na exportação para a China vem crescendo de forma rápida nos últimos anos, assim como o valor médio exportado por firma.
Mantidas as tendências recentes, as firmas de menor porte devem aumentar sua participação no número total de empresas que exportam para a China. Em termos de valor exportado, porém, as firmas de grande porte deverão aumentar ainda mais a sua já elevada participação na pauta de exportações para a China, devido ao maior crescimento do valor médio exportado. O mesmo tende a acontecer com as firmas não industriais.
Quanto à indicação de políticas de promoção comercial no mercado chinês especificamente voltadas para as firmas de menor porte, parece mais razoável centrar esforços no apoio às firmas que já exportam para a China – ou que já exportaram em algum momento em um passado recente – e não na atração de novas firmas para aquele mercado.
Saldo positivo
A balança comercial Brasil-China fechou 2005 com novo recorde de US$ 12,1 bilhões (em 2004 foi de US$ 9,1 bilhões). As exportações fecharam o ano com o total de US$ 6,8 bilhões, com crescimento de 25,62% em relação a 2004 (que havia crescido 20,02%).
As importações de produtos chineses em 2005 continuaram em alta (US$ 5,3 bilhões e crescimento de 44,27%), mas o ritmo de crescimento foi menor (28,52%) em comparação com 2004 (US$ 3,7 bilhões e crescimento de 72,79%).
Apesar do mercado e o setor industrial não acreditarem que 2005 fecharia com um saldo a favor do Brasil, a balança comercial surpreendeu com um saldo positivo de US$ 1,4 bilhão. Contudo, foi inferior a 2004 (US$ 1,7 bilhão) e 2003 (US$ 2,3 bilhões).
Essa recuperação do saldo comercial em 2005 se deu, principalmente, no segundo semestre do ano. E teve acentuado aumento nos últimos dois meses (novembro e dezembro), com saldo acima de US$ 450 milhões (em 2004 o saldo desses dois meses foi negativo em US$ 23 milhões).
Esse resultado (novembro/dezembro/05) só foi inferior aos meses de maio e junho de 2005, que acumularam saldo de US$ 527 milhões. Mas esses meses, historicamente, são responsáveis pelos maiores embarques brasileiros em função das exportações de soja.
A China manteve o posto de terceiro maior comprador dos produtos brasileiros, com participação de 5,78%, atrás da Argentina (8,38%), segundo maior comprador. Os EUA mantiveram o primeiro lugar (18,99%), mas diminuíram sua participação, que em 2004 foi de 20,31%.
Para o presidente da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico (CBCDE), Paul Liu, o comércio entre os dois países deve continuar a crescer. Para 2006, Liu prevê que a corrente comercial deva ficar entre 14 e 15 bilhões de dólares, um crescimento de mais de 20%.
"O Brasil poderia aproveitar melhor o crescimento chinês, que em 2005 foi de 9,8%. Além das commodities que já são embarcadas atualmente para a China, há espaço para outros produtos do agronegócio como carnes, frutas, açúcar e álcool", aponta.
Mas Liu espera que a pauta de exportação vá além de produtos básicos. "Há setores que foram timidamente explorados como o de turismo. Em 2004, cerca de 22 milhões de chineses saíram pelo mundo em viagens internacionais, mas só 14 mil escolheram o Brasil (0,06%). E boa parte desses chineses não vieram fazer turismo diretamente. Muitos vieram em busca de negócios", afirma Liu, que indica ainda o setor de serviços como outra oportunidade a ser explorada.
Fontes: Fernando Ribeiro e Henry Pourchet - economista e estatístico da Funcex - Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior; Câmara Brasil - China de Desenvolvimento Econômico. |