O Brasil possui uma área florestal significativa, seja de nativas ou plantadas. A parte de nativas, susceptível de manejo, é de aproximadamente 450 milhões de hectares, compreendida pelas áreas de Unidades de Conservação da categoria de uso sustentável sob o poder público como as Reservas Extrativistas, as Reservas de Desenvolvimento Sustentável e as Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais, e sob a iniciativa privada, as Reserva Legais das Propriedades Rurais e as de Produção das indústrias. O País possui uma das maiores áreas de florestas plantadas no mundo, sobretudo as de eucalipto. São aproximadamente cinco milhões de hectares.
O setor florestal pode ser conceituado como parte da sociedade relacionada ao uso dos recursos silvestres ou florestal. Ele se relaciona especialmente ao uso da fauna (exceto peixe) e dos recursos da flora, em particular, das florestas naturais ou plantadas.
Segundo estudos, quase 50% das florestas tropicais úmidas naturais existentes estão na América tropical e, deste total, mais de 80% (50% no Brasil + 30% em outros países da América do Sul) se encontram na região amazônica. Da área pertencente ao território brasileiro, o estado do Amazonas é o que detém o maior percentual.
As principais Regiões Fisiográficas do Brasil são: Floresta Amazônica, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal Mato-Grossense, outras formações Campos do Sul (Pampas), Mata das Araucárias (Região dos Pinheirais), Ecossistemas Costeiros e Insulares). Já as florestas plantadas brasileiras ocupam uma área de 4,8 milhões de hectares, Desse total, cerca de 3 milhões de hectares correspondem a plantações de Eucalipto, e 1,8 milhões de hectares a plantações de pinus.
A cobertura florestal do território brasileiro, associada às excelentes condições edafo-climáticas para a silvicultura, confere ao País grandes vantagens comparativas para a atividade florestal. Existe um consenso entre especialistas do setor, quanto à relevância social, econômica e ambiental do setor florestal e sua importância para o desenvolvimento do Brasil.
Alguns macroindicadores dessa importância se baseiam na formação do PIB, na geração de divisas e na contribuição para a melhoria da qualidade de vida da sociedade. De fato, o setor florestal brasileiro contribui com quase 5% na formação do PIB Nacional e com 7% das exportações; gera 1,6 milhão de empregos diretos, 5,6 milhões de empregos indiretos e uma receita anual de R$ 20 bilhões; recolhe anualmente R$ 3 bilhões de impostos; conserva uma enorme diversidade biológica (com 6,4 milhões de hectares de florestas plantadas, sendo 4,8 milhões com florestas de produção de Pinus e Eucaliptos; mantém 2,6 milhões de hectares de florestas nativas).
No que diz respeito aos aspectos sociais, o setor florestal é capaz de absorver mão-de-obra numerosa, colaborando assim para uma melhor distribuição de renda para a população. Vale lembrar que a exploração racional das florestas, com base no manejo sustentável, também propicia a melhoria das condições de transporte, acesso e comunicação de determinada localidade.
Quanto ao meio ambiente, as influências florestais podem ser divididas em três grupos: as influências diretas (efeito mecânico), influências indiretas (efeito físico-químico) e as influências psicofisiológicas (as que atuam diretamente sobre o homem).
Indústrias de celulose
Em síntese, as indústrias de celulose apresentam as seguintes características:
– São de grande porte;
– Possuem localização geográfica relativamente descentralizada;
– São em pequeno número de unidades de produção;
– Operam sob economia de escala;
– São de capital intensivo (grande investimento nas fábricas, em geral centenas de milhões de dólares);
– São verticalizadas (as empresas têm capacidade econômica e financeira de estabelecer seus próprios plantios);
– Requerem milhares de m³ de matéria-prima por dia (toretes de 8 a 30 cm, sem
grandes restrições);
– Possuem um alto grau de profissionalização;
– São abertas (voltadas para o mercado externo);
– Possuem ações negociadas em bolsa de valores.
Painéis de madeira
Existe uma gama de produtos produzidos no Brasil que são denominados painéis de madeira reconstituída ou compostos particulados. Os diversos tipos de painéis ou chapas produzidos por essas indústrias são destinadas às fabricas de móveis, construção civil e de outros produtos, as atacadistas e as varejistas e à exportação. São poucas fábricas e relativamente grandes.
Na década de 1990, a indústria brasileira de painéis de madeira reconstituída expandiu-se de maneira notável o que pode ser confirmado ao comparar a produção do ano 1994 (1.312.686 m³) com a produção do ano 2000 (2.702.342 m³).
Seguindo a tendência mundial, essa indústria vem modernizando-se rapidamente para garantir competitividade. Geralmente as indústrias de painéis de madeira reconstituída são menores do que as de celulose, mas também possuem capacidade econômica e financeira para a formação de florestas e requerem matéria-prima semelhante à da celulose.
Em síntese, as indústrias de painéis de madeira reconstituída apresentam as seguintes características:
– São grandes conjuntos.
– Possuem localização geográfica centralizada (regiões Sul e Sudeste).
– São em pequeno número de unidades de produção.
– São de capital intensivo (grande investimento nas fábricas).
– São verticalizadas (as empresas têm capacidade econômica e financeira de estabelecer seus próprios plantios).
– Possuem um alto grau de profissionalização.
– São abertas (voltadas para o mercado externo).
Processamento Mecânico
A indústria do processamento mecânico compreende as serrarias, as produtoras de lâminas para a indústria de compensados, as de lâminas decorativas e as produtoras de PMVA (produtos de maior valor agregado).
A indústria brasileira de serrados teve um crescimento acentuado nas duas últimas décadas. As principais características dessa indústria são as seguintes:
– Grande número de pequenas unidades de produção.
– Possuem localização geográfica bastante descentralizada.
– As tecnologias e equipamentos utilizados são nacionais.
– Demanda de toras na ordem de dezenas de m³ por dia.
– A valorização do produto é diretamente ligada ao cuidado no manejo da floresta.
– Geralmente remunera atributos de qualidade (diâmetros adequados, boa forma e ausência de defeitos (rachaduras e nós).
– Investimentos baixos;
– São de mão-de-obra intensiva; (grande geração de empregos diretos em relação aos investimentos um emprego direto a cada R$ 20.000 em média investidos em equipamentos e instalações).
– Alimenta indústrias secundárias com características sócio-econômicas semelhantes (relativamente pequenas, baixos investimentos, alta geração de empregos).
– Baixo grau de verticalização (as madeireiras, em geral, não têm capacidade econômica financeira para investir em florestas próprias).
– Possuem carência de mão-de-obra qualificada.
– São abertas (possuem um considerável volume de exportação, mas não se encontram no mesmo estágio de desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Madeira industrial).
Produtos de maior valor agregado
De acordo com ABIMCI, as empresas produtoras de serrados, (em particular as de grande e médio porte) apresentam tendência de agregar valor ao produto serrado, tendo esse processo iniciado a partir do final dos anos 80, com vistas sobretudo ao mercado externo e ao segmento moveleiro nacional.
Entre os principais Produtos de Maior Valor Agregado (PMVA) produzidos no Brasil, mas com foco no mercado externo, podem ser citados os blocks, blanks, molduras, fence, pisos, janelas e outros, enquanto os voltados ao setor moveleiro são especialmente os pré-cortados, componentes estruturais, EGP, (Edge Guide Panel) e outros.
Para fabricação do PMVA, utilizam-se em especial o Pinus e algumas espécies nativas, como ipê, imbuia, jatobá e outras, porém observa-se um crescimento da participação do eucalipto, em virtude de seu potencial, da tendência de esgotamento das espécies nativas e mesmo de restrições para a comercialização de produtos oriundos de florestas nativas, sobretudo por parte do mercado externo.
As principais características dessa indústria são as seguintes:
– São em menor número e geralmente são grandes unidades de produção.
– Possuem localização geográfica relativamente descentralizada.
– Apresentam investimentos médios em tecnologia.
– Baixo grau de verticalização (em geral não têm capacidade econômico financeira para investir em florestas próprias).
– São abertas (possuem um considerável volume de exportação, mas não se encontram no mesmo estágio de desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Madeira Industrial).
Carvão vegetal e lenha
A madeira é provavelmente o combustível mais antigo, e conhecido do homem, já que o início de sua utilização está diretamente vinculado com o descobrimento do fogo. Nos dias atuais, a utilização da madeira como combustível está normalmente relacionada com os produtos secundários obtidos desta como, por exemplo, o carvão vegetal e a lenha.
No Brasil, a madeira é usada amplamente como fonte de energia, sendo o País um dos maiores produtores de carvão vegetal e de lenha do mundo. Apesar da redução do consumo nos últimos anos, o carvão vegetal ainda possui uma posição de grande importância na economia brasileira, em especial para Minas Gerais, principal estado produtor e consumidor, onde ocupa posição de destaque no setor siderúrgico, no qual contribui para a produção de ferro-gusa, aço e ferro-liga.
Além da indústria siderúrgica, o carvão vegetal também participa como substituto do óleo combustível nas caldeiras e nos fornos de combustão da indústria de cimento e de materiais primários.
No setor industrial, o ferro-gusa, aço e ferro-ligas são os principais consumidores do carvão vegetal (quase 85%), que funciona como redutor e energético ao mesmo tempo. O setor residencial consome cerca de 9% seguido pelo setor comercial com 1,5%, representado por pizzarias, padarias e churrascarias.
No que diz respeito à origem da matéria-prima da produção de carvão vegetal, verifica-se uma tendência de substituição da madeira oriunda de florestas nativas pelas de reflorestamento. Apesar de sua importância no contexto industrial brasileiro, verifica-se que o aumento da eficiência nos elos da cadeia produtiva do carvão vegetal ainda se encontra bastante incipiente no País.
Parte significativa do carvão vegetal é obtida com o emprego de técnicas bastante rudimentares, mão-de-obra pouco qualificada e pequena alocação de recursos. No Brasil, a tecnologia adotada por grande parte dos produtores de carvão vegetal ainda é carente de novos processos. Ainda se produz de forma rudimentar em fornos de argila (tijolos) cuja construção exige um baixo nível de investimento. Não-raras vezes, a atividade de carvoejamento tem sido associada com condições desumanas de trabalho.
O transporte desse carvão, geralmente produzido à beira ou no interior das florestas, até as unidades consumidoras (siderúrgicas) se faz através de caminhões comuns, algumas vezes equipados com “gaiolas”, não havendo, assim, investimento em equipamentos específicos para essa finalidade.
As principais características dessa indústria são as seguintes:
– Poucas empresas grandes e um significativo percentual de pequenas e médias unidades de produção.
– Possuem localização geográfica bastante descentralizada.
– São voltadas para o mercado interno (fechadas).
– Apresenta poucas restrições quanto à matéria prima (em geral valoriza madeira mais densa).
– Não são tecnificadas.
– Investimentos muito baixos.
– São de mão-de-obra intensiva; (grande geração de empregos diretos em relação aos investimentos).
– Baixo grau de verticalização (as produtoras de ferro guza em geral não têm interesse em investir em florestas próprias).
– Possuem carência de mão-de-obra qualificada.
Ao se caracterizar o setor florestal, contrastado-o com os demais setores da economia, pode-se afirmar que a gestão do negócio florestal no Brasil é diferenciada da gestão da maioria de outros negócios no País. Isso se dá com base no complexo contexto macroambiental, extremamente coercitivo, no qual as empresas florestais estão situadas.
O ambiente organizacional funciona como um campo dinâmico de forças que interagem entre si provocando mudanças e influências, diretas e indiretas, sobre as organizações. É uma fonte de recursos e oportunidades da qual a organização extrai os insumos necessários ao seu funcionamento e subsistência, mas é também uma fonte de restrições, limitações, coações, problemas, ameaças e contingências para a sua sobrevivência e desenvolvimento.
No atual cenário socioeconômico, político e ambiental brasileiro, muitos são os desafios a serem enfrentados pelas empresas florestais. A estrutura organizacional do setor florestal é de gestão descentralizada, e voltada, prioritariamente, à questão do meio ambiente. A produção florestal é entendida como parte da gestão ambiental.
Tais fatos, seguramente diminuem a competitividade das empresas do setor. Assim, a potencialidade do recurso florestal brasileiro não tem sido utilizada de maneira a garantir respostas sociais e econômicas satisfatórias. Embora tais respostas possuam expressividade, estão, com certeza, muito aquém do potencial existente, podendo crescer significativamente.
Nesse contexto, os representantes dos diferentes segmentos do setor florestal reivindicam um tratamento adequado, compatível com as peculiaridades inerentes as atividades florestais. Em momento algum, se preconiza o paternalismo e, sim, que se criem condições necessárias à coexistência das empresas brasileiras no contexto da competitividade que atualmente se vivencia.
É de extrema importância, para o Brasil, trilhar o caminho da racionalidade e pelo diálogo dos diferentes atores sociais articular as mudanças necessárias, para se definir as formas de uso do recurso florestal pela possibilidade técnica e científica, direcionado à geração de bens e serviços, pois só assim o setor privado poderia adotar um modelo de gestão adequado, tendo em vista o mercado global.
Autoria:
Rosa Maria Miranda Armond Carvalho; Thelma Shirlen Soares e
Sebastião Renato Valverde - Departamento de Engenharia Florestal, Universidade Federal de Viçosa. |