Elas não são capricho de modistas. São determinadas pela percepção dos acontecimentos da sociedade.
As revistas de decoração nos fazem pensar que as tendências consistem na aplicação das cores e formas ditadas pelos centros da moda. Quem faz isto na verdade está copiando. Tendência é a aplicação em produtos das manifestações, sensações e sentimentos que se instalam na coletividade humana a partir da sua evolução. Estas provêm de várias fontes, das quais citamos alguns exemplos:
Uma delas refere-se aos atentados do 11 de setembro que geraram nos americanos um novo sentimento de patriotismo, nação e solidariedade. Como tendência criou-se aplicações de bandeiras e símbolos americanos. Volta às tradições americanas (móvel colonial americano).
A queda do muro de Berlim gerou um novo sentimento de comunidade e de alegria e liberdade;Tendência: móveis e peças humorísticas.
A imagem da Terra transmitida desde o espaço pelos astronautas dá um novo sentido de lar global; Tendência: produtos com consciência ecológica e de economia e racionalização de recursos e materiais: minimalismo, móveis com apelo ecológico, componentes recicláveis.
As tendências podem partir também de movimentos e ideologias: o caso dos hippies dos anos 60, cuja estética pop influiu nos móveis. O fascismo dos anos 30 criou uma estética de poder baseada no monumental.
A partir de sensações e necessidades psicológicas, frente à complexidade da tecnologia, se gera a necessidade de produtos que evoquem tempos mais rústicos, porém sem abrir mão das comodidades modernas.
A partir de estilos de vida, nas sociedades de consumo, se encontram o que o pessoal da moda chama “tribos”: consumidores que se identificam entre si por características especiais – “yuppies”, “punks”, tecnológicos, ecologistas, tradicionalistas, afinados com culturas orientais, tecnológicos, minimalistas etc. Aparecem produtos específicos baseados nas características e necessidades destes tipos de consumidor.
Por idade. Você já pensou que sempre existiu o vírus da AIDS para a geração que agora ingressa no mercado consumidor, e que não conheceu discos Long Play, máquina de escrever? Para esses os patins sempre foram “Em Linha”, Michael Jackson sempre foi branco e a pipoca, feita no forno microondas. Naturalmente as expectativas e interesses são diferentes.
Por influências de outras culturas e modos de vida. O desejo de mais tempo livre se traduz em móveis com visual de praia. Móveis africanos nos dão a “sensação” romântica de estar em um “safári”. Por influências de outros produtos ou avanços: assim como o design automobilístico se reflete dois anos depois nos eletrodomésticos, estes influenciam os móveis. A Apple lançou os computadores translúcidos. Dois anos depois temos em Milão móveis coloridos transparentes.
Existem empresas internacionais cuja função é a pesquisa para determinar mudanças de humor da sociedade, a partir do comportamento dos consumidores. Estas empresas agrupam pesquisadores nas maiores metrópoles mundiais, que, câmara nas mãos, registram desde a maneira de se vestir ate as mudanças nos comportamentos. As empresas interessadas compram esta informação e a aplicam a novos produtos, e não só no setor de vestuário.
Infelizmente pela complexidade da tarefa é difícil determinar a importância de fatores locais ou os comportamentais em cidades ou regiões diferentes de Nova Iorque ou São Paulo onde se concentram estas pesquisas. Como São Paulo é diferente de Belém do Pará e não só por questões climáticas, quem leva estas recomendações à risca sem considerar o seu próprio mercado pode-se dar muito mal. Como as empresas que contratam estes estúdios de tendências usualmente trabalham para mercados altos, os fatores sociais e econômicos são olimpicamente ignorados.
Outro grande perigo é generalizar a respeito das cores. A luz é a responsável pela percepção. A cor de moda na primavera de Milão, cidade do centro da Europa, terá um espectro totalmente diferente à luz do sol tropical do Rio de Janeiro na mesma época. Isto muda totalmente a percepção – a bela cozinha italiana alaranjada não é tão bonita assim quando chega a Recife.
De modo que, se o empresário pensar em seguir a tendência de Milão, pense primeiro que vai vender no Brasil. A tendência é valida se o seu conteúdo e mensagem também são válidos para o nosso tipo de freguês, o que nem sempre tem de acontecer.
Autor: Jorge Montana - designer industrial com mestrado em design de móveis |