Embora ainda não existam regras definidas nem formas ou destinação de recursos, o “seqüestro de carbono” surge como uma grande alternativa para o setor florestal brasileiro, a médio prazo. A aprovação do pacote de comercialização de certificados de emissões de gases, por 167 países, em Marrakesh, no mês de novembro, poderá beneficiar o Brasil. Empresas americanas, européias e japonesas querem explorar oportunidades de investir em projetos de eficiência energética e reflorestamento no País. Assim, o comércio de carbono abre novas portas para o setor, pois os proprietários de florestas têm a oportunidade de negociar créditos de carbono com empresas que não queiram diminuir suas emissões.
A estimativa é que o mercado mundial de carbono alcance US$ 8 bilhões por ano. O interesse de empresas estrangeiras pelo Brasil ocorre porque o risco de investimentos em outros países em desenvolvimento é maior.
A mudança no protocolo de Kyoto, aprovada em Marrakesh, atendeu a exigências de flexibilidade por parte do Japão e da Rússia. Os Estados Unidos ficaram fora, por decisão prévia do governo.
O tratado prevê a redução média de 5,2% dos gases de efeito estufa dos países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do leste Europeu até 2012. Foram aprovadas as regras do mercado de carbono. Os participantes podem ser os setores públicos e privados. O monitoramento dos projetos será feito por uma autoridade nacional. Todos os projetos terão de ser certificados por empresas credenciadas para comprovar que as emissões de gases foram efetivamente reduzidas.
Para ser ratificado, o Protocolo de Kyoto precisa ter 55% das emissões totais dos países que representam, com base nos níveis de 1990. Já foram confirmadas 45 ratificações e espera-se pela confirmação de grandes emissores de gases como a União Européia, a Rússia e o Japão.
A expectativa pela compra de certificados está despertando o interesse de instituições financeiras, que já estão se programando para comprar certificados de seqüestro de carbono visando vendê-los com preços mais altos no futuro. Os bancos adquirem parte dos créditos de seqüestro de carbono para distribuí-los entre as empresas investidoras na organização. As regras, entretanto, ainda não estão definidas.
Neste sentido, em breve as florestas podem vir a ser um bom negócio. Com o resgate dos gases poluentes, os proprietários dessas florestas poderão negociar as florestas e, com os recursos obtidos, investir em novas tecnologias.
Amazônia
Os pesquisadores brasileiros e estrangeiros, vinculados do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) constataram que a floresta amazônica tem papel fundamental na redução do efeito estufa, absorvendo o excesso de carbono existente na atmosfera. O LBA é uma iniciativa internacional de pesquisa liderada pelo Brasil e estuda a floresta Amazônia. Até 2004 os pesquisadores estimam concluir um banco de dados que sirva de base para a elaboração de programas voltados para o desenvolvimento sustentável e a preservação ambiental da Amazônia.
Ao todo, o LBA tem 100 projetos que estudam a influência das mudanças dos usos da terra (queimadas e desmatamento) e do clima no funcionamento biológico, químico e físico da Amazônia. Atualmente, apenas 50 estão sendo trabalhados, por mais de 400 pesquisadores. A União Européia está participando com US$ 3,516 milhões para o mais recente desses projetos, que dará continuidade aos estudos do ciclo de carbono da Amazônia.
O projeto, conduzido por 55 pesquisadores, prevê uma série de medições das trocas de energia e gás carbônico entre as florestas e atmosfera. Será feito também um balanço de carbono nas áreas de transição entre floresta úmida e floresta seca, vegetação de cerrado e pastagens. Do valor total, destinado pela comunidade científica européia para o projeto, cerca de 40% será usado para cobrir despesas com atividades de treinamento e reuniões científicas, custos de aquisição de equipamentos e despesas de viagens de participantes brasileiros dentro e fora do Brasil e custos operacionais, incluindo subcontratações.
O objetivo geral do projeto é compreender o funcionamento da Amazônia como uma entidade regional com relação aos fluxos de energia, água, carbono e nutrientes. Estudos realizados nos últimos dois anos constataram que a floresta amazônica absorve cerca de 0,4 a 1 Giga tonelada (Gt) de carbono por ano da atmosfera. O valor é equivalente à emissão anual total de gás carbônico, proveniente da queima de combustível fósseis, na Europa Ocidental e de 5 a 12 vezes maior que as emissões de CO² devidas à queima de combustíveis fósseis no Brasil.
O projeto tem previsão de gastos da ordem de US$ 80 milhões. Deste total cerca de US$ 10 milhões já foram aplicados na realização de duas grandes campanhas de pesquisa sobre meteorologia e química da atmosfera, em 1999. |