A floresta amazônica apresenta cerca de três mil espécies florestais identificadas por pesquisadores. No entanto, apenas 230 espécies são aproveitadas industrialmente e 80% da produção é alimentada por menos de 50 espécies. Destas, apenas 20 a 30% são exaustivamente empregadas na manufatura de móveis e chapas compensadas, além de outros produtos, segundo o Laboratório de Anatomia e Identificação de Madeiras, do INPA.
Este consumo seletivo, em larga escala, reduz significativamente o potencial econômico da floresta e traz prejuízo imediato. Isso porque diminui a ocorrência das espécies em locais de melhor acesso, aumentando progressivamente os custos da cadeia de produção.
A produção madeireira ocorre principalmente nas margens meridional e oriental (“Amazônia das estradas”) onde a extração é predominante, incluindo a região de Paragominas, no estado do Pará, e o norte do estado do Mato Grosso. A parte central (“Amazônia dos rios”) é menos explorada, conforme estudo sobre a regionalização da produção e extração madeireira e plantação no Brasil.
Contudo, a produção madeireira na Amazônia não é condizente a toda a potencialidade existente. Apesar da região abrigar cerca de 30% do estoque mundial de madeira tropical, o sistema de produção regional ainda é centrado no corte seletivo de espécies. Este hábito está ocasionando um gradual empobrecimento da floresta e aponta para a extinção das espécies mais
intensivamente exploradas.
Uma maneira de viabilizar a produção é o uso de espécies alternativas. Neste sentido, diversos estudos vêm sendo realizados a fim de identificar os usos adequados. Várias espécies mostraram-se adequadas para usos em construção leve (estruturas leves, assoalhos, tacos, divisórias, paredes). Outras podem ser empregadas na construção pesada (pontes, dormentes, pilares, carroceria de veículos); na fabricação de embalagens (caixas, engradados e paletes); em móveis e obras gerais de carpintaria, marcenaria e acabamentos, e em peças curvadas, para artigos esportivos, móveis artesanais e construção naval.
O Ibama vem desenvolvendo pesquisas a fim de estudar espécies de madeiras amazônicas para instrumentos musicais. Na área de chapas e painéis, algumas pesquisas caracterizaram cerca de 22 espécies madeireiras consideradas aptas à fabricação de chapas compensadas e também para a obtenção de lâminas faqueadas, na produção de painéis decorativos.
Atualmente, o próprio setor produtivo tem procurado alternativas para substituir as espécies já convencionalmente conhecidas pelo mercado e esgotadas na natureza.
Usos de algumas madeiras amazônicas:
MUIRACATIARA – (Astronium lecontei – Anarcardiaceae ) - Madeira de cerne (âmago) avermelhado, demarcado com faixas castanho escuro em sentido vertical, de espaçamento variável, com belas figuras bem distintas. Grã regular, textura média, cheiro e gosto imperceptíveis. Recebe bom acabamento.
USOS: construção civil pesada externa; construção civil leve interna decorativa, tábuas assoalho, taco, móveis , embarcação (quilhas, convés, costado, cavernas); lâminas decorativas, cabos de ferramentas, cutelaria, utensílios domésticos, decoração e adorno.
GUARIUBA (Clarissa racemosa - Moraceae) - Madeira moderadamente pesada; cerne de cor amarelo intenso passando para um tom castanho queimado com o passar do tempo bem diferenciado do alburno branco palha. Recebe bom acabamento. É um tanto difícil de desdobrar apresentando uma perda de fio da serra suave a moderada. É boa de aplainamento, de colagem e fixação de parafuso. Apresenta bom processamento.
USOS: lambris; painéis; molduras; mobiliário; embarcações (cobertura, pisos e forros ); chapas compensadas para partes internas de móveis, armários; forros; divisórias; cabos de ferramentas (formão, plainas, martelos, pás, enxadas, etc.); cutelaria; facas; cepos; macetas.
PAU-RAINHA (Brosimum rubescens – Moraceae) – Madeira pesada, cerne de cor vermelha; alburno creme; grã entrecruzada; cheiro e gosto indistintos; recebe bom acabamento; aplainamento de regular a bom; boa colagem. Na utilização de prego é recomendável uma pré-furação. O cerne tem uma boa durabilidade natural contra ataque de organismos xilófagos.
USOS : móveis; tacos e tábuas para assoalho; instrumentos musicais; cabos de ferramentas; construção civil.
TATAJUBA ( Bagassa guianensis – Moraceae ) – Madeira pesada; cerne amarelado com aspecto um tanto queimado, lustroso; alburno bem diferenciado do cerne de cor amarelo pálido, quase branco; grã irregular; textura grosseira. Fácil de trabalhar e recebe bom acabamento e aplainamento. Tem boa durabilidade natural com ataque de agentes fúngicos.
USOS: lambris; painéis; tacos; tábuas de assoalho; parquetes; móveis; tampos de mesa; caixa de aparelho de som; carrocerias; implementos agrícolas; quilha, convés, costado e cavernas de embarcações.
ANDIROBA (Carapa guianensis – Meliaceae) – Madeira moderadamente pesada; cerne castanho escuro um tanto uniforme; superfície ligeiramente áspera ao tato; grã direita às vezes ondulada; fácil de serrar; boa de colagem; recebe bom acabamento. O óleo dessa árvore é muito utilizado na medicina alternativa como cicatrizante. Comercializa-se velas feitas com esse óleo para atuar como repelente de mosquitos.
USOS: mobiliário, ebanisteria; vigas; caibros; ripas; tacos, tábuas de assoalho; tampos de mesa; cobertura, pisos e forros de embarcação; canoa; chapas compensadas para uso não-decorativo como para parte interna de móveis, armários, forros e divisórias; tanoaria (barris, pipas, tanques. tonéis); instrumentos musicais; marchetaria; escultura e entalhe; moldura.
PIQUIARANA (Caryocar glabrum – Caryocaraceae ) – Madeira pesada de cerne amarelo um tanto pardacento, pouco diferenciado do alburno; grã regular; textura média; cheiro um tanto acre quando recém cortado; gosto não pronunciado; durabilidade natural baixa.
USOS: construção civil ( lambris, painéis, molduras, vigas, caibros); tacos e tábuas para assoalho; coberturas, pisos e forros de embarcações; cabos de ferramentas; cutelaria; utensílios domésticos; barris; tonéis; cubas.
FREIJÓ (Cordia goeldiana – Borraginaceae ) – Madeira moderadamente pesada; cerne de cor pardo-castanho-claro; superfície um tanto lustrosa; um tanto áspera ao tato; grã direita; textura média; cheiro peculiar; sem gosto. Madeira fácil de desdobrar, boa de aplainamento e para colagem; fixação de prego um tanto regular.
USOS: lambris; painéis, molduras; cobertura, pisos e forros de embarcações; chapas compensadas para partes internas de móveis, armários, forros e divisórias; lâminas decorativas para face de compensado.
TAUARI (Couratari oblongifolia – Lecythidaceae) – Madeira de peso médio; cerne de cor creme às vezes com uma tonalidade rosada indistinto do alburno; superfície um tanto brilhosa. Madeira fácil de processar; recebe um bom acabamento; possui baixa resistência natural ao ataque de organismos xilófagos .
USOS : marcenaria, instrumentos musicais; caixas; engradados; painéis; cabos de vassouras; chapas compensadas.
CUMARU (Dipteryx odorata – Leguminosae) – Madeira muito pesada; cerne de cor castanho amarelo-escuro, de aspecto fibroso atenuado diferente do alburno de cor bege claro; grã irregular; textura média; cheiro desagradável quando úmida. Possui alta durabilidade natural ao ataque de organismos xilófagos.
USOS: estacas marítimas; pontes; obras imersas em ambiente de água doce; postes; cruzetas de transmissão elétrica; estacas; dormentes ferroviários; estrutura pesada de construção civil; vigamentos; carpintaria; tesouras; treliças; lambris; painéis; molduras; tacos e tábuas para assoalho; móveis; carroceria de caminhão; embarcação (quilhas, convés, costado, cavernas); cabos de ferramentas; cutelaria; utensílios domésticos; tanoaria; escadas.
PAU-AMARELO (Euxylophora paraensis – Rutaceae) - madeira pesada; cerne de cor amarelo acetinado ou amarelo-limão, escurecendo com o passar do tempo bem diferenciado do alburno branco-amarelado; grã regular; textura média; fácil de processar; boa de colagem; boa para fixação de prego recomendando-se uma pré-furação; recebe bom acabamento.
USOS: ebanisteria, carpintaria; escadas; artigos esportivos; tacos e tábuas para assoalho; móveis; quilhas, convés, costado e cavernas de embarcação; cabos de ferramentas; cutelaria; instrumentos musicais; marchetaria; tornearia.
VIOLETA (Peltogyne catingae - Leguminosae ) – madeira pesada de cerne de cor roxo intenso ou violeta-purpúreo bem distinto do alburno marrom-amarelado; textura média; regular de se processar na plaina; recebe bom acabamento com a lixa; boa de colagem; superfície lustrosa; boa para fixação de prego recomendando-se uma pré-furação; alta resistência natural ao ataque de organismos xilófagos.
USOS: pontes; obras imersas em ambiente de água doce; postes; cruzetas; estacas; dormentes; vigamento; carpintaria; lambris; painéis; molduras; tacos e tábuas de assoalho; móveis; carroceria de caminhão; partes de veículo; quilhas, convés, costado e cavernas de embarcação; lâminas decorativas; cabos de ferramentas; utensílios domésticos; cutelaria; tanoaria; remos; taco de bilhar; raquetes; pranchas; brinquedos; escadas; peças torneadas.
MACACAUBA (Platymiscium ulei – Leguminosae) – Madeira moderadamente pesada; cerne de cor castanho avermelhado com veios ou linhas longitudinais escuras bem diferenciado do alburno mais claro; grã irregular; textura média; superfície pouco lustrosa; um tanto áspera ao tato; recebe bom acabamento; fácil de processamento; relativamente fácil de secar.
USOS: móveis; tacos e tábuas para assoalho; instrumentos musicais; escadas; postes; cruzetas de transmissão elétrica; dormentes ferroviários; carrocerias de caminhão; quilhas, convés, costado e cavernas de embarcações; lâminas decorativas; cabos de ferramentas; cutelaria; utensílios domésticos; tanoaria; artigos esportivos; brinquedos; marchetaria; escultura e entalhe; molduras; escadas.
PAU D’ARCO (Tabebuia serratifolia – Bugnoniaceae) – Madeira pesada com cerne de cor castanho com veios escuros, com reflexo esverdeados; alburno amarelo-rosado; grã regular; textura média; recebe bom acabamento; propriedades de maquinabilidade regular; a perda de fio da serra é severa; é fácil de secar ao ar livre com uma velocidade de secagem considerada rápida; apresenta defeitos leves; durabilidade natural ao ataque de microorganismos xilófagos é alta.
USOS: postes; cruzetas de transmissão elétrica; pontes; obras imersas; dormentes ferroviários; estruturas pesadas; pilares; vigamento; carpintaria; estruturas de telhado; tacos e tábuas de assoalho; carroceria de caminhão; quilhas, convés, costado e cavernas de embarcação; cabos de ferramentas; cutelaria; utensílios domésticos; tanoaria; escadas.
TAXI (Tachigalia myrmecophylla – Leguminosase ) - Madeira moderadamente pesada; cerne castanho; alburno amarelo claro brilhante; cheiro desagradável quando verde; textura média; grã irregular; recebe acabamento regular; boa de aplainamento, colagem e de fixação de pregos.
USOS: vigas; caibros; ripas; mobiliário padrão; chapas compensadas de utilidade geral ( não-decorativas); lâminas de utilidade geral; caixa, caixotes; pallets; palitos; bobinas e carretéis; pasta celulósica.
JUTAI-POROROCA (Dialium guianensis – Leguminosae ) - Madeira pesada ; cerne castanho-escuro; alta durabilidade natural ao ataque de organismos xilófagos; perda de fio da serra é severa (exame microscópico revela grande quantidade de corpúsculos de sílica no xilema); aplainamento é pobre.
USOS: postes, cruzetas de transmissão elétrica; dormentes ferroviários; vigamentos; lambris, painéis; tacos e tábuas para assoalho; carrocerias de caminhão e outras partes de veículos; cabos de ferramentas; cutelaria. |