Os plantios florestais de eucalipto tem evoluído rapidamente nos últimos anos, com a adoção de práticas sustentáveis de manejo florestal, que hoje, inclusive, são objeto de certificação independente. Um dos grandes feitos da pesquisa florestal no Brasil foi o desenvolvimento de uma tecnologia silvicultural de florestas plantadas, reconhecida no mundo todo.
Com um mercado sempre crescente e cada vez mais exigente em madeira de qualidade, seria fora de propósito proibir a derrubada de matas naturais se não houvesse a alternativa de utilizar a madeira oriunda de reflorestamento. Em comparação com outras modalidades de uso da terra, o reflorestamento ou plantio comercial de espécies arbóreas é a atividade agrícola que mais se recomenda para a conservação do solo, proteção dos mananciais e a recuperação de áreas degradadas. Precisamente, por este motivo, é que se considera a silvicultura e os cultivos perenes como os mais indicados sistemas de uso da terra para regimes de clima tropical, onde são mais graves os riscos de degradação do solo através da erosão e lixiviação.
Acredita-se que se não for cumprido um rigoroso programa de florestamento e reflorestamento, o Brasil encontrará três alternativas bastante desagradáveis , face às excepcionais condições que o Brasil possui para produzir madeira, em larga escala:
Reduzir o processo de desenvolvimento, diminuindo o consumo de madeira;
Lançar mão das reservas naturais e, principalmente, da Floresta Amazônica;
Importar a madeira necessária de outras países mais previdentes, sacrificando, ainda mais, a balança de pagamentos e aumentando a dívida externa.
O Brasil é um país de dimensão continental e de condições de clima e solo altamente favoráveis para a implantação de florestas. O desenvolvimento das espécies exóticas utiliza¬das, principalmente o pinus e o eucalipto, demonstra resultados espetaculares, com ciclos silviculturais entre 6 e 7 anos, bem diferentes dos países de grande tradição florestal, como a Suécia, Canadá e Austrália, cujos ciclos nunca são inferiores aos 60 e 80 anos.
Além das condições naturais bem favoráveis, o Brasil possui excedentes de mão-de-obra no meio rural, bem como considerável domínio tecnológico nas atividades ligadas à formação de florestas e produção de madeira.
O eucalipto não foi escolhido por mero acaso, como capricho ou o gênero potencialmente mais apropriado, mas foi uma escolha em função das inúmeras vantagens, destacando-se algumas:
Rápido crescimento volumétrico e potencialidade para produzir árvores com boa forma;
Características silviculturais desejáveis, como bom incremento, boa forma, facilidade a programas de manejo e melhoramento, tratos culturais, desbastes, desramas etc.
Grande plasticidade do gênero, devido à grande diversidade de espécies, adaptando às mais diversas condições de clima e solo;
Elevada produção de sementes e facilidades de propagação vegetativa;
Adequação aos mais diferentes usos industriais, com ampla aceitação no mercado.
Para o caso específico do Brasil, o eucalipto possui um caráter estratégico, uma vez que a sua madeira é responsável pelo abastecimento da maior parte do setor industrial de base florestal. Basta citar alguns números para se avaliar quão importante é a sua participação na economia nacional. Da madeira de eucalipto, atualmente, se produzem, por ano, no setor de celulose, 6,4 milhões de toneladas de celulose, representando mais de 70,0% da produção nacional; número também impressionante é o setor de carvão vegetal, com uma produção anual de 18,8 milhões de metros cúbicos, representando mais de 70,0% da produção nacional; outro setor importante é o de chapa de fibra, com uma produção anual de 558 mil metros cúbicos, representando 100.0% da produção nacional; o setor de chapas de fibra aglomerada produz 500 mil metros cúbicos, representando quase 30,0% da produção nacional.
O setor industrial de base florestal tem sido marcado por um processo de utilização crescente de madeiras provenientes de reflorestamento, colocando o Brasil em sintonia com a ordem mundial, que enfatiza a preservação das florestas naturais e incentiva a implantação de florestas renováveis. O eucalipto se apresenta como grande alternativa para a produção de madeira nos próximos anos e a indústria já aposta na sua disponibilidade para os futuros suprimentos de matéria-prima. O descompasso crescente entre oferta e demanda de madeira nos mercados interno e externo tenderão a favorecer o quadro de substituição das madeiras nativas pela madeira de eucalipto.
As potencialidades do eucalipto como fornecedor de matéria-prima de qualidade para os diversos usos industriais já se encontram demonstradas, estando razoavelmente definidos os parâmetros de qualidade da madeira a serem exigidos para tais explicações. As perspectivas de utilização intensiva da madeira de eucalipto são muito promissoras e têm por base o conhecimento já acumulado sobre a silvicultura e o manejo de várias espécies do gênero, sua maleabilidade e respostas ao melhoramento genético, que o tornam aplicável em um grande espectro de usos.
O setor industrial de base florestal do Estado de Minas Gerais depende basicamente dos seus recursos florestais. O Estado participa ativamente da composição da cadeia produtiva nacional, contribuindo significativamente com a utilização da madeira para uso energético e redutor, no segmento siderúrgico, além de outros importantes setores como os de celulose, moveleiro e chapas.
Hoje, o Estado conta com, aproximadamente, 15 milhões de hectares em mata nativa e 1,2 milhões de hectares de florestas plantadas, com grande predomínio de espécies do gênero Eucalyptus, que constitui mais de 80% das plantações.
Embora existam 730 espécies já conhecidas, botanicamente, os plantios, em larga escala, no mundo, estão concentrados em poucas espécies. Em termos de incremento anual e das propriedades desejáveis da madeira, apenas doze tem sido utilizadas, com mais inten¬sidade, para atender o setor industrial: Eucalyptus grandis, E. saligna, E. urophylla, E. camaldulensis, E. tereticornis, E. globulus, E. viminalis, E. deglupta, E. citriodora, E. exserta, E. paniculata e E. robusta.. No Brasil, tem sido consideradas muito promissoras as espécies E. cloeziana, na região central, e o E. dunnii, na região sul.
Estima-se que, no Brasil, existam, aproximadamente, 1 milhão de hectares, destinados à produção de painéis, papel e celulose, e 1,2 milhão de hectares para a produção de lenha e carvão.
O potencial de utilização múltipla da madeira de eucalipto tem crescido sobremaneira nos últimos tempos, principalmente se adotar o conceito de floresta de aplicação ampla. Nesse caso, devem crescer as opções de melhoramento das espécies (procedências, clonagens, híbridos), de espaçamentos, de idade de corte, de técnicas silviculturais diferenciadas (desbaste, desrama, de métodos de exploração etc). Dentro de uma área a ser implantada, pode-se conseguir diferentes tipos de florestas para cada um dos produtos a serem obtidos. Haverá, então, a possibilidade de se explorar todo o potencial do gênero Eucalyptus, que prima pela enorme amplitude de opções de utilização e pela qualidade de suas madeiras já comprovada em muitas situações.
A indústria moveleira e de construção civil estão avaliando seriamente a possibilidade de utilização intensiva da madeira de eucalipto nos seus produtos e alguns resultados têm-se mostrado bastante satisfatórios. O tratamento adequado à sua madeira é o grande segredo de sua versatilidade, comprovando que vários de seus problemas podem ser contornados com a utilização correta de equipamentos e procedimentos.
José de Castro Silva
Professor UFV/DEF/CEDAF |