O guapuruvu (Schizolobium parayba) é reconhecido entre os pesquisadores como uma espécie de rápido desenvolvimento e boa produtividade. Segundo a Embrapa, em plantios experimentais, o guapuruvu impressiona pelo crescimento inicial e pela forma das plantas. Quando plantado em espaçamento adequado, permite consórcio com cultivos permanentes ou de ciclo curto.
O guapuruvu, entre diversas espécies nativas plantadas, destacou-se aos 10 e 14 anos de idade, no espaçamento 3 x 3, apresentando desenvolvimento rápido (DAP médio = 21,2cm e HT média = 12,75m; DAP médio = 24,4cm e HT média = 13,7m, respectivamente). Alguns estudiosos constataram ser possível obter grande volume de madeira num prazo relativamente curto (10 anos) com o cultivo do guapuruvu, no espaçamento 4 x 4m, em solo do tipo latos solo roxo, correspondendo a 600 m³/ha.
O compensado obtido a partir da madeira de guapuruvu, originária de floresta nativa, encontra aplicações tais como formas de concreto, embalagens pesadas e fabricação de móveis. A madeira de guapuruvu é adequada para confecção de aeromodelos, brinquedos, palitos, caixotes, barcos e até papel.
O plantio misto de espécies nativas em áreas degradadas tem como objetivos recompor a vegetação, melhorar as condições ambientais e manter a diversidade genética. Isso pode ser feito com a escolha de espécies adequadas, previamente testadas por meio de experimentos que visam a avaliação de seus comportamentos florestais. Um ponto importante é procurar espécies que possam desempenhar bem seu papel ambiental e, ainda, gerar algum retorno financeiro para o proprietário da floresta por meio de um possível aproveitamento para fins madeireiros, como é o caso do guapuruvu.
Em função do sucesso alcançado nos plantios de espécies que apresentam potencial econômico em relação às suas industrializações, o ESALQ/USP realizou um estudo visando o aproveitamento dessa espécie, proveniente de plantios mistos com espécies nativas, para fins madeireiros.
Na pesquisa, as lâminas foram obtidas em torno desenrolador com espessura nominal de 2,00mm. A lâmina contínua de cada tora, na saída do torno, foi enrolada numa bobina de madeira para, posteriormente, ser guilhotinada.
Durante a operação de guilhotinagem para produção das lâminas individuais (0,002 x 1,00 x 1,05m), foram coletadas amostras com dimensões de 0,002 x 0,04 x 1,05m. As amostras foram coletadas a cada três lâminas produzidas a partir das toras da base das árvores A1, B1 e C1. No total foram coletadas 23 amostras que se destinaram à determinação do valor da contração máxima tangencial, radial e volumétrica das lâminas de madeira de guapuruvu. O coeficiente de anisotropia foi calculado a partir da relação entre a contração tangencial e radial das lâminas.
Para o cálculo das contrações foram medidas a largura e espessura das amostras, em três pontos ; inicialmente na condição verde (acima do ponto de saturação das fibras) e, posteriormente, na condição seca (0% de umidade). A contração volumétrica aproximada foi estimada pelo somatório das contrações tangencial e radial. A contração longitudinal foi desconsiderada.
Secagem e classificação
Logo após a guilhotinagem, as lâminas obtidas foram dispostas em suportes de madeira para secagem natural, em local coberto. A perda de umidade durante a secagem foi acompanhada por meio de pesagens periódicas de amostras de lâminas.
Quando as amostras não apresentaram mais variação em seus pesos, as lâminas foram retiradas dos suportes. Nesta oportunidade, o teor de umidade médio determinado para as lâminas foi de 11%.
As lâminas secas foram classificadas em classes de qualidade decrescente (N, A, B, C e D), segundo a NBR 9531 (ABNT, 1986) e depois empilhadas, permanecendo assim até o momento da manufatura dos compensados.
A partir das lâminas secas e classificadas, foram manufaturados compensados de cinco camadas do tipo B/C/B, ou seja, capas com lâminas da classe B e miolo com lâminas da classe C. O adesivo utilizado foi à base de resina uréia-formaldeído, preparado em três diferentes formulações, que constituíram os respectivos tratamentos. As formulações utilizadas na produção dos painéis seguiram as recomendações do fabricante da resina.
Para cada tratamento, foram produzidos três painéis. A gramatura utilizada em todos os tratamentos foi de 360 g/m², sendo o adesivo aplicado em linha dupla. O ciclo de prensagem, adotado baseou-se nas informações do fabricante da resina.
Após a prensagem, os compensados foram mantidos na posição vertical até restabelecerem a temperatura ambiente. Posteriormente, foram empilhados, distanciados entre si pelo uso de separadores, em local coberto e protegido de intempéries, por um período de aproximadamente 30 dias para climatização em condições de temperatura e umidade relativa ambiente. Após este período, os compensados foram esquadrejados com dimensões finais de 0,01 x 0,9 x 0,9m.
Rendimento
O descascamento manual das toras foi considerado fácil e a espessura média da casca foi de 0,8 cm. Verificou-se que a etapa de arredondamento foi a que gerou maior perda (22,9%), a qual está relacionada com a conicidade das toras em geral, mas também com a tortuosidade e a forma elíptica presente em duas toras.
Esses problemas podem ser minimizados pela seleção de matrizes com boa forma, bem como do correto acompanhamento da implantação e condução dos povoamentos.
A perda bruta (perda no descascamento + perda do rolo-resto) foi de 18,3%. Segundo esses autores, perda bruta de tal magnitude pode ser considerada bastante baixa, comparando-se com outras madeiras tropicais, as quais alcançam valores entre 25% e 38%. Ao se considerar o volume das toras com casca, o rendimento médio da laminação foi de 52,59% e, desconsiderando a casca, foi de 60,98%.
A espessura média das amostras de lâminas verdes foi de 2,03 mm, valor muito próximo à espessura nominal de 2,00 mm, sendo um indício de que a regulagem do torno foi adequada, resultando em uma boa uniformidade de espessura durante a laminação. Durante o processo de secagem natural das lâminas foi possível verificar o surgimento de rachaduras longitudinais, ocorrência de colapso e rachaduras em favo de mel (ambos também verificados nas cunhas utilizadas para determinação da massa específica básica da madeira, principalmente nas lâminas originárias da região próxima à medula das toras (madeira juvenil).
Entretanto, esses defeitos, tanto em quantidade como em magnitude, não comprometeram seriamente a manufatura do compensado. As ondulações verificadas nas lâminas secas, aparentemente resultantes da ocorrência do colapso, ocasionaram a formação de pequenos cavalos durante a prensagem a quente do painel, especialmente em suas bordas, os quais foram eliminados após o esquadrejamento das chapas.
Foram observados nós, vivos e firmes, com diâmetro entre 2,0 e 5,0mm, presentes em quantidades entre 12 e 20 por lâmina, vistos com maior facilidade nas lâminas de coloração mais clara.
O resultado da classificação das lâminas é apresentado em número de lâminas por classe e tora. O percentual de lâminas em cada classe, expresso em relação ao número total obtido, foi o seguinte: 2% das lâminas na classe A, 24% na classe B, 48% na classe C e 26% na classe D.
Ao todo, foram classificadas 193 lâminas, as quais permitiriam a produção de painéis compensados dos tipos B/C/B, de maior valor agregado e industrial C/D/C. Observa-se que foram produzidas lâminas predominantemente da classe C, entretanto, o rendimento em lâminas da classe B pode ser considerado bom. A somatória das lâminas das classes B e C (138 lâminas) equivale a 72% do número total de lâminas obtidas, as quais são adequadas para compor as capas de compensados.
O rendimento do processo de laminação das toras de guapuruvu (Schizolobium parayba Blake.) foi de 60,98% e pode ser considerado expressivo. As lâminas geradas foram classificadas nas classes A (2%), B (24%), C (48%) e D (26%), conforme a norma NBR 9531 (1986), as quais permitiriam a produção de painéis compensados dos tipos B/C/B, de maior valor agregado e industrial do tipo C/D/C.
Os tratamentos empregados na manufatura dos compensados resultaram em diferença estatística nos ensaios de flexão estática e resistência ao cisalhamento da linha de cola (ensaio seco e úmido). A formulação do adesivo formado por 35% de farinho de trigo em relação ao adesivo puro) foi a que exibiu melhor performance.
De acordo com a norma EN 314-2 (1993), o compensado de guapuruvu apresenta possibilidade de uso interior (IR) e intermediário (IM) quando produzido com as formulações 1 e 2 (35% e 50%) e somente uso interno (IR) com a formulação 3 (65%).
A madeira de guapuruvu (Schizolobium parayba Blake.), proveniente de plantios mistos de espécies nativas, tem potencial para produção de lâminas e fabricação de compensados. O compensado de guapuruvu, produzido conforme as condições especificadas no presente estudo, apresenta potencial para uso em móveis, embalagens e caixotaria.
Autores:
Geraldo Bortoletto Júnior
Professor do Departamento de Ciências Florestais/ESALQ/USP
Ugo Leandro Belini
Curso de Engenharia Florestal/ESALQ/USP |