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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°92 - OUTUBRO DE 2005

Móveis & Tecnologia

Os mestres do desenho mobiliário

O design vem sendo cada vez mais valorizado na indústria moveleira, neste século onde a competitividade está no diferencial. Na definição do designer gráfico e escritor, Ricardo Ohtake, design é uma linguagem diretamente comprometida com a idéia de indústria e de sistema, a qual o Brasil teve condições de desenvolver a partir dos anos 50. Duas décadas após as primeiras obras arquitetônicas modernistas e alguns anos antes da instalação da indústria automobilística no País.

A origem do design no Brasil está ligada a alguns europeus que trouxeram o racionalismo para o País e o introduziram no curso organizado por P.M. Bardi no Museu de Arte de São Paulo. Durante um bom tempo, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo foi o grande núcleo de Desenho Industrial e Comunicação Visual - até que, em 1962, estas disciplinas se tornam seqüências quase tão importantes quanto as de Edificação e Urbanismo. A partir da década de 60, diplomavam-se os primeiros designers no Rio de Janeiro, na Escola Superior de Desenho Industrial, primeira instituição inteira e exclusivamente dedicada à disciplina.

O ensino de Desenho Industrial e Comunicação Visual se alastrou principalmente a partir da década de 70, quando a abertura de escolas superiores foi incentivada pelos governos militares. Hoje, funcionam no País mais de 40 faculdades, a maioria de maneira extremamente precária.

A comunicação visual teve um desempenho extremamente tímido até os anos 80. A "racionalização" era a grande palavra de ordem e Alexandre Wollner o seu líder; depois, a demanda foi a "criação"; hoje, os grandes escritórios têm que falar em "venda". Apareceram nas últimas décadas os talentosos designers gráficos, além dos já consagrados Rico Lins, João Baptista da Costa Aguiar, Silvia Steinberg, Hugo Kovadloff, Felipe Taborda, Norberto Chamma, Carlos Perrone, Luiz Stein, Francisco Homem de Mello, Marcelo Aflalo, Ricardo Van Steen, Rafic Farah, Milton Cipis, Sylvia Monteiro, Kiko Farkas, Marco Kato, Cecilia Consolo, além dos vigorosos grandes escritórios como Oz Design, PVDI, GAD, Cauduro Martino, Future Brand, MDesign, A10, Brand Group, Mazz Design, Battagliesi, e todos os núcleos de design gráfico das agências de publicidade.

As brechas que permitiram o desenvolvimento do design brasileiro se mostraram principalmente no desenho do mobiliário. Já nas décadas de 20 e 30, John Graz, artista plástico em sua essência e que pertenceu ao movimento modernista, desenhou inúmeros móveis, com influência do art déco, que são até hoje apresentados quase como únicos desta época. Ele era dos poucos que tinha a intenção de estar na mão e no instante histórico, assim como também aconteceu com o desenhista de móveis e industrial Joaquim Tenreiro que, desde os anos 40, desempenha importante função no Rio de Janeiro.

Nos anos 50, foi Sérgio Rodrigues que se consagrou com o prêmio de mobiliário na célebre mostra em Cantù, Itália, com a antológica Poltrona Mole, cujo princípio é a própria rede, tão usada no Nordeste e no Norte do Brasil.

Nos 50, ainda, Giancarlo Palanti desenha os móveis para a loja Ambiente, de Leo Seincman, em São Paulo, e Lina Bo Bardi faz a linha de cadeiras do auditório do Museu de Arte de São Paulo e uma série de outros, como a Concha. Lina continua o seu trabalho e, nos anos 80, projeta absolutamente tudo - do programa a ser desenvolvido à arquitetura, aos critérios de restauração e ao mobiliário - do novo espaço de lazer e cultura do SESC, no bairro da Pompéia, em São Paulo. Nos arredores de São Paulo é instalada a fábrica de móveis Escriba - possivelmente o mais bem sucedido empreendimento do tipo que o Brasil teve - para a qual Karl Heinz Bergmiller não só desenha os móveis mas organiza a produção.

A partir dos anos 80, inicia-se uma produção brasileira de móveis assinados por arquitetos e designers que já se consagravam há muito como os mais importantes do mundo, como Mies Van der Rohe, Breuer e Le Corbusier, Bertoia, os que resultaram em grande produção como Arne Jacobsen e Hille, Herman Miller, os italianos Mangiarotti, Bellini, Magistretti.

Porém, o processo mundial foi o de se fabricar num único local e exportar para todos os países. Com isso, uma infinidade de produtos começaram a aparecer em lojas européias ou americanas, num fenômeno nunca visto antes no país: pequenas lojas de bairros paulistanos, vendendo peças italianas, francesas, alemãs, americanas.

Durante este período e principalmente a partir dos anos 90, iniciou-se uma ofensiva muito forte brasileira, apresentando móveis e objetos, fabricados em pequenas fábricas, quase oficinas, mesmo artesanalmente. Alguns esperavam uma chance para absorção pela grande indústria, com soluções nitidamente brasileiras em alguns casos, "pobres" em outros, com materiais tradicionais usados com engenho e arte ou ainda escultóricos, ou iniciáveis pelo peso, mas em geral inventivos. Numa primeira geração são autores: Carlos Motta, Marcelo Ferraz, Marcelo Suzuki/Francisco Fanucci, Reno Bonzon, Maurício Azeredo, Oswaldo Mellone, Pedro Luiz Pereira de Souza, Pedro Useche, ou lojas como a Zona D, Ethel, Benedixt, ou as linhas mobiliárias que partem da arquitetura, de Ruy Ohtake.

Nos últimos anos, uma nova geração tem trabalhado, por diferentes vertentes. E é nesta geração que surgem os produtos brasileiros fabricados por indústrias européias. O maior reconhecimento é dos irmãos Campana que em muitos casos trabalham com refugos industriais, criando um verdadeiro "estilo brasileiro", juntamente com outros designers como Guto Índio da Costa, Freddy Van Camp, André Cruz, Gerson de Oliveira, Luciano Martins, Jacqueline Terpins, Camila Fix, Angela Carvalho, Alex Neumeister. Estabelecem uma situação, agora nos primeiros anos do novo século, bem diferente dos últimos do anterior e, depois de muito tempo, inicia uma nova caracterização do design industrial no Brasil através de diferentes profissionais, que estão atuando ou que deixaram suas marcas.

Ricardo Ohtake

Ricardo Ohtake formou-se na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Depois de trabalhar com marcas, logotipos, sinalização e projetos urbanos e ter recebido a premiação anual do Instituto de Arquitetos do Brasil, na década de 70, e no Congresso Brasileiro de Arquitetos, em 1978, concentrou sua atividade na coordenação editorial e desenho gráfico de livros.

Entre os títulos que editou estão O Livro do Rio Tietê, Oscar Niemeyer, Bienal Brasil Século XX, Novos Horizontes: Pintura Mural nas Cidades Brasileiras, Tomie Ohtake, Instrumentos Musicais Brasileiros, Acervo Artístico do Jockey Club de São Paulo, Campinas de Ontem e de Hoje, Danças Populares Brasileiras, Ruy Ohtake e 22a e 23a Bienal de São Paulo. É muito cioso da idéia por trás de cada projeto: "Cada forma tem um porquê, nada é gratuito, o significado é necessário", diz ele, num caminho oposto ao dos designers que se restringem à forma pela forma.

Entre 1968 e 1983, foi professor do Colégio Iadê, das Faculdades de Arquitetura de São José dos Campos, Guarulhos e Mackenzie e de Comunicação Visual da Faap. Paralelamente à sua atividade como artista gráfico e professor, tem forte atuação como dirigente cultural, tendo sido o primeiro diretor do Centro Cultural São Paulo, diretor do Museu da Imagem e do Som de São Paulo, onde criou a coleção de design gráfico, diretor da Cinemateca Brasileira e, finalmente, Secretário de Estado da Cultura de São Paulo. Foi, também, diretor da revista Design & Interiores, da Associação Brasileira de Desenho Industrial e da Associação de Designers Gráficos.

Carlos Motta

Carlos Motta foi várias vezes premiado."Faço projetos de mobiliário brasileiro atual, muito honesto, sem pretensões a vanguarda", define ele.

A honestidade está presente na qualidade de elaboração do móvel, feito para durar muito, usando principalmente madeiras maciças como amendoim, mogno, cedro e cabriúva. Está também na qualidade do desenho, uma mistura de influências brasileiras, escandinavas e norte-americanas (especialmente dos seguidores da seita Shaker), todas voltadas para a simplicidade.

Arquiteto de formação, Carlos Motta preserva as características de ateliê de seu trabalho, pronto para projetar qualquer coisa que o cliente queira em madeira. Mas há vários produtos em linha, como mesas, camas, aparadores, escrivaninhas, armários, objetos e principalmente cadeiras, sua paixão declarada - já desenhou cerca de 25 modelos diferentes.

Um exemplo significativo de seu trabalho é a cadeira São Paulo, concebida em 1982, que conquistou o primeiro lugar no 2º Prêmio Museu da Casa Brasileira. Ela originou uma técnica construtiva que hoje se aplica a uma linha inteira de mobiliário, produzido em escala, em forma semi-industrial. A São Paulo já se tornou um clássico, o que tem sua contrapartida desfavorável: é um dos modelos mais copiados em todo o País. Imune à pretensão do vanguardismo, Motta faz móveis belos de ver e confortáveis de usar, e permanece evoluindo dentro de um caminho próprio.

Joaquim Tenreiro



Joaquim Tenreiro (1906-1992) foi o "pai" do mobiliário moderno no Brasil. Nasceu em Portugal, em família com grande tradição em marcenaria. Artesão da madeira, ele começou a trabalhar no Rio de Janeiro na década de 20 fazendo móveis de estilo, mas desde cedo criticou o provincianismo de uma sociedade colonizada que só via valor no que vinha de fora e que negava a própria época.

Tenreiro propôs uma linguagem contemporânea e advogou a tese de que os móveis brasileiros deveriam ser formalmente leves. "Uma leveza que nada tem a ver com o peso em si, mas com a graciosidade, a funcionalidade dentro de seus espaços." Essa orientação encontrou grande eco nos arquitetos adeptos do modernismo, que pedia interiores livres dos excessos de ornamentação.

Tenreiro teve Oscar Niemeyer como seu grande cliente, desenhando os móveis para as casas que ele projetava e rompendo totalmente com o virtuosismo dos estilos. Desenvolveu uma linguagem adaptada ao calor tropical do País, usando abundantemente palhinha (ao contrário dos veludos que até então imperavam) e as madeiras brasileiras.

O móvel moderno, para ele, deveria estar baseado na honestidade de propósitos, na eliminação do supérfluo, no ajuste de função e na limpeza plástica. São princípios que continuam surpreendentemente atuais, assim como a sóbria elegância do seu desenho, como se pode ver pela Cadeira de Embalo, concebida em 1947. Com estrutura em pau marfim natural ou ebanizado, a Cadeira de Embalo tem assento e encosto em couro.



Lina Bo Bardi

Inconformada com os móveis que encontrou ao chegar ao Brasil, a italiana Lina Bo Bardi (1915-1992) decidiu desenhar o mobiliário para seus projetos. Para produzi-los em série, fundou, junto com Giancarlo Palanti, o Studio de Arte Palma. "O ponto de partida foi a simplicidade estrutural, aproveitando-se a extraordinária beleza das veias e da tinta das madeiras brasileiras, assim como seu grau de resistência e de capacidade", disse ela na revista Habitat. O Studio funcionou por dois anos, de 1948 a 1950. Para ela, "o móvel também tem sua moralidade e razão de ser na sua própria época. A cópia dos estilos passados, os babados, as franjas, são índices de mentalidades incoerentes, fora da moralidade da vida."

Exemplos de sua produção são a poltrona Bowl, de 1951, com um desenho simples e absolutamente inovador, que mereceu uma capa premiada na revista norte-americana Interiores, em 1953, e até hoje permanece atual; o mobiliário do Masp, tanto na Rua 7 de Abril quanto na Avenida Paulista (incluindo sistema expositivo); e os polêmicos bancos do teatro do Sesc Pompéia, em São Paulo.

Lina pesquisou intensamente a cultura popular brasileira e buscou nela inspiração para seu trabalho. Sua cadeira Tripé, de 1948, por exemplo, nasceu da rede, que considerava "um dos mais perfeitos instrumentos de repouso", por sua aderência perfeita à forma do corpo. A cadeira Frei Egídio, que projetou em conjunto com os arquitetos Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki deriva da cadeira franciscana do século XV. A construção foi simplificada e reduziram-se os elementos estruturais a apenas três peças. Assim, a cadeira pesa apenas 4 kg; dobrável, tem fácil transporte e armazenamento.

Marcelo Ferraz, Marcelo Suzuki e Francisco Fanucci

Os arquitetos Francisco Fanucci, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki criaram em 1986 a Marcenaria Baraúna, que de início funcionou como extensão do escritório Brasil Arquitetura, mantido por eles. Hoje a marcenaria tem vida própria e princípios claros: "Buscamos nossa matriz na cultura popular brasileira, sem folclorizá-la ou congelá-la no tempo, mas num diálogo entre universal e particular, entre passado e presente, que resulta num design contemporâneo, baseado na simplicidade formal."

Simplicidade construtiva, valorização das madeiras nacionais e uma apropriação das soluções populares na linguagem utilizada são algumas das características de seus trabalhos. A construção dos móveis é sempre explícita, sem trucagens, dissimulações ou acréscimos decorativos. Os móveis usam madeiras maciças, entre elas a cabriúva vermelha, o amendoim, o ipê, o pinho do Paraná, o cumaru, o pau-marfim e o mogno. O interesse na identidade cultural do País levou-os a resgatarem o "sentar brasileiro", cuja tradição vem dos índios, com uma série de bancos, provando que a ausência de encosto não significa perda de comodidade no sentar. O Caipira é uma releitura feita por Francisco Fanucci de um banco encontrado na Serra da Mantiqueira, disponível em vários tamanhos. O Cachorrinho é uma reprodução de exemplar encontrado numa fazenda no Vale do Paraíba.

A Baraúna também produz móveis projetados por Lina Bo Bardi, com quem Ferraz e Suzuki trabalharam, e hoje é dirigida por Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz. Seus móveis foram escolhidos para compor a loja do Museu de Arte de São Paulo (Masp), mereceram exposição individual no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, e reportagens em revistas especializadas, nacionais e internacionais.



Maurício Azeredo

Maurício Azeredo (1948) é sinônimo de excelência no cenário de design de mobiliário brasileiro. Arquiteto, em 1985 ele trocou uma bem sucedida carreira acadêmica na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília (UnB) pela atuação exclusiva como designer de móveis em Pirenópolis, no interior de Goiás. Desde então, tornou-se um recordista em prêmios concedidos pelo Museu da Casa Brasileira, que promove o concurso de design de mobiliário com maior credibilidade no País, e recebeu em 1992 o Selo de Excelência da II Bienal Brasileira de Design, quando a mesa Babanlá foi considerada o melhor projeto de móvel do biênio 90-92.

Azeredo produz sob encomenda séries limitadas e assinadas de móveis que primam pela qualidade do desenho e da elaboração. As peças não usam pregos ou parafusos, apenas encaixes feitos numa precisão absoluta, num sistema que lhe rendeu uma patente de invenção. Um de seus principais méritos, entre vários, foi ter sido o primeiro designer de móveis a explorar sistematicamente a incrível diversidade de cores, texturas e características físicas de um sem-número de madeiras brasileiras. Muitas vezes, agrega aos móveis também o uso de pedras, como granitos e arenitos abundantes em Goiás.

Seu trabalho se caracteriza pelo desejo de incorporar ao móvel, um objeto predominantemente funcional, uma dimensão plástica, artística, emocional que havia desaparecido com a dominância dos conceitos do racionalismo internacional. Contrário à globalização pasteurizada da cultura, sua criação vai fundo na nossa identidade cultural, buscando nas nossas origens a sua forma de expressão. Assim, por exemplo, recupera e faz uma releitura contemporânea do banco, mobiliário presente na nossa história desde as ocas indígenas.

Reno Bonzon

Francês, Reno Bonzon (1954) formou-se em Psicologia pela Universidade de Paris e Marcenaria pela escola Boulle. Radicou-se desde 1986 em Ubatuba, no litoral paulista, onde tem sua própria marcenaria, na qual produz uma linha de móveis em laminado colado a frio, técnica que ele introduziu no Brasil.

Um exemplo de seu trabalho é a cadeira de balanço Gaivota (foto), um clássico do design brasileiro e talvez o produto isolado que mais tenha recebido prêmios no País. Em 1988 a Gaivota faturou o Prêmio Museu da Casa Brasileira e o Prêmio Movesp, e em 1990 foi escolhida na Bienal Brasileira de Design como o melhor mobiliário nacional.

O júri do Museu da Casa Brasileira apontou o "sistema construtivo preciso, que ressalta grande leveza ao produto" e a "qualidade estética aliada ao parâmetro ergonômico." Em reportagem publicada na Folha de S. Paulo, o crítico Fernando Lemos observou: "A cadeira de balanço se apresenta nordicamente elegante e climatizada. A proporção do seu espaço e a sinuosidade que a envolve totalmente fazem, mesmo na inércia de uma foto, um movimento de balanço inequívoco. Revela sabedoria."

Bonzon desenvolve ainda objetos de design em alumínio fundido, madeira e ferro, atuando em conjunto, em vários projetos, com Ligia Miguez (1959), que tem formação de joalheira pela escola Renato Camargo. A dupla assina, por exemplo, a linha Folha, de talheres e ferramentas de jardinagem feitos em alumínio fundido, que são exportados para os Estados Unidos, Noruega, França, Inglaterra e Japão (nos três últimos países, são comercializados na conhecida rede Conran Shop). A linha usa alumínio reciclado, que depois passa por um processo rudimentar de fundição no chão.

Sérgio Rodrigues

Arquiteto, Sérgio Rodrigues (1927) tornou-se um grande designer de móveis, a ponto de a enciclopédia Delta Larousse apresentar num verbete "Sérgio Rodrigues, o criador do móvel brasileiro". De fato, ele quebrou paradigmas em sua atividade e distingue-se com uma linguagem própria, que fez da busca da identidade brasileira um de seus nortes.

Fundou em 1955 a indústria Oca, nome que define uma intenção: retomar o espírito da simplicidade da casa indígena, integrar passado e presente na cultura material brasileira. A Oca foi criada como um estúdio de arquitetura de interiores, ambientação, cenografia e componentes de decoração aliados a uma galeria de arte e à exposição do mobiliário de sua autoria. Desligou-se da empresa em 1968 e desde então atua em seu escritório desenvolvendo linhas de móveis para produção industrial, projetos de arquitetura e ambientação de hotéis, residências e escritórios, e sistemas de casas pré-fabricadas.

Um de seus produtos mais conhecidos é a Poltrona Mole (foto), de 1957, que recebeu o primeiro prêmio no Concurso Internacional do Móvel em Cantù, Itália, em 1961. Nesta ocasião, passou a ser produzida pela firma Isa, de Bérgamo, Itália, que a exportou para vários países. Robusta e extremamente confortável, a Mole é composta de estrutura rígida em madeira maciça torneada e encerada, e elaborada na técnica construtiva tradicional, com cavilhas. Percintas em couro sola, independentes, são dispostas de tal modo que botões torneados permitam regular seu comprimento, adaptando a "cesta" às condições anatômicas do usuário.

Rodrigues fez uma infinidade de projetos de mobiliário especial, entre outros para a Embaixada do Brasil em Roma, a Universidade de Brasília, o Palácio dos Arcos, o Teatro Nacional de Brasília e a sede da editora Bloch. Entre outras exposições, participou da Mostra Convegno Brasile 93, La Costruzione de una Identità Culturale, em Brescia, Itália, em conjunto com Lúcio Costa e Zanine Caldas; da Bienal de Arquitetura de São Paulo; e da Tradição e Ruptura. Recebeu o prêmio Lapiz de Plata da Bienal de Arquitetura de Buenos Aires pelo conjunto da obra.

John Graz



O suíço John Graz (1891-1980) participou ativamente da Semana de 22 ao chegar ao Brasil. Dedicou-se às artes plásticas e à ambientação de interiores. Introduziu no Brasil, desde os anos 20, conceitos totalmente inovadores em design, que permanecem contemporâneos. Como adepto do design total, ao projetar um ambiente Graz criava também grande parte de seus elementos, como móveis, luminárias, pisos, revestimentos, painéis, caixilhos, vitrais, algumas vezes jardins, chegando a detalhes como as maçanetas das portas.

Sua produção foi muito fértil e plural, e quase sempre numa linguagem art déco. Uma poltrona editada pela Casa Teperman com base num rascunho deixado pelo autor, em sua reinterpretação atualizada, Délia Beru, da Teperman, optou por alumínio polido nos pés frontais e madeira (pau marfim, madeira ebanizada ou embuia tingida) nos pés posteriores. O estofamento do assento tem vários revestimentos.



Alexandre Wollner

Alexandre Wollner (1928) é o mais antigo designer gráfico em atividade no País: atua neste campo desde 1951, quando entrou no curso de Comunicação Visual no Instituto de Arte Contemporânea do Masp. Completou sua formação na Escola Superior da Forma de Ulm, Alemanha. Entre 1955 e 1958, fez estágio no escritório de Otl Aicher em Ulm, tendo participado da implantação dos projetos da Braun, Lufthansa e Herman Miller. De volta a São Paulo, abriu em 1958 o Forminform, pioneiro escritório de design, junto com Geraldo de Barros e Rubem Martins. Desde 1962 atua através da Dicv Designo e foi consultor da SAO desde 1980, divisão de design da agência de propaganda DPZ.

Wollner tem em seu currículo projetos para inúmeras e importantes empresas brasileiras, em todos os campos do que ele chama de "design visual", incluindo sistemas de sinalização, design editorial, linhas de embalagem e cartazes. Sua área de especialidade, contudo, são os programas de identidade visual, que ele faz com grande rigor metodológico, resultando em precisos manuais de uso técnico para a implementação dos programas.

É muito ativo ainda em pesquisas no campo da tipografia, arte concreta e computação gráfica. Participou da criação da ESDI, da qual foi o primeiro responsável e coordenador do Departamento de Comunicação Visual. Entre 1969 e 1970 foi consultor da Prefeitura Municipal de São Paulo. Presidiu a Associação Brasileira de Desenho Industrial (ABDI) em duas gestões: 1970-72 e 1973-74.

Entre outros, recebeu os seguintes prêmios: em 1953, Jovem pintor revelação, Prêmio Flávio de Carvalho, II Bienal Internacional de São Paulo; em 1954, concurso internacional para cartaz do I Festival Internacional de Cinema do IV Centenário de São Paulo; em 1955 e em 1957, concurso internacional para cartaz da Bienal Internacional de São Paulo; e em 1962, concurso nacional do novo signo da Varig.

Fonte: Adélia Borges – Jornalista especializada em design