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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°91 - AGOSTO DE 2005

Recursos Humanos

Melhoria no ambiente de trabalho aumenta produtividade

Ainda na década de 1970, pesquisadores rediscutiam o ser humano, focado exclusivamente na ótica do mercado. Esse ritmo foi assimilado pela sociedade e passou a ser um novo padrão. Trabalha-se aos sábados, domingos, desaparecem os feriados, enfim. Tudo parece ir bem até que um ou mais dos setores da vida (familiar, social, física...) começa a apresentar problemas que refletem diretamente na produtividade. Por isso, especialistas contemporâneos enfatizam a importância do bem estar para o desenvolvimento empresarial.

Nos últimos anos, muitas empresas passaram por uma revolução na produtividade. Segundo pesquisas apresentadas recentemente em revistas e jornais, o Brasil foi o segundo país em um ranking de aumento de produtividade na década de 1990. Essa revolução transformou a vida das pessoas nos grandes centros urbanos, estabelecendo um ritmo de vida considerado alucinante, com excesso de horas de trabalho e uma pressão excessiva para serem cada vez mais produtivas.

O lado profissional passou, portanto, a ser a face predominante do ser humano, que se sentiu forçado a ser um superprofissional e, para tanto, não poupa esforços em jornadas de trabalho acima de 12 horas diárias. Essa situação torna inviável a conciliação entre a vida profissional e pessoal. É o momento de refletir sobre qualidade de vida no trabalho, a chamada QVT e verificar o que é possível fazer para melhorar a situação e prevenir problemas.

A importância da QVT se dá pelo fato de que os profissionais passam no ambiente de trabalho pelo menos 8 horas por dia, no mínimo 35 anos de suas vidas. Não se trata mais de levar os problemas de casa para o trabalho, e sim de levar para casa os problemas, as tensões, os receios e as angústias acumulados no ambiente de trabalho.

É um assunto importante a ser discutido, independente se cenário econômico mostra recessão ou crescimento, perda de poder aquisitivo ou aumento do desemprego.

Há uma década, os autores Kaplan e Norton definiram o Balanced Scorecard como uma forma de avaliar o desempenho da empresa em consonância com a missão, visão e valores. Os autores propuseram quatro perspectivas: financeira, cliente, processos internos e pessoas. Neste quarto critério, consta algo como qualidade de vida no trabalho.

É muito provável que funcionários motivados, capacitados e bem remunerados passem a ter um desempenho acima da média, reduzindo custo, apresentando melhores soluções aos clientes e gerando como desdobramento maior vitalidade financeira, que, mais do que nunca, pode significar a sobrevivência da empresa.

A QVT é como um programa que visa facilitar e satisfazer as necessidades do trabalhador ao desenvolver suas atividades na organização. Tem como idéia básica o fato de que as pessoas são mais produtivas quanto mais estiverem satisfeitas e envolvidas com o próprio trabalho.

Pesquisadores entendem que o comprometimento com a qualidade ocorre de forma mais natural nos ambientes em que os funcionários se encontram envolvidos nas decisões que influenciam diretamente suas atuações.

A QVT é a gestão dinâmica de fatores físicos, tecnológicos e sócio-psicológicos que afetam a cultura e renovam o clima organizacional, refletindo no bem-estar do trabalhador e na produtividade das empresas. A QVT deve ser considerada como uma gestão dinâmica porque as organizações e as pessoas mudam constantemente; e é fundamental porque depende da realidade de cada empresa no contexto em que está inserida.

Além disso, pouco resolve atentar-se apenas para fatores físicos, pois aspectos sociológicos e psicológicos interferem igualmente na satisfação dos indivíduos em situação de trabalho; sem deixar de considerar os aspectos tecnológicos da organização do próprio trabalho, que, em conjunto, afetam a cultura e interferem no clima organizacional com reflexos na produtividade e na satisfação dos empregados.

A meta principal do programa de QVT é a conciliação dos interesses dos indivíduos e das organizações, ou seja, ao melhorar a satisfação do trabalhador, melhora-se a produtividade da empresa. Um dos mais importantes conceitos dos programas de qualidade está na premissa de que somente se melhora o que se pode medir e, portanto, é preciso medir para melhorar. Por isso, é necessário avaliar de forma sistemática a satisfação dos profissionais da empresa.

Nesse processo de autoconhecimento, as sondagens de opinião interna são uma importante ferramenta para detectar a percepção dos funcionários sobre os fatores intervenientes na qualidade de vida e na organização do trabalho. Questões como o posicionamento do funcionário em relação ao posto de trabalho ocupado, ao ambiente, às formas de organização do trabalho e à relação chefia/subordinado são itens que não podem deixar de ser avaliados.

Empresa feliz



A expectativa pessoal dos profissionais é que, se as empresas esperam qualidade nos produtos e serviços por elas oferecidos, ações de QVT devem ser incorporadas definitivamente no cotidiano das empresas. Outra expectativa dos profissionais é de que as empresas, ao conceberem um programa de qualidade, percebam que o mesmo não será implantado com sucesso se não houver um efetivo envolvimento e participação dos funcionários atuando com satisfação e motivação para a realização de suas atividades.

A qualidade de vida no trabalho resulta em maior probabilidade de se obter qualidade de vida pessoal, social e familiar, embora sejam esferas diferentes e nelas se desempenhem papéis diferentes. A felicidade é uma busca antiga do homem. Porém, para ser feliz, é necessário ter saúde, satisfação consigo próprio e com seu trabalho, e tudo isso compreende qualidade de vida.

De acordo com estudos da área, empresa feliz é aquela cujos valores são muito próximos aos indicadores de QVT: oferece as condições motivacionais à plenitude da realização humana, ou seja, um clima estimulador à participação e à criatividade, canais abertos de comunicação e expressão, exercício regular da delegação de autoridade e do trabalho em equipe, incentivos ao desenvolvimento da capacidade de liderança, reconhecimento ao esforço empreendedor e à obtenção de resultados. Isto é, a empresa feliz é a empresa bem administrada.

O habitual ceticismo em relação a ambientes de trabalho radicalmente diferentes dos tradicionais escritórios está mudando. A linguagem dos números começa a pressionar os administradores desejosos de cortar nos custos de imobiliário e comunicações. Por seu lado, os gestores mais inteligentes sentem o disparo na produtividade quando "detalhes" que favorecem a motivação pessoal, a interação e o “sentir-se como em casa” são considerados.

Acresce que finalmente o pessoal do imobiliário e da arquitetura acordou para o problema de que têm de repensar a estrutura das cidades, e em particular dos centros urbanos, e começar a considerar a economia de reconverter os edifícios só de escritórios e de refazer os espaços tradicionais de trabalho.



Produtividade



Segundo um estudo realizado com 300 participantes, num seminário sobre construção realizado nos Estados Unidos, a produtividade pode subir de 10 a 20 por cento com a adoção de novos ambientes.

Uma das tendências mais fortes, a par do tele-trabalho, é o desenho dos interiores de escritório com um novo conceito de «open space», que tire do amontoado e da gritaria, onde se perdem no mínimo 70 minutos em dispersão, distrações diversas e barulho, em cada dia de trabalho. Com o redesenho se ganha concentração e produtividade.

Nas soluções mais arrojadas vistas nos Estados Unidos, o ambiente de trabalho coletivo sugere um estúdio. Se possível, incluir uma área aberta incluindo um autêntico parque interior, com árvores, fonte a jorrar água, mesas e cadeiras tipo café, bar e cozinha.

Em uma empresa de informática americana foram vistos ambientes, ainda mais ousados que utilizam divisórias entre cubículos, mas cada espaço é profundamente personalizado permitindo a individualidade. Os profissionais podem levar os animais de estimação para o local de trabalho e decoram o espaço como se estivessem em casa.

Por outro lado, há "avenidas" principais que facilitam a interação informal entre as pessoas, onde se encontram zonas de café - inclusive um cibercafé -, que cruzam com corredores mais estreitos que levam a áreas privadas para trabalho em grupo ou individual. Para favorecer o intercâmbio entre os trabalhadores, há um espaço de ‘clube’ para encontros à mesa de café.

Uma pesquisa realizada com cerca de um mil trabalhadores (555 mulheres e 494 homens trabalhando em escritórios) mostra que 15% já trabalham em espaços abertos (o célebre ‘open space’) de vários tipos, 13% em secretárias e equipamentos partilhados por vários empregados em períodos diferentes, 12% a partir de casa e 1% em ‘hotéis’ (o modelo de ‘hoteling’, com espaços alugados à hora, dia ou semana, devidamente infraestruturados e dispondo inclusive de um autêntico ‘concierge’ para apoio logístico e de viagens).

A maioria continua, no entanto, trabalhando em ambientes tradicionais, sejam os escritórios individuais ou não, com portas, sejam as áreas semi-privadas sem porta, no pior que há de aproximação ao ‘openspace’.

O contraste com o que as pessoas preferem é significativo. Ainda segundo a mesma pesquisa, o maior percentual (34%) gostaria de ter escritório em casa, 17% ainda se sentem atraídos pelo escritório de prestígio, situado ao canto, com vistas agradáveis; 15% preferem os espaços para trabalho em equipe; 7% ainda amam o seu cubículo isolado fora da confusão e 5% querem espaços para reflexão privada, onde ninguém os chateie.

Uma das piores armadilhas em que se pode tropeçar na mudança que se deseja é a de querer impor uma das novas soluções. Todos os bons consultores apostam na diversidade e em encontrar as soluções concretas para o caso concreto no período concreto.

O importante é orientar as escolhas por cinco critérios: ergonomia, combate ao ‘stress’, personalização do espaço próprio, soluções para trabalho em equipe, e ambientes para conversação informal - que ocorre em 80% dos casos - e discussão formal (o típico «brainstorming») que acontece em 20% dos casos.

Deve-se evitar, também, o uso das mudanças na arrumação do espaço ou o teletrabalho como “alavancas” de mudança organizacional. Elas são um complemento. Primeiro, há que realizar algumas melhorias básicas no design - simplificar a organização, redesenhar os processos de negócio, alargar o acesso à informação, e definir as medidas de avaliação da performance da empresa.



Ergonomia é saúde



Segundo a definição dada pela Ergonomics Research Society, ergonomia é "o estudo do relacionamento entre o homem e o seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse relacionamento".

Não é preciso muito dinheiro. Ajustes simples no ambiente de informática, como providenciar uma cadeira melhor ou elevar o monitor, podem sair barato e, ao mesmo tempo, reduzir muito o número de lesões e ausências de funcionários.

Qualquer pessoa que trabalha em um computador ou emprega usuários de equipamentos de informática deve compreender que um mau posicionamento, combinado com falta de intervalos no trabalho, pode causar lesões musculoesqueletais.

Em geral, as empresas não precisam gastar muito dinheiro em equipamento — nem inspecionar completamente o local de trabalho, mas é preciso conhecer as causas dos principais problemas de ergonomia e fazer uma prevenção no local de trabalho.

Tornar o ambiente de trabalho mais harmonioso e produtivo é um dos grandes desafios das empresas. Para isso, várias delas já optam por terapias complementares que dão excelentes resultados tanto para funcionários como para clientes que freqüentam o local. Uma delas é a aromaterapia, que auxilia pessoas a lidar com suas emoções derivadas do estresse do dia a dia tais como ansiedade, tensão, irritabilidade e pessimismo, entre outros.

“Usando os óleos essenciais no ambiente de trabalho, o profissional obtém respostas emocionais favoráveis em sua psique. Além disso, o aroma imprime sua marca pessoal no trabalho e promove identidade olfativa ligada ao marketing, transformando cada momento em algo especial, pois está também relacionado ao lado emocional”, diz Samia Maluf, aromatóloga que implanta a terapia em empresas.

Samia conta que não basta aplicar óleos essenciais em aromatizadores aleatoriamente. “Todo o trabalho tem de ser planejado para que se obtenham resultados satisfatórios. O departamento de Recursos Humanos, por exemplo, vai pesquisar os problemas da equipe, no caso de uma empresa, e a direção pesquisará o público-alvo que freqüenta o ambiente, tudo para que se aproveite ao máximo os benefícios dos aromas.

“O uso correto dos óleos, com as combinações eficientes e na quantidade certa, são fundamentais”, ensina. Ela diz que a aromaterapia é implantada de acordo com a filosofia da empresa e pode aparecer também em massagens, ofurôs e tratamentos estéticos, tudo conforme a disponibilidade da empresa. A aromaterapia tem contra-indicações mínimas e a aromaterapeuta estuda o ambiente e as pessoas que o freqüentam diariamente para usar óleos que não prejudiquem os hipertensos, por exemplo. “Eliminamos os óleos que têm contra-indicações, mantendo apenas aqueles que promovem o bem-estar comum”, explica Samia.

A aromatização do ambiente de trabalho em empresas vem sendo amplamente estudada e aplicada em vários países, especialmente nos Estados Unidos e Japão. Nestes locais, estudos como os da Universidade de Cincinnati e da Universidade Católica comprovam que o óleo de menta, por exemplo, aumenta a percepção subjetiva em 15% a 25%.



Reciclagem mental

O médico psiquiatra e consultor empresarial Roberto Shinyashiki afirma que ainda existem muitas empresas que pensam de maneira ultrapassada. Procuram dar o mínimo para receber o máximo. Isso faz com que o colaborador reaja da mesma maneira, dando o mínimo e querendo ganhar o máximo. Dessa forma, os resultados são sempre muito fracos.

Os novos empresários já têm a perspectiva de que o segredo do negócio é procurar sempre dar o máximo. Organizações como a Microsoft têm não só os mais talentosos, mas os homens mais ricos do mundo, porque sabem que, para atrair os melhores, é necessário auxiliar os colaboradores a obter os melhores resultados. Shinyashiki diz que “a época da exploração acabou, porém, é uma grande pena que no Brasil ainda haja muita gente vendo essa idéia com naturalidade. É preciso mudar essa mentalidade. O mercado cuidará de eliminar aqueles que não absorverem essa nova realidade, promovendo os concorrentes que optam pela ética e pela responsabilidade social, dentro e fora da empresa”.

O consultor lembra de uma fábula que ilustra bem essa questão: "Uma moça muito pobre andava com seu filho ao colo. Passando diante de uma caverna, escutou uma voz que lhe disse: 'Entre aqui e você encontrará um tesouro com tudo o que precisa, mas daqui a 30 minutos a porta vai se fechar para sempre. Portanto, não se esqueça do principal.' Ao entrar, ela viu uma quantidade infindável de belas e preciosas jóias. Deixou, então, a criança ao lado e se pôs a recolher o tesouro. Passado algum tempo, a voz novamente disse: 'Lembre-se, dentro de mais quatro minutos a porta vai se fechar. Pegue tudo o que precisa, mas não se esqueça do principal.' Com fervor, a moça continuou recolhendo mais jóias. Escutou, então, o barulho da porta e correu em desespero para sair da caverna. Quando já estava do lado de fora, percebeu que esquecera o filho lá dentro. O desespero a acompanhou durante todo o resto de sua vida. Os tesouros acabaram rapidamente."

O consultor observa que muitas empresas colecionam somente jóias e se esquecem do principal, que é a ética, a vontade de crescer, de realizar sonhos. “É impossível ser feliz relegando a essência humana. É preciso ajudar as pessoas a serem felizes e, assim, obter lucro com a realização de todos os membros do time. O sucesso a qualquer preço desaparece em pouco tempo”, alerta.

A vida dos anos 90 foi considerada uma das mais estressantes da história da humanidade. E isso não mudou com a virada do milênio. Essa é a conclusão de uma pesquisa feita no ano 2000 pela consultoria Yankelovich Partners, na qual 78% dos trabalhadores afirmaram que precisavam reduzir urgentemente sua carga de estresse.

Recentemente, outro estudo do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas divulgou que, no Brasil, só 26% das pessoas estão felizes com o seu trabalho. Uma breve pesquisa entre organismos nacionais e internacionais mostra o alarmante número de pessoas que sofrem com doenças como hipertensão, insônia, depressão, alcoolismo e, principalmente, uso de drogas pesadas, levando à morte. Sem falar nas doenças cardiovasculares, que aumentaram 20% nos últimos 14 anos. “Não vale a pena ter sucesso profissional sacrificando sua vida e a de outras pessoas. Ter respeito por você e pelos outros é essencial”, observa.





Fontes: Antonio Lázaro Conte - engenheiro professor da FAE Business School.

Universidade de Passo Fundo- RS.