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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°61 - NOVEMBRO DE 2001

Produção

Desenvolvimento depende da superação de fatores limitantes

Desde o início da década de 90 o setor de base florestal está vinculado a uma estrutura de governo voltada ao seu estrito controle, gerando prejuízos a atividade, retratado na atual carência de matéria-prima verificada no país. Os resultados são o baixo índice de plantios florestais e constantes intervenções sobre manejo florestal em floresta tropical e atlântica.

Mesmo com dificuldades, atualmente a indústria de base florestal brasileira é a mais expressiva na América do Sul, atuando em segmentos bastante diversificados, como nos produtos de madeira sólida, nos painéis reconstituídos, celulose e papel, moveleiro e outros.

Na região da Amazônia Legal, que inclui os estados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, o panorama da atividade florestal baseia-se principalmente em produtos serrados, compensados, laminados e beneficiados, ainda de baixo valor agregado. Abastece em grande parte o mercado interno e ao mesmo tempo tem forte representação nas exportações de produtos florestais.

As dificuldades hoje encontradas para o desenvolvimento qualitativo da produção florestal já foram diagnosticados por especialistas. As soluções dependem principalmente de uma integração entre a cadeia produtiva florestal, visando unir esforços para alcançar as determinações propostas.

Entre as principais limitações na produção de madeiras em florestas nativas tropicais destacam-se:

Baixa resolução tecnológica do parque industrial - gera produtos de reduzido valor agregado e grandes desperdícios no processo de produção

Mão-de-obra não qualificada - resulta em desperdícios, grande número de acidentes de trabalho, insatisfação pessoal e baixo comprometimento com o desenvolvimento da empresa

Falta de recursos - dificulta novos investimentos para a modernização competitiva

Alta verticalização da produção na cadeia produtiva – resultam em falta de especialização na produção. Ocorre que o produtor é pressionado a dominar todas as etapas do processo produtivo, desde o plantio/manejo até a comercialização do produto final. Isso dificulta a especialização e pulveriza investimentos, tirando o foco do produto

Baixa valorização do manejo florestal – torna-se mais fácil obter licença de desmatamento. Isso leva a um descrédito do manejo, instrumento fundamental para o correto uso dos recursos florestais tropicais. A burocracia e lentidão dos órgãos do meio ambiente atrapalham o desenvolvimento do manejo e levam aos altos índices de ilegalidade no setor.

Produtividade limitada- existe baixa produtividade por hectare na produção de florestas nativas, atribuída ao reduzido número de espécies florestais de valor comercial, que contribui para a diminuição da competitividade do setor.

Além das dificuldades apontadas, existem ainda outros aspectos a serem considerados como os baixos recursos investidos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico; a falta de uma política de desenvolvimento industrial do setor; grande quantidade de legislação restritiva; baixo nível de organização empresarial e baixa percepção por parte da sociedade da importância da atividade florestal. Seguem a estes itens o fato de haver uma baixa capacidade gerencial e empreendedora por parte dos empresários e a falta de um sistema de informações adequados.

Como ações necessárias para a redução das dificuldades enfrentadas pelo setor destacam-se:



Política industrial - é necessária uma política orientada ao setor de base florestal, tanto nacional quanto internacional, para diversas cadeias produtivas.

Tecnologia – criação de um programa de modernização do parque industrial e qualificação gerencial e de mão-de-obra

Financiamento – as linhas de crédito devem ser adequadas ao prazo de retorno da atividade florestal. Hoje não existem recursos adequados à condução de manejo florestal nem para a silvicultura de espécies nativas. Também falta incentivo para a aquisição de máquinas. As linhas de financiamento estão adequadas às culturas homogêneas, principalmente pinus e eucalipto.

Garantias aos produtores – as incertezas quanto a duração da produção florestal fortalece a acumulação de terras e a verticalização da produção, inviabilizando a inserção de pequenos e médios produtores rurais como fornecedores de matéria-prima florestal para o segmento industrial

Desburocratização e certificação – o manejo florestal deve ser incentivado, por meio de uma simplificação nos procedimentos e incentivos, em detrimento ao desmatamento. Deve também ser facilitados os mecanismos de certificação florestal para melhorar a capacidade competitiva internacional. Com isso, o setor se prepara para novos blocos comerciais, como a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA)

Potencializar a produção nacional – valorizar o produto nacional, garantindo-lhe qualidade e boa procedência. A adequação às normas e padrões internacionais é uma meta a ser atingida

Novas espécies nativas – a introdução e o aumento da produtividade da extração de novas espécies, diminuindo o índice de desperdício e aumentando o uso de resíduos florestais. Ações como estas melhoram a imagem do manejo florestal e promove o melhor uso dos recursos e ganhos de produção e competitividade. Promovem, também, alianças estratégicas para atingir novos mercados ou incorporar novas tecnologias.



No caso de fatores externos às empresas e à produção caracterizam-se:

Pesquisa e desenvolvimento tecnológico – baixos investimentos nestas áreas e falta de direcionamento nas linhas de pesquisas fundamentais

Política de desenvolvimento industrial – a atividade florestal é o único segmento agrícola vinculado ao Ministério do Meio Ambiente. Por isso é fragilizada pela intensa pressão ambientalista e a falta de visão de desenvolvimento florestal

Legislação restritiva – Devido ao grande período sem incentivo a produção, houve uma paralisação da atividade de manejo e silvicultura em florestas tropicais.

Baixa percepção da atividade – a intensa campanha contra a exploração dos recursos florestais do país marginalizou a atividade madeireira perante a sociedade. A desarticulação do empresariado colabora para aumentar o sentimento de clandestinidade do setor

Sistema de informação adequado – o setor não dispõe de dados atualizados a respeito do mercado interno de produtos florestais nativos. A carência de balanços e relatórios setoriais dificultam em negociações comerciais e governamentais



Soluções externas

Planejamento estratégico – Um plano a longo prazo para a pesquisa, orientando o desenvolvimento e o aperfeiçoamento constante da atividade florestal tropical

Mudança de Ministério – a mudança do setor para um Ministério voltado à atividades de desenvolvimento promove o pensamento racional e viabiliza um desenvolvimento sustentável para o setor. Este procedimento não dispensa uma conduta ética por parte do setor que deve levar em conta a responsabilidade social

Legislação pertinente – a articulação junto aos órgãos de governo responsáveis pela formação e implementação das políticas florestais é necessária.

Integração - Os componentes do setor devem unir-se afim de somar esforço social e reverter o quadro de descrédito reinante.



Capacitação empresarial – proporcionar subsídios e instrumentos para viabilizar saltos de qualidade e competitividade do setor

Sistema de informações – fornecer aos clientes e à sociedade informações sobre o setor de maneira confiável e verificável.

Neste sentido está sendo desenvolvido o Portal Remade, um site que vai disponibilizar bancos de dados, artigos técnicos e notícias atualizadas sobre o setor.

No contexto atual, é indisfarçável o potencial do setor de madeiras nativas para o suprimento do mercado nacional e internacional. O volume de madeira é suficiente para abastecer, com qualidade e sustentabilidade estes mercados, por isso gera tamanha reação por parte dos países desenvolvidos.

Cabe ao poder público e ao setor produtivo buscar este potencial de maneira a aliar a proteção do meio ambiente com o desenvolvimento regional, já que a região Amazônica a muito deixou de ser um vazio demográfico e sua população pede por qualidade de vida e pelos benefícios que a tecnologia hoje nos proporciona.

Hoje a madeira continua a ser o fator de desenvolvimento, sendo um produto de grande importância para a economia regional. Exemplo disto é o estado do Pará, onde a atividade florestal é responsável pelo segundo maior volume de receitas de exportação, atrás apenas da atividade mineral. Igual situação a do Mato Grosso, onde a madeira está atrás apenas do complexo soja.



Um trabalho feito junto ao MDCI - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, dentro do projeto Fórum de Competitividade da Cadeia Produtiva de Madeira e Móveis, visa o planejamento estratégico para o setor industrial de base florestal. Vários projetos estão em fase de negociação como o de modernização do parque industrial , introdução de novas espécies comerciais no mercado, certificação florestal de áreas plantadas e nativas, redução de desperdícios, treinamento e capacitação, dentre outros.

Com todos estes projetos ainda há muito para ser feito e negociado. A carência de negociadores e a necessidade de uma maior articulação institucional, política e social são fatores que interferem na agilidade dos avanços.

Diversas outras atividades são feitas junto a outros Ministérios afins, como, por exemplo, com o Ministério do Meio Ambiente, dentro da Comissão de Monitoramento e Avaliação do Licenciamento Ambiental em Propriedade Rural, que trabalhou as recém editadas instruções normativas para o manejo florestal na Amazônia. Neste mesmo Ministério está o Programa Nacional de Florestas que incentiva o aumento da oferta de matéria-prima florestal por meio do incremento de plantios florestais e o incentivo ao manejo florestal sustentável.

Fonte: Fernando Castanheira Neto - Engenheiro Florestal e Superintendente Executivo do Fórum Nacional das Atividades de Base Florestal

Fevereiro/