A acácia - negra é uma espécie leguminosa de múltiplos propósitos, tais como restauração de ambientes degradados, fixação de nitrogênio, produção de tanino e de energia, dentre outros. No Brasil vem sendo plantada, principalmente, com a finalidade de produção de tanino e energia.
O plantio da acácia-negra, juntamente, com o do eucalipto e o do pinus está entre os mais expressivos entre as florestas plantadas. A concentração de plantio dessa importante espécie se dá no estado do Rio Grande do Sul, visando o atendimento de demandas tanto do Brasil como do exterior e geração de renda e de empregos diretos e indiretos.
Uma das principais vantagens da espécie é a idade de corte no Brasil, que varia desde os 5 anos até 10 anos, enquanto na África do Sul ocorre normalmente aos 11 anos. A amplitude de produtividade gira em torno dos 10 a 25 m³/ha/ano, sendo a produção média de casca em torno de 15 t/ha. Uma árvore de acácia-negra pesa em média nos plantios brasileiros, na idade de 6 a 8 anos, 60 kg, sendo que destes 6 kg correspondem à casca e 54 kg à madeira. Em média considera-se uma produtividade de 2,2 t/ano de casca e 25,7 st./ano de madeira, num ciclo cultural de 7 anos e uma área colhida de 20 mil ha/ano, com uma produção anual em torno de 44 mil t. de casca e 3.600.000 de metros cúbicos de madeira.
A acácia-negra é de grande importância econômica e social nas pequenas propriedades existentes na região de plantio, pois cerca de 60% das plantações pertencem aos pequenos proprietários. A maioria deles planta e colhe a acácia-negra na entressafra.
Na região de produção, para a maioria dos produtores, a acácia-negra se constitui numa das principais atividades na formação da renda rural e em muitos casos é a única atividade na propriedade rural e, portanto, a única fonte de renda rural. Em média o valor da produção anual para os produtores rurais é de R$ 113,1 milhões, sendo R$ 5,1 milhões provenientes da comercialização da casca e R$ 108 milhões, da madeira.
Funções ambientais
As plantações de acácia-negra tem características multifuncionais, tendo uma ação recuperadora de solos de baixa fertilidade, permite consórcio com cultivos agrícolas e criação de animais e de suas árvores além da madeira é possível o uso da casca para fins industriais.
Alguns estudiosos destacam a acácia-negra como espécie ideal na recuperação ambiental, pois é uma espécie pioneira de vida curta, que cobre rapidamente o solo, não é invasora, não apresenta rebrota de cepa, não inibe a sucessão local e enriquece o solo pela elevada deposição de folhedo rico em nitrogênio. Estudos comprovam uma incorporação de até 225 kg/ha de nitrogênio pelas bactérias nitrificantes associadas às raízes da acácia-negra.
Devido ao seu rápido crescimento, sua facilidade de adaptação a diferentes locais mesmo em áreas que tenham perdido o solo superficial, a acácia-negra tem sido efetiva no controle da erosão.
Como cobertura vegetal, já está incorporada à paisagem da região da Serra Gaúcha, que tem na atividade turística uma das sua principais fontes de renda e que, pelo relevo acidentado, necessita manter uma densa cobertura vegetal de proteção.
Existem de 120 a 130 espécies do gênero Acácia naturalmente em todas as regiões do mundo, exceto na Europa e Antártida. A maioria das espécies é de vida curta, cerca de 10 a 15 anos. As principais espécies plantadas no mundo são Acacia mangium, A. saligna e A. mearnsii, sendo os principais países plantadores a África do Sul e o Brasil.
O primeiro plantio de Acacia mearnsii De Wild, a acácia-negra, no Rio Grande do Sul, foi em 1918. Os plantios comerciais tiveram inicio em 1930, com a importação de 30 quilos de sementes da África do Sul, e em 1941 iniciou-se a utilização comercial desta espécie com a criação da SETA - Sociedade Extrativa de Tanino de Acácia Ltda. Em 1957, existiam 81 milhões de árvores de acácia-negra plantadas, e atualmente a área em cultivo com esta espécie equivale a 30% da área deste Estado plantada com florestas.
Ocorre, naturalmente, no sudeste da Austrália, em topografia montanhosa suave a moderada, localizando-se preferencialmente, em encostas de exposição leste e sul.
Apresenta bom crescimento em solos moderadamente profundos, bem drenados e de textura média. Devido ao seu sistema radicular superficial desenvolve-se bem mesmo em solos rasos, mas torna-se muito susceptível aos ventos fortes, podendo tombar com facilidade.
A espécies não tolera solos mal drenados, hidromórficos ou muito úmidos e apresenta desenvolvimento reduzido em solos muito ácidos e de baixa fertilidade. A acácia-negra é uma espécie eficiente na fixação de nitrogênio, recuperadora e enriquecedora do solo pela deposição elevada de folhedo rico em nitrogênio.
O gênero acácia é característico de regiões climáticas áridas e semi-áridas, é comum em muitas regiões sub-úmidas, pouco freqüente na região úmida e raro nas florestas tropicais e campos.
Na região de origem cresce em zonas onde a temperatura média do mês mais quente varia entre 25º e 28º C e a temperatura média do mês mais frio varia de 0º a 5º C.
A espécie não cresce com vigor em áreas com ocorrência de muitos dias seguidos com temperaturas que excedem 40º C. Na região de sua distribuição natural, ocorrem de 10 a 40 geadas por ano, mas seu crescimento é reduzido quando cultivada em regiões de geadas fortes e muito numerosas.
Na região de origem, a precipitação média anual varia de 625 a 1000 mm, com 100 a 180 dias de chuva por ano. Não apresenta bom desenvolvimento quando submetida a período prolongado de estiagem no primeiro ano de implantação.
Sementes ou mudas
A cultura da acácia permite, pela suas características, o plantio com sementes e o plantio com mudas. Há uma terceira maneira de formar uma floresta em áreas anteriormente cultivadas com acácia-negra, pela queima dos resíduos florestais provocando choque térmico nas sementes caídas no solo, estimulando a sua germinação. A acácia-negra floresce de julho a outubro, mas os frutos amadurecem de novembro a janeiro.
Desde a introdução desta espécie no País, a coleta tem sido realizada em formigueiros, uma vez que as formigas após retirarem parte do arilo da semente de acácia, depositam estas sementes na lixeira, armazenando até 3kg por formigueiro. Os muitos viveiristas espalhados principalmente no Rio Grande do Sul, ainda usam desta prática para a obtenção de sementes para as mudas que comercializam.
Nas empresas de produção de tanino se pode obter mudas com base em material que já passou por uma seleção e/ou melhoramento, sendo portanto de melhor qualidade e permitindo obter uma floresta mais produtiva e uniforme. Há ainda a possibilidade da importação de sementes da África do Sul e/ou da Austrália.
Por volta de quatro anos produz abundantemente, mas como se trata de semente muito pequena, é trabalhosa a coleta das sementes, daí porque se recorre aos formigueiros.
A semente apresenta um tegumento (estrutura que recobre) impermeável, sendo necessária a quebra de dormência para efetuar a semeadura. Isso é feito colocando-as em água fervente por um período de 4 a 10 minutos.
Os viveiristas que mais comercializam mudas de acácia-negra costumam produzi-las em torrão ou laminado e, apenas nas empresas produtoras de tanino recentemente começa-se a produção de mudas em tubetes.
Quando ao preparo da área, a implantação se der por mudas, devem ser consideradas as diferentes situações em que o plantio está sendo efetuado para tomar uma decisão sobre o preparo da área. De forma geral, pelo seu sistema radicular superficial, a acácia-negra não necessita de área preparada intensivamente. Em áreas que estavam sendo utilizadas com cultivos agrícolas, a possibilidade de formação de uma camada compactada no solo é muito grande.
Desta forma recomenda-se, pelo menos na linha de plantio, o uso de subsolador em profundidade suficiente para romper a camada compactada. O mesmo procedimento pode ser adotado em áreas de solos muito pedregosos na superfície e que apresenta uma profundidade de solo acima de 50 cm.
Em áreas que estavam sendo utilizadas com pastagem, a profundidade de preparo pode ser reduzida, uma vez que há a necessidade de rompimento da compactação superficial formada pelo pisoteio. Nestes casos, o mais importante é o controle das gramíneas , no primeiro ano de plantio, seja por uso de herbicidas ou pelo revolvimento do solo.
Várias pesquisas não identificaram diferença de crescimento em acácia-negra plantada em área de pastagem natural preparada com subsolador na linha de plantio ou abertura de covas manual. Em área de plantio de segundo ciclo de acácia-negra, que não tenha sido compactada pela colheita mecanizada e/ou pelo baldeio mecanizado da madeira, não há necessidade de preparo do solo.
Quando a implantação da acácia-negra esteja sendo realizada por sementes, as mesmas situações descritas acima devem ser observadas, mas neste caso é possível a semeadura direta. Neste caso, máquinas para realização da semeadura direta estão sendo usadas e mesmo a abertura manual ou mecânica de covas permite a implantação.
Na implantação por regeneração natural, seja com ou sem fogo, não há necessidade de preparo do solo, tanto para a acácia-negra como para o cultivo anual em consórcio no primeiro ano de plantio.
Plantio
O espaçamento usado em plantios comerciais varia entre 3,0m x 1,33m e 3,0m x 1,66m, correspondendo a uma densidade de 2500 a 2000 árvores/ha, respectivamente. Neste espaçamento eram colhidas 1200 árvores com DAP maior que 7 cm. No entanto, em minifúndios os proprietários mantém de 2500 a 3000 mudas por hectare.
As plantações de acácia-negra não toleram geadas fortes e intensas e nem período de estiagem prolongada, principalmente, no ano de implantação, reportando-se às condições ambientais do Rio Grande do Sul.
O plantio da acácia-negra pode ser realizado de três formas: regeneração natural semeadura direta e com mudas produzidas em viveiro. O crescimento inicial das árvores no primeiro ano de plantio quando efetuado com mudas é superior às demais formas de plantio.
A regeneração natural é possível em áreas cultivadas anteriormente com esta espécie, pela queima dos resíduos da colheita, que provoca a quebra da dormência das sementes caídas no solo. A exposição do terreno ao sol, livre dos resíduos da colheita, também possibilita a regeneração natural, que normalmente é mais lenta e não tão intensa com pela queima dos resíduos.
Na semeadura direta, as sementes tem sua dormência quebrada anteriormente e podem ser semeadas em covas a intervalos fixos ou em linhas numa profundidade de 5 cm. Já se utiliza o plantio mecanizado por semeadura direta, de forma semelhante ao que é feito nos cultivos agrícolas de milho, soja e trigo por exemplo.
Adubação
Como leguminosa, a acácia-negra está entre as 50 melhores espécies arbóreas fixadoras de nitrogênio, mas requer o fornecimento de fósforo para seu rápido crescimento. Em plantios comerciais, a adubação de 50 gramas de NPK por cova tem sido muito usada somente no primeiro ano.
De acordo com o "Institute for Commercial Forestry Research-ICFR", da África do Sul, a aplicação de superfostato e cloreto de potássio no plantio de acácia-negra proporcionou um aumento de ate 7 t de casca e 60m³ de madeira por hectare. Num estudo que vem sendo desenvolvido no Município de Paverama , Rio Grande do Sul, o tratamento com adição de 15g super triplo + 45g de KCL, com relação P/K 1:3 , demonstraram o maior incremento em altura, sendo 12,7% superior a testemunha e 8,3% superior ao tratamento com adição de 25g super triplo + 45g KCl, denotando, inicialmente, que a planta não responde à níveis muito elevados de potássio, assim como deve ser mantido o equilíbrio da relação P/K . Alguns especialistas recomendam a utilização de fósforo e potássio em solos derivados de arenito e para os demais solos somente a adubação fosfatada.
De modo geral, a manutenção dos resíduos na superfície do solo permite devolver mais nutrientes do que é retirado com a exploração da madeira e casca. Alguns macronutrientes ficaram muito próximos do limite ou tiveram devolução menor do que a retirada, principalmente nos solos mais produtivos, que é o caso do cálcio e magnésio.
Normalmente nos solos estudados, estes nutrientes ocorrem em baixos teores e a acidez é elevada, dificultando a sua disponibilidade para as plantas. Para Pereira, com a retirada da madeira e da casca na idade de colheita, os nutrientes mais exportados foram nitrogênio, cálcio e magnésio.
Deve-se salientar que a quantidade de nutrientes devolvidos ao solo, pressupõem a não retirada dos resíduos e ou não queima deles. A queima dos resíduos é uma prática comum para os pequenos agricultores, e é problemática porque os galhos servem de local para a reprodução da principal praga que ataca a acácia-negra, que é o cascudo-serrador. Desta forma, as fertilizações nesta espécie florestal além de considerar os solos e a sua litologia, devem, para manter a sustentabilidade, levar em conta a impossibilidade de retorno dos resíduos.
Manutenção
Um bom povoamento de acácia-negra além de ser um reflexo de um bom sítio, associado a uma muda de boa qualidade, depende de uma boa manutenção no que concerne ao controle de plantas daninhas, pragas e doenças. Também é importante uma boa adubação que permita um bom estado nutricional às plantas.
O plantio de acácia não requer podas de formação e/ou condução uma vez que até estes dias não tem sido cultivada para a produção de madeira serrada, e apresenta razoável queda natural da galhada.
O desbaste é recomendável principalmente nas áreas em revegetação por fogo, para reduzir a densidade populacional e obter troncos de maior diâmetro. Em plantios de mudas de torrão recomenda-se o raleio, uma vez que tradicionalmente os viveiristas costumam fornecer torrões com duas mudas cada.
Normalmente este raleio é feito dos 12 aos 18 meses, principalmente depois do primeiro verão após plantio, que é o período de maior dano da ação do cascudo-serrador.
Recomenda-se o empilhamento das toras em nível, o que é facilitado quando o plantio também foi efetuado em nível. Desta forma, é possível reduzir a erosão durante a fase mais crítica, que vai do corte raso até o primeiro ano pós-plantio, ou a cobertura total do solo.
Normalmente a retirada da casca da planta é realizada com a árvore ainda em pé, procedendo-se na seqüência o corte. Os pequenos agricultores normalmente realizam o corte nos meses de junho e julho, devido a menor demanda de mão-de-obra na agricultura.
A preferência da colheita no inverno também é motivada pela necessidade de entrega das cascas na indústria no menor prazo possível, em relação a qualidade do tanino a ser produzido. A colheita no inverno, época de temperaturas mais baixas, ameniza o efeito do tempo transcorrido entre a colheita e a entrega das cascas.
Sistemas agroflorestais
Inúmeros consórcios tem sido relatados da acácia-negra com cultivos agrícolas no primeiro ano de plantio, principalmente na pequena propriedade no Rio Grande do Sul, como milho, mandioca, melancia e fumo, dependendo da região.
Em áreas de maior declividade, pouco recomendáveis para o uso com cultivos agrícolas, plantios de acácia-negra tem sido usados em rotações com cultivos de batata, principalmente. A acácia-negra se beneficia da adubação usada nos cultivos agrícolas e pode atingir desenvolvimento esperado no sétimo ano em prazos menores, reduzindo o ciclo.
Dois aspectos são importantes, há relatos de agricultores relacionando o desenvolvimento mais rápido da acácia-negra com o aumento da incidência de gomose e não se tem estudos da densidade básica que é atingida nestes cortes com menor idade das plantas.
O consórcio com milho, mandioca e fumo é mais comum em áreas de revegetação pelo fogo, em que o plantio da cultura agrícola é efetuado imediatamente após o fogo, normalmente nos meses de agosto e setembro. No consórcio com melancia, também a acácia-negra é plantada por mudas na mesma época do plantio da melancia.
Em ambos os consórcios, ele é efetuado apenas no primeiro ano. É comum também a ocupação das áreas de plantio em larga escala com gado, no terceiro ano após o plantio da acácia-negra, para aproveitamento principalmente das áreas ao longo das estradas e aceiros.
A acácia é destinada a consumidores de lenha para energia, produção de carvão e exportação de cavaco para celulose, principalmente, para o Japão.
Cerca de 60% da produção de tanino é destinada ao mercado interno para os setores de curtumes, adesivos, petrolífero, de borrachas, etc. O restante 40% é exportado para mais de 50 países. Vale ressaltar que os únicos produtores e exportadores de tanino são a África do Sul, Brasil, Chile e China.
A acácia-negra apesar de apresentar produção com sete anos da implantação, é uma atividade que apresenta uma excelente rentabilidade. A Taxa Interna de Retorno alcança 49,21%.
Considerando-se uma taxa de juros de 8,75% ao ano sobre o investimento após sete anos apresenta um Valor Presente Líquido de R$ 2. 967,50 por hectare e um Valor Presente Líquido Anual de R$ 584,68 por hectare.
No Rio Grande do Sul existe uma legislação própria, que recomenda a coleta e queima dos galhos cortados pelo cascudo-serrador todos os anos, principalmente nos meses do verão. Alguns municípios, como Triunfo, fiscais são contratados pela prefeitura para garantir que o controle destes galhos está sendo efetuado nas áreas de cultivo da acácia-negra.
Fonte: Embrapa Florestas |