Historicamente, a biomassa florestal tem sido utilizada pelo homem como insumo energético em atividades que vão desde a subsistência até a atividade industrial. Atualmente a biomassa é responsável por cerca de 20% da geração de energia no País.
As florestas plantadas com espécies de rápido crescimento representam uma importante alternativa para produção de matéria-prima destinada à geração de energia, uma vez que o Brasil detém conhecimento técnico e científico em nível de excelência na área de Silvicultura, bem como tem condições edafoclimáticas, disponibilidade de terras e mão-de-obra abundante e barata.
O nível de qualidade alcançado pela tecnologia florestal brasileira se faz materializado pela grande variedade de material genético selecionado que já foi produzido e pelas altas taxas de produtividades observadas em várias regiões do País. Atualmente podem ser observados valores que variam de 25 a 80 m³ ha/ ano.
A produtividade florestal é influenciada, dentre outros fatores, pelas técnicas silviculturais adotadas, como preparo do solo, adubação, combate a pragas, estradas e aceiros, implantação e condução da floresta, entre outras. Dentre as práticas adotadas, a densidade de plantio exerce grande influência tanto na produtividade quanto na qualidade da madeira, o que já foi comprovado por inúmeros estudos.
Entretanto, estudos relacionando a densidade de plantio com o poder calorífico da madeira, bem como com outras características energéticas, ainda são escassos. Deste modo, com o objetivo de estudar essa relação, a Companhia Energética de Minas Gerais - CEMIG, a Sociedade de Investigações Florestais - SIF e a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL firmaram, em março de 2002, um convênio para realização de um projeto intitulado “Programa de Pesquisa Para Avaliação de Densidades de Plantio e Rotação de Plantações de Rápido Crescimento para Produção de Biomassa”.
O projeto contempla um amplo e contínuo processo de revisão de literatura e o levantamento de dados preliminares por meio de consultas a bibliografia existente, internet e especialistas da área; a participação de um representante brasileiro (professor Laércio Couto, do Departamento de Engenharia Florestal da UFV) no Task 30 – Short Rotation Crops for Bioenergy da International Energy Agency – IEA Bioenergy, como Task Leader no Brasil; instalação de plantios experimentais; coleta e análise de dados; realização de eventos; participação em eventos; publicação de documentos técnicos; e trabalhos em eventos.
Em função do contínuo processo de pesquisa foram reunidas informações suficientes para a elaboração de quatro documentos técnicos e a publicação de dois trabalhos em eventos.
O primeiro documento publicado, intitulado “O Estado da Arte das Plantações de Florestas de Rápido Crescimento para Produção de Biomassa para Energia em Minas Gerais: Aspectos Técnicos, Econômicos, Sociais e Ambientais”, foi uma revisão, enfocando o processo de estabelecimento da silvicultura no Brasil, bem como o estado atual, enfocando aspectos técnicos, ambientais, econômicos e sociais.
Em seguida foi elaborado um documento, mais específico aos propósitos deste trabalho, enfocando todo o conhecimento que se tem a respeito dos efeitos da densidade de plantio na produtividade da floresta.
Logo em seguida foi publicado um paper em um evento ocorrido em Campinas, “Sustentabilidade na Geração e Uso de Energia no Brasil: Os Próximos Vinte Anos”, que é um resumo referente ao primeiro documento sobre o estado da arte das florestas energéticas.
O terceiro documento, intitulado “Espécies Cultivadas para Produção de Biomassa para Geração de Energia”, faz uma referência às espécies utilizadas e potenciais para produção de biomassa destinada à geração de energia. Este trabalho contém informações técnicas sobre espécies como o eucalipto e a acácia, bem como várias outras espécies que são utilizadas em menor escala, mas que apresentam um grande potencial para uso energético.
O último documento técnico publicado, intitulado “Análise da Geração de Energia a partir da Biomassa”, discorre sobre as tecnologias de aproveitamento energético da biomassa, bem como aspectos econômicos, MDL, Protocolo de Quioto e a posição brasileira no campo de geração de energia.
Por fim, foi publicado um segundo paper na IEA Task 30 Conference, ocorrida na Nova Zelândia em dezembro de 2003. O trabalho, intitulado “SRC With eucalypts in Brazil”, discorre sobre florestas de rápido crescimento com eucalipto no Brasil.
Os experimentos foram implantados em dezembro de 2002.
Foi realizada uma primeira medição, aos sete meses de idade, onde foram coletados dados de diâmetro de coleto e altura. Foram abatidas três árvores por tratamento, para determinação de matéria seca total e poder calorífico.
A análise dendrométrica revelou a tendência natural, que já era esperada: o aumento do diâmetro com o aumento do espaçamento entre as plantas. Por outro lado, a análise de matéria seca total ainda não é conclusiva e não apresenta uma tendência lógica.
Apenas a repetição 1 apresentou tendência linear de aumento da matéria seca com o aumento de espaço entre as plantas. Entretanto, é esperado que esta tendência seja confirmada com o tempo.
Com relação ao poder calorífico, foram obtidos resultados interessantes, que já apontam uma tendência bem definida . Pela observação pode-se depreender que existe uma tendência clara de aumento do poder calorífico com o aumento da densidade de plantio, o que se deve ao fato de, nos menores espaçamentos, ocorrer maior formação de casca (que apresenta um alto poder calorífico), bem como maior teor de lignina, conferindo, assim, melhor qualidade energética à madeira.
Objetivando a promoção do uso da biomassa para fins energéticos no Brasil, o Ministério de Minas e Energia – MME assinou um “Implementing Agreement” com a Agência Internacional de Energia.
Com a inserção do Brasil nesse grupo, tornou-se necessária a criação de uma rede de trabalho, envolvendo pesquisadores, instituições de pesquisa, órgãos governamentais e empresas relacionadas com o assunto. A concepção dessa rede se deu na ocasião da realização do I Workshop Internacional sobre Sistema de Produção Sustentável de Bioenergia, ocorrido em outubro de 2002 na cidade de Belo Horizonte – MG, em uma reunião com o então secretário de Marcelo Poppe, o Sr. Manoel Nogueira. Portanto, em 18 de novembro foi criada a Rede Nacional de Biomassa para Energia – RENABIO. Atualmente a RENABIO conta com 152 empresas e instituições associadas.
Autores:
Laércio Couto, Prof. Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa –DEF/UFV, lcouto@ufv.br;
Marcelo Dias Müller, Doutorando em Ciências Florestais – DEF/UFV, mdmuller@vicosa.ufv.br;
Antonio de Arruda Tsukamoto, Dr. em Ciências Florestais – UFV/DEF, tsukamoto@vicosa.ufv.br;
Daniel Camara Barcellos, Doutorando em Ciências Florestais, cbarcellos@vicosa.ufv.br;
Ênio Marcus Brandão Fonseca, Gerente de Pesquisa – CEMIG/GEPA, enio@cemig.com.br;
Márcio Rodrigues Corrêa |