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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°87 - FEVEREIRO DE 2005

Amazônia

Recursos para o desenvolvimento sustentável

Na Amazônia existem mais de trezentas espécies vegetais por hectare. Das 100 mil espécies de plantas identificadas na América Latina, cerca de 30% estão naquela região.

A Amazônia é uma área de 7,3 milhões de Km² coberta por 40 mil espécies de plantas - sendo 30 mil delas endêmicas, ou seja, que só existem ali - e onde se encontra um terço de toda a água doce do planeta. Estrategicamente posicionada entre o bloco de poder norte-americano, o Continente Europeu e a Ásia, tal região concentra a maior biodiversidade do mundo e riquezas minerais em seu solo, como ouro e reservas de nióbio - utilizado em ligas metálicas e aços especiais -, estanho e gás natural.

Esse tesouro, cobiçado pelas grandes potências, pertence a nove países: Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa, Suriname, Equador e Brasil. Por deter 63,7% da área total amazônica, o Brasil está numa posição privilegiada no cenário internacional - tem à disposição um banco genético ainda pouco pesquisado, um grande potencial hídrico e um solo rico em recursos minerais.

Ações de integração continental, como o fortalecimento do Tratado de Cooperação Amazônica (acordo entre os países amazônicos, com exceção da Guiana Francesa), são fundamentais para o progresso e a defesa da área. Hoje, a Amazônia deve ser pensada em escala sul-americana, pela semelhança dos ecossistemas, na tentativa de formular uma estratégia de desenvolvimento conjunta.

A regionalização continental é essencial para aumentar o poder de barganha dos países amazônicos e trazer recursos para a região e para o Brasil. Apesar da importância geopolítica, ao longo dos séculos a Amazônia foi tratada como um inferno verde - florestas longínquas dominadas por oligarquias e quadrilhas despóticas e palco de terríveis doenças tropicais e riquezas inacessíveis. Até bem pouco tempo atrás, o Estado não se fazia presente na Amazônia.

Em algumas regiões da Amazônia já existe integração entre tecnologia e natureza sem pagar o ônus de uma industrialização predatória. O Seringal Cachoeira, onde viveu e batalhou o seringueiro Chico Mendes, se tornou o primeiro projeto brasileiro de manejo florestal comunitário com madeiras certificadas pelo FSC .

Nas reservas não há lotes demarcados para cada família. O mutirão dos acreanos é de grande valia na estação seca, quando se cortam as árvores com um planejamento rigoroso, e na época chuvosa, hora de cuidar da lavoura para a subsistência. As madeiras retiradas do Cachoeira viram móveis luxuosos na indústria da região.

Uma parceria com a Embrapa orienta os produtores do Projeto de Assentamento Pedro Peixoto, a 90 km de Rio Branco. Não se trata de uma reserva extrativista, mas de 360 quilômetros quadrados distribuídos entre os 22 proprietários. Enquanto as indústrias retiram as pranchas em tratores, nos projetos comunitários elas saem em carros de boi, reduzindo o impacto na mata. É a sabedoria tradicional de mãos dadas com o conhecimento científico.

No noroeste do Acre, do lado oposto de Xapuri, o município de Cruzeiro do Sul produz borracha de uma forma bem mais saudável e socialmente justa do que no século 19. Na Reserva Extrativista do Alto Juruá, os seringueiros produzem látex, transformado no Rio de Janeiro em um tecido emborrachado que integra bolsas, carteiras e objetos de decoração conhecidos pela marca Treetap.



Pólo de biotecnologia

Muitos dos dados que empresas da região guardavam como segredo industrial começarão a ser decifrados a partir deste ano, com a entrada em operação do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA). Localizado em Manaus, o centro é um conjunto de 26 laboratórios de análises químicas, produção de extratos e processamento industrial. Sua estrutura conta também com uma incubadora de empresas, um biotério (viveiro de animais para testes farmacológicos) e escritórios de apoio à inovação tecnológica.

O CBA é a base do pólo de desenvolvimento sustentável e biotecnologia que se espera ver pujante em 2020.. A principal missão do CBA é implementar a infra-estrutura científico-tecnológio de um parque bioindustrial moderno, envolvendo toda a cadeia produtiva de produtos oriundos da biodiversidade amazônica.

Como Centro Tecnológico, está voltado para a promoção da inovação tecnológica a partir de processos e produtos da biodiversidade amazônica, por meio de:

Ação integrada com universidades e centros de pesquisa do setor público e privado (Rede de Laboratórios Associados - RLA);

Agregação de valor a produtos e processos tecnológicos;

Aumento da densidade tecnológica no setor industrial;

Promoção de ambiente favorável à Inovação (serviços tecnológicos, propriedade intelectual e outros).

Em linhas gerais, o projeto está estruturado em um programa reconhecidamente inovador e original, que envolve a articulação de uma rede de laboratórios e grupos de pesquisas do País, e, especialmente, da região (RLA), que já conta com o apoio de prestigiados pesquisadores dessa área no Brasil e em breve integrará também o exterior.

Além disso, encontra-se em fase de implantação um complexo laboratorial, de padrão internacional, voltado para pesquisas aplicadas, transferência de tecnologias e prestação de serviços de alto nível.

Nesse contexto é que o CBA aprovou Bolsas para a execução imediata de 08 (oito) Programas, com o objetivo de implantar os Laboratórios da Central Analítica, de Fitoquímica/Cultura de tecidos, de Biologia Molecular, de Microbiologia, de Farmacologia/Biotério, a Central de Produção de Extratos e a Planta Piloto de Processos Industriais, além do Projeto Gestor de Pesquisa e Desenvolvimento Institucional e o Programa de Incubação de Empresas.

Certamente, esses programas representam, a médio e longo prazo, para a Amazônia, possibilidade concreta de criar um campo inovador com múltiplas oportunidades de investimentos, uma base segura e necessária para o Pólo de Bioindústrias, atraindo novas empresas, empreendimentos e negócios.



Sustentabilidade

A Amazônia detém as maiores reservas de florestas tropicais do planeta. Nessa região, o desenvolvimento da atividade madeireira tem se acelerado enormemente, tornando-a a maior produtora de madeira processada no Brasil. Após a mudança na política cambial em 1999, esse setor impulsionou enormemente suas vendas, graças à redução dos preços em moeda estrangeira.

Na Amazônia existem, comprovadamente, mais de trezentas espécies vegetais por hectare. Das 100 mil espécies de plantas identificadas na América Latina, cerca de 30% estão naquela região. Entretanto, não há, em média,mais que quatro a cinco árvores da mesma espécie por hectare. Apenas dez delas representam mais de noventa por cento do valor total da produção. O universo botânico já catalogado ultrapassa quatro mil. Comercialmente, porém, não são aceitas e utilizadas regularmente mais que cinqüenta.

Esses fatos tornam a utilização industrial, bem como a atividade extrativa da madeira, difícil e altamente dispendiosa, de baixo aproveitamento e, indiscutivelmente, muito agressiva ao meio ambiente, pelos inevitáveis danos provocados pelo abate extensivo das árvores.

Sabe-se que o século XX foi marcado pela redução (e até a extinção) de diversas espécies da fauna e da flora, levando, inevitavelmente, a uma série de questionamentos acerca do modelo de desenvolvimento econômico adotado. As questões ambientais ganharam força especialmente após a realização da II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92). Dela emergiu o conceito de sustentabilidade, cujo princípio é que a ação humana, no presente, não deve comprometer os recursos naturais e a qualidade de vida das gerações futuras.

Dinâmico, o conceito de desenvolvimento sustentável incorpora diversas dimensões, a saber: sustentabilidade ecológica, ambiental, social, política, econômica, demográfica, cultural, institucional e espacial.

Nessa região, os principais problemas ambientais dizem respeito ao desmatamento acelerado, que já alcançou 12% de seu território, e às queimadas. Ambos estão estreitamente relacionados à atividade madeireira, que corresponde à extração, ao transporte e ao processamento da madeira. Essa atividade gera, aproximadamente, 15% do PIB (produto interno bruto) regional e emprega cerca de 5% da PEA (população economicamente ativa).

Diante desses dados, é importante que a exploração madeireira seja efetuada de forma a garantir que o conceito de sustentabilidade seja respeitado. Enquanto a atividade se nutria dos rendimentos auferidos com a exploração do mogno pelos poucos produtores que o abatiam, o retorno financeiro era altamente compensador devido ao seu elevado preço no mercado internacional.

Entretanto, à época do apogeu de sua produção, cuidados e precauções ambientais não existiam, quer voluntariamente, quer pela falta de um efetivo e eficiente controle do poder público. Também era comum a outras “inimigas da floresta” também estão presentes no abate de árvores e na queima para pastagens ou para a agricultura extensiva, para a garimpagem do ouro, e outros.



Autores: Ana Elizabeth N. Reymão - Mestre em Economia pela UNICAMP, professora, conselheira do CORECON-PA e consultora

Ovídio Gasparetto - Presidente do SINDIMADE - Sindicato dos Produtores de Madeira de Belém/Ananindeua, vice-presidente da Federação das Indústrias do Pará, membro do Conselho Temático do Meio Ambiente da CNI; conselheiro técnico da AEB