A agrossilvicultura é vista como uma alternativa muito promissora para os produtores rurais dos países do Terceiro Mundo e dos países em desenvolvimento. Pela integração da floresta com as culturas agrícolas e com a pecuária, o sistema oferece uma alternativa para enfrentar os problemas crônicos de baixa produtividade, de escassez de alimentos, de degradação ambiental generalizada e de redução de riscos de perda de produção pela diversificação de cultura. Além disso, torna-se possível o retorno do investimento de uma forma mais rápida e possibilita ao agricultor a obtenção de renda até que a floresta cresça e produza madeira para a comercialização. Através desse sistema, pode-se obter ganhos em eficiência, através dos seguintes aspectos: agronômico (melhoria das condições do solo), econômico (diversificação da produção), ecológico (melhoria da biodiversidade, da hidrologia e do microclima, além do social (benefícios sociais diretos indiretos).
O sistema agroflorestal ou agrossilvicultural apresenta grandes vantagens em relação aos sistemas convencionais de uso da terra, pois permite maior diversidade e sustentabilidade. Do ponto de vista ecológico, a coexistência de mais de uma espécie numa mesma área permite uma melhor utilização da água e dos nutrientes. A ciclagem dos nutrientes tende a ser mais rápida e os nutrientes são melhor aproveitados pelas culturas intercalares. Do ponto de vista agronômico, deve-se levar em conta as demandas que as árvores e as culturas agrícolas detêm em termos de espaço, nutrientes e água e é necessário que se façam os cálculos de como as árvores poderiam interferir na produção agrícola. Os resultados desses cálculos devem permitir a avaliação de que o consórcio das duas espécies produz mais do que seria obtido se as duas espécies fossem cultivadas separadamente
O eucalipto se comporta como uma espécie florestal de múltipla utilização, podendo proporcionar madeira, sombra, abrigo, mel e óleo essencial; apresenta, ainda, alta produtividade e alta capacidade de rebrota, além de apresentar copa relativamente rala, deixando penetrar a luz. Mediante o controle adequado da densidade do plantio de eucalipto, pode-se obter um retorno econômico significativo, através do consórcio com culturas agrícolas. Além disso, o sistema agroflorestal reduz as perdas de nutrientes do solo, melhora a proteção do solo durante a fase crítica de estabelecimento das mudas, quando o solo permanece desprotegido, além da redução nos custos de preparação do solo.
O uso de espécies de eucalipto em sistemas agroflorestais já vem sendo feito há algum tempo. Em vários países, buscam-se programas de reflorestamento social, nos quais o eucalipto está sendo utilizado extensivamente em plantios em pequenas propriedades rurais. No Brasil, uma experiência bem sucedida é o programa adotado pela Fazenda Bom Sucesso da Companhia Mineira de Metais, no município de Vazante, localizada em pleno Cerrado, na região Noroeste do Estado de Minas Gerais, quase na fronteira com o estado de Goiás a, aproximadamente, 200 Km de Brasília. Tal experiência tem motivado uma verdadeira peregrinação de pesquisadores e empresários, e é apontada como uma inovação e revolução aos conceitos silviculturais que se tem praticado convencionalmente nas empresas florestais. O sistema adotado tem apresentado resultados extremamente positivos, tanto para o uso do solo, como para a auto-sustentabiidade econômico-financeira do empreendimento. Já são quase 16 mil hectares implantados, utilizando o sistema agroflorestal, com resultados inquestionáveis. O consórcio utilizado prevê o plantio seqüencial de várias espécies e híbridos de Eucalyptus, intercalado com cultivos anuais de grãos nas entrelinhas, nos dois primeiros anos de estabelecimento da floresta, seguido da semeadura de forrageiras perenes para engorda de gado de corte, a partir do terceiro ano, até atingir dez anos de idade, quando se completa a rotação econômica do povoamento florestal.
Utilizando o chamado “espaçamento dinâmico”, ou seja, 10 metros entre linhas e 4 metros entre plantas, obtém-se uma população inicial de 250 plantas por hectare. No primeiro ano, planta-se o eucalipto na linha, consorciado com arroz nas entrelinhas, utilizando-se as normas de preparo do solo e adubação convencionais para as duas culturas. As linhas de plantio do eucalipto são mantidas sempre limpas, a uma distância de 70 centímetros das linhas de plantio do arroz.
Colhido o arroz, em média, 30 sacas por hectare, utiliza-se a prática do cultivo mínimo e planta-se a soja, no segundo ano, com as correções de solo e adubações necessárias, mantendo-se os cuidados mínimos com a cultura de eucalipto.
Colhida a soja, em média 35 sacas por hectare, planta-se o capim-braquiária, principalmente a Brachiaria brizantha, como componente forrageiro para o gado.
Quando o capim já está estabelecido, solta-se o gado em regime de recria e/ou engorda, obtendo-se, em média, 850 quilos de carne por hectare por ano. O sistema de consórcio silvo-pastoril vai até o décimo ano, quando se procede ao corte da madeira.
Após o ciclo completo de colheita, inicia-se novo ciclo, repetindo-se as culturas e os procedimentos, com o aproveitamento da brotação do eucalipto. Para tanto, retira-se o gado da área, colhe-se a madeira e aplica-se herbicida nas entrelinhas para o cultivo do arroz, soja ou outra cultura agronômica. Resultados preliminares do segundo ciclo, apresentam produtividades maiores em grãos, carne e madeira, mostrando a eficiência do sistema agrosilvopastoril. A produtividade de grãos do segundo ciclo foi 15 a 20% superior ao obtido no primeiro ciclo e a produtividade de madeira foi superior em 20%. Além das vantagens econômicas, tais resultados evidenciam as importantes respostas ambientais que alguns leigos e pseudocientistas teimam em ignorar sobre o comportamento e o efeito da cultura do eucalipto sobre outras culturas. Tais respostas mostram que todas as culturas em questão (eucalipto, arroz, soja e braquiária) se beneficiaram do sistema de consórcio.
Apesar de a produtividade das lavouras de arroz e soja entre as linhas de eucalipto ser relativamente baixa (30 e 35 sacas por hectare), quando comparada com a produtividade de grãos de outras regiões do País, deve-se considerar as condições precárias locais de solo e baixa precipitação. A despeito dessa produtividade, todas as duas culturas se pagam, melhoram as condições físicas e químicas do solo, preparam o solo para a formação de pastagens e propiciam melhores condições de crescimento e produção de madeira. A qualidade e o rendimento da madeira têm superado todas as expectativas. Apesar de apresentar apenas 250 plantas por hectare, tem-se obtido, na maioria das áreas, um incremento médio anual de 40 metros estéreos, ou seja, 400 metros de madeira por hectare, dos quais, 50% de madeira para serraria, quando o consórcio chega ao final, após dez anos. Verificou-se uma melhor utilização espacial das condições de solo, nutrientes, água,luz e CO2. Com um espaçamento adequado, tornou-se possível a introdução de culturas intercalares, sem prejuízo da produtividade de madeira.
O sistema agroflorestal praticado pela Companhia Mineira de Metais é inovador pela concepção de desenvolvimento sustentável e está em sintonia perfeita com os anseios e apelos sociais dos sistemas produtivos, usando, de maneira mais eficiente e racional, os recursos naturais e utilizando espaços simultâneos para produção de alimentos, fibras e energia. O sistema constitui uma alternativa para amortizar s custos iniciais de implantação e manutenção das plantações florestais, permitir um fluxo de caixa constante ao longo do período de maturação da floresta, além de fornecer rendas complementares.
Prof. José de Castro Silva - Departamento de Engenharia Florestal - Universidade Federal de Viçosa - Campus Universitário - 36.570-000 Viçosa Minas Gerais - Fone; 0XX3138992193/ 2489 - Fax; 0XX3138992478 - E.mail: jcastro@ufv.br |