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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°86 - DEZEMBRO DE 2004

Móveis

Sobras de madeira viram obras de arte

O aproveitamento de madeira tem sido alvo de debates e experimentos em diversos segmentos do setor. Na área demóveis os designers vem apresentando verdadeiras obras de artes com pedaços de madeira descartados pela indústria. Além de ser uma alternativa ecológica e econômica é também muito rentável, já que com este mecanismo é possível construir peças exclusivas e que, por isso, são muito mais valorizadas no mercado. O designer Hugo França, que vive na Bahia, é um exemplo de profissional criador de móveis rústicos, com estilo exemplar, a partir de sobras da natureza.

Madeiras de árvores caídas na mata ou de velhas canoas abandonadas ganham forma nas mãos do escultor Hugo França. Os móveis esculpidos no ateliê do designer são criações feitas a partir de troncos semiqueimados ou reaproveitados de velhas canoas. Em geral são originários de enormes toras da Mata Atlântica da região de Trancoso, na Bahia. Madeiras destinadas ao abandono são transformadas pelo desejo do artista em lhes dar uma segunda vida.

Em uma mostra realizada no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, o designer expôs a produção de mesas, cadeiras, bancos, espreguiçadeiras, chaise-longue, banheiras de ofurô e também e esculturas. São cerca de 15 peças únicas, consideradas verdadeiras esculturas mobiliárias. A resistência da madeira utilizada pelo escultor permitiu que a exposição fosse montada no jardim do Museu da Casa Brasileira, que tem de 6.600 m² e cerca de 350 árvores de 50 espécies. De lá a mostra segue para Paris, onde será exibida a partir de janeiro de 2005 na galeria St. Père, localizada em Saint Germain.

Com esta mostra, Hugo França e o MCB colocam em questão também o destino das árvores que caem ou são cortadas na cidade de São Paulo. De acordo com o designer, hoje a cidade possui três mil árvores condenadas. Quando uma delas cai ou é retirada, seu tronco é picotado e jogado no lixo. Observador do fato, Hugo França resolveu não só aproveitar esta matéria-prima, mas colocar o seu conhecimento sobre este aproveitamento a serviço da cidade. Neste sentido, o designer tem planos na criação de um mobiliário urbano para os parques públicos. Este seu projeto inclui ainda a criação de oficinas para jovens artesãos.

Um verdadeiro exemplo para setor moveleiro nacional, Hugo França nasceu em Porto Alegre em 1954, começou seu ofício no sul da Bahia, onde viveu muitos anos. Ali, observou as canoas dos índios pataxós e aprendeu com eles a usar o pequi (Caryocar brasiliense), madeira pouquíssimo utilizada em outros lugares. "Originário da Mata Atlântica, o pequi tem uma oleosidade natural tão intensa que ela se auto-impermeabiliza (daí seu uso em canoas) e que impede que ela seja destruída nas queimadas. Podem-se encontrar árvores queimadas há mais de 40 anos, já mortas, mas que ainda estão em pé. Só uma crostinha superficial fica queimada", explica ele.