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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°86 - DEZEMBRO DE 2004

Madeira – Jatobá

Espécie adequada para construção e móveis

As árvores da espécie jatobá crescem, em média, de 8 a 15 metros de altura, com 40 a 80 cm de DAP, mas podem alcançar até 20 metros altura, em matas do Brasil Central. A madeira é empregada na construção civil, como ripas, caibros, vigas, para acabamentos internos, como marcos de portas, tacos, e tábuas para assoalhos, para confecção de artigos de esportes, cabos de ferramentas, peças torneadas, esquadrias e móveis.

Como árvore de fácil multiplicação, a espécie não pode faltar na composição de reflorestamentos heterogêneos e na arborização de parques e jardins. Os frutos contém uma farinha comestível e muito nutritiva, consumida tanto pelo homem como pelos animais silvestres.

A espécie é também denominada, popularmente, como, jataí, jataí-amarelo, jataí-peba, jitaí, farinheira, imbiúva. Na Argentina e no Paraguai a espécie é chamada jatay’va e na Bolívia, paquió. Ocorre do Piauí até o norte do Paraná na floresta semidecídua, tanto em solos de alta como de média fertilidade (cerradões).

Como madeira, jatobá é pesada, (densidade 0,96 g/cm3) muito dura ao corte, de média resistência ao ataque de insetos xilófagos sob condições naturais; alburno branco-amarelado, espesso e nitidamente diferenciado do cerne.

Ocorre naturalmente em solos secos e, às vezes, até em solos de baixa fertilidade rareando, geralmente, em terra roxa. Em experimentos, tem crescido melhor em solo com fertilidade média a elevada, com drenagem boa a regular e com textura que varia de franca a argilosa.

O crescimento de jatobá é lento a moderado, atingindo 10m³ ha-¹ano-¹. Estima-se uma rotação de 30 a 60 anos para a produção de madeira para processamento mecânico.

Sementes



As sementes de jatobá podem ser coletadas de frutos caídos das árvores. A extração das sementes é manual, utilizando um martelo ou cacetete para quebrar o fruto. Em seguida, as sementes são lavadas em água para a separação da polpa farinhosa e depois selecionadas, sendo eliminadas aquelas que apresentam perfurações causadas por ataque de pragas. Um quilo de sementes rende aproximadamente 250 a 300 unidades.

As sementes do jatobá apresentam dormência tegumentar, o que dificulta sua embebição. De acordo com pesquisadores, essa dormência é resultado das pressões do processo evolutivo no Oligoceno entre uma fauna rica em espécies com um tegumento resistente à passagem no trato intestinal daqueles animais que eram seus dispersores.

Para o tratamento da dormência é necessário fazer escarificação com ácido sulfurico concentrado por 30 minutos, entre outros procedimentos. A escarificação permite germinação mais elevada e mais uniforme, principalmente quando as sementes permanecem mais de 12 horas em imersão de água fria para a embebição.

As sementes desta espécie apresentam alto potencial de armazenamento em câmara fria (5ºC a 6ºC), podendo, inclusive aumentar a porcentagem de germinação em períodos de armazenamento de até 260 dias. Utilizando o teste de Tetrazólio, um lote de sementes de jatobá apresentou 75% de sementes viáveis em 27 meses. As melhores temperaturas para germinação são 25%C e 30ºC e os subtratos são entre terra e areia.

Recomenda-se semear uma semente em saco de polietileno com dimensões mínimas de 22 cm de altura e 10 cm de diâmetro ou num tubete de polipropileno grande. A semeadura direta no campo também é preconizada

Quando necessária, a repicagem deve ser feita de uma a duas semanas após a germinação. Mudas de raiz nua em tamanho pequeno apresentam bom pegamento.

A germinação tem início de 12 a 60 dias após a semeadura. As sementes sem dormência superada prolongam a germinação por até 10 meses. Em condições naturais a geração de sementes intactas é lenta e ocorre a taxas baixas, atingindo 40% após 11 semanas de semeadura.

A germinação é alta, até 98%, com dormência superada e baixa, até 30%, sem dormência superada. As mudas atingem porte adequado para plantio, cerca de três meses após a semeadura.

Para promover o endurecimento de mudas dessa espécie, recomenda-se um déficit hídrico moderado, até o aparecimento inicial de murcha foliar. As raízes de jatobá não apresentam nodulação com Rhizobium.



Características



Jatobá é uma espécie semi-heliófila, podendo ser plantada desde a condição de bordas e clareiras até fechamento de dossel. Essa espécie não tolera baixas temperaturas.

A espécie possui ramificação simpodial inerente , irregular e variável, com tronco curto, ramificação pesada e várias bifurcações. Apresenta desrama natural deficiente, necessitando de podas periódicas: de condução e de galhos, para apresentar fuste definido.

Pode ser plantada em plantio puro, a pleno sol, sob espaçamento denso. Contudo, o comportamento silvicultural desta espécie é melhor em plantio misto do que sob plantio puro. É indicado investir em plantio misto, a pleno sol, associado com espécies de comportamento pioneiro.

Em plantios consorciado com Pinus sp, o crescimento de jatobá costuma ser prejudicado pelo crescimento mais rápido do pinus e pelo fato de o povoamento não haver sofrido nenhum tipo de manejo; em vegetação matricial arbórea, em faixas abertas em florestas secundárias.

Cresce menos quando plantado à sombra ou sombra parcial do que plantado a pleno sol. Esta espécie brota da touça, após corte.

A madeira de jatobá é densa (0,90 a 1,10 g.cm³), a 15% de umidade. Possui alburno espesso, branco ligeiramente amarelado. Cerne variável quanto à cor, do castanho-claro-rosado ao castanho-avermelhado, com tonalidades mais ou menos intensas. A superfície é pouco lustrosa e ligeiramente áspera; textura média e uniforme; grã de regular a irregular , normalmente reversa. Cheiro imperceptível.

Quanto a durabilidade natural, possui resistência média a alta ao ataque de organismos xilófagos. Estacas de cerne dessa espécie mostraram alta resistência a fungos e a cupins. Contudo, a vida média da madeira, em contato com o solo é inferior a nove anos. É uma madeira pouco permeável às soluções preservantes, quando submetida a impregnação sob pressão.

A secagem é feita ao ar com poucas deformações. Observa-se a presença de rachaduras e empenamentos quando a secagem é muito rápida.

Possui trabalhabilidade de difícil a moderadamente fácil. Pode ser desenrolada , aplainada, colada, parafusada e pregada, sem muitos problemas. Apresenta resistência para tornear e faquear. O acabamento é agradável. Aceita pintura, verniz, lustro e emassamento.

A madeira de jatobá pode ser usada na construção civil e em carpintaria , em geral, em acabamentos internos, como vigas, caibros, ripas, batentes de portas, tacos para assoalho, artigos de esporte, cabos de ferramentas e de implementos agrícolas. Também para construções externas como obras hidráulicas, postes dormentes, cruzetas e esquadrias. È ùtil, ainda para folhas faqueadas decorativas, móveis, peças torneadas, carroçarias, vagões, engenhos e tonéis.

Para energia não produz lenha de boa qualidade. É adequada para a fabricação de papel e celulose. Esta espécie é recomendada para reflorestamentos heterogêneos e restauração de mata ciliar, em solos bem drenados ou com inundações periódicas de rápida duração e com encharcamento leve.

Uso da resina de jatobá



As resinas naturais de Jatobá são empregadas em obras de arte desde a antiguidade para fins variados, mas principalmente como componentes de vernizes. As resinas terpênicas têm sido bastante utilizadas, principalmente a resina de damar que, devido ao seu alto índice de refração e baixo peso molecular proporciona um filme de verniz com alta saturação de cores. Com o transcorrer do tempo, no entanto, o material sofre deteriorações de origem fotoquímica e térmicas, tornando-se amarelado e quebradiço.

O processo natural de degradação das obras é inevitável, mas sua conservação pode ser prolongada seja por medidas de conservação preventiva como o controle da iluminação e condições ambientais de umidade relativa e temperatura ou pela utilização, em processos de restauração, de produtos que apresentem maior estabilidade frente às condições adversas às quais as obras ficam expostas. No caso de substâncias mais estáveis como os vernizes de Paraloid B72, por exemplo, sua utilização evita a manipulação constante de limpeza das camadas de proteção de pinturas.

A resina de jatobá era exportada para a Europa no século XVIII, tendo sido mencionado seu uso para a formulação de vernizes em alguns tratados europeus da época. Atualmente a resina desta espécie não tem utilização em processos de conservação, entretanto nos parece importante pesquisarmos as possibilidades de uso desta resina em conservação, tendo em vista sua facilidade de aquisição no mercado nacional, além do fato estarmos contribuindo para o resgate e um maior conhecimento dos materiais antigos utilizados na manufatura de obras de arte e de valor cultural no Brasil.

A resina é um líquido amarelado transparente que exuda das cascas e se concentra cristalizado em pedaços ou massas por sobre as raízes, com cheiro aromático e brilho, tendo grande aplicação medicinal e poder terapêutico.

A resina de jatobá diluida tanto em xilol apresenta uma curva de solubilidade com o envelhecimento semelhante à da resina de damar requerendo, à medida que envelhece, solventes mais polares para sensibilização do seu filme. Os primeiros estágios do aumento de polaridade da resina de jatobá são, entretanto, diferentes daqueles apresentados pela resina de damar, sendo a primeira mais fácil de ser removida por solventes de baixa polaridade que a última.

É ainda bastante interessante mencionar que os vernizes preparados com terebintina como solvente apresentaram um processo mais acelerado de envelhecimento, fato já comprovado e mencionado por outros pesquisadores, mas claramente evidenciado neste caso através da aceleração do envelhecimento da resina de jatobá.

A resina de jatobá é uma resina facilmente encontrada no mercado nacional e já foi utilizada como material artístico, tendo sido seu uso praticamente esquecido com o passar do tempo. Esperamos com este trabalho despertar a atenção dos restauradores para este material barato, de fácil acesso e que certamente poderá ser utilizado no atelier de restauração brasileiro, quando submetido a testes mais detalhados de envelhecimento. Não recomendamos ainda seu uso como verniz, pois devemos ainda efetuar testes como brilho, saturação de cores e influência na aparência de pinturas. Esta resina pode e deve, entretanto, ser testada para outras aplicações como misturas cera/resina, vernizes para camada de isolamento, e outros.



Fonte:, Paulo Ernani Carvalho – pesquisador da Embrapa – Espécies Arbóreas Brasileiras