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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°84 - OUTUBRO DE 2004

Mercado - EUA

Cresce mercado de produtos de maior valor agregado nos Estados Unidos

O mercado para produtos de valor agregado, como decking, pisos e móveis são os três principais segmentos nos Estados Unidos nos quais as madeiras tropicais têm uma presença significativa. Os produtos manufaturados são aqueles em que a matéria-prima – madeira serrada ou compensado – é processada em produtos acabados ou semi-acabados prontos para uso e/ou instalação por um consumidor final ou uma empresa. Com o fornecimento de produtos mais acabados para o mercado dos Estados Unidos, processadores nos trópicos têm a oportunidade de criar e capturar uma parte desse mercado.

O Decking de madeiras tropicais representa 1% dos US$ 3 bilhões do mercado residencial de decking nos Estados Unidos.

Esse mercado é dominado por madeiras domésticas, a maioria tratada quimicamente para prolongar sua vida útil. A madeira não tratada, com durabilidade natural, atualmente representa 14% do mercado de decking. As duas tendências mais importantes que afetam o mercado de decking nos Estados Unidos são o desenvolvimento de novos materiais plásticos mais confiáveis e as mudanças nas leis federais relacionadas às madeiras tratadas quimicamente.

Embora apresente uma fatia de mercado relativamente pequena no mercado doméstico, o decking de plástico tem apresentado um crescimento acentuado A demanda por decking plástico dobrou nos últimos cinco anos, devido em grande parte à durabilidade do produto. O decking plástico apresenta uma vida útil de até 50 anos, comparado com 20 a 30 anos para madeiras tropicais e 10 e 15 anos para madeira tratada. Os substitutos plásticos requerem baixa manutenção, pois não precisam ser selados e pintados para manter a durabilidade.

Visando obter sucesso no mercado dos Estados Unidos, os fornecedores devem compreender como desenvolver seus produtos de maneira a atender às demandas dos consumidores locais. Os produtores devem avaliar a combinação de fatores de métodos de produção, necessidades tecnológicas e serviços que deveriam ser oferecidos no mercado. Por exemplo, observe alguns fatores a serem considerados para o mercado de decking:

1. dimensões- é importante ter uma margem de erro para os produtos demandados. Por exemplo, para fornecer uma madeira para decking de 1 polegada por 4 polegadas, o mercado de decking requer uma dimensão real maior, 1,25 por 4,25, para compensar perdas na madeira durante o processamento final, em função de variações dimensionais e de ajustes durante a instalação.

2. secagem- não é necessário possuir secador artificial (estufas), uma vez que a umidade da madeira para decking normalmente varia entre 15% e 25%.

3. acabamento- existem mais oportunidades para decking com maior valor agregado, como, por exemplo, os que possuem encaixe (“macho-fêmea”) com acabamento anti-derrapante e bordas arredondadas. Considerando que qualquer processamento possui um custo maior nos EUA, os fornecedores podem aproveitar a oportunidade para serem pró-ativos em atender à demanda, oferecendo o decking já com essas opções de acabamento. Entretanto, fornecer tal serviço requer tecnologia e mão-de-obra adequados para atender às especificações requeridas pelo mercado.

As novas regras federais relacionadas aos preservantes de madeira também influenciam o mercado de decking. O CCA (Arseniato de Cobre Cromatado) é a substância química mais comumente empregada para preservar a madeira de decking nos Estados Unidos . Devido a preocupações com a saúde humana, o governo federal exigiu que as empresas do setor eliminassem o uso do CCA até o final de 2003. A madeira tratada com a substância alternativa preferível, conhecida como ACQ (Quaternário de Cobre Amoniacal) é aproximadamente 20% mais cara que a tratata com CCA.

Esse aumento no custo poderia redirecionar ainda mais as compras para alternativas de decking mais duráveis. Muitas madeiras tropicais são excelentes matérias- primas para decking, possuindo várias características favoráveis. Elas são naturalmente duráveis e não requerem preservantes químicos ou qualquer outro tratamento. Além disso, são geralmente esteticamente atraentes. As principais desvantagens das madeiras tropicais no mercado de decking são os altos preços e a falta de consistência e confiabilidade no suprimento das madeiras nas classificações necessárias.

Atualmente, a madeira tropical de ipê (Tabebuia sp) é a mais empregada no setor de decking nos EUA. É uma madeira ideal para essa aplicação porque é durável e requer pouca manutenção. Essas características certamente ajudaram a madeira de ipê a atingir o sucesso, mas um grande e caro esforço de marketing feito pelos importadores na última década foi o principal responsável pela criação de seu mercado . Outras espécies comuns no mercado de decking são cambará (Ruizterania albiflora), massaranduba

(Manilkara sp) e cumaru (Dipteryx odorata). Essas madeiras têm características similares ao ipê, mas são menos conhecidas.

Os importadores expressaram uma resistência para iniciar o uso de espécies menos conhecidas num futuro próximo.

Muitas empresas notaram os grandes esforços feitos para promover espécies como o ipê (Tabebuia sp) e recusaram a idéia de redirecionar os esforços de marketing quando justamente os investimentos passados começam a dar retorno.

Muitos estão preocupados com o fato de que ao se aplicar recursos para promover outras espécies, pode-se estar causando um impacto negativo no crescente mercado para o ipê. Apesar dessa relutância por parte dos importadores, o sucesso de madeiras alternativas (como o ipê) no mercado de decking irá criar, no futuro, oportunidades para outras espécies menos conhecidas. Isso é particularmente verdade para aquelas espécies que podem funcionar como substitutas diretas no que diz respeito a preço, aparência, durabilidade e facilidade de instalação.

Pisos

O mercado de pisos de madeira dura nos Estados Unidos equivale a cerca de US$ 1,4 bilhão ao ano.

A grande maioria das madeiras usadas para pisos nos EUA vem de fontes domésticas, mas as madeiras tropicais detêm uma pequena, porém significativa, parte do mercado . As importações anuais de madeiras duras tropicais para pisos são avaliadas em aproximadamente US$ 150 milhões. Tais valores têm variado significativamente nos últimos três anos, com uma redução de 30% em 2001, seguida de uma recuperação de 23% em 2002. Os dados de 2003 confirmam que o mercado continua em recuperação, com importações gerando cerca de US$ 90 milhões nesse período.

Com a mudança da manufatura e processamento para a China e uma tendência crescente em direção a produtos de pisos semi-acabados, a capacidade das madeiras tropicais de entrar no mercado dos Estados Unidos pode ser afetada.

Importadores reconhecem que os pisos de madeira tropical enfrentam uma competição significativa com as madeiras duras locais, oferecidas em produtos de alta qualidade e com volumes abundantes. Uma razão principal para essa competição é a atual mudança da produção de pisos dos Estados Unidos para a China. Empresas locais estão, de forma crescente, enviando madeira norte-americana para processamento na China, e o produto já acabado é então importado de volta para comercialização no mercado consumidor. Essa tendência também está afetando as espécies tropicais, visto que a China está se tornando um importante mercado intermediário para produtos cujo destino final é os Estados Unidos.

Ainda existem oportunidades para fornecedores de pisos de madeira tropical nos EUA. Por exemplo, o mercado para madeira serrada com largura fixa visando a produção de pisos é forte, mas freqüentemente requer que os produtores melhorem sua tecnologia de processamento.

Além disso, o número de importadores demandando pisos semi-acabados continua a crescer. Essa demanda é melhor atendida por espécies com cores fracas ou neutras, porque são mais adequadas para o acabamento em cores uniformes. O tauari (Couratari sp) é um exemplo de madeira cujas propriedades são ideais para esse nicho de mercado em desenvolvimento. Essa tendência em direção aos produtos semi-acabados sugere uma oportunidade para uma maior variedade de espécies menos conhecidas que atendam aos requisitos de coloração dos importadores.

Móveis

O mercado de móveis americano movimenta aproximadamente US$ 75 bilhões por ano. Semelhante a outros mercados de produtos manufaturados, as espécies domésticas exercem um papel predominante, enquanto as madeiras tropicais têm dificuldade em competir com as madeiras de alta qualidade e baixo preço encontradas na América do Norte. Os fornecedores mais bem-sucedidos são aqueles que se concentram tanto em espécies com atributos únicos como em espécies mais tradicionais usadas no mercado de móveis. Entretanto, os importadores também notam que produtores tropicais freqüentemente se prejudicam pela incapacidade de fornecer, de forma contínua, as classificações de madeira especificadas.

O mercado de móveis, como outros já mencionados, está seguindo a grande tendência de mudar sua produção para outros países, como a China. Somente a China, atualmente o principal fornecedor de móveis para os Estados Unidos, é responsável por US$ 4,27 bilhões dos US$ 12,2 bilhões movimentados anualmente no mercado de importação de móveis. Parte do crescimento das exportações chinesas de móveis é alimentado pela importação de matéria-prima para processamento. Outros países que detêm uma fatia significativa do mercado são Indonésia, Malásia e Brasil.

A mudança na produção de móveis – usando espécies norte-americanas e tropicais – dos EUA para a China tem várias consequências para fornecedores tropicais. Ela cria oportunidade para produtores tropicais entrarem no mercado chinês, visto que as indústrias na China serão utilizadas para atender tanto à demanda doméstica como à demanda internacional. Além disso, essa mudança pode estimular uma aceitação mais ampla de madeiras de espécies menos conhecidas nesse mercado, uma vez que importadores chineses são menos resistentes a utilizar tais madeiras.

Isso porque a China não tem um mercado de móveis com fortes preferências por parte dos consumidores. No entanto, fabricantes de produtos de florestas bem manejadas certificadas terão menor possibilidade de diferenciar seus produtos, já que o mercado para produtos de florestas bem manejadas na China é praticamente inexistente. Há uma preocupação crescente com madeiras obtidas ilegalmente que estão sendo enviadas para China para processamento, afetando todos os produtores que enviarem seus materiais para esse país.

Mudanças no mercado de produtos de valor agregado criam algumas oportunidades interessantes para produtores de madeiras tropicais. A durabilidade natural sugere que muitas espécies tropicais são aptas ao mercado de decking dos EUA. Ao mesmo tempo, os mercados de pisos e móveis sofrem profundas mudanças com a produção sendo transferida dos EUA para a China. Essa tendência faz surgir oportunidades para introdução de espécies menos conhecidas, no entanto há uma menor consciência entre os produtores chineses sobre os benefícios de florestas bem manejadas e sobre a certificação florestal.

Pinus

Nos últimos anos o consumo de madeira para as industrias moveleiras tem crescido à taxa de 4% ao ano e a oferta entre 2% ao limite máximo de 4%, sendo que já se importa pinus paraguaio para abastecer as industrias paranaenses e catarinenses. O apagão florestal ainda não ocorreu devido ao fato de que as empresas do Sul passaram a investir na exploração, de dois anos para cá, de uma reserva da ordem de 60 mil hectares de pinus que estava praticamente abandonada ao Norte da Região Metropolitana de Curitiba, no ínício do Vale do Ribeira, em uma região topograficamente acidentada e das mais pobres do Sul do país. É a última grande reserva de pinus no sul. Esses maciços florestais de pinus, que variam entre 15 e 25 anos, começaram na década de 70, nos municípios de Bocaiúva do Sul, Tunas do Paraná. Adrianópolis, Doutor Ulisses e Cerro Azul, regiões com baixo potencial para a agricultura e considerada de grande vocação para florestas, devido aos preços baixos das terras, em decorrência da topografia acidentada e localização privilegiada em relação ao mercado consumidor sulino. Essa área permaneceu praticamente esquecida por quase três décadas e somente no ano 2000, com o asfaltamento da rodovia entre Curitiba e aqueles municípios – via aberta pelo imperador Pedro II para ligar o Paraná a São Paulo, conhecida até hoje por Estrada da Ribeira – teve início em êxodo de empresas para região, com o objetivo de explorar as florestas.

Na avaliação do empresário Luiz Carlos Marchiori, da Agro Pastoril Rio Verde Ltda, especializada no comercio de glebas com pinus em torno da cidade de Tunas do Paraná (cerca de 30 mil hectares) a oferta é da ordem de 900 mil metros cúbicos por ano, “o que equivale a uma pilha de madeira de um metro de largura , por um de altura e 900 quilômetros de extensão”. Nos últimos três anos, pelo menos 30 empresas investiram na região e criaram 5 mil novos empregos diretos e indiretos. Segundo o Engº Florestal José Carlos Borges, da Estrutura S.A., especializada em venda de pinus na região, a demanda pelo produto em todo o mundo vem elevando o preço da madeira. Há um ano o estéreo (medida de madeira que equivale a um metro cúbico) de pinus, em pé, pulou de R$ 6,00, para cerca de R$ 20,00, em parte pela política cambial, mas em parte também pelo aumento da demanda internacional, que é estável. O asfalto que possibilitou investimentos empresariais elevou substancialmente o preço do alqueire na região, nos últimos três anos.

Há uma certa reserva, por parte dos empresários em falar sobre possível valorização das terras na região, devido a impossibilidade de afastar a influência da cotação internacional da soja, que acabou por influenciar o preço do alqueire, indistintamente. Entretanto, com alguma reserva há que diga que o alqueire (paulista, com cerca de 24 mil m²) aumentou de um máximo de R$ 800,00 para um mínimo de R$ 1.500,00 (glebas longe da estrada) e R$ 2.000,0, se mais próxima ao asfalto. O próprio Governo paranaense tem o maior interesse no desenvolvimento da região, por deter 99,9% do controle da Ambiental, empresa de economia mista anteriormente ligada ao Banestado , com 20 mil hectares de pinus plantado desde 1977 na região. Nos anos 90, pela dificuldade de escoar a madeira, a Ambiental trabalhava apenas com resinagem (incisões no caule, para retirada da resina, exportada para São Paulo, para produzir breu e teberentina). À época, revela o presidente da empresa, Djalma de Almeida César, se fosse vender o pinus o mercado pagaria R$ 1,20 o estéreo de pinus com até 10 cm de diâmetro e R$ 4,00 pelo produto com mais de 18 cm de diâmetro. Hoje o preço é pelo menos três vezes mais. Mesmo assim existe a possibilidade de que vai faltar madeira nos próximos anos. Desde o fim dos incentivos fiscais, em 1986, praticamente nada mais se plantou e a demanda continua grande e tende a aumentar.