Em muitas empresas florestais, os resíduos dos processos produtivos, principalmente de serrarias, por serem materiais sólidos e que não sofreram severos tratamentos químicos capazes de causar impacto ambiental no ecossistema, tem a possibilidade de serem aproveitados com sucesso na devolução de parte dos nutrientes retirados do povoamento por ocasião da colheita. Estes irão se decompor e liberar os nutrientes contidos em sua estrutura para o solo, onde poderão ser reabsorvidos pelas raízes das plantas da rotação seguinte.
Através da decomposição deste material, espalhado no solo da floresta em pé ou após o seu corte, teremos uma fonte adicional, incrementadora da ciclagem de nutrientes no povoamento, compensando parte das perdas de nutrientes sofridas no decorrer da rotação e por ocasião da colheita.
Além disso, em povoamentos que sofreram corte raso ou desbaste mais severo, a devolução destes resíduos ao solo formará uma camada protetora contra efeitos nocivos da erosão hídrica e da insolação excessiva e todos os danos daí decorrentes, como perdas de solo e nutrientes, poluição de mananciais hídricos, perdas econômicas por investimentos em recuperação da fertilidade do solo, etc. O grau de proteção daí conferido é proporcional a quantidade de resíduos devolvida por área, formando camadas que terão atuação mais intensa, quanto maior for a sua espessura.
O estudo realizado em áreas florestais da empresa Reflorestadores Unidos S.A. teve como objetivos estimar a velocidade de decomposição dos resíduos de madeira de Pinus taeda L. proveniente da serraria, os quais foram distribuídos, em arranjo experimental, aprisionados em bolsas de nylon (litter-bags) sobre o solo de duas áreas, uma de plantio recente e outra sob uma floresta com 4,5 anos de idade. Parte deste material foi recolhido na floresta e encaminhado para análise de laboratório (perda de peso, mudanças na constituição química) a cada final de estação do ano, pelo período de dois anos (2002-2003).
De acordo com os dados apresentados na Tabela 1, a perda de peso verificada com o transcorrer do tempo de permanência do resíduo na floresta demonstra a viabilidade do uso testado. Deve-se obviamente entender que não se trata de obter velocidade máxima de decomposição, uma vez que os dados são inferiores aos obtidos em pesquisas sobre florestas naturais do Sul do Brasil. Alcançando-se índices que giram em torno de 40% ao final de dois anos, o leque de opções quanto ao manejo destes resíduos pelos silvicultores aumenta, uma vez que se pode usar a relativamente lenta velocidade de decomposição como fator de proteção do solo contra a erosão. Espalhando-se os resíduos na floresta após os desbaste ou o corte final, o uso de máquinas para este fim ficará facilitada pelo maior espaçamento entre árvores e o solo ficará mais protegido principalmente no momento em que a chuva poderá impactar diretamente sobre o mesmo. Além disso, os nutrientes que passarão a ser liberados lentamente poderão ser utilizados pelas raízes das plantas restantes ou pelas das novas mudas implantadas, podendo-se com isso diminuir a aplicação de fertilizantes.
A maior eficiência em perda de resíduos para o solo foi verificada, ao final do primeiro ano, como mais significativa na floresta, o que se inverteu ao final de dois anos, para a área recém plantada. Acredita-se que estes resultados sejam explicados pelo fato de que, neste local, quando da implantação do experimento, fatores como a menor quantidade de raízes (recente preparo do solo), a insolação direta nas amostras, o que pode ter inibido a ação de agentes decompositores da matéria orgânica, fez com que a liberação de resíduos para o solo fosse pequena no primeiro ano. Para o segundo ano, com o crescimento das plantas de Pinus taeda e principalmente da vegetação concorrente, formada por gramíneas, regeneração do próprio pinus, entre outras espécies arbóreas, fez com que fosse aumentada a quantidade de raízes invadindo as amostras, as quais abriram caminho para pequenos e grandes decompositores. Estes, auxiliados pela proteção da vegetação quanto aos raios solares diretos (maior umidade nas amostras), atacaram o material das bolsas, propiciando a maior perda de peso destes resíduos no segundo ano.
Estas situações descritas, que se acentuaram no segundo ano na área de plantio, já ocorriam, de certa forma, na área da floresta mais velha, porém não em igualdade de condições, uma vez que a floresta apresenta uma baixa abundância de vegetação concorrente, sendo menor o ataque de raízes nas amostras, as quais são provenientes, na maior parte, das árvores de pinus da referida floresta, encobertas pela camada de serapilheira que já se forma nesta área.
Considerando que, no caso específico da empresa dona da floresta estudada, o depósito de resíduos acumula hoje cerca de 200.000 toneladas, uma taxa de liberação de 1% significa que a cada estação são devolvidos ao solo 2.000 toneladas de resíduos.
Através de um raciocínio matemático simples, pode-se entender que: o tamanho da amostra levada a campo (litter-bag), era de 0,2 x 0,2 m, contendo uma quantidade de 100 g de resíduo, isso equivale a espalhar sobre o solo da floresta 25 toneladas/ha de material, e que restaria, ao final de 2 anos, somente, na média das duas áreas pesquisadas, 14,7 Mg ha-1. Se, por um lado, este material restante ainda não decompôs e, conseqüentemente, ainda não liberou seus nutrientes para o solo, por outro, fica sobre a superfície do mesmo, tendo uma importante função de ser uma proteção física contra os efeitos danosos da erosão hídrica, sendo uma fonte de nutrientes de lenta liberação.
Em relação aos aspectos nutricionais, mesmo que ainda não tenham sido realizadas as análises químicas dos resíduos coletados após o período de permanência da floresta, os quais serão realizadas e posteriormente divulgadas, cabe ressaltar que este material é uma importante fonte de liberação de nutrientes, apresentando teores significativos dos mesmos, o que pode ser verificado na Tabela 2, com base no teor nutricional do resíduo, em análise realizada no início do estudo, antes da instalação do experimento na floresta. A relação C/N do resíduo apresenta-se relativamente alta no material, a qual tenderá a cair quando do acondicionamento dos resíduos junto ao solo, pela atividade da fauna decompositora e pelo resíduo estar em contato com os fatores ambientais.
É importante lembrar que empresas que tem a intenção ou já estão em processo de certificação não poderão manter qualquer depósito acumulando resíduos em sua área industrial ou em qualquer outra área, na forma de depósito. Se for espalhada na floresta uma quantidade de 25 Mg ha-1, como anteriormente citado, seriam necessários 8.000 ha para que todo o resíduo do depósito seja espalhado na floresta, livrando a empresa de um grande problema ambiental e, melhor que isso, transformando-o em uma boa e ambientalmente correta solução, uma vez que as áreas de plantio da empresa são superiores ao tamanho mínimo necessário para a colocação do resíduo.
Deve-se destacar que este não é o único caminho a ser percorrido para a solução deste problema ambiental, ou seja, o acúmulo de resíduos no pátio das serrarias. Alternativas como a produção de adubos orgânicos através de técnicas de compostagem, para serem usados em viveiros, hortas, etc também merecem ser testados. Porém, sem sombra de dúvida, o espalhamento dos resíduos sobre o solo da floresta é a alternativa mais barata e que não apresenta riscos ambientais aparentes.
Prof. Dr.nat.techn. Mauro Valdir Schumacher; Eng. Ftal. Prof. Eleandro José Brun; Eng. Ftal. Flávia Gizele König - Laboratório de Ecologia Florestal – Dpto. Ciências Florestais – CCR – UFSM. Santa Maria, RS. CEP: 97105-900. E-mail: schuma@ccr.ufsm.br |