Hoje, o tratamento preservativo proporciona a melhor relação custo/benefício para prevenir a deterioração de madeiras. Quatro variáveis interligadas definem os diferentes níveis de tratamento:
produto
processo
tipo de madeira
situação de risco
A madeira de pinus, além de ser um produto de exportação com forte demanda internacional, é muito versátil e por isso mesmo uma das melhores alternativas em diversas aplicações que vão desde a produção de embalagens e paletes para movimentação de cargas, passando por mobiliário e painéis, até uma grande variedade de componentes para construção civil. Trata-se de um dos maiores insumos geradores de divisas para a economia brasileira.
Só para se ter uma idéia, em 1990 o consumo nacional de toras de pinus era de 19 milhões de metros cúbicos; em 2001 o consumo saltou para a marca de 42 milhões de metros cúbicos. A indústria de madeira serrada responde hoje por aproximadamente 50% do consumo de toras de pinus no País.
Porém, o uso de madeira de pinus também enfrenta desafios muito peculiares. O maior deles é, sem dúvida, a baixa densidade e resistência natural dessa madeira que a torna susceptível aos agentes deterioradores. Levando-se em conta aquelas quatro variáveis, as atenções concentram-se em produtos, processos e riscos.
Concorrem para a deterioração da madeira, basicamente, agentes físicos, químicos e biológicos. Entre os agentes físicos, o mais importante é a luz solar com sua carga de raios ultravioleta. A madeira de pinus num ambiente de forte insolação e baixa agressividade biológica pode ser tratada com produtos da linha stain. Esta categoria de produto reúne em sua formulação filtro solar, resinas hidrorrepelentes e fungicida, além de ser penetrante, não formando pelicúla como os vernizes e tintas convencionais. Está é uma característica importante, uma vez que o produto acompanha os movimentos da madeira evitando a ocorrência de trincas ou bolhas, além de proporcionar ótimas condições de manutenção dispensando a necessidade de raspagem ou lixamentos para novas aplicações. Pelas suas características o stain também é importante na prevenção aos fungos apodrecedores, especialmente em ambientes úmidos e agressivos.
No caso da prevenção de ataques pelos agentes biodeterioradores como fungos apodrecedores, insetos, brocas e cupins, pode-se utilizar tratamentos não-industriais ou industriais. No primeiro grupo, para situações de baixa agressividade e risco no uso da madeira, pode-se empregar produtos e técnicas que conferem penetração superficial. Há formulações específicas para aplicação por imersão, pincelamento, pulverização, aditivação na linha de cola (em painéis ) ou bastonetes difusíveis.
Para situações de maior agressividade biológica, como nos casos de madeira em contato direto com o solo e/ou ambientes muito agressivos, como a orla marítima, o tratamento mais adequado é o industrial. Ao submeter a madeira a processo de vácuo e pressão no interior de uma autoclave em Usina de Preservação de Madeiras, a penetração do preservativo é profunda e o nível de retenção mais elevado, assegurando maior proteção e vida útil prolongada favorecendo usos estruturais da madeira de pinus como, por exemplo, na construção civil.
Construções tradicionais em alvenaria tendem a perder a corrida para a crescente demanda de um País como o Brasil, em construção acelerada e forte demanda por moradias, com um déficit habitacional nacional da ordem de 6,6 milhões de unidades. Neste ponto, a construção industrializada tem pela frente um importante papel, um desafio de bom tamanho. Se industrialização é a melhor resposta para a construção de moradias, madeira preservada, com destaque para espécies cultivadas como pinus e eucalipto, está seguramente entre as melhores respostas para essa indústria.
Painéis e montantes, estruturas de cobertura, assoalhos, batentes, portas e janelas, entre outros componentes, têm na madeira preservada uma alternativa de excelente desempenho, durável, competitiva e ecologicamente correta. Além de um depósito eficiente de carbono seqüestrado da atmosfera – o vilão do chamado efeito estufa – constitui um ativo patrimonial de alto valor agregado. A demanda de madeira, particularmente a preservada, tem uma curva ascendente nas próximas décadas não só no Brasil, mas em diversos países praticamente em todos os continentes. Certamente este é um fenômeno mundial e irreversível, pelo simples fato da madeira cultivada ser o único material construtivo disponível em larga escala e que é 100% renovável em ciclo curto.
A demanda por habitação dispensa maiores apresentações. Para que se tenha uma idéia, dados referentes aos Estados Unidos indicaram que em 2001, somente na construção de unidades residenciais unifamiliares, foram consumidos 45 milhões de metros cúbicos de madeira serrada. Na construção de unidades multifamiliares foram outros 4 milhões de metros cúbicos, o que dá a medida de que unidades unifamiliares predominam por larga margem. Deste total de 49 milhões de metros cúbicos de madeira serrada consumidos anualmente pelo setor da construção, 13 milhões de metros cúbicos, ou 26%, são de madeira tratada. No Brasil, o consumo anual de madeira serrada é da ordem de 23,5 milhões de metros cúbicos, dos quais 6,7 milhões de metros cúbicos, ou 28,5%, vão para a construção civil. Apenas 75 mil metros cúbicos, que correspondem a 1,1% do total, são madeiras tratadas industrialmente.
Os dois retratos mostram realidades muito distintas, embora em países com igualmente grandes potencialidades madeireiras. Nos Estados Unidos, a utilização de madeira em larga escala beneficia amplamente os setores madeireiro e da construção civil.
No Brasil, além da madeira ser utilizada em menor escala nas construções, a madeira preservada é usada em escala ainda menor, tornando os sistemas construtivos menos competitivos técnica, econômica e ambientalmente. Esta situação tem reflexos na qualidade, na durabilidade, na consciência em relação ao material construtivo, na normalização, na capacidade local de abastecimento industrial de madeira, entre outros aspectos.
Uma conta simples dá a dimensão correta dos fatos. Hoje, o volume total de madeira utilizada em construções nos Estados Unidos é sete vezes maior que no Brasil; em volume de madeira tratada, a distância que nos separa salta para 170 vezes.
Flavio Carlos Geraldo
Vice-presidente - ABPM
Gerente da Divisão Osmose da Montana Química S.A. |