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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°83 - AGOSTO DE 2004

Resinas

Exploração de pinus resinífero na pequena propriedade

O setor florestal brasileiro, com a importância que tem na produção, na arrecadação, nas exportações e no pagamento de salários, pode ser um dos instrumentos necessários para impulsionar o desenvolvimento da economia, podendo absorver grande parte da mão-de-obra ociosa e desqualificada, gerada pelo progresso tecnológico que tem contribuído para o aumento do desemprego, como é o caso da agricultura moderna que vem expulsando os trabalhadores do campo.

Desta forma o setor florestal pode, com o seu crescimento, absorver parte dessa mão-de-obra, pois, a atividade, mesmo em áreas acidentadas, tem se mantido viável. O desenvolvimento econômico com base no desenvolvimento florestal é uma alternativa concreta que vem sendo discutida e proposta desde a década de 1950 pela Organização para Alimentação e Agricultura (FAO) da Organização das Nações Unidas (ONU), principalmente para o crescimento da economia dos países em desenvolvimento. Embora tenha acontecido nos países escandinavos e no Canadá; nos países do terceiro mundo essa possibilidade não tem sido verificada. Isso se deve à falta de uma política adequada de manejo florestal, de industrialização, de gestão e de valorização dos produtos florestais, que vise agregar valor a esses produtos.

Como se vê, o setor de reflorestamento vem ganhando importância em razão do grande potencial gerador de emprego e renda. No entanto, requer um novo modelo que venha incentivar e orientar investimentos pulverizados, na implantação de pequenas áreas de florestas em propriedades de pequeno porte, através de programas de fomento.

Na região Sudoeste de São Paulo, pelas características climáticas, o gênero pinus foi o que mais se destacou, sendo a mais importante essência indicada para reflorestamentos em pequenas áreas, não só pela grande capacidade de desenvolvimento, mas também pela possibilidade do seu aproveitamento na extração da goma resina, que se constitui num produto importante do setor florestal.

A resinagem é uma atividade que consiste na extração de goma resina, em árvores vivas do gênero pinus. É considerada por muitos como uma forma de antecipar receitas de uma floresta implantada com outros objetivos, que não a produção da goma resina. Além disso, gera empregos diretos e contribui para a fixação do homem no meio rural.

A goma resina de pinus já era utilizada, segundo desde o Egito antigo, com fins religiosos e para a mumificação de corpos. Ela foi também muito utilizada, desde a época colonial norte-americana, na construção naval, com o objetivo de calafetar peças de madeira, que eram usadas nos barcos da Marinha Real Inglesa.

Hoje, a goma resina de pinus tem sido utilizada na obtenção de breu (fase sólida) e terebintina (fase liquida), com grande importância nas indústrias de tintas e vernizes, cola para papel, borrachas e adesivos, entre outros. No Brasil, a extração de goma resina é uma atividade relativamente recente, tendo iniciado a partir da década de 70, em árvores de pinus elliottii implantadas através de incentivos fiscais nos anos 60 e 70.

A grande maioria das florestas, onde se faz resinagem, é ainda oriunda daquela época do incentivo fiscal. Essas árvores foram plantadas em sistema adensado, visando apenas a produção de matéria prima para indústrias de celulose e papel. À medida que foram se desenvolvendo, foram sendo feitos desbastes, deixando-as com espaçamento maior, havendo um maior desenvolvimento do tronco e da copa. Isto viabilizou a extração de goma resina, que apesar de ser uma atividade secundária na floresta, levou o Brasil da condição de importador, para exportador, na década de 80. Hoje, o País é o segundo produtor mundial, ao lado da Indonésia e abaixo apenas da China.

Novas florestas que estão sendo implantadas, da mesma forma vêm utilizando espaçamentos reduzidos, com a agravante que as grandes empresas de reflorestamento, visando maior mecanização, fazem apenas um corte em toda a floresta ao mesmo tempo. Estas árvores, plantadas apenas com o objetivo de produção de celulose e papel, inviabilizam tanto a extração de goma resina, como a produção de toras para indústrias de serraria e laminação.

A falta de reflorestamentos para atender o segmento de serraria e laminação, faz com que matas naturais sejam utilizadas com este objetivo, o que resulta em maior eliminação da cobertura florestal do país.

O gênero pinus produz madeira de excelente qualidade visual, especialmente quando obtida a partir de árvores de grande diâmetro, desramado artificialmente durante os seus estágios de crescimento. Este fato, associado à possibilidade de grande produção de madeira em curto espaço de tempo, gera interesse em estudar as suas qualidades físico-químicas e mecânicas que visam determinar suas adequadas utilizações.

O Brasil possui um dos maiores reflorestamentos do mundo em coníferas, o que aliado à riqueza das suas características edafoclimáticas, proporcionam seguramente uma enorme vantagem sobre outras nações produtoras.

É notório, no entanto, que se não houver plantio, não haverá o que colher no futuro, principalmente em se tratando de resinagem e madeiras com diâmetro economicamente viável para produção em serrarias e laminação. Os dois quadros anexos elucidam a real possibilidade de déficit desses produtos num futuro próximo.





No setor de produtos sólidos derivados da madeira, que requer uma matéria-prima mais refinada, com diâmetros mais avantajados e por se tratar de matéria prima que demande mais tempo para ser produzida, certamente esse será um dos setores mais atingidos. Conforme quadros acima, fonte da SBS - Sociedade Brasileira de Silvicultura, até o ano de 2.010, o déficit de madeira para esse setor (madeira serrada, laminações, moveleira, etc) atingiria a marca de 271 milhões de metros cúbicos.



Pinus resinífero

Sabe-se que as árvores se distribuem no globo em folhosas e coníferas ou resinosas, mas nem todas são possíveis de serem exploradas economicamente. Entre as inúmeras espécies existentes, em várias partes do mundo, apenas as do gênero pinus são verdadeiramente produtoras de goma resina, ainda que a produção varie dentro desse gênero, de espécie para espécie.

O volume de goma resina e produtos dela obtidos, consumido pelo mercado mundial, são produzidos apenas por cinco espécies principais; P. elliottii var. elliottii, P. caribaea Morelet (englobando as variedades caribaea, hondurensis e bahamensis), P. palustris, P. pinaster e P. sylustris, sendo a primeira a maior produtora.

A espécie pinus elliottii é a mais cultivada no Brasil e nos Estados Unidos, sendo a espécie mais importante, oferecendo a mais alta produção de goma resina. O pinus caribaea Morelet – Cresce na América Central e no Brasil é conhecida como pinus tropicais. Sendo cultivada em climas mais quentes, como o triângulo mineiro.

O pinus pallustris Muller é cultivada principalmente na área que abrange desde as Carolinas até o Texas. O pinus pinaster Ait é uma espécie européia, denominado pinheiro marítimo e se desenvolve principalmente em solos arenosos. O Pinus sylvestris cresce na Europa, principalmente na França, Espanha e Portugal. Explorado na Finlândia, Turquia, Rússia, Alemanha e outros países da Europa.

No Brasil, nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, com clima mais ameno, a espécie mais plantada é o pinus elliottii var. elliottii que coincidentemente é uma das mais produtoras de goma resina. Em outras regiões mais quentes, recentemente começou a explorar goma resina do “pinus tropicais” destacando-se o pinus caribaea var. bahamensis e o pinus caribaea var. hondurensis.



Qualidade

A qualidade da goma resina varia conforme as espécies, tanto em sua forma de extração, como em sua composição física e química. No campo a goma resina do pinus elliottii não oxida no painel, enquanto a goma resina do “pinus tropical” oxida nos painéis, dificultando sua coleta.

A goma resina do pinus elliottii é composta de 68% de breu, 17% de terebintina, 10% de umidade e 5% de impurezas sólidas e água das chuvas, enquanto que a goma resina do “ pinus tropical” possui 68% de breu e de 4 a 9% apenas de terebintina.

A qualidade do breu obtido da goma resina de pinus oocarpa não é muito boa, devido ao seu alto teor de materiais insaponificáveis. A goma resina de pinus pátula foi a que forneceu breu de pior qualidade, pelo teor de insaponificáveis enormemente alto. O breu obtido da goma resina do pinus insalubris, por sua vez, foi o que apresentou melhores valores para número de saponificação, número de acidez, teor de insaponificáveis, cor e ponto de amolecimento. A goma resina obtida do pinus pátula forneceu terebintina de pior qualidade, devido ao baixo teor de alfa e beta-pineno nela existentes. No entanto o autor afirma que as gomas resina de pinus elliottii e pinus caribaea, produziram derivados com qualidade razoável para uma exploração comercial.



Produtividade

Os fatores que influenciam a produção de goma resina podem ser divididos em duas classes: fatores intrínsecos e fatores físicos ou externos.

Os fatores intrínsecos são determinantes para a implantação do projeto de reflorestamento: a escolha da espécie, sua procedência e constituição genética são determinantes básicas, pois existem espécies com maior potencial que outras, para a produção de goma resina. Assim, o pinus elliottii é a que apresenta maior potencial.

Uma árvore sadia e vigorosa tem tudo para ser uma boa produtora de goma resina. O desenvolvimento vegetal está ligado, também, ao conceito de idade, e portanto é um componente importante da produção. A resinagem em pinus elliottii, na região de Itapeva, Estado de São Paulo, é realizada em povoamentos com mais de 8 anos de idade.

Quanto ao espaçamento, sabe-se que quanto maior o número de indivíduos em relação a uma determinada área, menor será o seu crescimento em diâmetro e em tamanho de copa das árvores.

A bibliografia é unânime em afirmar a influência da árvore na produção de goma resina. Demonstram haver relação direta entre a produção de goma resina, a copa e o diâmetro da árvore explorada. Em geral, seleciona-se para resinar, árvores com DAP superior a 16 centímetros.

Diversas pesquisas comprovam que o DAP influencia na quantidade de goma resina produzida na ordem de 11 %, segundo o coeficiente de determinação obtido. Pesquisadores constataram que a cada 1 cm de acréscimo no DAP, correspondeu um aumento de 10,54 gramas na produção de goma resina, por planta e por estria.

A produção de goma resina é influenciada pela qualidade dos serviços praticados, iniciados a partir da escolha da árvore a ser resinada. Pode-se chamar de artesanal, a arte em resinar, pois é dependente da mão de obra e os funcionários que trabalham nesta atividade, devem ser bem preparados e motivados, para executar com carinho, as operações nas árvores resinadas.

O principal problema detectado, à nível de campo, é o vazamento lateral da goma resina, que não chega a cair diretamente no recipiente (saco) que deve acondicionar a goma resina produzida. Quer seja pelo mau direcionamento das estrias, vazamento pela má colocação do saco plástico ou mesmo quando esse saco plástico estoura em sua solda ou deprecia pelo tempo de uso.

Sabe-se que a goma resina encontra-se sob pressão no lenho dos pinheiros, dentro de canais resiníferos verticais e horizontais. A atividade resineira, no princípio, consistia no corte da casca e do lenho, de maneira a expor os canais resiníferos e permitir o fluxo da goma resina. Como o processo antigo era muito dispendioso em termos de mão de obra, ensaiaram vários produtos, para manter o fluxo de resina, sem ser necessário fazer estrias tão freqüentes.

Atualmente, para destruir as paredes celulósicas dos canais resiníferos e permitir a livre exsudação da goma resina, faz-se a operação de estria, que consiste na remoção periódica (aproximadamente 15 dias), de parte da casca da árvore (aproximadamente 2 cm de 8 altura), e em seguida são aplicados junto à linha de contato da casca com o lenho, cerca de 2 gramas de pasta estimulante à base de H2SO4.

Para acondicionar essa goma resina que exsuda da árvore, fixa-se na base da árvore, saco plástico (35x25x0,20), com arame (material removível) . Quando cheio de goma resina, retira-se em latas de 20 litros e acondiciona em tambores metálicos de 200 quilos para transporte até as indústrias de breu e terebintina, ou mesmo para exportação in natura.

Durante uma safra de resinagem (9 meses) faz-se em média 18 a 20 estrias com altura média de 2 cm e largura aproximada de 20 cm, determinando um painel de aproximadamente 800 cm². Assim, determina-se a longevidade da atividade na árvore, que economicamente torna-se viável, durante aproximadamente 16 anos.

O painel (largura e altura) explorado durante a safra, é fator determinante da produção anual, porém, sabe-se que tecnicamente na análise dos custos, deve-se usar a unidade/quantidade, em gramas produzidas por área (cm²) explorada na árvore. O rendimento da operação de resinagem de 10.000 árvores/homem/safra-ano, segundo a Aresb, realizando todas as etapas, com retorno a cada 14 dias.

No período mais frio do ano (junho a agosto), é feita a raspa da goma resina que ficou no tronco resinado e em seguida reinstalam-se os sacos que vão acondicionar a goma resina da próxima safra. No frio, a produção de goma resina diminui e por isso essa operação de instalação de materiais, é realizada nessa época, aproveitando a mão de obra, sem dispensar os trabalhadores, além de permitir um “descanso” da árvore.

A processo que envolve a produção de resina é considerado insalubre, porque há o envolvimento direto do homem na atividade. Os E.P.I. exigidos pela CIPA, para funcionários que atuam na resinagem são:

• Na aplicação de pasta estimulante e estrias:

Botas de P.V.C., luvas de P.V.C., aventais plásticos, viseira e capacete.

• Na coleta da goma resina:

Luvas de P.V.C., botina e capacete.

• No transporte interno da goma resina:

Sapatos com biqueira de aço, luvas de P.V.C. e capacete.

Autores: Generci Assis Neves; Carlos Alberto Martins; Jorge Miyasava; Adelson Francisco de Moura. Fundação Instituto de Administração - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade - Universidade de São Paulo.