Na economia brasileira, a madeira sempre foi utilizada tanto como produto quanto como insumo. Assim, até o final da primeira metade do século XX, utilizou-se dos recursos florestais nativos como se fossem inesgotáveis. Entretanto, na década de 70, o Brasil defrontou-se com o consumo crescente de madeira e, conseqüentemente, a devastação das florestas nativas. O corte desenfreado e inescrupuloso de madeiras nobres começava a deixar sinais, chamando a atenção da população, do governo e, até mesmo, de organismos internacionais.
O advento da lei de incentivos fiscais (Lei nº 5.106, de 2 de setembro de 1966) possibilitou que as indústrias de base florestal passassem a investir em plantios florestais, sendo que empresas e investidores individuais puderam deduzir as importâncias destinadas a projetos de florestamento e reflorestamento nas declarações de rendimentos das pessoas jurídicas e físicas. Desta forma, a política de incentivos fiscais, vigente no Brasil no período 1966-1987, possibilitou a implantação de maciços florestais em condições de fornecer matéria-prima para as indústrias, visando programas de substituição energética para suprir a demanda prevista no Plano Nacional de Siderurgia à Carvão Vegetal. A partir daí desencadeou-se, no Brasil, um intenso processo envolvendo plantações florestais principalmente com essências exóticas, tais como Pinus spp e Eucalyptus spp.
Informações coletadas no portal virtual Ambiente Brasil, em agosto de 2004 relatam que, anteriormente à política de estímulo ao reflorestamento, as áreas reflorestadas para fins industriais não atingiam 600 hectares. Resultado da política de incentivos fiscais, as estimativas apontavam, em 1986, uma área reflorestada no Brasil de 6.252.000 hectares, sendo 1.785.405 ha com o gênero Pinus.
Pode-se afirmar que não existem, no Brasil de hoje, estatísticas oficiais derivadas de levantamentos florestais que dimensionem o total da área reflorestada no País e, em parte, tal situação é motivada pelo fato de que nenhum órgão substituiu verdadeiramente o então IBDF. O Ibama, ao assumir uma missão muito mais ampla que a do IBDF, não conseguiu incorporar seu papel de responsável pela política florestal brasileira, vácuo sentido até hoje, mesmo com a criação do PNF – Programa Nacional de Florestas, no âmbito do MMA -Ministério do Meio Ambiente, que está se organizando para liderar iniciativas de porte nacional ou regional. Desta forma, os dados são estimados por iniciativa das instituições estaduais de meio ambiente (por delegação do Ibama) ou ainda pelas entidades de classe às quais as indústrias de base florestal estão associadas. Como conseqüência, as áreas plantadas e não vinculadas diretamente à reposição florestal obrigatória – que no caso do Paraná é representada pelo Serflor, implantado em 1997 – não são incorporadas aos números usados inclusive por órgãos oficiais, nem tampouco os realizados em pequenas propriedades.
Ao longo das últimas décadas, alguns inventários florestais, seja em nível regional ou estadual, têm sido realizados com o objetivo de quantificar áreas e estimar a produção das áreas florestadas e reflorestadas, envolvendo diversos autores e instituições. No caso do Paraná, em 1984, um convênio entre o então IBDF e a Universidade Federal do Paraná possibilitou a execução do Inventário Florestal Nacional no Estado. O Estado foi dividido em macrorregiões de trabalho para as quais se relacionou a área projetada de reflorestamentos (obtida via cadastro do IBDF) e as áreas de efetivo plantio. O levantamento permitiu concluir que, para o Estado do Paraná, do total de áreas projetadas para reflorestamento, um percentual médio de 89% foi executado, ou seja, 446.135,80 ha foram efetivamente executados, até o ano de 1981.
O percentual de 89% foi utilizado no presente trabalho, para corrigir os dados a serem utilizados na série histórica até o ano de 1981. Estima-se que para o período anterior a 1966 até 1993, foram reflorestados no Estado do Paraná um total de 600.057,10 hectares com Pinus spp. Verificou-se também, junto ao Instituto Ambiental do Paraná, dados referentes ao período posterior a 1993. O IAP/Serflor contabilizou valores referentes ao período de 1997 a 2003 que se referem exclusivamente aos plantios realizados à guisa de reposição florestal. Estima-se que a área efetivamente plantada, envolvendo os outros segmentos, seja aproximadamente 30% maior. .
Evolução dos reflorestamentos efetivados com Pinus spp., no Estado do Paraná no período anterior a 1966 até 1993.
Os maiores investimentos em reflorestamento efetivados com Pinus spp. no Estado do Paraná foram realizados no período do Incentivo Fiscal (1966-1987). De 1987 em diante, houve um grande decréscimo na área taxa anual florestal plantada, evidentemente concentrada no setor de base florestal. Nos primeiros anos pós-incentivos fiscais, o setor florestal envolvendo plantações de pínus ainda não se delineava como um mercado promissor para investimentos, a não ser no círculo das empresas de papel e celulose e afins. Esta realidade foi lentamente sendo modificada, e no passado recente estimava-se que o plantio com espécies do gênero Pinus no Estado do Paraná estivesse no patamar dos 20 mil ha/ano, envolvendo milhares de empresas e, mesmo assim, com um déficit anual de 47 mil ha. Entretanto, uma situação eminentemente grave para o setor desponta no momento, ou seja, as limitações defendidas pelo movimento ambiental e o sucesso obtido junto à opinião pública e alguns setores governamentais com relação ao perigo representado pelo gênero Pinus, em termos de contaminação ou invasão biológica.
Como as sugestões e recomendações técnicas que envolvem técnicas de manejo que minimizam tal problema são, eventualmente, distorcidas, corre-se o risco de se inviabilizar a implantação de novos povoamentos com o gênero Pinus, em determinadas regiões do Estado. Deve-se ressaltar que o gênero Pinus é importante para o Paraná e o estado, em termos florestais, tem um peso indiscutível com relação à sua contribuição para o desenvolvimento florestal brasileiro. De acordo com a Sociedade Brasileira de Silvicultura, aproximadamente 35% de toda a área plantada com o gênero está no Paraná, seguido por Santa Catarina (20,65%) e São Paulo (11,95%).
São várias as informações sobre a área atualmente ocupada pelo gênero Pinus no Paraná. Verificou-se que os registros do IAP/Serflor no período de 1996-2000 apontavam um estoque de 582.795,00 ha no Paraná envolvendo, entretanto, Pinus spp. e Eucalyptus spp, incluídas as modalidades de reposição obrigatória e incentivados, implantados e protocolados no Ibama até o final de 1996. Já o projeto Probio, utilizando imagens Landsat de 1998 e envolvendo a região de ocorrência da Floresta com Araucária, totalizou 552.973 ha de reflorestamentos, também considerando florestas plantadas de uma maneira geral. Para SBS o Estado teria, em 2000, uma área plantada com pínus de 605.130 ha.
Mapeamento do gênero Pinus
Pretendeu-se, neste mapeamento, disponibilizar, em formato digital e ambiente de Sistema de Informação Geográfica (SIG), resultados espacializados referentes à área estadual coberta com plantios de Pinus spp, obtidos pela interpretação digital de imagens orbitais dos anos de 1999 e 2000. O ambiente SIG proporciona, entre outras vantagens, a possibilidade da estruturação de uma base digital de dados, que pode se tornar a base de um sistema de monitoramento dinâmico das fontes de matéria-prima, sendo atualizada periodicamente e permitindo análises prospectivas e macroeconômicas.
Na verdade, a necessidade da espacialização dos plantios com o gênero Pinus spp. surgiu como uma estratégia no contexto do Programa de Manejo Integrado de Pragas e Doenças Florestais, desenvolvido pela Embrapa Florestas /Funcema (Fundo Nacional para o Controle da Vespa-da-Madeira), em convênio com o USDA Forest Service. Quatorze cenas do satélite Landsat 7 ETM, tomadas entre os anos de 1999 e 2000, foram utilizadas para discriminar e delimitar povoamentos de Pinus spp com o objetivo de estabelecer a sua distribuição espacial e, assim, formar a base para usos estratégicos posteriores, sendo as informações disponibilizadas também em um SIG. Em função dos resultados obtidos com a utilização de classificação digital (por pixel e por região) em áreas testes não terem sido consistentes, optou-se pela interpretação visual, em tela, de cada cena, aproveitando-se do fato que, em composições coloridas 453 (RGB), os povoamentos de Pinus spp. aparecem em tons avermelhados, diferenciando-se da vegetação nativa, que aparece em tons pardacentos e em matizes de marrom.
O resultados da interpretação visual das imagens Landsat 1999/2000 , analisadas pelo presente trabalho, levaram a uma área de 483.512,03 ha plantados com Pinus spp. É importante ressaltar que, durante os trabalhos de identificação dos plantios em tela e em campo, percebeu-se que imagens Landsat, em função de sua resolução espacial, não são eficientes na descriminação de povoamentos de Pinus jovens, ou seja, com menos de 4 a 5 anos de idade. Para dirimir parte desta limitação e como um dos resultados dos levantamentos aéreos expeditos – LAE, executados em 5% do Estado, povoamentos de Pinus jovens identificados em vôo foram incorporados ao banco de dados espacializados.
Mapeamento das áreas plantadas com Pinus spp. no Estado do Paraná
Considerando-se que, mesmo com a atualização efetivada através do LAE para a discriminação das diferentes feições, parte daqueles talhões recentemente implantados ainda não tenham sido incorporados à base de dados, utilizou-se a estratégia de, eventualmente, acrescentar-se aos valores efetivamente encontrados via SIG os dados obtidos pelo IAP/Serflor, justamente no período 1997/2003, ou seja 150.160,00 ha. Desta forma, além de incorporar valores que corrigem a interpretação visual incluindo a classe de povoamentos jovens, também se atualiza os valores obtidos pelo mapeamento, já que os dados disponíveis incluem informações até 2003. Evidentemente tal estratégia embute um certo grau de incerteza porque não considera os plantios não vinculados à reposição obrigatória e não reportados ao IAP, assim como não considera as áreas em corte final no período. Entretanto, são valores bastante próximos da realidade, atualizados para 2003 e que totalizariam 633.672,03 ha, valor que pode ser adotado como a área com estoque de Pinus spp no Paraná.
A acuracidade do mapeamento e o cômputo dos erros foram efetuados por ocasião de levantamentos aéreos expeditos efetuados nos anos de 2002, 2003 e 2004 sobre regiões do Paraná afetadas pela vespa-da-madeira (Sirex noctilio), principal praga envolvida no convênio Embrapa Florestas/Funcema/USDA. O levantamento aéreo expedito (LAE) é uma técnica de baixo custo muito usada nos EUA, recentemente introduzida no Brasil pelo mesmo convênio. Estes vôos abrangeram 5% da área do Estado e permitiram estimar uma acurácia geral média do mapeamento em torno de 87%. Ao mesmo tempo a anotação de erros de omissão e comissão (presença efetiva ou ausência de um talhão de pínus) sobre as cartas-imagem utilizadas no LAE possibilitou a edição dos temas gerados no SIG referentes à ocupação do solo por Pinus spp, com a inclusão e exclusão de polígonos. Os vôos foram realizados sempre em regiões onde havia grandes concentrações de plantios com o gênero que, na realidade, cobrem aproximadamente 3,3% do Estado do Paraná.
Os números encontrados para representar a área plantada com Pinus spp no Paraná variam de fonte para fonte, já que não existe estatística oficial, atualmente no Brasil, que apresente um quantitativo preciso quanto ao total da área reflorestada no País. Apenas alguns Estados, como Rio Grande do Sul e São Paulo, têm envidado esforços no sentido de usar o Inventário Florestal Contínuo (IFC) como ferramenta gerencial de longo prazo. Nos demais Estados, inclusive no Paraná, os dados são estimados por iniciativa das instituições estaduais de meio ambiente (por delegação do Ibama) ou ainda pelas entidades de classe às quais as indústrias de base florestal estão associadas. Há, entretanto, que considerar que tais fontes podem não estar computando os plantios não vinculados diretamente à reposição florestal obrigatória (no Paraná, o SERFLOR - Sistema Estadual de Reposição Florestal Obrigatória, implantado a partir de 1997) ou aqueles efetuados por pequenos proprietários, que não são obrigados a registrar seus plantios. O trabalho desenvolvido na Embrapa Florestas se beneficia do uso de imagens satélite de 1999/2000 para determinar a área plantada com Pinus spp no Paraná e aborda a estratégia utilizada para a atualização de tais dados.
Maria Augusta Doetzer Rosot; Yeda Maria Malheiros de Oliveira, Pesquisadoras da Embrapa Florestas
Artur de Almeida, Engenheiro Florestal,Pós-graduando UFPR, Estagiário da
Embrapa Florestas
Marlise Zonta, Geógrafa da Embrapa Florestas;
augusta@cnpf.embrapa.br; yeda@cnpf.embrapa.br; arturalmeida8@msn.com
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