O setor de celulose e papel no Brasil é um dos mais atuantes segmentos industriais de base florestal. Segundo dados da Associação Brasileira de Celulose e Papel –BRACELPA - o setor conta, atualmente, com 220 empresas, em 255 unidades industriais, presentes em 16 estados e 180 municípios, gerando cerca de 100 mil empregos diretos e, aproximadamente, 1,2 milhão de empregos indiretos. A principal característica do setor é a total sintonia com as tendências mundiais, com escala de produção, equipamentos de última geração, produtos “world class” e permanente atualização tecnológica e controle ambiental. Além disso, o setor é considerado indutor de desenvolvimento sócio-econômico, com a fixação da mão-de-obra no campo e da desconcentração industrial, uma vez que os projetos florestais-industriais são distantes dos centros urbanos.
Com um faturamento total de US$ 6,5 bilhões, em 2000, a produção de celulose/pastas do setor alcançou 7,4 milhões de toneladas, com o nível da capacidade instalada de 93%, e a produção de papel alcançou 7,1 milhões de toneladas, com o nível da capacidade instalada de 87%. Com estes números, o Brasil se torna o sexto produtor e o oitavo consumidor mundial de celulose, num mercado que envolve a produção de 30 milhões de toneladas.
O consumo anual “per capita” de papel é de 40,9 quilos, cifra muito distante daquelas registradas nos países mais desenvolvidos ou de estágio de desenvolvimento comparável ao brasileiro. O consumo aparente brasileiro de papel atingiu a marca de 6,3 milhões de toneladas . Em 1999, as exportações do setor somaram US$ 2,1 bilhões, com 3 milhões de toneladas de celulose e 1,4 milhão de toneladas de papel.
O uso da madeira de eucalipto como matéria-prima produtora de celulose de fibra curta é uma evidência e se reveste de uma grande importância estratégica para a economia do Brasil. Atualmente, é o primeiro produtor mundial de celulose de eucalipto, com um 6,7 milhões de toneladas, em 1999, onde a fibra curta de eucalipto participa com 17% do total mundial.
O mercado de celulose de eucalipto apresenta uma oscilação muito grande dos preços. No período de 1995 a 1999, os preços variaram de US$1000 a 400 por tonelada. Em função da demanda sempre crescente e da inexistência de investimentos em novas fábricas, os preços tem-se mantido, nos últimos anos, no patamar de US$600 a 650 por tonelada.
Embora muitas espécies de eucalipto tenham sido testadas e muitas tenham se mostrado viáveis, as espécies mais utilizadas no Brasil são Eucalyptus grandis, E. saligna e E. urophylla, bem como os híbridos de E. grandis x E. urophylla(urograndis). A área reflorestada para abastecer as indústrias de celulose no Brasil é bastante expressiva.
Densidade Básica
Vários parâmetros de qualidade da madeira foram definidos como importantes na fabricação de celulose, sendo os principais a densidade básica e os relacionados à morfologia das fibras. Segundo os especialistas da área, a densidade básica da madeira influencia tanto no custo da madeira produzida quanto no rendimento do processo industrial e, sobretudo, na qualidade das polpas e dos papéis. Sua influência no rendimento e nos custos dos processos de produção de madeira e de polpa é facilmente entendida em razão do manuseio de menor volume de toras e cavacos, respectivamente, para uma mesma quantidade de massa. Com a elevação da densidade da madeira, a capacidade do digestor, que é limitada volumetricamente, é aumentada , levando a um incremento do potencial da indústria até o limite de saturação da caldeira de recuperação.
O aumento da densidade básica, no entanto, é acompanhado por uma maior dificuldade de picagem das toras, ocasionando maior desgaste das facas picadoras, além de maior proporção de cavacos de maiores dimensões, dificultando a impregnação destes e levando a uma menor produção de polpa depurada, com um maior teor de rejeitos na polpação. Atualmente, seleciona-se um material que apresente uma densidade básica por volta de 450kg/m3, com valores limites entre 400 e 550 kg/m3. . A partir desse valor, o teor de rejeitos e o consumo de álcali sempre aumentam. Madeiras com baixa densidade, por outro lado, levam à redução de rendimento de polpa e base/volume de madeira, apresentam maior consumo de reagentes, conduzem a baixos rendimentos de polpação e apresentam elevados teores de rejeitos. Tem-se como consenso, também, que os teores de extrativos e lignina da madeira se correlacionam negativamente com o rendimento do digestor e com o consumo de álcali.
Outras características que também se relacionam com o produto final são os relacionados com a morfologia das fibras: Índice de Runkel, fração parede, índice de enfeltramento, coeficiente de flexibilidade, teor de vasos, teor de parênquima, dimensões dos vasos, teor de cerne/alburno e teor de nós. As fibras de eucalipto têm seu comprimento variando de 0,75 a 1,30 milímetros, mostrando uma média próxima de 1mm. São, pois, consideradas fibras curtas, quando comparadas com as fibras de coníferas, denominadas de fibras longas, que apresentam comprimento três a cinco vezes superior. Os parâmetros usualmente considerados nos estudos tecnológicos das fibras são definidos por quatro dimensões fundamentais: comprimento da fibra ( C ), largura da fibra( L ), diâmetro do lume da fibra( DL ) e a espessura da parede da fibra( E ). A partir desses valores, podem ser calculados os coeficientes, relacionando as dimensões entre si, com determinações bastante importantes nas propriedades do papel e da celulose
Até há algumas décadas, o eucalipto era considerado como matéria-prima de qualidade inferior pelos países tradicionais na produção de celulose. Essa situação sofreu uma série de mudanças decorrentes da crescente demanda de madeiras, coincidindo com um paulatino escasseamento dos recursos fibrosos e desenvolvimento de tecnologia adequada para o aproveitamento das folhosas em geral. Não existem dúvidas de que a madeira de eucalipto será, em futuro breve, a fibra dominante no mundo celulósico-papeleiro, dentre as espécies de fibras curtas. E o Brasil deverá aproveitar as vantagens competitivas que detém para se consolidar definitivamente como líder mundial na produção de celulose de fibra curta, a partir da madeira de eucalipto.
Setembro/2002
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