As crescentes restrições de caráter ambiental ao uso de madeiras nativas têm aumentado a importância no comércio internacional das madeiras de reflorestamento, além de papel e celulose, painéis e notadamente produtos de maior valor agregado como móveis e componentes tem crescido de maneira vertiginosa.
O setor de base florestal brasileiro apresentou em 2003 o seu melhor desempenho em termos de comércio internacional. O volume total exportado que inclui os produtos de madeira sólida foi um destes exemplos, alcançando a marca de US$ 2,2 bilhões, sendo que 32% das exportações foram representadas pela indústria moveleira (móveis de madeira de Pinus e outras madeiras), o compensado com 26%, a madeira serrada representou 13% , molduras 4% e outros produtos de madeira somaram 25% das exportações. Este quadro é resultado de inúmeros esforços para o aumento da competitividade dos produtos, entre eles destacam-se a melhoria da qualidade, produtividade e maior agregação de valor ao produto final. Estes aspectos foram e continuarão sendo importantes para a conquista de maior participações no comércio mundial de derivados de madeira.
Outro aspecto importante é que o perfil da propriedade florestal vem se modificando. Uma nova estruturação da produção florestal vem sendo esboçada com uma maior participação de pequenos e médios investidores, responsáveis hoje por cerca de 30% das áreas reflorestadas. A redução da oferta de madeira gerou uma oportunidade para a obtenção de ganhos nunca antes praticados. Novos players entraram no mercado, a demanda por madeira de Pinus cresceu a taxas expressivas nos últimos anos e as florestas receberam uma apreciação que as tornou um ativo atrativo. Os investimentos privado nacional e internacional voltaram e esta é a boa notícia para o setor florestal.
No entanto é oportuno observar que de um total de US$ 2,5 bilhões que foram alocados fora dos Estados Unidos por instituições financeiras americanas em oportunidades de investimento em florestas plantadas no hemisfério Sul, o Brasil captou apenas 7%, sendo a Nova Zelândia e Austrália responsáveis por 70%.
Ainda assim, a intensificação dos investimentos em florestas nos últimos cinco anos veio modificar a distribuição etária dos plantios de pinus no país e hoje dos 1,8 milhões de hectares plantados, cerca de 26% possuem menos de cinco anos de idade. Além disso, serviços estão sendo agregados às florestas, sendo que 95% do número de proprietários de florestas de pinus nos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul adotaram a prática da poda com a expectativa de garantir uma rentabilidade maior no futuro.
Os investimentos visando o uso múltiplo das florestas e a expectativa em gerar efeitos que possam alavancar a produção madeireira com resultados significativos, tem levado os produtores a vender madeira em regime sustentado, registrando uma grande diversidade de práticas de manejo. Levantamentos recentes identificaram na região Sul em torno de 100 diferentes regimes de manejo, considerando-se a variação entre espécies, idade, número e peso dos desbastes além da rotação.
Conseqüência de um maior número de investidores envolvidos, o comércio de madeira evoluiu muito, porém dentre os inúmeros desafios do setor, está o fortalecimento de toda a cadeia industrial, desde a produção de madeira serrada até a fabricação final dos produtos. A indústria de base florestal de Pinus avançou de forma expressiva nas últimas décadas e hoje sua produtividade, em alguns segmentos, se aproxima dos níveis internacionais, o que possibilitou o grande salto exportador na década de 90. Hoje os segmentos de serrados e compensados (produtos de madeira sólida), somam 68% da demanda total por madeira roliça de pinus e apesar das grandes variações regionais, o modelo de organização industrial é caracterizado pela presença de empresas especializadas em determinadas linhas de produtos, deste modo, uma grande parcela da indústria madeireira dedica-se a produzir commodities, produtos padronizados cuja concorrência se dá via preços.
O Brasil possui aproximadamente 1.200 serrarias integradas e não integradas, sendo que a sua maioria (87%), está concentrada em pólos industriais ou de grande desenvolvimento florestal na Região Sul do país.
O consumo total de madeira de pinus (toras) pelas serrarias chega a 20 milhões de m³ e a produção em torno de 9,9 milhões de m³ por ano. Apenas para destacar as serrarias não integradas, ou seja, sem a etapa de beneficiamento, são responsáveis por 60% da produção de madeira serrada.
A estrutura de produção de madeira serrada tem forte participação de pequenas unidades, onde em torno de 70% das empresas tem capacidade de produzir até 6 mil m³/ano, consideradas indústrias de pequeno porte. As serrarias de grande porte que produzem acima de 36 mil m³ anuais, representam apenas 2% das unidades.
Dentre os principais destinos da madeira serrada, está o segmento industrial de molduras, que demanda 34% da produção. Esta indústria teve expressivo crescimento nos últimos 10 anos, aproveitando oportunidades dentro do mercado americano seguindo o mesmo caminho do Chile, Nova Zelândia e recentemente Argentina. Inúmeras empresas se lançaram neste mercado, que proporcionou uma utilização mais nobre à madeira de pinus.
Como produtos manufaturados de pinus no Brasil, destaca-se a indústria de móveis. O país conta com aproximadamente 13.000 indústrias, sendo 74% formada por microempresas distribuídos em seis principais centros. Esta indústria é responsável por 24% da demanda de madeira serrada de Pinus no Brasil e o principal destino da produção é o mercado externo.
As restrições para o crescimento da indústria de base florestal, dada às limitações na oferta de madeira, têm sido assuntos fartamente discutidos, sendo abordado de diversas formas tanto no campo técnico como político, o inquestionável fato, é que há fortes indícios de perturbações no abastecimento de madeira futuro. Quanto, quando e como será percebida, torna este assunto uma oportunidade.
Mário Sant’Anna Jr, Teddy A. Rayzel, Mário C. M Wanzuita - Holtz Consultoria S/C Ltda. |