O Brasil é um país ainda com grandes reservas de madeira nativa na região Norte, onde quase que a totalidade das serrarias a utiliza como fonte de matéria prima. Já nas regiões Sul e Sudeste, o setor de madeira serrada também utilizou, durante décadas, como principal fonte de matéria prima, as essências oriundas das florestas nativas. Com o aumento da demanda e diminuição dos estoques destas florestas, além das pressões ambientais, associados à falta de uma política que ampare o serrador e proporcione condições de uso das mesmas, o setor viu-se na necessidade de buscar alternativas para suprir as necessidades da crescente demanda. Encontrou-se nos grandes maciços florestais com espécies de rápido crescimento, principalmente dos gêneros Pinus e Eucalyptus, uma alternativa viável para grande parte dos usos da madeira serrada.
Muitas espécies do gênero Pinus são utilizadas em grande escala no setor de madeira serrada sendo seu comportamento conhecido e dominado, porém havendo sempre desafios para melhorar a eficiência nas serrarias. No caso do gênero Eucalyptus, a maioria das espécies ainda tem uso restrito para o setor de madeira serrada, em função de determinadas características que afetam seu uso. Dentre estas características, destacam-se os problemas oriundos das elevadas tensões de crescimento que muitas espécies apresentam, as quais provocam o surgimento de rachaduras e defeitos, além de determinadas dificuldades nos processos de secagem. Tal situação ainda requer empenho nas pesquisas a fim de se amenizar estes problemas.
Desdobro
Para o desdobro de toras na forma de madeira serrada, são utilizadas determinadas técnicas. Tais técnicas, de acordo com as características relacionadas ao maquinário utilizado, formas de desdobro e principalmente à matéria prima, são chamadas de técnicas convencionais ou técnicas modernas de serrarias.
No pátio de toras de uma serraria que utiliza técnicas convencionais, a matéria-prima geralmente é de origem nativa, com custo elevado, onde ocorre uma grande variação de espécies, diâmetros e comprimentos. A grande variação, faz com que hajam pequenos lotes (com poucas toras) distribuídos em várias classes diamétricas. Desta forma a serraria não tem estoque suficiente para trabalhar por um período ou turno com uma única espécie, numa única classe diamétrica. Sendo assim, para que cada tora possa ser desdobrada é realizado um ajuste nos equipamentos de desdobro, ou seja, cada tora recebe um tratamento particular. Isto pode até implicar num melhor aproveitamento da tora, proporcionando um maior rendimento. Porém, a eficiência é muito pequena.
O processo convencional de desdobro de toras é um processo muito lento. A trajetória da tora e das peças serradas dentro da serraria é pouco automatizada, em função da variabilidade da matéria prima. Isto resulta em baixa produção e eficiência.
As técnicas convencionais de serraria, são muito utilizadas na região Norte para desdobro de madeiras de custo elevado e com muita variabilidade em termos de espécies e diâmetros, normalmente se tratando de madeira nativa. Desta forma é justificado o uso destas técnicas, pois a baixa produção é compensada com o alto custo do produto final.
No pátio de uma serraria que utiliza técnicas modernas de desdobro, geralmente a matéria prima tem custo relativamente baixo, ou seja, é madeira de reflorestamento, com pouca variação de espécies, diâmetros e comprimentos. No caso da espécie, se houver mais de uma, estas serão muito semelhantes, consideradas com certa homogeneidade. Desta forma, pode-se dizer que a matéria prima é homogênea, o que na maioria das vezes só é encontrado em madeiras de reflorestamentos. Ainda no pátio de toras, a madeira é descascada e selecionada por classes diamétricas. O descascamento, evita o desgaste desnecessário das ferramentas cortantes e propicia resíduos, no caso cavacos, de melhor qualidade. Em relação às classes diamétricas, estas serão poucas com muitos representantes em cada uma delas.
Como as classes diamétricas apresentam muitos representantes, é possível concentrar o trabalho em uma única classe por um período ou turno. Como os equipamentos de desdobro são ajustados para uma determinada classe diamétrica, pode-se aproveitar as suas máximas velocidades de desdobro. Desta forma, após o ajuste dos equipamentos para uma determinada classe diamétrica, todas as toras receberão o mesmo tratamento dentro da serraria.
Em função da matéria prima e dos equipamentos utilizados, o desdobro da madeira através de técnicas modernas, implica num processo rápido. A trajetória da tora e das peças serradas dentro da serraria é realizada com grande automatização, em decorrência desta homogeneidade da matéria prima e a produção é alta com elevada eficiência. Tais técnicas são utilizadas para o desdobro de madeira de baixo custo e homogênea, ou seja, madeira reflorestada. Desta forma, o baixo custo também do produto final é compensado pela elevada produção da indústria.
Madeira Reflorestada
Ainda hoje, é freqüente a utilização de técnicas inadequadas para o desdobro de madeira reflorestada. Esta situação é principalmente devido à baixa concorrência, boa oferta de matéria prima, mão de obra barata e pouca exigência do mercado, entre outros fatores. Além disso, em função do elevado custo dos equipamentos e da instabilidade econômica do país, na maioria das vezes, o serrador sente-se desestimulado a investir, buscando adaptar o que tem disponível no lugar de adequar a indústria com novos e modernos equipamentos.
Porém, atualmente vem se observando uma escassez de matéria prima, um aumento dos custos de mão de obra e uma grande elevação da concorrência. Associado a estes fatores, a possibilidade de exportação, tem estimulado o setor a uma redefinição de processos. Desta maneira, em função dos pequenos diâmetros utilizados e da homogeneidade da matéria prima, surge a oportunidade de implantação de sistemas de automação, reduzindo muito os custos de mão de obra e melhorando a eficiência da serraria. Tais sistemas podem estar presentes dentro da serraria desde o pátio de toras, passando pelos processos de desdobro e classificação, até o empacotamento e expedição dos produtos.
No pátio de toras é imprescindível a instalação de um sistema de classificação das toras, principalmente em classes diamétricas e qualidade das toras. É recomendável ainda que seja realizado o descascamento das toras, pois com este procedimento pode-se melhorar muito a qualidade dos resíduos, o que na maioria das vezes estabelece o lucro da empresa. Hoje, uma serraria que não racionaliza o destino dos resíduos gerados poderá sofrer graves conseqüências de mercado, tornado-se pouco competitiva.
Em função da grande concorrência em termos de disponibilidade de matéria prima, é necessário que uma serraria busque o seu máximo aproveitamento. Isto requer um planejamento em função dos produtos da empresa e das classes diamétricas disponíveis, estabelecendo-se diagramas de corte que visem o máximo rendimento com a maior eficiência possível.
Avaliando o desdobro de Pinus spp. em duas linhas diferentes, verificou-se que uma linha que utilizava serra circular dupla numa das operações sofria frequentes paradas em função das alturas de corte incompatíveis das peças. Este é um claro exemplo da falta de planejamento em termos de diagramas de corte em função das classes diamétricas e dos equipamentos disponíveis na indústria. Estas paradas afetam na eficiência da serraria.
Operações De Desdobro
Na obtenção de madeira serrada, quanto maior for o nível de automação de uma indústria, maior será a sua eficiência, ou seja, maior será a quantidade de m3 serrados por operário num turno. Porém, isto não significa que em função disso a serraria terá o máximo rendimento, pois este ainda é afetado pelo diâmetro das toras, bitolas fabricadas e equipamentos utilizados.
Ao se utilizar técnicas de redução, as quais consistem em se reduzir as dimensões das toras para posterior desdobramento em outros equipamentos, pode-se ter variações no rendimento em função dos equipamentos utilizados. Quando se opta por serras circulares, tem-se um rendimento em madeira serrada menor com uma eficiência maior. Porém, quando se opta por serras de fita, tem-se um aumento no rendimento com uma eficiência mais baixa. Entra aí novamente, o planejamento e a avaliação econômica, onde deve-se levar em conta o custo da mão de obra, da matéria prima e dos equipamentos a fim de se atingir os melhores resultados econômicos.
Após a passagem nas serras de redução, as tora já transformadas em peças menores vão para as resserras e as partes externas das mesmas (normalmente costaneiras) seguem às resserras de reaproveitamento. Nestas operações deve ser sempre obedecido um fluxo linear com o máximo de automação o que proporcionará uma eficiência máxima no uso da mão de obra e dos equipamentos.
Após as operações de desdobro, tem-se a classificação da madeira serrada. Esta deve ter o máximo de rigor e critério. Desta forma, tem-se uma melhoria da qualidade dos produtos, atingindo melhor preço e aumentando as possibilidades de exportação.
Como exemplo de classificação criteriosa tem-se a separação de peças serradas de Pinus spp. por plano de corte. Ao se separar peças serradas com faces tangenciais tem-se desenhos esteticamente mais adequados no caso de painéis maciços, do que peças com faces radiais. Tal procedimento pode melhorar o preço do painel acabado.
Atualmente, as serrarias que tem como matéria prima madeira de reflorestamento passam por uma situação de certo modo inadequada. Em termos de equipamentos, normalmente se observa uma adaptação de equipamentos pouco apropriados à maioria das operações necessárias, prejudicando a qualidade e o rendimento dos produtos, mas principalmente a eficiência das operações. Associado a isto, tem-se ainda baixos níveis de automação e pouca preocupação com a manutenção de serras e equipamentos.
Em termos de matéria prima, esta frequentemente apresenta baixa qualidade, em função da inicial necessidade que gerou a implantação dos povoamentos hoje disponíveis, onde as técnicas siviculturais e de maneja sempre foram direcionadas para a geração de biomassa e não de madeira de qualidade para serrarias. Juntamente, em função da falta de estudo e planejamento, observa-se um baixo aproveitamento da matéria prima utilizada, com nenhuma ou pouca utilização dos resíduos gerados no setor.
Desta forma, tem-se como desafio a modernização dos equipamentos buscando-se alternativas de automação dos processos, o que acarretará ganhos em eficiência, rendimento e qualidade dos produtos, através de uma criteriosa avaliação de custos. Quanto à matéria prima, é necessário um maior critério na seleção e um maior aproveitamento da mesma. Em termos de resíduos, é necessário que o serrador deixe de trata-los como subproduto e sim como produto, pois é neles que poderá estar grande parte dos lucros da serraria.
Márcio Pereira da Rocha
Engenheiro Florestal, professor da UFPR Fevereiro/2002 |