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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°82 - JULHO DE 2004

Construção Civil

Eucalipto tratado é promissor para a habitação

O eucalipto compreende cerca de 70 gêneros distintos e 3000 espécies de arbustos e árvores. A madeira dessas espécies é, na maioria das vezes, dura, pesada, resistente, com textura fina e baixa estabilidade dimensional. Uma equipe de pesquisadores do IPEF selecionou para estudo sete espécies de eucalipto para construção civil. Entre os resultados, o grupo constatou que a percentagem de alburno é maior no E. paniculata com valor de 60% na base, e quase 100% na posição média do tronco. É elevada, também, para o E. citriodora, seguindo-se o E. pilularis, E. grandis e E. cloeziana, indicando-se a necessidade de aplicação de preservantes para a proteção da madeira.

O eucalipto é representado por árvores com alta taxa de crescimento, plasticidade, forma retilínea do fuste, desrama natural e madeira com variações nas propriedades tecnológicas, adaptadas às mais variadas condições de uso. Nas últimas décadas, observou-se um significativo aumento nas informações básicas sobre as propriedades da madeira.

A utilização inicial da madeira como lenha e como peça estrutural simples apresenta evolução, tanto na forma sólida, como na forma de painéis reconstituídos, exigindo-se em todas as situações, profundo conhecimento tecnológico.

Dessa forma, a madeira de eucalipto, com elevada taxa de crescimento, deve apresentar melhoria na eficiência de utilização, estar adequada ao seu processo de conversão e possuir maior estabilidade. Assim apresentará melhores condições de uso.

Existe uma preocupação do setor madeireiro australiano na substituição de madeiras importadas por espécies nativas, representadas basicamente pelo gênero eucalipto.

Um programa de pesquisa desenvolvido na Austrália visa desenvolver tecnologia para fabricar produtos desta madeira com maior valor agregado, com ênfase maior para o suprimento do setor moveleiro.

No programa foram avaliadas as madeiras de espécies como E. grandis, E.sideroxylon, E. maculata, E. globulus, E. saligna e E. cladocalyx, cuja idade de rotação dos povoamentos atinge pelo menos 25 anos.

Diante da necessidade de fabricar produtos de maior valor agregado, países como Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai também estão intensificando o emprego desta madeira nas indústrias de segunda transformação, como o caso de revestimentos, molduras, pisos, vigas laminadas, painéis colados lateralmente e principalmente móveis. Além do E. grandis, nestes países também se empregam as espécies E. globulus, E. viminalis, E.camaldulensis e E. tereticornis.

Aliada às propriedades da madeira, as características silviculturais e dendrométricas das árvores são de elevada importância. O estudo elaborado pelo IPEF avaliou as variações do diâmetro e altura, o volume de madeira e de casca, a forma da árvore, e a relação cerne/alburno das árvores de sete espécies de eucalipto.

Produtividade do eucalipto

A unidade de volume de madeira expressa em estere (mst, st) representa o volume de uma pilha de madeira (altura X largura X comprimento), sendo usualmente empregada nos setores de celulose, chapas, carvão, cerâmica e outros.

Para as espécies de eucalipto, o crescimento volumétrico, diamétrico e em área basal, geralmente atingem valores máximos, antes dos 10 anos, e o incremento médio anual (IMA), antes de 15-20 anos. Os valores de produtividade das sete espécies de eucalipto, para a região da Estação Experimental de Anhembi, são altamente satisfatórios, quando comparados com os de outras espécies de eucalipto, de pinus e de essências nativas em outros locais.

Dentre as espécies estudadas, destaca-se o E. grandis, com incrementos de 63 m³/ha/ano, justificando sua utilização nos projetos de reflorestamento para produção de madeira.

Autores da área demonstraram o sucesso do E. grandis, aos treze anos na Ilha de Madagascar, com altura média de 40-45 m e produção de 70-80 m³/ha/ano.

As demais espécies de eucalipto, com exceção do E. paniculata, apresentaram bom crescimento volumétrico, em torno de 40 m³/ha/ano.

Dentre as espécies, destaca-se o E. pilularis com produtividade de 45 m³/ha/ano que, em algumas regiões da Austrália, apresenta crescimento volumétrico superior ao do E. grandis.

No Brasil há regiões com condições ecológicas favoráveis para esta espécie, cujas árvores podem atingir 35 m de altura e 25 cm de diâmetro, aos 11anos. O E. paniculata, com produtividade de 26 m³/ha/ano, possui madeira de densidade elevada, superior à de muitas espécies nativas, como Peroba rosa, Jatobá, além de baixo crescimento. O E. paniculata, pela densidade da madeira, constitui-se em potencial substituto das espécies nativas tradicionais, quando a resistência mecânica da madeira é importante. Em comparaçãocom as espécies de pinus, com produtividade inferior a 40 m³/ha/ano, os eucaliptos mostram vantagem, além do valor mais alto da densidade da madeira.

As árvores, aos dezesseis anos, apresentaram valores médios de diâmetro e altura bastante próximos, com exceção do E. grandis e do E. paniculata, com valores superiores e inferiores respectivamente. Como o DAP das árvores de eucalipto se situa no intervalo de confiança de 5% em relação à média da parcela, os valores representam a situação existente na área de 1 hectare.

A altura e o diâmetro do tronco expressam o comprimento comercial da tora para serraria, com o diâmetro igual a 15 cm. Verificam-se toras com comprimentos acima de 12 metros, para o E. citriodora, e de 24 metros, para o E. grandis,

resultados excelentes se comparados às árvores de Peroba Rosa, em parcelas experimentais no Estado de São Paulo, que apresentaram 16 cm de diâmetro e 10 metros de altura.

Espécie Forma do Fuste

E. citriodora regular, pouco sinuoso.

E. tereticornis boa no geral, retilíneo.

E. paniculata boa, com tortuosidade, desrama natural

ineficiente e cicatrizes de ramos no tronco.

E. pilularis

boa, retilíneo e com desrama.

E. cloeziana

boa, retilíneo e com desrama.

E. urophylla

boa, retilíneo e com desrama.

E. grandis

boa, retilíneo a tortuoso.



A quantificação do cerne e do alburno é muito importante dependendo da utilização da madeira. A coloração do alburno no fuste recém abatido das sete espécies estudas foi, na maioria das vezes, amarelo-palha. A coloração do cerne de E. citriodora, E. pilularis e E. cloeziana variou de castanho-claro a escuro eE. tereticornis.

Todas as espécies, com exceção do E. cloeziana, na altura do tronco, com diâmetro de 5 cm, a porcentagem de alburno atingiram um valor máximo, destacando-se o E. paniculata, com mais de 60% de alburno na base do tronco da árvore, e a 50% predominância desse tipo de madeira. A porcentagem de alburno é alta para o E. citriodora e ligeiramente mais baixa no E. pilularis, E. grandis e E. cloeziana.

Para o E. citriodora, com 55 anos, em Rio Claro - SP, os valores médios do alburno na porção basal e mediana do fuste foram de 36,5 e 40,9%, respectivamente.

No entanto, outros estudos registraram a porcentagem de alburno para E. camaldulensis, mostrando que árvores de 11-20 anos, com maior taxa de crescimento, apresentaram 31% de alburno na base do tronco, enquanto que as de crescimento lento chegaram a 16%. A espessura de alburno no gênero Eucalyptus varia de 1,5-4,5 cm, aspecto confirmado para a maioria das sete espécies de eucalipto. A maior permeabilidade da madeira de alburno torna-o menos susceptível ao aparecimento de defeitos de secagem, como fendilhamento e empenamento, decorrentes de colapso, além de tornar possível a absorção de produtos preservantes. O E. paniculata e E.citriodora, por apresentarem alta proporção de alburno, a partir da base do tronco, mostram-se aptos à preservação. Para o E. grandis, E.cloeziana e E. pilularis, a menor quantidade de madeira tratável poderá limitar a utilização da madeira serrada, quando há exigência de alto desempenho em relação a organismos xilófagos.



Fonte:

JOSÉ TARCÍSIO DA SILVA OLIVEIRA

Professor do Dep. de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa

JOÃO CÉSAR HELLMEISTER é Professor Aposentado do Lab. de Madeiras e Estruturas da Escola de Engenharia da USP

JOÃO WALTER SIMÕES é Professor Aposentado do Dep. de Ciências Florestais da ESALQ/USP

MÁRIO TOMAZELLO FILHO é Professor Doutor do Dep. de Ciências Florestais da ESALQ/USP