O crescimento demográfico nacional pressiona a indústria da construção. É crescente a demanda por moradias e tecnologias modernas de pré-fabricados, onde a madeira preservada tem papel relevante, apresentando as respostas de melhor custo/benefício aos desafios de um futuro que bate à nossa porta.
Construções tradicionais em alvenaria tendem a perder a corrida para a crescente demanda de um País como o Brasil, em construção acelerada e forte demanda por moradias. Hoje, o déficit habitacional nacional é da ordem de 6,6 milhões de moradias, segundo dados da Fundação João Pinheiro, referentes ao ano 2000. Não só o crescimento populacional, mas também os deslocamentos e reassentamentos humanos em função de trabalho, busca de melhor qualidade de vida, entre outros aspectos, pressionam constantemente por novas moradias. Essa demanda impulsiona a indústria da construção civil em busca de respostas mais rápidas, racionais e tecnologicamente confiáveis.
Neste ponto, a construção industrializada – também chamada construção seca – tem pela frente um importante papel um desafio de bom tamanho. Se industrialização é a melhor resposta para a construção de moradias, madeira preservada está seguramente entre as melhores respostas para essa indústria. Painéis e montantes, estruturas de cobertura, assoalhos, batentes, portas e janelas, entre outros componentes, têm na madeira preservada uma alternativa de excelente desempenho, durável e competitiva, além de ecologicamente correta. Além de um depósito eficiente de carbono seqüestrado da atmosfera – o vilão do chamado efeito estufa – constitui um ativo patrimonial de alto valor agregado.
A demanda de madeira, particularmente a preservada, tem uma curva ascendente nas próximas décadas não só no Brasil, mas em diversos países praticamente em todos os continentes. Certamente este é um fenômeno mundial e irreversível, pelo simples fato da madeira cultivada ser o único material construtivo disponível em larga escala e que é 100% renovável em ciclo curto.
Estudos demográficos para prospecção de mercados têm relevância crescente nas economias modernas. Permitem detectar tendências da demanda por produtos e serviços da população economicamente ativa, em sua dinâmica constante em busca de oportunidades. No mercado norte-americano, o cruzamento dos dados de estudos demográfico com os da construção forneceram pistas muito interessantes. Foi possível, por exemplo, detectar o aporte de recursos das populações de origem latina, que fizeram poupança e em determinado momento aplicaram esses recursos na aquisição da casa própria.
A demanda por habitação dispensa maiores apresentações. Para que se tenha uma idéia, dados referentes aos Estados Unidos indicam que em 2001, somente na construção de unidades residenciais unifamiliares, foram consumidos 45 milhões de metros cúbicos de madeira serrada. Na construção de unidades multifamiliares foram outros 4 milhões de metros cúbicos, o que dá a medida de que unidades unifamiliares predominam por larga margem. Deste total de 49 milhões de metros cúbicos de madeira serrada consumidos anualmente pelo setor da construção, 13 milhões de metros cúbicos, ou 26%, são de madeira tratada. No Brasil, o consumo anual de madeira serrada é da ordem de 23,5 milhões de metros cúbicos, dos quais 6,7 milhões de metros cúbicos, ou 28,5%, vão para a construção civil. Apenas 75 mil metros cúbicos, que correspondem a 1,1% do total, são madeiras tratadas industrialmente.
Os dois retratos mostram realidades muito distintas, embora em países com igualmente grandes potencialidades madeireiras. Nos Estados Unidos, a utilização de madeira em larga escala beneficia amplamente os setores madeireiro e da construção civil.
No Brasil, além da madeira ser utilizada em menor escala nas construções, a madeira preservada é usada em escala ainda menor, tornando os sistemas construtivos menos competitivos técnica, econômica e ambientalmente falando. Esta situação tem reflexos na qualidade, na durabilidade, na consciência em relação ao material construtivo, na normatização, na capacidade local de abastecimento industrial de madeira, entre outros aspectos.
Uma conta simples dá a dimensão correta dos fatos. Hoje, o volume total de madeira utilizada em construções nos Estados Unidos é sete vezes maior que no Brasil; em volume de madeira tratada, a distância que nos separa salta para 170 vezes.
O perfil do mercado norte-americano está ancorado num fator muito importante, que é a cultura madeireira local. Utilizam-se estruturas de madeira tratada para suportar painéis de gesso acartonado, na moderna tecnologia da construção seca, vão ganhando espaços importantes e certamente irreversíveis. O sistema construtivo inovador oferece, além da segurança, durabilidade e conforto a custos substancialmente menores em relação aos da construção em alvenaria.
No Brasil, o sistema construtivo encontra-se numa fase importante de transição. A racionalidade do novo conceito de sistemas construtivos baseados em painéis de madeira ou de gesso, que tem décadas na Europa e Estados Unidos, também ganha espaço no País. Está numa curva ascendente. Ele dispensa de vez atividades tradicionais como virar concreto na obra, assentar tijolos, quebra-quebra para instalações elétricas e hidráulicas colocando um paradeiro, enfim, no ciclo do desperdício.
De maneira geral, o sistema da construção seca, ou drywall, tem montantes de madeira preservada ou metálicos. O fechamento das paredes é feito com painéis de gesso acartonado ou madeira. O desenvolvimento de produtos adequados ao sistema construtivo base painel torna a montagem das instalações elétricas e hidráulicas semelhante a brinquedos de montar. O serviço fica mais fácil, limpo e rápido. Uma verdadeira revolução no campo da construção civil está a caminho e não tem volta. Face à enorme vocação florestal brasileira, essa revolução deverá ser duplamente favorável tanto para nossa economia, quanto para nossa população. Para aproveitar da melhor maneira nossas oportunidades, a ABPM defende a normatização, a capacitação profissional em todos os níveis, a capacitação da indústria, uma legislação abrangente, um programa de estímulo ao reflorestamento, a mudança de padrões culturais e investimento em comunicação e marketing.
Flavio Carlos Geraldo
Vice-Presidente da ABPM – Associação Brasileira de Preservadores de Madeira |