Demora nas entregas por falta de contêineres a custos acessíveis e escassez de navios para carga solta são alguns dos fatores que estão desestimulando as exportações no setor, sem contar os altos custos do embarque nacional.
A infra-estrutura de transporte e logística é apontado por economistas e pesquisadores como uma barreira para o desenvolvimento econômico nacional. Para sustentar a evolução o País precisa investir em diversas áreas, bem como em energia, na construção civil, na expansão de estradas, transportes, portos e armazenagens, entre outros. No entanto, problemas graves, especialmente no setor portuário, têm sido os maiores limitantes ao desenvolvimento do mercado externo. O setor de base florestal é um dos que mais sente os efeitos destas deficiências como a escassez de contêineres, a falta de espaço em navios e dos altos custos logísticos, problemas que estão inviabilizando o comércio internacional, especialmente com a Europa. A situação já beira o caos e pede uma reflexão do governo a respeito do atual processo funcional dos portos brasileiros.
Os empresários do setor de base florestal, que exportaram em 2003 US$ 5,6 bilhões, estão com dificuldades para escoar os produtos para o exterior por importantes portos do país. O segmento de madeira sólida, responsável por US$ 2,6 bilhões desses negócios, se mobiliza para conseguir soluções por parte da administração dos portos para os problemas.
A Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente – ABIMCI, em contato com a superintendência do Porto de Itajaí, em Santa Catarina, solicitando uma resposta para as constatações dos empresários de superlotação no local. De acordo com os números do próprio porto, em janeiro, madeira e derivados contribuíram com uma movimentação de 110.866 toneladas, 26% do total movimentado no local, que foi 418.790 toneladas.
Segundo informações da ABIMCI, a maior dificuldade em Itajaí, está em conseguir colocar os produtos dentro do porto. “Normalmente, a mercadoria fica nos armazéns 10 dias, mas já chega a permanecer em média três semanas. O resultado é um aumento nos custos operacionais e a impossibilidade de cobrança do importador pelo produto, já que somente após o embarque dos contêineres é possível emitir a documentação para receber o pagamento. Além disso, o exportador corre o risco de ter pedidos cancelados devido ao atraso.
Segundo a direção de logística do porto de Itajaí, com o aumento significativo de cargas, em alguns casos, os armadores têm efetuado cortes de cargas, “notadamente”, contêineres com madeira e derivados.
No Paraná, a atuação do porto de Paranaguá também tem causado preocupação no setor de base florestal. Para os empresários, a política de cargas preferências prejudica um setor que representa 4% do Produto Interno Bruto do país. No caso de Paranaguá, na carga geral, os fertilizantes teriam preferência no embarque. Outro problema no local é a redução do número de navios. A reivindicação dos produtores de madeira sólida é a de um canal de escoamento que garanta a exportação da carga. A mesma posição é partilhada pela ABPMEX – Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Madeiras, na qual seu presidente, Roque Zatti, destaca a necessidade de medidas administrativas que solucionem um problema que se agrava a cada dia com sérias conseqüências para a economia nacional e setorial.
O déficit na área de infra-estrutura brasileira em geral é grande. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Base (Abdib), o Brasil precisaria de US$ 20 bilhões anuais de investimentos em infra-estruturas para que o crescimento econômico tenha sustentabilidade. Em 2002, foram de apenas US$ 14,3 bilhões e no ano passado, o volume mal chegava aos US$ 8 bilhões. Se depender apenas de investimento estrangeiro, não é possível alcançar a meta: a projeção de investimento direto do BC para este ano fica em US$ 13,5 bilhões.
O presidente da ABPMEX, Roque Zatti, diz que são muitos os problemas causados pelas falhas na infraestrutura portuária. Entre eles está a falta de contêineres, de espaço nos navios para cargas soltas e das altas taxas alfandegárias.
As exportações estão crescendo num ritmo muito mais acelerado que as importações e, com isso, faltam contêineres vazios sem custo. Assim, os empresários precisam pagar pelo aluguel dos contêineres para enviar suas mercadorias. Com esta despesa extra o frete tem aumento de 30 a 40%, o que muitas vezes inviabiliza a entrega. No caso da Europa, Zatti diz que cerca de 25% dos pedidos foram cancelados, um prejuízo significativo para o setor. Com o mercado Asiático estão sendo feitas negociações para viabilizar a continuidade da parceria.
Outro agravante que se somou aos problemas de infraestrutura foi a greve dos funcionários da Receita Federal. O presidente da ABPMEX explica que os navios têm um prejuízo equivalente a cerca de US$ 15 mil por dia para ficarem atracados. Com a greve, os navios passavam direto porque não precisavam fazer fiscalização e, por isso, também não recolhiam as cargas. Neste período a situação, que já estava complexa ficou crítica.
A Raz Export Trading, de Curitiba, ficou dois meses com cargas semanais de madeira paradas no porto, um valor equivalente a US$ 840 mil. Outro problema que prejudicou a Trading foi a falta de navios para o embarque de cargas soltas. Por este motivo a empresa chegou a ter o valor de US$ 780 mil, em carga de madeira, parado por tempo indeterminado.Roque Zatti, que é diretor da Raz, diz que a exportação de compensados para exportação na Indonésia costumam lotar os navios e não há espaço para cargas soltas de madeira. “Quando se consegue navio não há espaço para toda a carga devido ao grande volume acumulado, então só é possível enviar uma parte e assim o País vai perdendo cliente e credibilidade”, lamenta.
Além de todas estas dificuldades Roque Zatti diz que os custos alfandegários e de taxas como THC, são muito altos. “No Chile, que é tão próximo, o valor das taxas corresponde à metade do preço praticado no Brasil”, compara.
Exportações
Entre janeiro e março desse ano, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Santa Catarina exportou US$ 989,59 milhões, ou seja, quase US$ 1 bilhão, elevando o estado a sexto no ranking dos maiores exportadores no Brasil. Comparado com as exportações efetuadas no mesmo período, no ano passado, houve um crescimento de 31,91%. Índice maior do que o crescimento registrado no volume de exportações brasileiras no mesmo período. De janeiro a março desse ano, o Brasil exportou US$ 19,44 bilhões, contra US$ 15,04 bilhões em igual período de 2003, registrando um crescimento de 29,27%.
Entre os sete produtos catarinenses mais exportados estão os móveis de madeira, um dos principais segmentos a sofrer com o problema de falta de infra-estrutura na logística para as exportações. O crescimento das exportações tem sido a meta das empresas exportadoras, porém, ninguém previu os problemas que esse salto nos negócios externos traria.
O problema não é só com contêineres, mas com a infra-estrutura portuária em geral. Assim, a solução requer altos investimentos e se torna inviável para alguns empresários, que são obrigados a enviar cargas de avião devido aos problemas com modais marítimos. Com isso o empresário compromete o lucro com o gasto extra e muitas vezes ainda leva prejuízo.
O problema da falta de contêineres é generalizado em todo o País, mas em Santa Catarina a situação é mais grave por se tratar de um estado com vocação exportadora. A movimentação do terminal é formada 80% de exportações e apenas 20% de importação. Por isso não chegam contêineres vazios em quantidade suficiente para escoar a produção catarinense. Mesmo com a situação difícil, onde não tem sido possível manter o as operações com prazos aceitáveis, o porto de São Francisco do Sul, por exemplo, ainda prevê um movimento de 8 milhões de toneladas em 2004 - ante 6 milhões de toneladas em 2003.
O Sindicato das Agências de Navegação Marítima e Despachos de Santa Catarina (Sindasc), entretanto, nega que haja falta de contêineres no mercado. O problema, segundo o órgão, estaria na falta de espaço nos navios devido ao aumento da demanda de cargas.
Ocorre é que uma grande parte dos armadores tem contrato estipulados com os clientes e aqueles empresários que não tem contrato com o armador ficam esperando espaço nos navios e a carga demora um pouco mais para ser embarcada. A solução imediata depende de investimentos, que seriam de responsabilidades do governo.
Além de todos os problemas de infra-estruturas, as questões burocráticas também dificultam o serviço. O porto de São Francisco do Sul depende de licenças ambientais para lançar os editais de licitação para a construção de quatro obras que deverão elevar a 15 milhões de toneladas sua movimentação. Todo pedido de licenciamento ambiental deve ser feito ao Ibama, que fica em Brasília e por isso não tem a agilidade ideal.
Ao mesmo tempo em que vive um momento de crescimento das exportações, com incremento de 23% no primeiro trimestre, em relação a igual período do ano passado, o setor moveleiro está em crise porque não consegue entregar seus pedidos ao exterior. Faltam contêineres e equipamentos portuários para agilizar os embarques, fiscais em greve e o excesso de cargas em estoque já ameaça a continuidade da produção.
A situação é tão grave, que já mobilizou entidades representativas do setor a reunirem-se com representantes do porto de Itajaí, Teconvi S/A e armadores. No encontro, o porto divulgou projetos de melhorias a médio e longo prazo, mas não trouxe nenhuma esperança de solução imediata ou pelo menos paliativa para o drama do congestionamento de cargas.
Soluções
O debate sobre as causas e as possíveis soluções para evitar dias ainda piores para as exportações divide opiniões. Para Pedro Paulo Pamplona, presidente do Programa Nacional de Incremento às Exportações Moveleiras (Promóvel), as companhias marítimas precisam investir mais e os portos precisam estar mais bem estruturados para operar de forma mais rápida e moderna. Os moveleiros destacam o fato de o Brasil não ser uma rota atrativa para os navios, por conta do desequilíbrio entre exportações e importações.
Para a diretoria da Associação Comercial e Industrial de São Bento do Sul (ACISBS), a falta de contêineres é apenas uma conseqüência de um problema maior, a falta de planejamento estratégico dos portos e armadores. Já, o sindicato das moveleiras defende a necessidade de uma ação governamental, que deveria sustentar o aumento das exportações estimuladas. Em 1990, o Brasil exportava US$ 39,7 milhões em móveis. No ano passado o volume chegou a US$ 661,5 milhões, segundo a Associação Brasileira de Indústrias do Mobiliário (Abimóvel). Metade das exportações moveleiras do Brasil saem das fábricas de Santa Catarina. No primeiro trimestre deste ano, o Brasil exportou US$ 191,1 milhões em móveis.
Na opinião do presidente da ABPMEX, Roque Zatti, a privatização dos portos seria a solução para uma boa parte destes problemas. “É preciso privatizar os portos e assim gerar concorrência. Além disso, um porto privatizado tem seu lucro investido no próprio negócio o que permite a expansão”, idealiza.
Transporte interno
As exportações de alguns setores, inclusive o de base florestal sofrem com problemas de infra-estrutura, inclusive na área de transporte nacional. Segundo dados do centro de Estudos de Logística do Coppead-UFRJ, por causa da má qualidade de sua logística, o tempo médio de estoque da indústria brasileira é de 63 dias, enquanto nos Estados Unidos, esse tempo é de 41 dias. Esses 22 dias extras de excesso de estoque custam R$ 115 bilhões para a indústria nacional.
Os problemas do transporte brasileiro começam no setor rodoviário, responsável por mais de 60% da carga transportada em território brasileiro. Trata-se de um setor sem fiscalização ou regulamentação. Há limite de peso por eixo, mas 90% das balanças nas estradas não operam.
Outro problema é a má qualidade do transporte brasileiro, onde a frota possui idade média de 18 anos, quando não deveria passar de 10 anos. A taxa de renovação, por sua vez, é de 55 mil veículos por ano. Como a frota possui um milhão de caminhões, vai levar mais ou menos 30 anos para que toda ela seja substituída. Ou seja, não há possibilidade real de renovação.
Para melhorar a situação o País deveria incentivar as ferrovias, a cabotagem e transporte hidroviário em geral. No entanto existem limitações para a iniciativa. No começo do ano, o governo anunciou um plano para dar descontos de até 70% nos aluguéis das concessões ferroviárias, em troca de investimentos de R$ 2,8 bilhões em quatro anos para a recuperação da malha ferroviária, que não ganha investimentos há mais de 20 anos. Neste período, a taxa média de investimento no setor foi de 0,2% do PIB, contra uma média de 2% a 4% nos países desenvolvidos.
Já, para a expansão da malha ferroviária o governo não tem verba disponível. A única saída seria buscar dinheiro no exterior para este fim. Para revitalizar suas ferrovias o País precisaria de investimentos de R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões, em um período de cinco anos, segundo dados da Associação Nacional de Transporte Ferroviário (ANTF). Em um país que ainda está investindo em problemas básicos, como o combate à fome, um investimento destes não é visto como prioritário.
Energia
Um outro problema sério de infra-estrutura para a indústria nacional é o fornecimento de energia, assunto que não tem sido mais notícia, mas que também está longe de ter uma solução definitiva. As flutuações do mercado livre de energia dão uma idéia da dimensão do problema em que o Brasil pode estar entrando mais uma vez: o MWH no mercado livre para 2004 estava em R$ 50 em novembro.
Para 2007, era negociado a R$ 70 e para 2008, não havia energia disponível. Esses valores são 40% mais altos do que o projetado um ano antes. Estima-se que se o País alcançar um crescimento de 4% ao ano sem investimento em geração de energia, outra crise de abastecimento poderia acontecer em 2006 ou 2007. Por essas e outras, no começo de janeiro, a indústria de alumínio canadense Alcoa anunciou cortes de US$ 1,3 bilhão no seu plano de investimento até 2010
Uma das reclamações mais freqüentes com relação ao setor de energia brasileiro é a carga tributária. O Brasil é campeão mundial de impostos, beirando os 32%. Para cada R$ 100 consumidos, o consumidor paga R$ 47 de impostos. De cada R$ 100 para distribuidora de energia, R$ 76 são para pagar custos, fornecedores e impostos. Mesmo com todos essas contribuições o governo está longe de conseguir implantar no País um sistema de infra-estrutura que ao menos dê fôlego para os demais setores se desenvolverem. |