O governo brasileiro está empenhado em conquistar novos mercados de destino para os produtos brasileiros. Depois de aumentar o intercâmbio com a China, Rússia, Oriente Médio e África do Sul, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e a APEX-Brasil querem reforçar a promoção dos produtos "made in Brazil" em outro grande mercado, a Índia. O interesse brasileiro neste país se justifica, principalmente pela dimensão do mercado - são mais de um bilhão de habitantes - e pelo crescimento econômico verificado nos últimos anos - o PIB tem aumentado 5% ao ano desde 2000.
Além disso, existem outros fatores estimulantes ao investimento como a abertura da economia, as reformas realizadas recentemente no país e a infra-estrutura em desenvolvimento. O setor que apresentou crescimento nas exportações em 2003 foi o de manufaturados, com um crescimento de 24% em relação a 2002.
O potencial do mercado indiano não atrai somente o Brasil. O Mercosul está negociando um Acordo de Preferências Fixas para fortalecer as relações entre o bloco e este país, promover a expansão do comércio e estabelecer as condições e mecanismos para uma futura Área de Livre Comércio. Com a pesquisa que será encomendada pelo MDIC, será possível ter um mapa mais claro do mercado indiano para produtos nacionais: quais mercadorias teriam demanda, aspectos de logística, tributação, regulamentação, níveis de preço e legislação indiana.
Um estudo identificará condições de competitividade para as empresas brasileiras, apresentando os países com os quais concorrem no mercado indiano. Os setores onde serão realizados os estudos são cosméticos, jóias, calçados, móveis, produtos cerâmicos e equipamentos médicos, formando um grupo de cerca de 60 produtos.
Abertura de mercados
Na opinião de Rômulo Thomé, presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Tecnologia Brasil-Índia, os empresários indianos têm grande interesse em comprar móveis e também há boas perspectivas para os setores têxtil e alimentício. Para ele, no entanto, falta ainda uma melhor rentabilidade do Brasil em termos de tecnologia de computadores. A indústria indiana de computadores cresce 54% ao ano na produção de softwares e 30% no ramo de hardware.
"A Índia exporta US$ 9 bilhões em softwares, enquanto o Brasil vende US$ 600 milhões. E aqui se fala que é porque o produto brasileiro é inferior ao indiano. Mas há softwares desenvolvidos no Brasil que são aplicados na Europa com resultados bem eficientes”, compara Thomé.
A Índia, que já foi um dos países que menos cresciam no mundo, conseguiu reverter o quadro e vem registrando altas taxas de expansão e já tem um Produto Interno Bruto (PIB) maior do que o do Brasil. No ano passado, o PIB da Índia ficou em US$ 514,9 bilhões e o do Brasil, em US$ 452 bilhões, segundo dados da agência de classificação de risco Fitch Ratings. E este ano deve consolidar essa posição. De acordo com as projeções da Fitch, o PIB do Brasil deve ficar em US$ 441,3 bilhões e o da Índia, em US$ 585,8 bilhões. A principal causa para o PIB indiano ser maior que o do Brasil em dólares é que a Índia vem crescendo muito mais rapidamente.
Por causa disso, mesmo em um período de queda de fluxos de investimentos diretos para emergentes, a Índia, que praticamente não recebia esses recursos, deve atrair US$ 5 bilhões neste ano. Entre os setores que mais se expandiram na Índia nos últimos anos estão o da informática, alta tecnologia e de serviços nessa área. Um dos itens mais expressivos na pauta de exportações do país é o setor de software.
Na comparação com a China, o outro gigante da Ásia, a Índia tem um mercado de capitais mais desenvolvido, mas tem uma taxa de poupança doméstica bem inferior, segundo a Fitch. Um dos problemas da Índia é a situação fiscal. De acordo com a agência, o déficit público indiano chega a 10% do PIB. Em dez anos, as exportações da Índia para o Brasil saltaram de US$ 12 milhões para US$ 579 milhões. Do país asiático, saem para os portos brasileiros remédios, produtos químicos e petrolíferos, softwares de computador e tecidos, entre outros. Por outro lado, o Brasil vende aos indianos produtos como açúcar, autopeças, aeronaves da Embraer, tecnologia de álcool combustível e soja. De US$ 1,2 bilhão negociado entre os dois países no ano passado, o Brasil vendeu US$ 654 milhões.
Para melhorar ainda mais as relações comerciais entre as duas nações, agora parceiras no Grupo dos Três (G-3) – aliança entre Brasil, África do Sul e Índia para o comércio mundial – o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, foi recentemente até Nova Délhi. Participou de um seminário sobre intercâmbio comercial e da instalação oficial da primeira sessão da Comissão Mista Brasil-Índia de Cooperação Política, Econômica, Científica, Tecnológica e Cultural. O acordo, que põe em prática as intenções de ambos os países de melhorar o intercâmbio comercial, surpreendeu os países desenvolvidos na última reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Setor florestal
Os estados indianos vêm adotando uma abordagem chamada Manejo Florestal Conjunto, que atende às prioridades estabelecidas no âmbito da Política Florestal Nacional de 1988. Esse processo promoveu o diálogo e desenvolvimento de parcerias entre um número crescente de atores na área de manejo florestal, embora seja lento o ritmo de mudanças.
O Projeto de Meios de Vidas Rurais Sustentáveis está apoiando o governo de Andhra Pradesh a implementar abordagens de meios de vida sustentáveis em nível de bacia hidrográfica a fim de beneficiar as populações mais carentes. O governo da Índia adotou uma abordagem de desenvolvimento de bacia hidrográfica ao longo dos anos 70 para reverter o quadro de degradação dos solos.
Atualmente, alguns Ministérios adotaram uma "abordagem de bacias hidrográficas" para o desenvolvimento, incluindo os Ministérios de Agricultura, do Meio Ambiente e de Recursos Florestais. Já existem alguns esforços no sentido de aproximar essas experiências.
No setor florestal em Himachal Pradesh (HP) e Karnataka, o marco institucional e de políticas não acompanhou as mudanças econômicas, sociais e ambientais, resultando na falta de sistemas de manejo efetivo e eqüitativo de bens e serviços florestais. A avaliação do setor florestal de HP foi realizada no âmbito de seu Projeto Florestal de HP com o objetivo de examinar três questões primordiais:
promover ações inter-setoriais e participação popular no manejo florestal de forma a atender às necessidades no que diz respeito aos meios de vida da população;
- melhorias no manejo florestal que aumentem a disponibilidade de bens e serviços;
- coerência entre os sistemas de governança, leis e políticas relativos ao setor florestal.
Regiões Florestais
A Índia possui um dos mais luxuriantes revestimentos florestais da Terra. Suas principais regiões fitogeográficas são:
Himalaia Oriental, onde predominam gramíneas e orquidáceas, mas ocorrem espécie de lauráceas no sul do Vale do Bramaputra e pinheiros nas zonas temperadas; nas montanhas de Kashi são comuns os pinheiros de luzon;
Himalaia Ocidental, no qual ocorrem sobretudo gramíneas e leguminosas, além de uma rica vegetação alpina; no noroeste e na porção central, existem florestas de pinheiros, abetos e cedros-do-Himalaia;
Planície dos Indus onde predomina uma vegetação arbustiva, e esparsa, típicas das áreas semidesérticas;
Planície Gangética, que se caracteriza por suas florestas de Shorea robusta, cuja madeira é valiosíssima;
Região Malabar, na qual dominam diversas espécies de coníferas de grande porte;
Região do Decan, cuja vegetação característica consiste principalmente em árvores decíduas, como as diversas espécies de acácias e tecas, que se levam sobre os extensos bambuais.
O governo pretende também trocar experiências em áreas onde a Índia possui excelência, como tecnologia de informação e telecomunicações, biotecnologia, tecnologia espacial e indústria nuclear. O setor de infra-estrutura, contudo, apresenta muitas carências ainda, impedindo fisicamente o desenvolvimento do país. Para isso, só em 2003, o governo aumentou em US$ 20 bilhões o montante disponível para financiamentos nesta área. Outro fator interessante é a emergência da classe média indiana, que junto com a abertura progressiva do mercado, está criando oportunidades para bens de consumo e produtos de maior valor agregado, diferenciados em termos de design e qualidade.
Cultura indiana
Uma das civilizações mais antigas do nosso planeta, a Índia é um país de contrastes. A diversidade de línguas, hábitos e modo de vida não impedem que haja uma grande unidade na cultura do país. Ao mesmo tempo que cada estado tem seu próprio modo de expressão, como na arte, música, linguagem ou culinária, o indiano é profundamente arraigado ao sentimento de amor à sua nação e tem orgulho de sua civilização ancestral, o que mantém vivas até hoje muitas tradições.
Talvez pela profusão de deuses adorados por diferentes segmentos da sociedade, a tolerância religiosa é algo inerente aos indianos acostumados a conviver com a diversidade, como as línguas diferentes faladas muitas vezes por vizinhos. Nos dias de hoje ocorrem conflitos religiosos, mas isso não pode ser considerado característico.
Muita coisa causa estranheza no ocidente, pois são muitos símbolos, muitas deidades, muitos rituais. A maioria é relativo ao Hinduísmo, que ainda é a religião com mais seguidores na Índia, seguido pelo Islamismo e o Budismo. O Hinduísmo é tão antigo quanto a civilização da Índia, tanto que a palavra "hindu"é erroneamente usada para dizer " indiano", e toda a simbologia é vista pelos outros países como se representasse a própria Índia.
Símbolos
A principal mensagem dessa cultura é a aquisição de conhecimento e a remoção da ignorância. Enquanto a ignorância é como a escuridão, o conhecimento é como a luz. A lamparina, chamada de deepak tem muita importância como símbolo, pois tradicionalmente feita de cerâmica, representa o corpo humano porque assim como o barro, também viemos da terra. O óleo é queimado nela como um símbolo do poder da vida. Uma simples lamparina quando imbuída desta simbologia chama-se deepak e nos dá a mensagem de que toda e qualquer pessoa no mundo deve remover a escuridão da ignorância fazendo o seu próprio trabalho.Nos templos, sempre se oferece uma chama, significando que tudo que fizermos é para agradar a Deus.
Outro símbolo que causa curiosidade para os ocidentais é o Om, que representa o poder de Deus, pois é o som da criação, o princípio universal, entoado começando todos os mantras. Diz-se que os primeiros yoguis o ouviram em meditação, e esse som permeia o cosmos. É o número um do alfabeto, é o zero que dá valor aos números, é o som da meditação.
A flor de lótus, presente em muitas imagens, devido ao fato de crescer na água pantanosa e não ser afetada por ela representa que devemos ficar acima do mundo material apesar de viver nele. As centenas de pétalas do lótus representam a cultura da "unidade na diversidade".
Religião
Outra coisa que é absolutamente importante para entendermos a cultura indiana é a crença na reencarnação, que para os hinduístas, assim como para muitas outras religiões, é um preceito básico e incontestável. Somente considerando isso é que um ocidental pode entender o sistema de castas. Na filosofia indiana a vida é um eterno retorno, que gravita em ciclos concêntricos terminando no seu centro, coisa que os iluminados atingem. Mas nem tudo é hinduísmo na Índia. O seu maior cartão postal, o Taj Mahal, é uma construção muçulmana, um monumento ao amor, pois foi construído pelo rei para sua amada que morreu prematuramente. É uma das maravilhas do mundo, feito com mármore branco e ricamente decorado com pedras preciosas.
O Islamismo é fundamentado sobre a crença de que a existência humana é submissão (Islãm) e devoção a Allah, Deus onipotente. Para os muçulmanos, a sociedade humana não tem valor em si, mas o valor dado por Deus. A vida não é uma ilusão, e sim uma oportunidade de bênção ou penitência. Para guiar a humanidade, Deus deu aos homens o Corão, livro revelado através do Anjo Gabriel, ao seu mensageiro, o Profeta Maomé, por volta do ano 610 DC. Um século depois, houve a grande invasão a Sind, que hoje está fora da Índia, na região do Paquistão, onde a língua Urdu , introduzida naquela época na região, permanece até hoje .Devido a fatores políticos, o Islamismo se espalhou pelo norte e hoje temos um grande crescimento dos seguidores do Islãm por toda a Índia.
O Budismo também se faz presente, já que a Índia é a terra onde nasceu Buda, e onde tudo começou. No tempo do Imperador Ashok, o grande rei unificador da Nação indiana, a maior parte se converteu ao Budismo, que alguns chamam de filosofia e não religião, pois não existe adoração a Deus e o ser humano é levado a conquistar a paz interior pelo caminho do meio, ou seja, o equilíbrio. O sofrimento é causado pelo desejo e a prática da meditação é usada para aquietar a mente e procurar atingir o Nirvana, o estado de perfeita paz. As mais impressionantes representações do Budismo da época áurea se encontram nas cavernas de Ajanta e Ellora ,em Aurangabad. Esta última consiste em templos e monastérios erguidos pelos monges budistas , hinduístas e jainistas e contam a história das três religiões.
Ciência e Tecnologia
Quase tudo na Índia é espiritualidade, mas na verdade o grande propósito da cultura indiana é o conhecimento, e toda essa importância dada às religiões se deve ao princípio de que o propósito da vida na terra é sair da escuridão da ignorância e chegar à luz do conhecimento. O que muita gente não sabe é que o conceito do Zero nasceu na Índia, e também que a primeira Universidade, com o significado que a palavra deve ter, existiu em Nalanda, no estado de Bihar, nos tempos ancestrais.
A matemática do modo como entendemos hoje em dia deve à Índia todo o seu fundamento, pois todo o sistema de numeração é indo-arábico, ou seja, os árabes buscaram na Índia e difundiram os algarismos que usamos até hoje. A fórmula de Bhaskara que foi criada na Índia é usada para resolver todas as equações de segundo grau.
Cinema e arte
A Índia moderna, como todos os outros países, absorveu a cultura ocidental, mas talvez devido ao orgulho de sua identidade própria, sem perder as características culturais. Um grande exemplo é a indústria cinematográfica, que é a maior do mundo. O número de filmes feitos na Índia é maior que em qualquer outro país. A indústria cinematográfica surgiu em Bombay em 1913. Sete anos mais tarde produziu-se em Calcutá o primeiro filme em língua bengali e em 1934 foram inaugurados em Madras os estúdios destinados à produção de filmes em tâmil e telugo. Essa é a maior paixão do indiano. Os cinemas vivem lotados, eles adoram seus astros, e o estilo "bollywood" (Bombay é o principal centro cinematográfico) se faz presente nas ruas.
Nos últimos cinco anos, a taxa média de crescimento real da Índia ficou em 5,3% por ano. A do Brasil, em 1,3%. Ou seja, a taxa de crescimento da Índia foi quatro vezes superior à do Brasil. Segundo projeções, a Índia deve crescer 6,4% em 2003. O crescimento do Brasil deve ficar em 0,7%, segundo projeções de consenso do mercado. A expansão da economia indiana nos últimos anos vem sendo impulsionada pelo aumento de exportações na área de serviços, informática e alta tecnologia.
Cresce intercâmbio comercial Brasil-Índia
Em dez anos, as exportações da Índia para o Brasil saltaram de US$ 12 milhões para US$ 579 milhões. Do país asiático saem para os portos brasileiros remédios, produtos químicos e petrolíferos, softwares de computador e tecidos, entre outros. Por outro lado, o Brasil vende aos indianos produtos como açúcar, autopeças, aeronaves da Embraer, tecnologia de álcool combustível e soja. De US$ 1,2 bilhão negociado entre os dois países no ano passado, o Brasil vendeu US$ 654 milhões.
“O crescimento das exportações brasileiras no comércio com a Índia neste ano foi gigantesco”, avalia o assessor comercial do Consulado-Geral da Índia em São Paulo, Márcio Faveri.
O crescimento de 50% na balança comercial com a Índia nos últimos dois anos deve-se, principalmente, à compra de dez jatos civis da Embraer pela indiana Jet Airways, no valor de US$ 260 milhões. O governo da Índia também negocia a compra de cinco aeronaves civis com a Embraer, avaliadas em mais de US$ 100 milhões. “Brasil e Índia, assim como a África do Sul, têm anseios muito parecidos em termos comerciais e devem definir as melhores estratégias para que essas trocas aconteçam”, prevê Márcio Faveri.
Velocidade
Nos últimos cinco anos, a taxa média de crescimento real da Índia ficou em 5,3% por ano. A do Brasil, em 1,3%. Ou seja, a taxa de crescimento da Índia foi quatro vezes superior à do Brasil. Mas outra razão para a Índia ter um PIB maior do que o Brasil é a variação da taxa de câmbio, diz Paul Rawkins, analista sênior da Fitch. O real se desvalorizou no ano passado em relação ao dólar, enquanto a rúpia indiana vem se valorizando. A diferença no tamanho do PIB entre os dois países deve aumentar neste ano.
A Índia também está conseguindo atrair mais investimentos diretos e muitas empresas estão se instalando no país, especialmente para prestação de serviços para outros países. A Índia está se beneficiando de uma mão-de-obra educada e do fato de falar inglês, a língua mais falada do mundo. Há empresas como a Reuters e a British Telecom, que estão instalando centros de informação ou prestação de serviços na Índia, aproveitando a vantagem da língua e da mão-de-obra mais barata. |